🔴 [EVENTO GRATUITO] COMPRAR OU VENDER VALE3? INSCREVA-SE AQUI

Ganha-ganha ou tango à beira do precipício?

Na eventualidade de uma surpresa negativa, o mercado vai desafiar o BCB, questionando sua capacidade de conter uma disparada de câmbio, até o limite de sofrermos um ataque especulativo

25 de maio de 2020
10:31 - atualizado às 18:07
precipício
Imagem: Shutterstock

Mohamed El-Erian, em tom crítico, se refere à dinâmica do mercado norte-americano como uma visão de uma situação do tipo “ganha-ganha”. Não sabemos o que vai acontecer à frente. Há muita incerteza no ar. Teremos uma segunda onda de contágio da Covid-19? Qual será o tamanho da recessão? Em que formato virá a recuperação: V, U, L, W? Teremos uma vacina antes de julho de 2020? E por aí vai.

Contudo, em termos práticos, as perguntas poderiam ser, na visão do consenso de mercado atual, irrelevantes. Se as coisas derem certo e o cenário positivo vier a se materializar, então é autoexplicativo. A economia cresce, as empresas lucram mais, as ações sobem. O cenário bom é… o cenário bom.

Já se for o contrário, e o cenário adverso vier a se concretizar, então o banco central norte-americano entraria no mercado ampliando sua já muito grande atuação, quem sabe até, no limite, comprando ações. Ou seja, também aqui teríamos Bolsas subindo lá fora, por conta de um grande comprador de primeira e última instância. “Never fight the Fed” (nunca bata de frente com o Fed), diz o ditado clássico.

Como Rogério Xavier resumiu na Live que fizemos na semana passada, o mercado está operando a “put-Fed”— o direito de vender para o banco central dos EUA a qualquer momento. “Os mercados são muito simples. Se não é para vender porque o Fed não deixa cair, então é para comprar.” Ou, de forma ainda mais direta: “Se você sabe que o Fed vai comprar muita banana, você compra na frente para vender pra ele”.

Será que não há limite para essa dinâmica? Poderíamos operar sob a “put-Fed” numa espécie de moto-perpétuo? 

Vejamos o seguinte: se o Fed está comprando ETFs de high yield e, conforme especula-se, pode avançar para outras categorias numa movimentação ainda mais heterodoxa, o que você faria se fosse uma empresa muito endividada? Se você sabe que, no limite, o Fed compra aquele crédito, você emite tudo que pode. Empresas ficam cada vez mais endividadas, mesmo que o fluxo de caixa não seja suficiente para pagar o serviço da dívida. Vamos caminhando para um mundo de empresas zumbis, que só não quebram porque o Fed está ali para salvá-las.

No final, acabamos com empresas pouco eficientes que, se fosse pela seleção natural do mercado, já estariam mortas. A consequência é uma queda da produtividade agregada da economia e baixo crescimento econômico. Conforme já afirmou André Jakurski, cerca de 1/3 das empresas listadas nos EUA já era meio zumbi antes da Covid-19, por conta do histórico de pesadas intervenções monetárias desde 2008.

Resgatando Howard Marks, capitalismo sem falência é como catolicismo sem inferno. Não funciona. E, para arrematar o argumento, vamos de Keynes: os mercados podem se manter irracionais por mais tempo do que você pode se manter ilíquido. É muito difícil sabermos até quando o mercado vai operar sob o modo “put-Fed”. Pode ser por muito tempo, mas, cedo ou tarde, o fundamento acaba prevalecendo. Ou teremos de caminhar para respostas positivas às perguntas feitas no início deste texto ou incorreremos necessariamente num intenso processo de correção. 

Duas inferências aqui: i) parece excessivamente agressivo já contar com respostas positivas; ii) históricos de bear markets indicam novas visitas às mínimas e muito mais tempo até que as crises se resolvam. Só o tempo vai nos dizer se desta vez é diferente. A questão é já se antecipar contando necessariamente com o cenário positivo à frente, como se fôssemos amantes do risco.

Meu entendimento é de que deveríamos tomar atitudes como agentes avessos ao risco, não amantes dele.

Curioso como essa postura tem vindo inclusive dos formuladores de política econômica. O Banco Central do Brasil, contrariando o que se defende como um comportamento típico das autoridades monetárias, também vem adotando uma postura tomadora de risco. Ele corta a Selic agressivamente olhando de forma exclusiva para inflação e hiato do produto. Para impedir uma escalada ainda mais forte da taxa de câmbio, vende reservas pesadamente. Se os mercados continuarem calmos e a crise política local, de fato, passar, ok, não teremos problemas aqui.

Contudo, na eventualidade de uma surpresa negativa, o mercado vai desafiar o BCB, questionando sua capacidade de conter uma disparada de câmbio, até o limite de sofrermos um ataque especulativo. Então, seríamos obrigados a subir os juros de forma rápida e intensa. Isso feriria de morte qualquer expectativa de saída da depressão econômica brasileira. No meio da crise, um grande aperto monetário. Se tudo der certo, ótimo, mas o risco existe. 

Estamos numa situação exótica em que o próprio Banco Central, tradicionalmente quem deveria prezar pela austeridade e pelo conservadorismo, parece contar com a materialização do cenário benigno. Em vez de vivermos uma situação “ganha-ganha”, parecemos mais estar dançando tango à beira do precipício. 

Encerro o texto de hoje com a melhor provocação que encontrei nesse final de semana, copiada do Twitter de Paulo Bilyk: “Qual a chance de uma empresa tocada do jeito daquela reunião dar certo? Ou uma escola então? Uma organização social? Até a Máfia, que sucesso teria assim? Qual a eficácia do caos? Seja qual for a ideologia, qual chance de dar certo?”.

O que me assusta não são as ações e os gritos das pessoas más, mas a indiferença e o silêncio das pessoas boas.

Compartilhe

EXILE ON WALL STREET

A simplicidade é a maior das sofisticações na hora de investir

12 de setembro de 2022 - 18:55

Para a tristeza dos estudiosos das Finanças, num daqueles paradoxos do conhecimento, quanto mais nos aprofundamos, parece que cavamos cada vez mais no subterrâneo

EXILE ON WALL STREET

Marcas da independência: Vitreo agora é Empiricus Investimentos

5 de setembro de 2022 - 8:43

Com a mudança de nome, colhemos todos os benefícios de uma marca única, com brand equity reconhecido e benefícios diretos, imediatos e tangíveis ao investidor

EXILE ON WALL STREET

Além do yin-yang: Vale a pena deixar os fundos para investir em renda fixa?

2 de setembro de 2022 - 11:47

Investidores de varejo e institucionais migraram centenas de bilhões em ativos mais arrojados para a renda fixa, o maior volume de saída da história do mercado de fundos

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Encaro quase como um hedge

1 de setembro de 2022 - 13:27

Tenho pensado cada vez mais na importância de buscar atividades que proporcionem feedbacks rápidos e causais. Elas nos ajudam a preservar um bom grau de sanidade

EXILE ON WALL STREET

Complacência: Entenda por que é melhor investir em ativos de risco brasileiros do que em bolsa norte-americana

29 de agosto de 2022 - 11:25

Uma das facetas da complacência é a tendência a evitar conflitos e valorizar uma postura pacifista, num momento de remilitarização do mundo, o que pode ser enaltecido agora

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O elogio que nem minha mãe me fez

25 de agosto de 2022 - 12:02

Em mercados descontados que ainda carregam grandes downside risks, ganha-se e perde-se muito no intraday, mas nada acontece no dia após dia

EXILE ON WALL STREET

Degrau por degrau: Confira a estratégia de investimento dos grandes ganhadores de dinheiro da bolsa

24 de agosto de 2022 - 13:57

Embora a ganância nos atraia para a possibilidade de ganhos rápidos e fáceis, a realidade é que quem ganha dinheiro com ações o fez degrau por degrau

EXILE ON WALL STREET

Blood bath and beyond: Entenda o banho de sangue dos mercados financeiros — e as oportunidades para o Brasil

22 de agosto de 2022 - 12:25

Michael Hartnett, do Bank of America Merrill Lynch, alerta para um possível otimismo exagerado e prematuro sobre o fim da subida da taxa básica de juro nos EUA; saiba mais

EXILE ON WALL STREET

Você está disposto a assumir riscos para atingir seus sonhos e ter retornos acima da média?

19 de agosto de 2022 - 13:50

Para Howard Marks, você não pode esperar retornos acima da média se você não fizer apostas ativas. Porém, se suas apostas ativas também estiverem erradas, seus retornos serão abaixo da média

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Qual é o mundo que nos aguarda logo à frente?

18 de agosto de 2022 - 11:45

O mercado inteiro fala de inflação, e com motivos; afinal, precisamos sobreviver aos problemas de curto prazo. Confira as lições e debates trazidos por John Keynes

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar