Calma, eu posso explicar
Que atire a primeira pedra quem nunca tomou uma decisão de investimento errada

“Você vai ficar triste com o que vou dizer. Te decepcionei. Quando me dei conta da situação, a besteira já estava feita. As coisas saíram do controle e acabei agindo por impulso. Foi durante as suas férias, você estava fora e eu não queria te chatear com este assunto. Desculpe, mas tirei meu dinheiro do fundo DI e coloquei na poupança...”
Que atire a primeira pedra quem nunca tomou uma decisão de investimento errada. Só me restou dar risada diante da confissão acima, feita pelo meu amigo Allan, que iniciou no ano passado sua jornada de investidor e há poucos meses constituíra sua reserva de emergência.
Assim como talvez tenha acontecido com você, ele ficou apreensivo ao ver os recursos aplicados no fundo DI apresentando retornos diários negativos. A reação acabou sendo a de resgatar a reserva de emergência e migrar para a poupança, o que lhe garantiu conforto psicológico momentâneo, sob o argumento do “rende pouco, mas rende alguma coisa”.
É claro que incomoda a qualquer um a possibilidade de ter prejuízo, ainda mais quando se trata daquela parcela do patrimônio que se destina a nos socorrer nos momentos de imprevisto. Mas, mesmo diante da dinâmica recente, nós aqui da série Os Melhores Fundos de Investimento reforçamos a convicção de que os fundos DI Simples de taxa zero seguem sendo o melhor destino para sua reserva de emergência.
A lógica não mudou: considerando os principais pilares — liquidez, segurança e rentabilidade –, no caso da reserva de emergência priorizamos sempre os dois primeiros. Nesse sentido, os fundos DI Simples de taxa zero oferecem liquidez diária (você resgata a qualquer momento) e continuam sendo o investimento de menor risco de crédito do mercado brasileiro, já que compram Tesouro Selic, título garantido pelo governo.
Mas é preciso ter em mente que eles não são “à prova de queda”; não existe investimento totalmente livre de risco no mercado. Só não estamos habituados a ver a desvalorização dos títulos públicos atrelados à Selic. Trata-se realmente de um fenômeno atípico — a última vez que aconteceu foi há 18 anos.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: Seu frouxo, eu mando te demitir, mas nunca falei nada disso
Rodolfo Amstalden: Escute as feras
Para entender esse movimento, vamos lembrar que o Tesouro Selic (LFT) se propõe a pagar a variação da Selic na data do vencimento do título. Mas, antes desse momento chegar, no dia a dia, o título tem flexibilidade para acomodar ágio ou deságio em suas negociações, o que pode ser acompanhado diariamente. Esse preço varia de acordo com a relação entre oferta e demanda.
A oferta do papel vem aumentando muito nos últimos meses de quarentena. E a agressividade do Tesouro Nacional em colocar volumes expressivos de títulos em leilões diários, em uma tentativa contínua de encurtar seu prazo de endividamento, não é uma boa sinalização.
Quando você percebe que aquele amigo para quem emprestou dinheiro está fazendo bicos e tomando mais empréstimos para fechar as contas do mês, fica com o pé atrás, certo?
Adicionalmente, desde setembro, o aumento da percepção dos riscos fiscais em meio à falta de articulação do governo e da equipe econômica tem levado os títulos públicos a perderem valor no mercado secundário. Isso porque os agentes do mercado consideram que uma remuneração de apenas 2% ao ano é pouco para financiar todo o risco fiscal que está na mesa.
Resultado: o Tesouro Selic está sendo negociado com deságio, ou seja, abaixo do seu valor de face.
Para dar uma ideia, o deságio do Tesouro Selic para o vencimento de 2025 (única LFT vendida no Tesouro Direto atualmente) era próximo de 0,03% no início de setembro. Hoje, está em 0,31%. Pode até parecer uma diferença pequena, mas, em um cenário de Selic a 2% ao ano, é suficiente para machucar o investidor.
Como consequência, os fundos que investem em Tesouro Selic estão tendo um retorno diário abaixo do CDI nas últimas semanas, como você pode conferir no gráfico abaixo, que traz o desempenho dos fundos DI Simples em setembro:

Mas é importante lembrar que, apesar da variação negativa das cotas diárias desses fundos, o investidor não perdeu nada de fato, a menos que tenha resgatado neste momento negativo, realizando o prejuízo — como fez o meu amigo Allan, traindo a si mesmo ao sacar e migrar para a poupança, um investimento estruturalmente pior e que só rende a cada 30 dias.
Agora você deve estar se perguntando: até quando o preço do Tesouro Selic vai continuar a cair, afetando a rentabilidade da reserva de emergência? É difícil dizer, mas o Tesouro Nacional tem diminuído a oferta do papel mais recentemente, o que sugere uma normalização. Da nossa parte, estamos acompanhando bem de perto esse movimento, e manteremos você informado sobre novidades aqui.
Um abraço!
Felipe Miranda: Dedo no gatilho
Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.
Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas
A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir
Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?
Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação
Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante
Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial
Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump
Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes
Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso
O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.
Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º
Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação
Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump
Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump
Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável
Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa
Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio
Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek
Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor
Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?
Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares
Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente
Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar
Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal
Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem
Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”
Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores
Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou
Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos
Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer
Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro
Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2
Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa
Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo
A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal