🔴 ONDE INVESTIR EM OUTUBRO? MELHORES AÇÕES, FIIS E DIVIDENDOS – CONFIRA AQUI

As vantagens do ceticismo

Há quem afirme que “a pessoa física deu uma aula nos estrangeiros”. Será mesmo? Devemos julgar apenas pelo retorno (sem considerar o nível de risco assumido), em especial em tão curto intervalo de tempo? Ou será que muitos assumiram riscos desproporcionais e tiveram sua irresponsabilidade premiada pelas intempéries da deusa Fortuna?

10 de junho de 2020
10:34 - atualizado às 13:25
mercado de ações, dúvidas, recompra de ações
Imagem: Shutterstock

Roger Scruton foi talvez o grande expoente do conservadorismo moderno, o maior representante britânico dessa corrente possivelmente desde Edmund Burke. A obra de Scruton merece ser lida a qualquer momento, mas a situação pede-lhe um carinho especial.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Roger Scruton acreditava que o valor da existência e de uma vida se constrói sobretudo na relação com o outro. “A redenção vem do outro. Reconhecemos, em nosso ser, que não estamos sozinhos, que o que importa para nós — nossa salvação — é o amor, a compaixão e o perdão que os outros nos concedem. O significado da vida emerge deste diálogo entre o eu e o outro, quando cada um assume total responsabilidade pelo ser de ambos.” Em tempos de polarização e cólera, colocar-se no lugar do outro com empatia é uma rara e preciosa atitude.

O filósofo nutria uma preocupação estética grande. A beleza lhe revelava uma verdade fundamental, de que ser é um presente e receber esse presente é uma missão.

Um de seus livros mais recentes é “As vantagens do Pessimismo”, que relaciona tragédias e desastres da história da Europa a consequências de um falso otimismo e de idealizações enganosas que dele derivavam. Escorados em um desvirtuado idealismo, atraídos por um “pseudo paraíso”, poderíamos enveredar por meandros terríveis — o fascismo, o nazismo e o comunismo seriam exemplos desse falso otimismo. A solução estaria na proteção da cultura do perdão e da ironia. Aí está uma matriz conservadora implícita: preservaremos as tradições e instituições antes de embarcar em ideologias amparadas em falsos otimismos.

A questão do pessimismo sempre foi um tema caro à filosofia. Inclusive, costuma-se atribuir uma maior profundidade aos autores tidos como mais pessimistas. Uma elevação da melancolia como um certo valor ontológico, contrariamente à visão mais frívola e tida como superficial dos otimistas. Na hora de convidar para um almoço na sua casa, você vai atrás daquele amigo todo animado, falastrão e piadista, com uma perspectiva construtiva da existência (embora ele mesmo nem pense nessa história de “perspectiva de existência”). Já se for o caso de alguém para tocar seu dinheiro, o caminho mais frequente tende a ser aquele que aponta na direção do financista austero, responsável, circunspecto.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Schopenhauer, Montaigne e Nietzsche costumam ser relacionados como representantes do trio clássico de filósofos pessimistas, embora eu, sinceramente, tenha certa dúvida sobre o pertencimento dos dois últimos ao grupo.

Leia Também

Daniel Kahneman e Amos Tversky, a dupla falível das Finanças Comportamentais (sim, porque, a despeito da glória recente, também há falhas e limites nas Finanças Comportamentais, como em qualquer outro campo da Ciência Jovem), tinham uma brincadeira curiosa. Kahneman é um pessimista. Acha que o otimista nutre expectativas excessivas sobre o futuro, que, quando não materializadas, ensejam uma enorme frustração. Tversky era o contrário. Afirmava que o pessimista sofria duas vezes, por antecipação e quando da real realização do cenário negativo.

Proponho uma pergunta como exercício: onde você se coloca entre pessimista e otimista? Não vale responder “realista”. Colocar-se assim apenas denota uma autoavaliação excessivamente otimista, como alguém capaz de ler a realidade melhor do que os outros. Um narcisismo e um egocentrismo disfarçados de concretismo. Todos se acham realistas. O pessimista acha a realidade péssima; o otimista, ótima.

Reformulo a pergunta para dar o viés mais preciso a nossos fins: onde deveria o investidor se situar entre pessimista e otimista? E mais: essas características deveriam se alternar conforme o cenário?

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Se eu fosse chamado a responder, diria que nem o investidor pessimista nem o otimista têm chances de prosperar ao longo do tempo. O viés adequado é o do cético, daquele que duvida das coisas, que não se pauta por um prognóstico específico. O pessimista tem certeza de que o cenário ruim vai se concretizar. Já o otimista tem certeza do contrário. O cético duvida dos dois cenários. Ele admite o não saber e está preparado para qualquer um dos dois eventos.

Em alguma medida, é a consagração da proposta romana do “amor fati”, posteriormente retomada por Nietzsche, de aceitar (e se preparar para) o destino seja ele qual for. É a essência do All Weather Portfolio de Ray Dalio, de se montar um portfólio para qualquer clima, sem tentar cravar qual dos cenários vai acontecer.

O cético apenas questiona e não se posiciona integralmente em favor dos pessimistas ou dos otimistas. É a nossa posição cabível diante da multiplicidade de acontecimentos que podemos ter à frente, sendo sempre impossível antevermos qual dos eventos vai, de fato, se concretizar.

O ceticismo nunca esteve tão ausente entre os investidores. E quando ninguém está preparado para eventos negativos, é aí que o nível de risco está mais alto. Você só escorrega na casca de banana que não enxergou. Estimulados pelos ganhos completamente fora do padrão histórico desde o mês de abril, investidores recém-chegados ao mercado se acham superiores a Warren Buffett. Não é uma hipérbole ou uma opinião pessoal. É um fato objetivo.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Entro pela manhã no MarketWatch e leio: “Warren Buffett is ‘an idiot’, says investor who claims daytrading is ‘the easiest game I’ve ever played’” (Warren Buffett é um idiota e o daytrading é o jogo mais fácil que eu já joguei). Bom, meu ceticismo me impede de achar Warren Buffett um idiota. Também não acho que daytrading é um jogo, tampouco fácil. Buffett vendeu sua posição de aéreas e, posteriormente, os papéis subiram 70%. Isso faz dele um idiota? Ou será que havia, de fato, uma matriz de risco e retorno muito desfavorável naquele momento? Não poderia ser o caso de que Buffett apostou no cenário mais provável (negativo para as aéreas), mas acabou se materializando, ao menos temporariamente, o improvável? O investimento é feito com base nas informações disponíveis ex-ante e se pauta (ou deveria se pautar) por probabilidade. Se um cenário de 1% de chance acaba se concretizando (e a cada 100 vezes, na média, um cenário de 1% vai se materializar), devemos dizer que o investidor que apostou no cenário de 99% de chance é um idiota?

Outro exemplo, da CNBC, no mínimo curioso: “The hot new thing to make your stock pop: go bankrupt”. (A nova coisa quente para fazer sua ação bombar: decrete falência). A matéria comenta a alta de pelo menos 70% das ações de Hertz, Whiting Petroleum, Pier 1 e J.C. Penney (todas quebradas) na segunda-feira. Estaremos fazendo a coisa certa em valorizar de forma tão abismal essas ações? Antes de responder, aponto o exemplo da Chesapeake, empresa de shale cujas ações se multiplicaram por seis vezes desde as mínimas — quebrou ontem, entrou em Chapter 11; os papéis derreteram 70%.

Eu poderia até entender a ausência de ceticismo em investidores recém-chegados à B3. Você entra e em dois meses ganha 50%. A tendência natural é mesmo de se achar um gênio, Buffett ser um idiota e o daytrading ser o jogo mais fácil que você já jogou. Até aí, tudo bem — ao menos até a próxima correção ou crise. O mais surpreendente, para mim, é essa abordagem, que despreza os ensinamentos elementares sobre gestão de risco, ser patrocinada por profissionais supostamente experientes do mercado. Há quem afirme que “a pessoa física deu uma aula nos estrangeiros”. Será mesmo? Devemos julgar apenas pelo retorno (sem considerar o nível de risco assumido), em especial em tão curto intervalo de tempo? Ou será que muitos assumiram riscos desproporcionais e tiveram sua irresponsabilidade premiada pelas intempéries da deusa Fortuna? Quanto mais louco e irresponsável você foi desde março, mais dinheiro você ganhou.

Nunca saberemos. A História só conta o que foi, nunca o que poderia ter sido.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A julgar pela disposição ao risco e pelo nível de liquidez no mundo, consubstanciada pelos recentes indicadores de atividade acima do esperado, se eu tivesse de chutar, com uma arma na cabeça, diria que os ativos de risco devem continuar subindo no curto prazo. Contudo, preciso confessar: o mundo em que daytraders iniciantes dão aula para Warren Buffett é, definitivamente, um lugar que exige uma grande dose de ceticismo.

Um último comentário hoje, um pouco alheio ao contexto. Peço desculpas pela falta de coesão, mas é algo que julgo ser importante e não está recebendo a devida atenção. O mercado brasileiro ficou pequeno para o tamanho dos grandes fundos locais. O que aconteceu recentemente com o dólar, com uma queda totalmente fora dos padrões em poucos dias, com volatilidade superior à da Bolsa, é um exemplo de como o acionamento de stops por poucas casas foi capaz de causar uma hecatombe nos preços. Não subestime o risco de liquidez. Mais do que nunca, vale o alerta talebiano: o mercado é um teatro grande com uma porta pequena.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Títulos de Ambipar, Braskem e Raízen “foram de Americanas”? Como crises abalam mercado de crédito, e o que mais movimenta a bolsa hoje

23 de outubro de 2025 - 8:21

Com crises das companhias, investir em títulos de dívidas de empresas ficou mais complexo; veja o que pode acontecer com quem mantém o título até o vencimento

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: As ações da Ambipar (AMBP3) e as ambivalências de uma participação cruzada

22 de outubro de 2025 - 20:00

A ambição não funciona bem quando o assunto é ação, e o caso da Ambipar ensina muito sobre o momento de comprar e o de vender um ativo na bolsa

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje

22 de outubro de 2025 - 7:58

Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje

21 de outubro de 2025 - 8:00

Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem

21 de outubro de 2025 - 7:35

O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico

20 de outubro de 2025 - 19:58

Em tempos de guerra, os generais não apenas são os últimos a morrer, mas saem condecorados e com mais estrelas estampadas no peito. A boa notícia é que a correção de outubro nos permite comprar alguns deles a preços bastante convidativos.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A temporada de balanços já começa quente: confira o calendário completo e tudo que mexe com os mercados hoje

20 de outubro de 2025 - 7:52

Liberamos o cronograma completo dos balanços do terceiro trimestre, que começam a ser divulgados nesta semana

BOMBOU NO SD

CNH sem autoescola, CDBs do Banco Master e loteria +Milionária: confira as mais lidas do Seu Dinheiro na semana

19 de outubro de 2025 - 15:02

Matérias sobre o fechamento de capital da Gol e a opinião do ex-BC Arminio Fraga sobre os investimentos isentos de IR também integram a lista das mais lidas

VISAO 360

Como nasceu a ideia de R$ 60 milhões que mudou a história do Seu Dinheiro — e quais as próximas apostas

19 de outubro de 2025 - 8:00

Em 2016, quando o Seu Dinheiro ainda nem existia, vi um gráfico em uma palestra que mudou minha carreira e a história do SD

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A Eletrobras se livrou de uma… os benefícios da venda da Eletronuclear, os temores de crise de crédito nos EUA e mais

17 de outubro de 2025 - 7:55

O colunista Ruy Hungria está otimista com Eletrobras; mercados internacionais operam no vermelho após fraudes reveladas por bancos regionais dos EUA. Veja o que mexe com seu bolso hoje

SEXTOU COM O RUY

Venda da Eletronuclear é motivo de alegria — e mais dividendos — para os acionistas da Eletrobras (ELET6)

17 de outubro de 2025 - 6:07

Em um único movimento a companhia liberou bilhões para investir em outros segmentos que têm se mostrado bem mais rentáveis e menos problemáticos, além de melhorar o potencial de pagamento de dividendos neste e nos próximos anos

VONTADE DOS CÔNJUGES

Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança

16 de outubro de 2025 - 15:22

Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje

16 de outubro de 2025 - 8:09

Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?

15 de outubro de 2025 - 19:57

Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)

15 de outubro de 2025 - 7:47

A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje

14 de outubro de 2025 - 8:08

Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China

14 de outubro de 2025 - 7:48

O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo

13 de outubro de 2025 - 19:58

Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?

13 de outubro de 2025 - 7:40

Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano

TRILHAS DE CARREIRA

ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho

12 de outubro de 2025 - 7:04

Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar