Cautela, Copom e coronavírus: os três ‘Cs’ que levaram o dólar a R$ 5,70 pela primeira vez na história
O dólar à vista rompeu o nível de R$ 5,70, pressionado pela aversão ao risco que tomou conta dos investidores domésticos. O Ibovespa fechou em queda

O dólar à vista teve um forte alívio na semana passada, acumulando baixa de quase 4% e chegando a tocar os R$ 5,33. Quem apostava numa despressurização da moeda americana, contudo, se deu mal: desde segunda-feira (4), a divisa entrou num ciclo de forte alta, anulando todas as perdas recentes — e, mais que isso, chegando a um novo recorde.
Desde o início da sessão desta quarta-feira (6), ficou claro que a tendência para o câmbio seria ascendente: o dólar à vista até abriu a sessão em leve baixa, mas logo virou e voltou ao campo positivo — de onde não mais saiu. E, ao longo do dia, foi ganhando cada vez mais força, pressionado pela forte aversão ao risco por parte dos investidores.
Tanto é que, no fechamento, a divisa era cotada a R$ 5,7024, em alta de 1,97%. Trata-se de uma nova máxima nominal de encerramento e a primeira vez na história que a moeda ultrapassa a faixa dos R$ 5,70 ao fim de uma sessão — somente nesta semana, a alta acumulada já chega a 4,75%; desde o começo de 2020, os ganhos somam 42,14%.

A nova rodada de valorização do dólar ante o real pode ser explicada por uma combinação entre três 'Cs': cautela com o cenário político, Copom e coronavírus. A junção desses três fatores foi particularmente explosiva para o câmbio, que costuma ser um termômetro mais fiel do nível de preocupação dos investidores em relação aos riscos futuros.
Na bolsa, o dia também foi de maior prudência, embora o mercado acionário tenha mostrado um comportamento bem mais ameno: o Ibovespa terminou o pregão em baixa de 0,51%, aos 79.063,68 pontos.
O clima mais apreensivo no exterior até contribuiu para pressionar os ativos domésticos nesta quarta-feira: lá fora, o dia foi de fortalecimento do dólar ante as demais divisas de países emergentes e de baixa no Dow Jones (-0,91%) e no S&P 500 (-0,70%).
Leia Também
Só que, considerando o campo minado visto por aqui, pode-se afirmar que o panorama doméstico foi determinante para levar o dólar às máximas e imprimir mais uma baixa ao Ibovespa.
- Eu gravei um vídeo para explicar a dinâmica dos mercados brasileiros nesta quarta-feira. Veja abaixo:
Turbulência em Brasília
Uma enorme nuvem de dúvidas paira sobre Brasília, considerando a deterioração nas relações entre governo e Congresso e os desdobramentos do depoimento do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro.
À Polícia Federal de Curitiba, Moro voltou a afirmar que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir diretamente em seu trabalho, pedindo especificamente pelo controle da superintendência da PF no Rio de Janeiro. No mercado, a leitura foi a de que apesar de o depoimento não trazer elementos bombásticos, ele certamente traz mais tensão à cena política.
Assim, qualquer movimentação por parte do governo — através de entrevistas ou de pronunciamentos oficiais do presidente Bolsonaro — tem o poder de mexer com o rumo das negociações, o que estressa os investidores e aumenta a aversão ao risco nos mercados locais.
Ainda em Brasília, o mercado continuou preocupado com os rumos do ajuste fiscal, já que a Câmara aprovou ontem o auxílio financeiro emergencial para Estados e municípios, no montante de R$ 125 bilhões. O texto, agora, volta para o Senado.
Ao fim da tarde, até tivemos um ligeiro alívio no clima político: o plenário da Câmara aprovou, em segundo turno, a PEC do 'Orçamento de Guerra' — uma movimentação que, embora favorável aos planos do governo, não foi capaz de trazer alívio ao dólar.
Elementos preocupantes
Ainda no Brasil, tivemos diversos outros pontos de estresse aos investidores, com destaque para o forte aumento nos casos do coronavírus no país — o Brasil, agora, caminha para se tornar o novo epicentro da doença no mundo.
Já são 7.921 mortes por causa da Covid-19, com 600 óbitos apenas entre segunda (4) e terça (5) — um novo recorde em 24 horas no país. Ao todo, 114.715 pessoas foram contaminadas no Brasil, de acordo com os dados do ministério da Saúde.
A percepção de que a curva de contágio do coronavírus ainda está na fase ascendente no país aumenta a preocupação a respeito das políticas de saúde pública e dos impactos à economia. Ontem, foi reportada a forte queda de 9,1% na produção industrial em março ante fevereiro, mostrando que a atividade doméstica já sente um forte impacto da pandemia.
Além disso, a agência de classificação de risco Fitch reduziu para negativa a perspectiva da nota do Brasil, um indício de que a próxima movimentação pode ser um rebaixamento na nota do país, atualmente em BB-.
Dia de Copom
Além de todos esses pontos de estresse, ainda há a decisão de juros do Copom, com divulgação prevista para depois do fechamento dos mercados. É unânime a leitura de que o BC irá cortar os juros, mas não há consenso quanto à magnitude dessa redução: no momento, as apostas dividem-se entre baixas de 0,5 ponto ou de 0,75 ponto.
Dito isso, os investidores estarão particularmente atentos às sinalizações da autoridade monetária, buscando pistas quanto à visão do BC para o futuro e os possíveis próximos passos para a Selic.
O mercado de juros futuros até fechou com ligeiros ajustes positivos na ponta curta, considerando a disparada no dólar à vista. Essa alta, no entanto, não diminui a leitura de que o ciclo de alívio monetário tende a continuar em 2020:
- Janeiro/2021: de 2,71% para 2,74%;
- Janeiro/2022: estável em 3,53%;
- Janeiro/2023: de 4,72% para 4,66%;
- Janeiro/2025: de 6,53% para 6,42%.
Mais balanços
No lado corporativo, a temporada de balanços do primeiro trimestre de 2020 continua com força total. Nesta quarta-feira, destaque para as ações ON da Tim (TIMP3), que caíram 2,23% mesmo após a companhia reportar um lucro líquido de R$ 164 milhões no período, um crescimento de 8,3% na base anual.
No lado positivo do Ibovespa, o setor de varejo on-line despontou entre os principais ganhos, dado o otimismo dos investidores com o segmento de e-commerce após o Mercado Livre reportar resultados fortes no primeiro trimestre deste ano.
Veja abaixo as cinco maiores altas do Ibovespa nesta quarta-feira:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
BTOW3 | B2W ON | 89,18 | +19,13% |
MGLU3 | Magazine Luiza ON | 55,15 | +9,86% |
LAME4 | Lojas Americanas PN | 27,42 | +7,36% |
NTCO3 | Natura ON | 36,50 | +5,74% |
VVAR3 | Via Varejo ON | 10,01 | +3,20% |
Confira também as cinco maiores quedas do índice:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
CVCB3 | CVC ON | 11,66 | -5,89% |
CMIG4 | Cemig PN | 8,82 | -4,65% |
BPAC11 | BTG Pactual units | 39,50 | -4,57% |
EMBR3 | Embraer ON | 7,16 | -4,53% |
BRML3 | BR Malls ON | 8,74 | -3,96% |
Dólar fraco, ouro forte e bolsas em queda: combo China, EUA e Powell ditam o ritmo — Ibovespa cai junto com S&P 500 e Nasdaq
A expectativa por novos cortes de juros nos EUA e novos desdobramentos da tensão comercial entre as duas maiores economias do mundo mexeram com os negócios aqui e lá fora nesta terça-feira (14)
IPO reverso tem sido atalho das empresas para estrear na bolsa durante seca de IPOs; entenda do que se trata e quais os riscos para o investidor
Velocidade do processo é uma vantagem, mas o fato de a estreante não precisar passar pelo crivo da CVM levanta questões sobre a governança e a transparência de sua atuação
Ainda mais preciosos: ouro atinge novo recorde e prata dispara para máxima em décadas
Tensões fiscais e desconfiança em moedas fortes como o dólar levam investidores a buscar ouro e prata
Sparta mantém posição em debêntures da Braskem (BRKM5), mas fecha fundos isentos para não prejudicar retorno
Gestora de crédito privado encerra captação em fundos incentivados devido ao excesso de demanda
Bolsa ainda está barata, mas nem tanto — e gringos se animam sem pôr a ‘mão no fogo’: a visão dos gestores sobre o mercado brasileiro
Pesquisa da Empiricus mostra que o otimismo dos gestores com a bolsa brasileira segue firme, mas perdeu força — e o investidor estrangeiro ainda não vem em peso
Bitcoin (BTC) recupera os US$ 114 mil após ‘flash crash’ do mercado com Donald Trump. O que mexe com as criptomoedas hoje?
A maior criptomoeda do mundo voltou a subir nesta manhã, impulsionando a performance de outros ativos digitais; entenda a movimentação
Bolsa fecha terceira semana no vermelho, com perdas de 2,44%; veja os papéis que mais caíram e os que mais subiram
Para Bruna Sene, analista de renda variável na Rico, “a tão esperada correção do Ibovespa chegou” após uma sequência de recordes históricos
Dólar avança mais de 3% na semana e volta ao patamar de R$ 5,50, em meio a aversão ao risco
A preocupação com uma escalada populista do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o real apresentar de longe o pior desempenho entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities
Dólar destoa do movimento externo, sobe mais de 2% e fecha em R$ 5,50; entenda o que está por trás
Na máxima do dia, divisa chegou a encostar nos R$ 5,52, mas se desvalorizou ante outras moedas fortes
FII RBVA11 avança na diversificação e troca Santander por nova locatária; entenda a movimentação
O FII nasceu como um fundo imobiliário 100% de agências bancárias, mas vem focando na sua nova meta de diversificação
O mercado de ações dos EUA vive uma bolha especulativa? CEO do banco JP Morgan diz que sim
Jamie Dimon afirma que muitas pessoas perderão dinheiro investindo no setor de inteligência artificial
O que fez a Ambipar (AMBP3) saltar mais de 30% hoje — e por que você não deveria se animar tanto com isso
As ações AMBP3 protagonizam a lista de maiores altas da B3 desde o início do pregão, mas o motivo não é tão inspirador assim
Ação do Assaí (ASAI3) ainda está barata mesmo após pernada em 2025? BB-BI revela se é hora de comprar
Os analistas do banco decidiram elevar o preço-alvo das ações ASAI3 para R$ 14 por ação; saiba o que fazer com os papéis
O que esperar dos mercados em 2026: juros, eleições e outros pilares vão mexer com o bolso do investidor nos próximos meses, aponta economista-chefe da Lifetime
Enquanto o cenário global se estabiliza em ritmo lento, o país surge como refúgio — mas só se esses dois fatores não saírem do trilho
Tempestade à vista para a Bolsa e o dólar: entenda o risco eleitoral que o mercado ignora
Os meses finais do ano devem marcar uma virada no tempo nos mercados, segundo Ricardo Campos, CEO e CIO da Reach Capital
FII BMLC11 leva calote da Ambipar (AMBP3) — e investidores vão sentir os impactos no bolso; cotas caem na B3
A Ambipar enfrenta uma onda de desconfiança no mercado, e a crise atinge em cheio os dividendos do FII
Ouro ultrapassa o nível de US$ 4 mil pela primeira vez por causa de incertezas no cenário global; o metal vai conseguir subir mais?
Shutdown nos EUA e crise na França levam ouro a bater recorde histórico de preço
Fundos de ações e multimercados entregam 21% de retorno no ano, mas investidores ficam nos 11% da renda fixa, diz Anbima
Mesmo com rentabilidade inferior, segurança da renda fixa mantém investidores estagnados, com saídas ainda bilionárias das estratégias de risco
MXRF11 mira captação recorde com nova emissão de até R$ 1,25 bilhão
Com uma base de 1,32 milhão de cotistas e patrimônio líquido de mais de R$ 4 bilhões, o FII mira sua maior emissão
O que foi tão ruim na prévia operacional da MRV (MRVE3) para as ações estarem desabando?
Com repasses travados na Caixa e lançamentos fracos, MRV&Co (MRVE3) decepciona no terceiro trimestre