Ainda sobre Vale e gestão de risco
Confundimos sempre ausência de volatilidade com ausência de riscos. Porque a barragem aparentemente não se mexia, nem dava sustos diários, ela parecia segura – e olha que tínhamos o exemplo de Mariana…
“Nunca a conjuntura foi tão pouco conjuntural.” A frase é do economista André Lara Resende. Pego emprestada porque encaixa bem pra hoje.
“Nossa espécie é péssima em avaliar riscos. Um ser humano típico tem medo de cobras e tubarões, mas não hesita muito em fumar ou acelerar seu carro. Nos EUA, onde as estatísticas são mais confiáveis, cobras e tubarões matam, respectivamente, cinco e 0,5 pessoa por ano, enquanto o cigarro e os acidentes de trânsito geram 480 mil e 35 mil óbitos anuais.” O parágrafo é de Hélio Schwartsman, publicado ontem na Folha.
“Vale reaquece mercado de opções na B3”. A manchete é do Valor Econômico de hoje, em matéria de Juliana Machado e Victor Aguiar.
A quarta-feira promete ser cheia de novidades, com uma agenda importante principalmente lá fora. Mas a questão ainda em torno da Vale, do rompimento de sua barragem em Brumadinho e das medidas anunciadas ontem à noite, com resposta bastante positiva de seus ADRs no after-market, permeia o noticiário. Quero voltar a ela hoje.
Não quero tanto falar da questão específica e da conjuntura. Hoje, estamos fora das opções (indicamos aos assinantes realizarem o grande lucro obtido com as puts) e também das ações. Entendo que há gente boa comprando, como soubemos ontem da SPX em evento do Credit Suisse, mas não encontramos aqui a visibilidade necessária para sugerir a compra dos papéis nesses níveis.
Erro tipo 2, eu topo. Tomar como falso o que é verdadeiro (não comprar uma ação e ela subir) é muito menos nocivo do que tomar como verdadeiro o que é falso (comprar uma ação e ela cair).
Leia Também
Embolsados os lucros com as puts, estou agora, como financista, mais interessado nas lições gerais e estruturais para alocação de recursos e gerenciamento de riscos.
Antes de prosseguir, repito a ressalva que já deveria estar clara: escrevo sob o devido respeito e preenchido de sentimentos pelas vítimas e suas famílias. Falar de finanças é meu dever de ofício. Espero que as pessoas possam entender isso e separar as coisas.
O primeiro ponto que precisa estar claro é o de Hélio Schwartsman, replicado no segundo parágrafo desta coluna. Nosso cérebro não reúne as competências necessárias para a apropriada gestão de riscos. É uma questão biológica mesmo.
Overconfidence
Temos uma tendência a superestimar as próprias habilidades, naquilo que as finanças comportamentais chamam de “overconfidence”. Em autoavaliações excessivamente otimistas, consideramos sermos capazes de listar todos os riscos existentes e, ainda mais, superar os obstáculos à frente.
Não é o caso, principalmente diante de riscos escondidos. Há coisas que estão sob o tapete e não conseguimos contemplar a priori. Ninguém colocou no valuation da Vale o risco de novo rompimento de barragem. Claro, depois fica óbvio. Mas antes é impossível mapear tudo que pode acontecer amanhã.
Como disse Donald Rumsfeld, há coisas que sabemos que sabemos. Há coisas que não sabemos que sabemos. Há coisas que sabemos que não sabemos. E há coisas que não sabemos que não sabemos. “E se olharmos ao longo da história do nosso país e de outros países livres, é a última categoria que tende a ser a mais difícil.”
Confundimos sempre ausência de volatilidade com ausência de riscos. Porque a barragem aparentemente não se mexia, nem dava sustos diários, ela parecia segura – e olha que tínhamos o exemplo de Mariana bem fresco na memória. É a clássica questão do peru de Natal de Bertrand Russell ou o problema do granjeiro, nas palavras do brilhante e sempre gentil Eduardo Giannetti.
Um peru é alimentado por 360 dias sem nenhuma volatilidade e, no momento em que está mais confiante na união estável com seu dono, ele mesmo vira o jantar. Não houve volatilidade, não houve sustos, não houve indícios de que algo ruim poderia acontecer. Veio de súbito, sem que ninguém esperasse.
Gestão de riscos
Tal como é feita hoje, muito pautada em modelos de VaR (histórico ou paramétrico, tanto faz) e de variância histórica (mesmo os heterocedásticos – esses são os piores, aliás, porque parecem mais sofisticados e deixam o gestor ainda mais confiante), a gestão de riscos é a representação do problema do peru de Natal.
Observamos um passado e um presente calmo e queremos extrapolá-los para o futuro. Queremos afastar a dúvida e a incerteza associadas ao amanhã. Nosso cérebro não gosta da falta de certezas. Ele quer controlar as possibilidades e nos dar uma falsa sensação de estarmos no comando, quando, na verdade, estamos sempre por um fio. A vida e seus acontecimentos são muito mais tênues, aleatórios e descontrolados do que gostaríamos. A razão é uma grande emoção, é o desejo de controle.
Outro ponto fundamental da gestão de risco se liga à confusão feita sobre a estrutura da distribuição de probabilidades de variáveis físicas e naturais, com aquelas sociais e pertencentes a ambientes complexos, de incerteza e de aleatoriedade.
As primeiras, tradicionalmente, pertencem ao mundo chamado Mediocristão. Pegue uma lista aleatória de mil pessoas e calcule a média de peso da amostra. Agora, adicione a pessoa mais gorda do mundo à seleção. Recalcule a média. Qual o impacto da nova pessoa? Apenas marginal.
Agora refaça o mesmo exercício usando patrimônio como variável. Ao adicionar a pessoa mais rica do mundo à amostra, a média final muda completamente – a nova observação vai representar 99 por cento da coisa. É o mundo do Extremistão, completamente diferente do anterior.
As variáveis financeiras pertencem a esse segundo planeta e não obedecem às distribuições de probabilidade do tipo Normal/Gaussiana. Elas têm caudas muito mais longas e é por isso que VALE3 pode cair 20 por cento no dia sem que isso me cause espanto.
Quando você monta uma estratégia de hedge – e falando neste caso particular da compra de put como acabamos de sugerir no caso da Vale –, não quer dizer que você espera que o cenário negativo vá se materializar. Não é uma aposta no que já é ou no que você acha que será, mas apenas nas mais variadas hipóteses e possibilidades de materialização de um cenário futuro negativo. Essas hipóteses e possibilidades podem ser mapeáveis a priori ou podem nem sequer fazer parte da capacidade de imaginação ex-ante.
O hedge é montado para se proteger de tudo isso, inclusive e principalmente de você mesmo, de suas próprias convicções. Gênios também erram, em especial nos ambientes de incerteza e volatilidade. “Tough ain’t enough”, como diria Clint Eastwood no filme “Menina de Ouro”.
Não adianta só tentar modular antes cenários a se materializarem à frente nem calibrar tamanhos de posição. Algo irá acontecer no futuro que não está hoje sequer considerado dentro do mapa de possibilidades.
Muitos resistem à montagem de estruturas de hedge e portfólio sob o argumento de que “quando não estou convicto, monto uma posição pequena; pra que hedge?”. Respeito profundamente todas as abordagens, em particular porque reconheço o quanto hedge é caro e ilíquido no Brasil. Mas não posso concordar com o argumento.
Comprar pequeno e sem hedge é muito diferente de comprar grande com hedge. Isso acontece porque a matriz de retornos potenciais não é linear e pode envolver convexidade.
Para provar o ponto
Pense no caso mais simples possível. Aqui vou apresentar de forma hiperbólica só pra provar o ponto. Estou mais interessado na filosofia e no estrutural da coisa.
O investidor A não gosta de hedge. Ele não está muito convicto sobre as ações da Vale. Então, compra apenas 100 VALE3. Considerando os preços de fechamento da véspera, paga 42,74 reais. Total gasto de 4.274,00 reais (100 x 42,74).
O investidor B também não está muito convicto sobre as ações da Vale. Logo, ele compra 1.000 VALE3 e 1.000 puts (opções de venda; direitos de vender as ações por um determinado preço), no caso VALEN426 (direito de vender VALE3 em fevereiro por 42,64 reais). Ele paga os mesmos 42,74 reais nas VALE3 e mais 2,02 reais nas VALEN426. Total gasto de 44.760,00 reais (1.000 x 42,74 + 1.000 x 2,02).
Suponha agora que as ações da Vale se multipliquem por 10x. O investidor A termina com 42.740,00 reais. Enquanto o investidor B fica com um total de 425.380,00 (valor das ações fica em 427.400,00 reais, e tinha pagado 2.020,00 reais pelas opções).
O investidor B, portanto, termina com mais dinheiro.
Agora suponha o cenário extremamente negativo, em que as ações da Vale vão para zero. O investidor A vai perder 4.2740,00. Já o investidor B, ao exercer as puts, terá vendido suas ações por 42,64 reais. Então, ele tem um prejuízo de 10 centavos por ação (comprou a 42,74 e vendeu a 42,64) mais o custo associado à compra das opções, no total de 2.020,00 reais. Final do prejuízo de 2.120,00 reais (2.020 + 100).
O investidor B perde menos dinheiro do que o investidor A.
Nesse exemplo, B ganha mais do que A no caso positivo. E perde menos no cenário negativo. Você pode manipular os dados da forma como quiser e, sim, encontrará possibilidades em que A ganha mais do que B. A questão fundamental aqui é que comprar pouco de um ativo por falta de convicção não é, nem de perto, a mesma coisa que comprar muito e montar hedge. Isso porque há convexidade e não linearidade nas coisas.
A queridinha dos dividendos está de volta: Vale (VALE3) vai depositar R$ 2,2 bilhões em JCP na conta dos acionistas
O montante será depositado na forma de juros sobre o capital próprio (JCP), e a expectativa é que o valor total bruto gire em torno de R$ 0,52053 por ação
Dividendos da Vale (VALE3), guinada da Embraer (EMBR3) e disparada da Oi (OIBR3): as mais lidas da semana no Seu Dinheiro
Matérias sobre empresas abertas em bolsa e suas ações foram as preferidas dos leitores do SD entre as publicadas na semana que passou
Angústia da espera: Ibovespa reage a plano estratégico e dividendos da Petrobras (PETR4) enquanto aguarda pacote de Haddad
Pacote fiscal é adiado para o início da semana que vem; ministro da Fazenda antecipa contingenciamento de mais de R$ 5 bilhões
Vale (VALE3) é a nova queridinha dos dividendos: mineradora supera Petrobras (PETR4) e se torna a maior vaca leiteira do Brasil no 3T24 — mas está longe do pódio mundial
A mineradora brasileira depositou mais de R$ 10 bilhões para os acionistas entre julho e setembro deste ano, de acordo com o relatório da gestora Janus Henderson
UBS rebaixa recomendação para Vale (VALE3) e corta preço-alvo dos ADRs em NY; o que está por trás do pessimismo com a mineradora?
Papéis da mineradora nas bolsas americana e brasileira operam em queda nesta segunda-feira (11), pressionando o Ibovespa
Xi Jinping reage a Trump: China lança pacote trilionário, mas não anima mercado — e ainda arrasta as ações da Vale (VALE3)
Frustração com medidas de suporte à dívida dos governos locais na China derruba também o Ibovespa no pregão desta sexta-feira
Itaú (ITUB4) supera Vale (VALE3) e se torna a ação mais indicada para investir em novembro; veja o ranking com recomendações de 13 corretoras
O otimismo dos analistas tem base em dois pilares principais: a expectativa de um balanço forte no 3T24 e a busca por um porto seguro na B3
O saldão da eleição: Passado o segundo turno, Ibovespa se prepara para balanços dos bancões
Bolsas internacionais repercutem alívio geopolítico, resultado eleitoral no Japão e expectativa com eleições nos Estados Unidos
Vale (VALE3) e Samarco: o que vem após o acordo de R$ 132 bilhões com o governo por desastre em Mariana (MG)?
Do total previsto no acordo, R$ 100 bilhões são novos recursos que devem ser pagos em até 20 anos pelas empresas ao poder público
Do papel à mineração: CFO da Suzano (SUZB3) se despede do cargo com resultado positivo no 3T24 e se muda para a Vale (VALE3)
Suzano anunciou nesta sexta-feira (25) a renúncia de Marcelo Bacci ao cargo; ele assume as finanças da mineradora a partir de dezembro
Vale (VALE3) em tempos de crise na China e preço baixo do minério: os planos do novo CEO Gustavo Pimenta após o resultado que agradou o mercado
Novo CEO fala em transformar Vale em líder no segmento de metais da transição energética, como cobre e níquel; ações sobem após balanço do 3T24
Vem dividendo por aí? Vale (VALE3) tem balanço forte no 3T24 e ação fica entre as maiores altas do Ibovespa. Saiba o que fazer com os papéis agora
A mineradora também assinou nesta sexta-feira (25) o acordo definitivo de reparação do desastre em Minas Gerais, no valor de R$ 170 bilhões
Usiminas (USIM5) reverte prejuízo, tem lucro no 3T24 e analistas enxergam futuro positivo para empresa; ações sobem 7% na bolsa hoje
Após um balanço bastante abaixo das expectativas no segundo trimestre, a Usiminas reverteu o prejuízo registrado naqueles três meses para um lucro de R$ 185 milhões. Os investidores parece que gostaram do que viram: as ações USIM5 saltam 7,01% por volta das 10h30 desta sexta-feira (25), cotadas a R$ 6,80. Ainda que a empresa continue […]
A história não acaba: Ibovespa repercute balanço da Vale e sinalizações de Haddad e RCN em dia de agenda fraca
Investidores também seguem monitorando a indústria farmacêutica depois de a Hypera ter recusado oferta de fusão apresentada pela EMS
Vale (VALE3) carrega o peso da China e do minério e lucro cai 15% no 3T24, mas resultado ainda fica acima das previsões
A companhia também anunciou, junto com o balanço, que um acordo definitivo sobre o desastre em Mariana (MG) deve ser assinado nesta sexta-feira (25)
Vale (VALE3), Itaú (ITUB4) e mais: quais devem ser os destaques positivos e negativos da temporada de resultados do 3T24?
Analista acredita que o desempenho ruim das commodities em 2024 pode pesar sobre as ações expostas a esse mercado, enquanto as empresas voltadas para a “economia doméstica” devem ir bem
Uma carona para o Ibovespa: Mercados internacionais amanhecem em alta, mas IPCA-15 ameaça deixar a bolsa brasileira na beira da estrada
Além do IPCA-15, investidores tentam se antecipar hoje ao balanço da Vale para interromper série de cinco quedas do Ibovespa
Vale (VALE3): minério mais barato, desaceleração da China e provisão bilionária de Mariana — como tudo isso deve afetar os resultados do 3T24?
A mineradora apresentou dados operacionais que agradaram o mercado e, logo depois, anunciou os termos finais de um possível acordo sobre o rompimento da barragem do Fundão
Interpretando a bolsa com Djavan: as recomendações para o fim de 2024 e balanços dominam mercados hoje
Com a agenda relativamente mais esvaziada, os investidores precisam ficar atentos à temporada de resultados e indicadores desta semana
“A Petrobras (PETR4) continua uma pechincha”: gestor da Inter Asset revela 5 ações para investir na bolsa até o fim de 2024
Para Rafael Cota, as ações PETR4 continuam “muito baratas” — mesmo que a companhia seja hoje avaliada em mais de R$ 500 bilhões