Quatro demissões e um tsunami de incertezas
Três generais e presidente do BNDES deixam governo; troca de mensagens arranha Sergio Moro e economia capenga compromete Paulo Guedes

Escalada para o plantão de Natal de 2004 cheguei à redação da agência Reuters em São Paulo, onde era colunista, no horário previsto. O meu editor lá estava acompanhando atenciosamente o noticiário internacional. Walter Brandimarte, hoje editor da Bloomberg para América Latina, se apressou a contar: ocorrera um tsunami na Indonésia. Deveríamos selecionar as informações que seriam reproduzidas em português. Ficaríamos atentos, mas o ocorrido parecia ser uma dessas tragédias naturais que, não raro, surpreendem a imprensa em fim de ano. Walter previa dias tranquilos à frente. Nossa folga chegaria! “Não sabemos bem o que é um tsunami... mas onze ou doze mortos é um número baixo de vítimas se as ondas são gigantes”, calculou. Mas em poucas horas o riso cativante do Walter deu lugar a um silêncio apreensivo. Nos dias seguintes noticiamos que o tsunami havia devastado 14 países e provocado mais de 200 mil mortes.
Nunca esqueci o plantão de 2004. Duas vezes nos últimos 40 dias, me lembrei daquela tragédia e dos seus efeitos retardados, sendo um deles a paralisia que a incerteza provoca quanto ao número de vítimas de um desastre natural ou quanto aos rumos de um governo de onde desembarcam figuras-chave.
Lembrei do tsunami do Oceano Índico quando, no começo de maio, o presidente Jair Bolsonaro previu que um tsunami atingiria o governo referindo-se à possibilidade de ter de ampliar o ministério de 22 para 29 pastas, caso o Congresso não aprovasse a MP 870 da reforma administrativa, o que não aconteceu porque o texto foi aprovado; no domingo, lembrei novamente das incertezas com a demissão de Joaquim Levy da presidência do BNDES. Levy e os generais Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), Franklimberg Freitas (Funai) e Juarez de Paula Cunha (Correios) deixaram o governo na semana passada, em meio à escalada de tensão protagonizada inicialmente pelo ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro e, na sexta-feira, pelo ministro da Economia Paulo Guedes.
Moro esteve no foco da divulgação – pelo site The Intercept – de mensagens trocadas com o procurador Deltan Dallagnol no âmbito da Lava Jato. Guedes reagiu vigorosamente contra o parecer do relator da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), e provocou, na tarde de sexta-feira, um revertério nos mercados. Guedes pretendia reduzir privilégios de servidores e adotar a capitalização como um novo regime de Previdência no país, o que não foi contemplado no relatório de Moreira.
Moro e Guedes são chamados “superministros” de Bolsonaro e é para eles que os agentes econômicos olham sempre que o tempo esquenta na administração pública ou quando o presidente dá uma repaginada em seu discurso.
Rei morto, rei posto
E isso também aconteceu no fim de semana em relação a Sergio Moro. O presidente, que na sexta-feira afirmou ser “zero” a possibilidade de demitir o ministro [em decorrência da troca de mensagens entre Moro, quando juiz, e o procurador Deltan Dallagnol no âmbito da Lava Jato], no sábado lembrou que confiar 100% só em seu pai e em sua mãe. O comentário foi entendido como uma ressalva à afirmação feita na véspera.
Leia Também
Também no sábado, Bolsonaro declarou que Joaquim Levy estava "com a cabeça a prêmio há algum tempo". "Levy nomeou Marcos Pinto para função no BNDES. Já estou por aqui com o Levy", disse o presidente. "Falei para ele: (Levy) demite esse cara na segunda ou eu demito você sem passar pelo Guedes", afirmou Bolsonaro no sábado.
No domingo, ao mesmo tempo em que Joaquim Levy informava sua demissão, apresentada ao ministro Paulo Guedes, tinha início o ciclo de apostas sobre a sucessão no comando do BNDES.
Os nomes mais cotados, ontem, eram Salim Mattar, secretário especial de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, e Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central que assumiu a presidência do conselho do BNDES neste ano. Também estão no páreo Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central e do BNDES, e Solange Vieira, funcionária de carreira do BNDES e atual presidente da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
É altamente provável que o mercado financeiro soltará rojões se Mattar for nomeado presidente do BNDES, que poderia se tornar o catalisador das privatizações no país.
Só a sucessão no banco de fomento já renderia assunto para a semana, que será mais enxuta pelo feriado de Corpus Christi na quinta-feira. Contudo, a agenda é mais alentada. Amanhã, terça-feira, a comissão especial deve iniciar as discussões sobre o relatório da reforma das aposentadorias. E o plenário do Senado deverá votar, também amanhã, os projetos aprovados pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e que derrubam o decreto do presidente Bolsonaro que flexibiliza o porte e a posse de armas de fogo.
Amanhã tem início as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) no Brasil e do Comitê Federal de Mercado Aberto do Federal Reserve (FOMC, na sigla em inglês). Os mercados seguem apostando no corte dos juros aqui e lá, mas é improvável que os dois BCs tomem essa decisão neste mês.
Mais polarização
As manifestações nas redes sociais sobre o vazamento das mensagens trocadas entre o então juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, impactaram negativamente a imagem o atual ministro da Justiça. As manifestações positivas sobre o Moro recuaram de 51% em maio para 42% em junho, informa a .Map – Mapeamento, Análise e Perspectiva, agência proprietária do IP Brasil Opinião, um indicador desenvolvido para traduzir as opiniões da sociedade sobre a agenda nacional em três subdivisões: Política, Economia e Bem-Estar. A base de apuração corresponde a 1,2 milhão de posts diários de formadores de opinião e opinião pública.
A repercussão do episódio The Intercept – site que divulgou as mensagens de Moro e Dallagnol registradas no aplicativo Telegram – superou em 85% o impacto provocado pela confirmação do nome do ministro para compor o Ministério, anunciado em novembro passado, pelo então presidente eleito Jair Bolsonaro.
“As manifestações sobre o vazamento das mensagens são marcadamente polarizadas”, afirma Marilia Stabile, diretora geral da .Map. “A militância de esquerda mostra maior ativismo nas redes sociais e se impõe e, assim, sobressai a argumentação de que Lula é um preso político e condenado sem provas. Militantes da direita intensificaram sua atuação nos últimos dois dias. E, nesse caso, como principal argumento está a crítica à busca, por petistas e aliados, da fragilização da Lava Jato”, informa Marilia.
Na semana passada, a Lava Jato respondeu por 58% dos debates travados entre os internautas e o apoio à operação (avaliada pelo Índice de Positividade construído pela agência) ficou em 47%. Essa pontuação mostra disputa equilibrada entre apoiadores da investigação e críticos.
Ainda durante a semana, as redes sociais repercutiram a queda do PIB, de 0,2% no primeiro trimestre, e o resultado levou ao recuo das manifestações positivas sobre o ministro Paulo Guedes. Em maio, o grau de apoio das redes ao ministro da Economia era de 68%; em junho, até a quarta-feira passada, de 52%. Giovanna Masullo, responsável pela pesquisa da .Map, informa que o público cobra resultados e ações do ministro Paulo Guedes. “Cresce a percepção de que a reforma da Previdência não levará o pais ao crescimento econômico imediato”, acrescenta.
Governo ignora parecer da Petrobras (PETR4) e indicará dois nomes barrados pela estatal para o conselho de administração
Jônathas de Castro, secretário da Casa Civil e Ricardo Soriano de Alencar, Procurador-Geral da Fazenda Nacional, foram bloqueados por conflito de interesses
Bolsonaro promete 50 embaixadores em reunião para falar de fraude em urnas eletrônicas, mas Estados Unidos, Japão e Reino Unido não confirmam presença
Os presidentes do STF e TSE também devem faltar ao encontro, convocado pelo presidente para discutir a nunca comprovada fraude nas eleições de 2014 e 2018
As alianças se consolidam: Rodrigo Garcia e Tarcísio selam acordos na disputa por um lugar no segundo turno em São Paulo
Tarcísio de Freitas (Republicanos) consegue apoio de Kassab; Rodrigo Garcia (PSDB) fecha com União Brasil
Barrados no baile: com IPO suspenso pela justiça, Corsan e governo do RS estudam medidas para retomar privatização
Os planos da estatal de saneamento do Rio Grande do Sul foram barrados pelo Tribunal de Contas do Estado, que pede ajustes na modelagem da oferta
Caixa revela que sabia de denúncia de assédio contra Pedro Guimarães desde maio e aponta presidente interina
A Corregedoria aguardou até que o denunciante apresentasse um “conjunto de informações” suficiente para prosseguir com a investigação contra Pedro Guimarães
Governo oferecerá mais de R$ 340 bilhões para produtores rurais no novo Plano Safra; valores entram em vigor em julho
O programa do governo federal prevê o direcionamento de recursos públicos para financiar e apoiar a agropecuária nacional
Pedro Guimarães entrega carta de demissão a Jair Bolsonaro e rebate acusações de assédio; veja quem o sucederá na presidência da Caixa
Guimarães deixa o cargo em meio a uma investigação do Ministério Público Federal por múltiplas denúncias de assédio sexual
Governo já decidiu quem será a nova presidente da Caixa — só falta Pedro Guimarães sair
Atual secretária especial de produtividade e competitividade da pasta, Daniella Marques foi escolhida para suceder Guimarães em meio a escândalo de assédio sexual
Governador de SP anuncia corte do ICMS sobre combustíveis para 18%; arrecadação deve cair em R$ 4,4 bilhões no ano e afetar transportes no estado
A redução da alíquota será de 25% para 18%, o que deve gerar uma queda de R$ 0,48 do valor do litro da gasolina nos postos
Uma lista mais enxuta: Governo ‘desconvida’ dois indicados ao conselho da Petrobras (PETR4); confira os nomes atualizados
Ao todo, a lista contém oito nomes. Caio Paes de Andrade foi confirmado na pasta atual como a indicação da União para a presidência da estatal
Governo propõe zerar impostos federais sobre diesel e gasolina para conter inflação — e ‘compensar’ os estados por redução adicional no ICMS
Em nenhum momento, o governo mencionou sobre os impactos da proposta sobre o orçamento ou sobre o teto de gastos e também não disse de onde o dinheiro da compensação ao estados vai sair
Parecer de PL do ICMS deve acontecer até terça-feira, afirma relator; compensações aos estados ameaçam as contas públicas
Entre os pontos analisados está a possibilidade de tirar qualquer tipo de compensação para os Estados que perderem arrecadação, o que desagradou governadores
Na briga pelo ICMS, governo avalia PEC para compensar R$ 22 bilhões aos estados; proposta segue em debate na próxima semana
Os estados e o governo federal tentam achar um meio termo para redução de impostos e compensação de arrecadação
Conselho do PPI recomenda inclusão da Petrobras (PETR4) em lista de estudos para privatização — mas o caminho para a venda ainda é longo; saiba mais
O sinal verde ocorre dois dias após o pedido formal para a entrada da companhia na carteira do programa
‘Petrobras (PETR4) quer mais é arrancar dinheiro do povo’: confira os novos ataques de Bolsonaro à política de preços da estatal
O presidente também culpou Lula, seu maior rival nas eleições deste ano, e os governadores pelas altas sucessivas no preço dos combustíveis
Incorporadoras da B3 sobem forte com novidades no programa Casa Verde e Amarela; veja quais ações mais ganham com as atualizações
As mudanças já anunciadas e outras ainda em discussão no Ministério do Desenvolvimento Regional trazem alívio ao segmento hoje
Privatização da Eletrobras (ELET3): pedido de oferta de ações bilionária no Brasil e nos EUA pode ser protocolado amanhã, diz agência de notícias
De acordo com o Broadcast, a companhia define hoje a data de lançamento e os detalhes da operação global
Novo presidente da Petrobras (PETR4) pode dar adeus ao cargo após apenas um mês, diz jornal — veja o que ameaça Ferreira Coelho
Segundo o Estadão, com a troca de comando no Ministério de Minas e Energia, o cargo de presidente da petroleira também está na mira
TCU marca julgamento da Eletrobras (ELET3) para a próxima semana; confira outras pedras no caminho da privatização da estatal
Vale relembrar que, sem o sinal verde do tribunal, não há como prosseguir com a desestatização, prevista para ser concluída até agosto deste ano
Quem é José Mauro Ferreira Coelho, o homem que vai comandar a Petrobras (PETR4) em meio a crise dos combustíveis
Ele assume o lugar do general Joaquim Silva e Luna, que está no comando da empresa desde abril de 2021