Em busca do tempo perdido
Há uma conjunção rara no Brasil, que me remete um pouco ao PAEG, uma reunião de reformas estruturantes e liberais que assentou as bases para o milagre econômico do final dos anos 1960 e começo dos 1970

“Roll over Beethoven and tell Tchaikovsky the news. I got the rockin' pneumonia.”
Podem espalhar a novidade: depois de muito tempo, o Brasil corre o risco de dar certo. O real fez 25 anos e a verdade é que continua sendo uma moeda bem exótica. Paga muito bem quando as coisas vão bem, e muito mal quando as coisas vão mal. O problema é que, quando as coisas vão mal, é quando você mais está precisando do dinheiro e é aí que a nossa moeda pode lascá-lo.
Agora, porém, as coisas parecem estar mudando. Veja bem, não me dou a expectativas ingênuas. Não espero que a gente vire a Suíça, tampouco que desta vez seja diferente. Aliás, muito pelo contrário. O meu “dar certo” é por um tempo, tipo naquele ciclo 2003-07, e de mera reversão à média — depois da grande depressão da era Dilma, estamos tão na bacia das almas que a simples convergência para patamares medíocres já representará uma verdadeira multiplicação. Se sua nota na prova foi 2, para voltar à média 5, ela precisaria se multiplicar por 2,5. Não é pouca coisa.
A analogia vale para os lucros corporativos. As margens de lucro das empresas foram simplesmente destruídas. Uma coisa é uma companhia sair de uma margem de lucro de 20 por cento para 24 por cento. Outra, completamente diferente, é aumentar essa margem nos mesmos quatro pontos percentuais, mas saindo de 1 por cento para 5 por cento. No primeiro caso, os lucros aumentaram 20 por cento. No segundo, multiplicaram por cinco. E, se os lucros sobem, as ações inexoravelmente acabam acompanhando no final.
Há uma conjunção rara no Brasil, que me remete um pouco ao PAEG, uma reunião de reformas estruturantes e liberais que assentou as bases para o milagre econômico do final dos anos 1960 e começo dos 1970. Essa saída de anos e anos de esquerda intervencionista para a direita liberal reformista tem um impacto brutal.
Muita gente supostamente austera e responsável quer alertar que a reforma da Previdência não é tudo. Para os mais céticos, nem mesmo seria suficiente para resgatar algum crescimento. Com efeito, está certo. Contudo, talvez escape a essas pessoas que a reforma não é mesmo o fim, mas o começo de uma ampla plataforma. A ela se seguiriam outras medidas, como flexibilização adicional do mercado de trabalho, carteira verde e amarela, medidas parafiscais, modernização da lei cambial, desburocratização, melhoria do ambiente de negócios, pacto federativo, reforma tributária, concessões, privatizações, evolução dos marcos regulatórios setoriais, desaparelhamento das agências reguladoras, incremento da governança das estatais, e por aí vai.
Leia Também
Temos hoje famílias e empresas desalavancadas, espaço para retomada do crédito, juros nas mínimas históricas (e indo para níveis ainda menores), muita ociosidade na economia, inflação sob controle, balanço de pagamentos equilibrado. O Brasil, historicamente, conseguiu crescer (mesmo na ideia dos saltos de galinha) em situações de folga de demanda agregada, como a atual — o problema costuma vir em restrições de oferta; o supply side nunca foi nosso forte, mas a boa notícia é que falta muito até batermos lá.
A isso tudo se soma esse momento particularmente especial não somente da economia, mas de toda a sociedade brasileira, no que tem sido chamado de “financial deepening”, uma espécie de “aprofundamento da financeirização”. O termo é péssimo, mas marca uma verdadeira revolução silenciosa, em que toda a população passa a se interessar sobre finanças (taxista vai ter carteira de small caps) e o mercado de capitais se multiplica por dez vezes em pouco mais de uma década, com proliferação de produtos, plataformas, fundos, número de participantes, etc. Tudo basicamente resultado de juros muito mais baixos por bastante tempo e alguma visibilidade na economia. Foi o que aconteceu nos EUA entre os anos 1980 e 1990. Com cerca de 30 anos de atraso, somos um museu de grandes novidades.
Lá fora, embora haja uma preocupação importante com o “late cycle” (o estágio avançado do ciclo das economias e uma notável desaceleração dos PMIs, as referências de manufatura), existe uma liquidez simplesmente absurda, ávida por perseguir qualquer retorno excedente no mundo. E isso vai se intensificar com os principais bancos centrais caminhando para novas reduções de suas taxas básicas de juro e mais injeção de dinheiro no sistema.
Cara, tudo isso para dizer o seguinte: existe uma real oportunidade de multiplicação patrimonial à sua frente neste momento. Não falo sobre os próximos dias, ou mesmo meses. O comportamento dos mercados no curto prazo é absolutamente randômico e aleatório. Aqui falo dos próximos anos, pelo menos até o próximo ciclo eleitoral. Eu gostaria de me referir à próxima década inteira, mas preciso ser mais cauteloso pois uma eventual eleição de um governo populista de esquerda, travestido de uma retórica supostamente keynesiana (gasto é vida, lembra?), pode interromper essa brincadeira.
Se você é um dos três leitores destas pobres linhas, talvez perceba que não há nada tão novo até aqui. Já venho com essa ideia há um certo tempo. Mas existe uma outra mensagem a ser passada hoje, esta, sim, fresquinha.
Tempo perdido
A imagem que está na minha cabeça é da corrida no Grande Prêmio de Mônaco no dia 15 de maio de 1988, naquilo que é considerado um dos maiores erros da carreira de Ayrton Senna. Ele liderava a corrida com 54 segundos de vantagem sobre Alain Prost. A vitória era praticamente certa. De repente, sem qualquer ameaça, bateu sozinho na Portier, a curva pouco antes da entrada do clássico túnel de Monte Carlo, entregando de bandeja a vitória para o rival francês. Há algumas versões para a história, sendo a mais popular aquela em que Senna simplesmente não queria vencer a corrida. Ele queria dar uma volta em seu arquirrival. Por isso, vinha fazendo volta mais rápida atrás de volta mais rápida, alucinado para quebrar recordes. Segundo o próprio Prost afirma no documentário de Asif Kapadia, “Senna não queria apenas ganhar a corrida, ele queria me humilhar para o mundo”.
Prost e Proust. A homofonia é mera coincidência. Trouxe a metáfora com um objetivo: não adianta você querer ia atrás do tempo perdido e fazer retornos de 25 anos do dia para a noite.
Se estamos mesmo diante da tal oportunidade de multiplicar seu capital em anos, e encontrar um superciclo positivo para os mercados brasileiros, se valem o tal do financial deepening, o bull market estrutural e todo o resto, tudo que você precisa fazer é não fazer besteira. Basta se expor racionalmente ao ciclo, sem querer fazer o gol de bicicleta ou atravessar a Portier em velocidade superior à possível.
É só e tudo isso. Não nos deixeis cair na tentação da dica esperta, da concentração, da alavancagem. Tenha uma boa exposição mais geral à Bolsa e aos juros longos e espere. Com o perdão da linguagem chula, usada deliberadamente para dar peso à coisa, você só não pode fazer uma grande cagada, como ter exposição grande a uma empresa quebrada ou a uma companhia que vai sofrer disrupção. Malandro que quer ser malandro demais se atrapalha.
Nada de posições muito grandes, quase nada de crédito privado, nada de fundo multimercado de baixa volatilidade, nada de ficar vendido em opções (ou mesmo em ações; não fique contra a convexidade), nada de carteira de micos. Aproveite a brisa e curta o momento. A vida está boa.
Mercados
Mercados iniciam a terça-feira próximos à estabilidade, acompanhando alguma dose de cautela no exterior, mediante preocupações renovadas com guerra comercial e no aguardo de novidades sobre a reforma da Previdência.
Donald Trump anunciou novas tarifas contra a União Europeia, num momento delicado para a economia global, com PMIs mostrando fraqueza na margem. Em paralelo, dúvidas sobre ação iminente de BCs mundiais, que podem não estar prontos para agir já em julho contra desaceleração global, impedem novos avanços de Wall Street, após recorde para o S&P 500 na véspera.
Por aqui, há grande expectativa para leitura do relatório da reforma da Previdência, com últimos esforços em prol da inclusão de Estados e municípios.
Agenda doméstica traz queda de 0,2 por cento da produção industrial, contra estimativa de redução de 0,3, e dados da Fenabrave. Nos EUA, destaque para índice de condições empresariais.
Ibovespa Futuro abre em baixa de 0,15 por cento, dólar e juros futuros estão perto do zero a zero.
Dupla de FIIs de logística domina lista dos fundos imobiliários mais recomendados para agosto; confira os favoritos de 10 corretoras
Os analistas buscaram as oportunidades escondidas em todos os segmentos de FIIs e encontraram na logística os candidatos ideais para quem quer um show de desempenho
Clima de eleições embala grande reencontro do mercado financeiro na Expert XP – e traz um dilema sobre o governo Bolsonaro
Com ingressos esgotados, a Expert XP 2022 não pôde fugir do debate entre Lula e Bolsonaro, mas esqueceu-se da terceira via
Onde os brasileiros investem: CDBs ultrapassam ações no 1º semestre, e valor investido em LCIs e LCAs dispara
Volume investido em CDBs pelas pessoas físicas superou o valor alocado em ações no período; puxado pelo varejo, volume aplicado por CPFs cresceu 2,8% no período, totalizando R$ 4,6 trilhões
Bitcoin e Ibovespa têm as maiores altas do mês e reduzem as perdas no ano; veja o ranking completo dos melhores investimentos de julho
Neste início de semestre, os humilhados foram exaltados, o dólar deu algum alívio, mas os títulos públicos atrelados à inflação continuaram apanhando
Bolsa, juros, dólar ou commodities: o que comprar e o que vender segundo duas das principais gestoras de fundos brasileiras
Especialistas da Kinea e da Legacy Capital participaram do primeiro painel da Semana da Previdência da Vitreo e contaram suas visões para o cenário macroeconômico e os ativos de risco nos próximos meses
Deu ruim para as startups: aportes em venture capital no Brasil caem 62% no segundo trimestre; investidor muda foco para o private equity
Os investidores que estão em campo procuram empresas já estabelecidas e com resultados mais robustos; startups ainda estão no radar
Virou poupança? Nubank só vai começar a pagar rendimento na NuConta após 30 dias; entenda
Mudança de rendimento da conta do Nubank deve começar no final de julho e será aplicada exclusivamente ao saldo dos novos depósitos
Investimento numa hora dessas? Sim! De renda fixa a ações, de FIIs a criptomoedas, saiba onde investir no segundo semestre
O momento macroeconômico é difícil e pode ser que você tenha menos recursos para investir do que antes, mas ainda assim existem oportunidades. No podcast Touros e Ursos desta semana, falamos sobre elas
Onde investir no 2º semestre: fundos imobiliários de tijolo estão muito baratos, mas ainda não é hora de abandonar completamente os FIIs de papel
Montar uma carteira mais equilibrada, capaz de marcar pontos tanto com a defesa quanto com o ataque, é a dica dos especialistas em FIIs para o segundo semestre
Crise dos unicórnios e demissões em massa têm explicação: investimentos em startups caíram 44% no primeiro semestre
Inflação global, escalada da alta de juros e a Guerra da Ucrânia geraram incertezas no mercado e “seguraram” os investimentos; as mais afetadas são as startups de late stage e unicórnios
Fundos de papel retornam ao topo da preferência dos analistas; veja quais são os FIIs favoritos para julho
Em meio ao temor de recessão global, as corretoras consultadas pelo Seu Dinheiro voltaram-se novamente para a proteção do papel
Onde investir no 2º semestre: receio com próximo governo, inflação e juros representam riscos para a economia, diz Figueiredo, da Mauá Capital
Na abertura do especial “Onde Investir” no 2º semestre de 2022, o gestor detalha os prognósticos para a economia brasileira
Dólar dispara em junho e é o melhor investimento do mês; mas com a alta dos juros, primeiro semestre foi da renda fixa
Bitcoin, por outro lado, vem apanhando em 2022, e foi o pior investimento do mês e do semestre
Entenda por que a Regra da Morte (ainda) não foi acionada mesmo com bitcoin abaixo dos US$ 21 mil — e se ainda existe chance de acontecer
O motivo pelo qual o gatinho não acionou a regra é incerto, mas ainda existe a chance dele ser disparado
Selic vai mesmo parar de subir? Saiba se é finalmente hora de comprar títulos prefixados no Tesouro Direto
Com fim da alta dos juros, prefixados parariam de se desvalorizar, passando a subir quando a Selic finalmente começasse a cair. Mas já está na hora de assumir essa posição?
Bitcoin (BTC) está a menos de US$ 2.500 do gatilho da ‘Regra da Morte’ — e isso pode fazer criptomoedas derreterem ainda mais; entenda
A Microstrategy tem mais de US$ 3 bilhões de bitcoin em caixa, o que ameaça as cotações à vista da maior criptomoeda do mundo
Conheça quatro formas de conseguir dinheiro para abrir ou expandir o seu negócio
Antes mesmo de conseguir dinheiro para o seu negócio, é preciso pensar no propósito e nos objetivos da empresa a longo prazo
Semana do bitcoin (BTC) teve dividendos em criptomoedas, renda fixa digital e um mês do fim da Terra (LUNA); saiba o que esperar dos próximos dias
Nesta sexta-feira (10), a maior criptomoeda do mundo volta a cair após a inflação dos Estados Unidos vir pior do que o esperado
Ethereum (ETH) explode ‘bomba de dificuldade’ da rede e criptomoeda se aproxima da sua versão 2.0; entenda o que isso significa
O processo final de atualizações deve acontecer entre o terceiro e o quarto trimestre deste ano, de acordo com os desenvolvedores
Bitcoin (BTC) sente fraqueza antes da inflação dos Estados Unidos e criptomoedas devem fechar mais uma semana pressionadas
O mercado reage à decisão do Banco Central Europeu de subir os juros no futuro, em linha com o esperado pelos investidores