Ibovespa fecha em alta, apesar das ameaças de Trump
Depois de subir e descer durante a tarde, a Bolsa conseguiu um bom resultado, mesmo com Trump dizendo que vai paralisar o governo se o muro não sair
Um dia é de desespero, o outro de recuperação. Com isso em mente e a vontade de aproveitar algumas "pechinchas", o investidor voltou nesta terça-feira para a Bolsa de Valores de São Paulo, que chegou a subir mais de 1% na parte da manhã. Mas (sempre tem um "mas") o Ibovespa desacelerou o ritmo durante a tarde acompanhando os mercados internacionais. Mesmo assim, o Ibovespa fechou em alta de 0,59%, a 86.419 pontos.
Também o dólar foi reduzindo as perdas frente ao real e voltou a ser cotado no nível de R$ 3,91, depois de cinco dias de altas consecutivas. Fechou o dia em queda de 0,23%, no valor acima. O Banco Central, após ficar uma semana sem fazer novos operações de câmbio, fez dois leilões de linha hoje, em um total de US$ 1 bilhão, para dar liquidez ao mercado, sobretudo por conta da maior pressão de compradores que precisam de dólar para remeter recursos para o exterior, demanda que costuma crescer em finais de ano.
Muro à frente
O Ibovespa começou bem o dia, com os investidores aproveitando os preços baixos gerados pelo pregão de ontem, quando a Bolsa caiu 2,5%. Mas as altas cessaram por conta do cenário externo, com os desdobramentos da falta de acordo para a votação do Brexit e ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de paralisar o governo, caso o orçamento não contemple muro na fronteira com o México.
O presidente foi duro na defesa da construção de um muro, segundo ele crucial para a segurança americana. Já a oposição democrata vê o gasto como desnecessário e critica a postura do republicano. O projeto orçamentário atualmente em vigor expira em 21 de dezembro e, caso persista o impasse, a paralisação parcial do governo poderá ser inevitável, às vésperas do Natal.
As declarações ácidas de Trump pioraram o humor nas bolsas de Nova York, que chegaram a ficar em território positivo. Mais para o fim da tarde, porém, os índices mostraram volatilidade, com o setor financeiro em baixa, mas o de tecnologia e serviços de comunicação em território positivo.
Além disso, a perspectiva de evolução no diálogo do país com a China na questão comercial, que animava os mercados mais cedo, foi ofuscada à tarde pela informação de que a administração de Trump prepara uma série de ações nesta semana para criticar Pequim pelo que considera ser os esforços contínuos para roubar segredos comerciais e tecnologias avançadas dos EUA.
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Brexit
Um ingrediente novo surgiu no cenário político britânico e que complica ainda mais a já frágil situação da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, um dia depois ela ter anunciado que suspenderia a votação pelo Parlamento do acordo de saída da União Europeia (chamado Brexit). Um comitê da Câmara dos Comuns (equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil) divulgou um relatório em que explica uma maneira de tirar a premiê do poder sem gerar automaticamente a necessidade de uma eleição geral. Um substituto poderia ser indicado por meio de uma indicação do seu Partido Conservador. Outra informação ainda não confirmada foi dada pela rede de televisão Sky News: os tories (como são chamados os conservadores) já reuniram os 48 votos necessários para aplicar uma moção de desconfiança contra a primeira-ministra. As especulações em torno do tema crescem a cada minuto.
Projeções menores
Nos Estados Unidos, o Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE, na sigla em inglês) cortou a sua projeção para 2019 do preço médio tanto do barril do petróleo Brent quanto o do WTI em US$ 11, para US$ 61 e US$ 54, respectivamente. A informação consta da edição de dezembro do relatório Perspectiva de Curto Prazo para a Energia (STEO), divulgada nesta terça-feira. Os contratos da Petrobras, tanto o PN quanto ON, que eram negociados em alta, inverteram. Mas nao por conta dos dados do DoE. Mas sim devido ao comentário de Trump sobre o muro. Encerraram a terça-feira em queda de 0,64%.
JBS na mira, de novo
Por aqui, a JBS, que teve queda de 2,30% (a segunda maior do dia), aparece de novo no noticiário político/policial. A Operação Ross, deflagrada na manhã de hoje, pela Polícia Federal, aponta que o senador Aécio Neves liderou uma associação criminosa que tinha como finalidade comprar apoio político para sua campanha presidencial nas eleições de 2014. De acordo com a PF, o Grupo J&F, dono da JBS , pagou propina, a pedido de Aécio, de R$ 109,3 milhões ao senador, seu partido e outras legendas, como PTB, DEM e Solidariedade.
Gol sobe 13%
As ações das aéreas, Gol e Azul dispararam depois de anunciado que a concorrente, a Avianca Brasil entrou ontem com o pedido de recuperação judicial na 1ª Vara Empresarial de São Paulo. O pedido, de R$ 50 milhões, está em segredo de Justiça. A companhia aérea, que expandiu rapidamente no Brasil, enfrenta uma série de dificuldades para pagar fornecedores e cumprir obrigações com concessionárias de aeroportos. Na semana passada, uma decisão da Justiça de São Paulo obrigou a Avianca a devolver 11 aviões - o equivalente a 18% de sua frota - para a Constitution Aircraft, subsidiária da americana Aircastle, de aluguel de aeronaves. Além disso, outras duas aeronaves arrendadas pela Avianca são alvo de disputa na Justiça por falta de pagamento. Estima-se que toda a dívida da Avianca com todos os aeroportos brasileiros, públicos e privados, chegue a quase R$ 100 milhões.
O papel da Gol fechou o dia com valorização de 13%. O da Azul, subiu na casa dos 6%.
Eletrobras
As ações da Eletrobras continuaram subindo e fecharam o dia com mais de 4% de avanço, após o consórcio Oliveira Energia/Atem ter arrematado a distribuidora Amazonas Energia, a mais endividado do grupo. Como previsto, a Eletrobras assumirá R$ 13 bilhões em dívidas, enquanto o consórcio ficará com R$ 2,2 bilhões em débitos e se comprometeu em realizar um aumento de capital de R$ 491,370 milhões. Esse montante deve ajudar a melhorar a situação financeira da empresa, que tem uma dívida bilionária.
Entregas
As ações preferenciais do Pão de Açúcar ficaram boa parte do dia entre as maiores altas do Ibovespa, com alta de 2,82%. Ontem à noite, após o fechamento do mercado, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) anunciou a aquisição da startup James Delivery, que faz entregas de vários tipos de produtos por meio de pedidos num aplicativo. O app é hoje líder de mercado em Curitiba e atua também em Balneário Camboriú. O valor da transação não foi revelado. Mas ao longo do dias, os papéis foram perdendo força e fecharam a 1,29%.
Suzano...
Na outra ponta, a Suzano foi novamente a campeã de baixa, com 3,87%, em reação ao forte ajuste nos preços da celulose na China. Em relatório, os analistas do Morgan Stanley destacam que atualmente o mercado de celulose segue sob pressão, com a queda de preços na China e na Europa em novembro no comparativo mensal, que os analistas consideram ser temporária. O Morgan Stanley, entretanto, retomou a cobertura da Suzano com recomendação 'equal-weight' (neutra) e preço-alvo em 12 meses de R$ 44,00. O novo preço-alvo representa um potencial de alta de 20,6%.
Andando de lado
"Se considerarmos apenas o cenário doméstico, a tendência da Bolsa é a de andar de lado até o fim de dezembro, com um viés positivo. Mas a cena internacional tem adicionado alta volatilidade por aqui, onde tudo que era relevante, como a cessão onerosa, ficou para 2019", analisa Eduardo Guimarães, da Levante Ideias de Investimentos. Outro fator que, segundo ele, aumenta a volatilidade, é o "gap" de duas horas entre os horários da Bovespa e das bolsas de Nova York. Assim que se abrem os mercados por lá, a Bolsa cai aqui.
*Com Estadão Conteúdo
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