🔴 A TEMPORADA DE BALANÇOS DO 1T25 JÁ COMEÇOU – CONFIRA AS NOTÍCIAS, ANÁLISES E RECOMENDAÇÕES

Luciana Del Caro

Dados valiosos

Garimpando o ‘ouro’ dos bancos: como o open banking pode ampliar a oferta e reduzir o custo do crédito

A tecnologia que deve ser adotada no Brasil em breve também deve ajudar a aumentar o leque de produtos e serviços disponíveis para os clientes e facilitar a comparação de investimentos

Luciana Del Caro
10 de junho de 2019
5:03 - atualizado às 19:03
cofre banco aberto ouro
Imagem: Shutterstock

No mundo das finanças, informação vale ouro. Só que hoje grande parte dessa riqueza está concentrada na mão dos grandes bancos brasileiros, detentores de quase 85% do mercado de crédito no país. Mas e se outras empresas pudessem acessar essas informações, com autorização do cliente, para oferecer produtos melhores ou mais baratos? Isso está prestes a acontecer no país com a adoção do sistema financeiro aberto, também conhecido pelo termo em inglês open banking.

A expectativa é que o open banking ajude a fomentar a disputa entre as instituições financeiras, reduzindo os spreads (a diferença entre o que o banco cobra de juros no crédito e o que paga para os aplicadores). A tecnologia também deve ajudar a aumentar o leque de produtos e serviços disponíveis para os clientes.

Mas será que, de fato, o compartilhamento das informações financeiras veio para dar mais poder aos clientes? O ânimo com o novo sistema é grande e os especialistas dizem que os benefícios devem vir, mas não será a panaceia que vai resolver o alto custo da intermediação financeira no país.

O open banking permite que uma pessoa autorize, explicitamente, um terceiro a compartilhar suas informações financeiras ou a fazer transações em seu nome. “A pedra do angular do open banking é a aprovação do usuário para que os seus dados possam ser transferidos”, afirma o advogado Paulo Casagrande, do escritório Stocche Forbes.

Esse simples compartilhamento tem um potencial enorme para aumentar a competição. A informação é fundamental para a tomada de todo tipo de decisão, de onde investir a quem conceder crédito (e a que custo).

“Hoje, as informações estão na mão de cinco grandes bancos. O open banking vai gerar condições de igualdade na competição”, diz Thiago Alvarez, CEO do aplicativo de controle financeiro GuiaBolso.

Leia Também

Alvarez cita como exemplo de utilização futura do open banking um banco que aplica o dinheiro do cliente parado na conta corrente em um fundo de investimento com baixa rentabilidade. Hoje, apenas esse banco tem a possibilidade de aplicar esses recursos. Com o compartilhamento de dados autorizado pelo cliente, concorrentes passam a poder ofertar melhores produtos.

Alvarez acredita que o custo do crédito irá cair, não só por conta do aumento da concorrência, mas também pela melhoria dos processos de análise de crédito. Ele toma por base a experiência com o próprio GuiaBolso, que, afirma, vem viabilizando empréstimo pessoal a um custo mais baixo que a média do mercado, por meio de parcerias com o Banco Votorantim e Banco CBSS.

Como o GuiaBolso tem acesso aos dados da conta corrente e dos gastos com cartões de crédito dos usuários, consegue fazer uma avaliação de risco mais precisa, diz o executivo. Desde que essa modalidade começou, em 2017, já foram concedidos R$ 700 milhões.

Mas por que o open banking permitiria uma melhor avaliação do crédito, considerando que hoje já existe o cadastro positivo e que os bancos utilizam o sistema SCR, do Banco Central (BC), no qual podem consultar quantas contas correntes cada cliente tem e quanto deve em cada instituição?

Acontece que o cadastro foca na consistência de pagamento, mas não dá acesso a informações relevantes como o fluxo de caixa (todas as receitas e despesas), aos gastos com cartão de crédito ou aos investimentos. Com o open banking, será possível avaliar de forma mais global a capacidade de pagamento de cada um.

“O bom cliente é hoje tratado como o mau cliente, pois os concorrentes não conhecem o seu histórico a fundo”, diz Alvarez.

Como o banco conhece o histórico do cliente e tem acesso a sua conta corrente, acaba tendo vantagem para oferecer todo tipo de produto financeiro, do crédito imobiliário ao seguro do carro. “O relacionamento dos bancos com os clientes hoje é monolítico. Isso vai acabar”, diz Rafael Pereira, presidente da Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD), que reúne fintechs.

Melhor para comparar

Robinson Dantas, fundador da plataforma Gorila Invest, acredita que quem quiser tomar um empréstimo terá mais facilidade para comparar as diversas condições – inclusive, algum tipo de aplicativo poderá vir a fazer pesquisas e o cliente poderá receber propostas de diferentes instituições. Ele cita ainda outra modalidade que pode ganhar força: o peer-to-peer lending, ou o empréstimo uma pessoa física para outra. “A oferta de produtos financeiros e serviços deve aumentar; muita coisa ainda está por ser criada”, afirma.

O aumento das informações sobre produtos, que obrigatoriamente terão de ser publicadas, será outro fator a acirrar a competição não só no crédito, mas também no mundo dos investimentos, acredita Dantas. A princípio, os bancos vão ter de compartilhar pelo menos as seguintes informações: produtos e serviços (características, condições contratuais e custos financeiros), dados cadastrais dos clientes, dados transacionais (contas de depósito, operações de crédito etc.) e serviços de pagamento (transferências e pagamentos).

Hoje, o investidor que desejar pesquisar as taxas e prazos de CDBs tem de buscar instituição a instituição. Com o open banking, os bancos vão ter de tornar essas informações acessíveis a todos, facilitando o trabalho de pesquisa. E o compartilhamento de dados também pode vir a facilitar a gestão da vida financeira de cada um, permitindo a consolidação das informações em um só aplicativo.

O Gorila Invest, por exemplo, já está testando o compartilhamento de dados com duas corretoras e conversa com dois bancos com a mesma intenção. A ideia é que o sistema passe a receber os dados dos clientes das corretoras via APIs (interface de programação de aplicativos), que, simplificando, são protocolos que especificam como os dados serão repassados. O open banking irá funcionar a partir dos APIs.

Custo e privacidade

Uma questão que surge é o quanto os bancos irão encampar a ideia. Eles serão obrigados a aderir (no início, apenas os maiores, das categorias S1 e S2 do BC), mas só o tempo dirá o quão fácil será para o consumidor usar a alternativa. A preocupação faz sentido, uma vez que a adesão ao sistema dependerá também do engajamento de todos – bancos, fintechs e clientes.

Outro ponto é que, a depender de como o modelo for estruturado, na prática ele poderá inviabilizar o aumento da competição. “Há dois pontos de preocupação: a eventual cobrança, por parte dos bancos, pelo acesso aos dados dos clientes e o nível de segurança que será exigido”, afirma Aline Rodrigues e Steinwascher, diretora jurídica da KOIN (fintech que financia compras pela internet).

Aí entra a questão dos dados pessoais, que no Brasil é regulada pela Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). “Os bancos terão de obedecer também à LGPD, inclusive no que diz respeito à possibilidade de vazamentos”, diz Casagrande, do Stocche Forbes.

A lei entra em vigor no ano que vem e prevê multas de até 2% do faturamento anual da companhia (limitada a R$ 50 milhões por infração). Pela LGPB, os dados pessoais são propriedades de cada um, e Casagrande diz que o open banking está em consonância com a lei, pois requer a necessidade de autorização do proprietário dos dados para a transferência.

Considerando que o dado pessoal é propriedade de cada um, Steinwascher diz que, em tese, os bancos não poderiam cobrar pelo acesso a esses dados. Outro ponto que a preocupa diz respeito aos investimentos em segurança da informação: “Se o custo for muito alto, pode inviabilizar a participação das fintechs”, afirma. Nos dois casos, o pretenso aumento da competição poderia cair por terra.

O sucesso do open banking também depende da percepção, por parte dos correntistas, de que os seus dados serão mantidos em sigilo por quem os envia e os recebe. A questão é que os bancos têm de respeitar o sigilo bancário e, a depender da formatação do open banking, podem ser responsáveis solidários pelos dados dos clientes, caso ocorram vazamentos. Portanto, um desafio será calibrar a necessidade de segurança sem tornar o open banking inviável. Caberá à autorregulação do mercado a definição de questões operacionais e padrões de segurança. Outro tópico que o mercado vai definir é a padronização dos dados, importante para que os custos relacionados aos tratamentos dos mesmos não sejam elevados demais.

Outros problemas

Há também um aspecto mais estrutural que pode também diluir os efeitos positivos no Brasil. “O open banking deve contribuir para a redução do spread, mas a sua capacidade de contribuição é pequena porque há outras distorções no sistema, como o elevado compulsório, os custos de observância e, principalmente, a tributação”, afirma o economista Roberto Luis Troster, que se diz um apaixonado pela ideia. Para ele, a intermediação financeira no Brasil é disfuncional, mas não é por conta da concentração bancária.

Ele cita um exemplo fictício, de um banco que concede um crédito sem cobrar nada do cliente, que não tem inadimplência, custo de captação, compulsório, despesas operacionais ou lucro. Por esse empréstimo, o cliente pagaria 7,8% ao ano por conta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

É mais do que a taxa média que um cliente, nas mesmas condições, pagaria em 47 países, como Austrália, Canadá e Suíça. Só que, nesses três países, a concentração dos ativos nos cinco maiores bancos é superior à do Brasil. Por conta disso, ele diz que a tributação é um problema maior do que a concentração. Dessa forma, o aumento da competição trazido pelo open banking poderia contribuir, mas de forma marginal, considera o economista.

Na mesma direção vão as conclusões do Relatório de Economia Bancária de 2018, publicado no dia 28 de maio pelo BC: “Entretanto, de acordo com as estimações realizadas, apesar de o ambiente concorrencial ser um fator relevante para a determinação do spread, um aumento do grau de concorrência sozinho provavelmente não seria capaz de promover redução expressiva dos spreads”, escreve o BC, no documento.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
HABLAS ESPANHOL?

Nubank (ROXO34) recebe autorização para iniciar operações bancárias no México

24 de abril de 2025 - 20:49

O banco digital iniciou sua estratégia de expansão no mercado mexicano em 2019 e já conta com mais de 10 milhões de clientes por lá

FERIADÃO À VISTA

Como fica a bolsa no feriado? Confira o que abre e fecha na Sexta-feira Santa e no Dia de Tiradentes

17 de abril de 2025 - 8:10

Fim de semana se une à data religiosa e ao feriado em homenagem ao herói da Inconfidência Mineira para desacelerar o ritmo intenso que tem marcado o mercado financeiro nos últimos dias

VALE O RISCO?

CDBs do Banco Master que pagam até 140% do CDI valem o investimento no curto prazo? Títulos seguem “baratos” no mercado secundário 

15 de abril de 2025 - 19:26

Investidores seguem tentando desovar seus papéis nas plataformas de corretoras como XP e BTG, mas analistas não veem com bons olhos o risco que os títulos representam

SOB PRESSÃO

Coalizão de bancos flexibiliza metas climáticas diante de ritmo lento da economia real

15 de abril de 2025 - 10:29

Aliança global apoiada pela ONU abandona exigência de alinhamento estrito ao limite de 1,5°C e busca atrair mais membros com metas mais amplas

BB: BOM E BARATO

Banco do Brasil (BBSA3) pode subir quase 50% e pagar bons dividendos — mesmo que a economia degringole e o agro sofra

11 de abril de 2025 - 17:17

A XP reiterou a compra das ações do Banco do Brasil, que se beneficia dos juros elevados no país

FICOU BARATO?

JP Morgan eleva avaliação do Nubank (ROXO34) e vê benefícios na guerra comercial de Trump — mas corta preço-alvo das ações

8 de abril de 2025 - 17:37

Para os analistas do JP Morgan, a mudança na avaliação do Nubank (ROXO34) não foi fácil: o banco digital ainda enfrenta desafios no horizonte

VAI REBAIXAR?

BRB vai ganhar ou perder com a compra do Master? Depois de S&P e Fitch, Moody’s coloca rating do banco estatal em revisão e questiona a operação 

7 de abril de 2025 - 19:01

A indefinição da transação entre os bancos faz as agências de classificação de risco colocarem as notas de crédito do BRB em observação até ter mais clareza sobre as mudanças que podem impactar o modelo de negócios

FIIS HOJE

FII PVBI11 cai mais de 2% na bolsa hoje após bancão chinês encerrar contrato de locação

7 de abril de 2025 - 14:15

Inicialmente, o contrato não aplicava multa ao inquilino, um dos quatro maiores bancos da China que operam no Brasil, mas o PVBI11 e a instituição chegaram a um acordo

QUEM VAI FICAR COM ELE?

Banco Master: Reunião do Banco Central indica soluções para a compra pelo BRB — propostas envolvem o BTG

6 de abril de 2025 - 12:13

Apesar do Banco Central ter afirmado que a reunião tratou de “temas atuais”, fontes afirmam que o encontro foi realizado para discutir soluções para o Banco Master

EM XEQUE

A compra do Banco Master pelo BRB é um bom negócio? Depois da Moody’s, S&P questiona a operação

3 de abril de 2025 - 19:33

De acordo com a S&P, pairam dúvidas sobre os aspectos da transação e a estrutura de capital do novo conglomerado, o que torna incerto o impacto que a compra terá para o banco público

BALANÇO

Lucro do Banco Master, alvo de compra do BRB, dobra e passa de R$ 1 bilhão em 2024

1 de abril de 2025 - 20:17

O banco de Daniel Vorcaro divulgou os resultados após o término do prazo oficial para a apresentação de balanços e em meio a um negócio polêmico com o BRB

O QUE ESPERAR?

Banco Master: Compra é ‘operação resgate’? CDBs serão honrados? BC vai barrar? CEO do BRB responde principais dúvidas do mercado

1 de abril de 2025 - 10:23

O CEO do BRB, Paulo Henrique Costa, nega pressão política pela compra do Master e endereça principais dúvidas do mercado

NO BANCO DOS RESERVAS

Ainda dá para ganhar com as ações do Banco do Brasil (BBAS3) e BTG Pactual (BPAC11)? Não o suficiente para animar o JP Morgan

31 de março de 2025 - 14:49

O banco norte-americano rebaixou a recomendação para os papéis BBAS3 e BPAC11, de “outperform” (equivalente à compra) para a atual classificação neutra

QUEM VAI FICAR COM ELE

Impasse no setor bancário: Banco Central deve barrar compra do Banco Master pelo BRB

30 de março de 2025 - 8:50

Negócio avaliado em R$ 2 bilhões é visto como ‘salvação’ do Banco Master. Ativos problemáticos, no entanto, são entraves para a venda.

DE OLHO NOS CALOTES

Nubank (ROXO34): Safra aponta alta da inadimplência no roxinho neste ano; entenda o que pode estar por trás disso

28 de março de 2025 - 19:00

Uma possível explicação, segundo o Safra, é uma nova regra do Banco Central que entrou em vigor em 1º de janeiro deste ano. 

QUEM VAI FICAR COM ELE

Banco de Brasília (BRB) acerta a compra do Banco Master em negócio avaliado em R$ 2 bilhões

28 de março de 2025 - 17:55

Se o valor for confirmado, essa é uma das maiores aquisições dos últimos tempos no Brasil; a compra deve ser formalizada nos próximos dias

ROXINHO EXPRESS

110% do CDI e liquidez imediata — Nubank lança nova Caixinha Turbo para todos os clientes, mas com algumas condições; veja quais

27 de março de 2025 - 15:22

Nubank lança novo investimento acessível a todos os usuários e notificará clientes gradualmente sobre a novidade

CONSIGNADO PRIVADO

Empréstimo consignado para CLT passa de 35 milhões de simulações em apenas 3 dias. Confira tudo o que você precisa saber sobre o crédito

23 de março de 2025 - 17:12

Nova modalidade de empréstimo consignado para trabalhadores CLT registrou 35,9 milhões de simulações de empréstimo

CEO NO CONTROLE

Fundador do Nubank (ROXO34) volta ao comando da liderança. Entenda as mudanças do alto escalão do banco digital

22 de março de 2025 - 8:54

Segundo o banco digital, os ajustes na estrutura buscam “aumentar ainda mais o foco no cliente, a eficiência e a colaboração entre países”

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Frenetic trading days: Com guerra comercial no radar, Ibovespa tenta manter bom momento em dia de vendas no varejo e resultado fiscal

14 de março de 2025 - 8:24

Bolsa vem de alta de mais de 1% na esteira da recuperação da Petrobras, da Vale, da B3 e dos bancos

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar