Trump usa desculpas econômicas para atacar o Brasil, e Bolsonaro é o maior prejudicado, afirma CEO da AZ Quest
O CEO Walter Maciel alerta que o aumento da tensão entre os EUA e o Brasil coloca Bolsonaro no centro de uma crise política e pode beneficiar outro personagem nas eleições de 2026 — e não é Lula

Enquanto Donald Trump sobe cada vez mais a hostilidade contra o Brasil, em busca de desculpas econômicas para perseguir o país, o ex-presidente Jair Bolsonaro aparece como o maior prejudicado pela guerra comercial. Esta é a avaliação de Walter Maciel, CEO da AZ Quest, gestora independente que administra mais de R$ 36 bilhões em ativos.
Em entrevista exclusiva ao Seu Dinheiro, Maciel afirmou que, ao tentar usar a "caça às bruxas" como discurso, Trump acaba colocando Bolsonaro em uma “loss-loss situation” — isto é, uma situação de “perda-que-ninguém-ganha”.
Isso porque, ao associar Bolsonaro como o responsável pela punição imposta pelos Estados Unidos, o ex-presidente é colocado na linha de frente de uma retaliação política, em um movimento que só prejudica sua imagem.
“Quando Trump reforça a ideia de que o processo contra Bolsonaro é politizado e injusto, ele coloca o ex-presidente no centro da crise. Porque o Bolsonaro passa a ser visto como o motivo de uma punição que os Estados Unidos impõem ao Brasil. Ele é o maior perdedor nesse caso”, afirmou Maciel.
- LEIA TAMBÉM: Quer se atualizar do que está rolando no mercado? O Seu Dinheiro liberou como cortesia uma curadoria das notícias mais quentes; veja aqui
Bolsonaro, que já responde a processos no Supremo Tribunal Federal (STF) por sua tentativa de golpe de Estado em 2022, foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) na manhã desta sexta-feira (18), com mandados de busca e apreensão em sua residência. Agora, o ex-presidente passará a usar tornozeleira eletrônica e ficará sujeito a “medidas restritivas”.
O timing da operação da PF não poderia ser mais significativo, já que ocorreu poucas horas após Trump ter enviado uma carta direta a Bolsonaro, afirmando que o governo brasileiro precisa mudar de rumo e parar de atacar oponentes.
Leia Também
Trump decide misturar agressões à política do Brasil a retaliações comerciais
Para o CEO da AZ Quest, esse cenário é um reflexo direto de uma escalada em que, ao tentar justificar suas atitudes com uma retórica econômica, Trump mistura agressões à política interna do Brasil — especialmente no que diz respeito a Bolsonaro — com retaliações comerciais externas.
“Parece que o governo Trump está buscando desculpas econômicas para uma atitude que tem motivação puramente política, e está disposto a usar esses instrumentos como ferramenta de pressão, já que não tem grandes preocupações com consequências econômicas e diplomáticas para os EUA. Porque não há muito o que o Brasil possa fazer.”
As tensões com os Estados Unidos esquentaram ainda mais esta semana, com o governo norte-americano abrindo uma investigação comercial contra o Brasil.
Alegando práticas desleais que prejudicariam empresas norte-americanas, o governo Trump questiona pontos como o Pix, supostas tarifas preferenciais do Brasil para outros países e até mesmo a Rua 25 de Março. Você confere ponto a ponto as seis acusações dos EUA aqui.
O gestor afirma que os novos desdobramentos das tensões comerciais entre os EUA e o Brasil sinalizam que a situação ficou muito mais complicada para os brasileiros.
Para Maciel, o timing da escalada da hostilidade norte-americana indica uma elevação da hostilidade e da possível retaliação. Ao mesmo tempo, o Brasil perde poder de negociação, já que os EUA sinalizaram que as tensões poderiam escalar para motivos além do comércio.
“Sem dúvida, o grau de preocupação se elevou, e fica mais difícil para o governo brasileiro negociar com os EUA. Fica evidente que a motivação política de Trump agora começa a ser travestida de desculpas econômicas sobre problemas antigos e conhecidos.”
Bolsonaro não é a única motivação de Trump na briga com o Brasil: Brics também influenciaram a hostilidade, diz gestor
Na visão de Maciel, o Brasil até então vinha sendo beneficiado pela sua “insignificância econômica e geopolítica”.
Devido à neutralidade brasileira, o país podia fechar negócios com todo mundo. O Brasil ainda conseguiu se beneficiar da “maneira desastrada” que se iniciou o novo mandato do governo Trump, surfando a desvalorização da moeda norte-americana frente a outras divisas.
Porém, ao tentar desafiar a ordem econômica internacional, o Brasil pode ter gerado uma espécie de punição autoinfligida, segundo o gestor. “O Brasil estava gozando de uma trégua geopolítica, mas isso acabou.”
“A gente de alguma maneira provocou a reação norte-americana. Nós colocamos o dedo na tomada esperando não tomar choque, sendo que já sabíamos que os EUA estavam adotando uma certa agressividade frente a outros países”, afirmou o gestor.
“Quando você começa a falar à luz do dia sobre criar um novo mecanismo de transferência e de meios de pagamentos para fugir do dólar e a fazer duetos com outros países, como China e Rússia, você começa a querer se tornar relevante no ambiente global”, acrescentou, referindo-se ao anúncio dos países dos Brics de que buscariam alternativas à moeda norte-americana.
Na leitura de Maciel, foi justamente ao sair da histórica posição de neutralidade diplomática e comercial que o Brasil “levou uma porrada”.
“Acabamos adentrando searas muito delicadas. Com essas ações recentes, conseguimos sair de uma posição onde a gente recebia uma tarifa de 10% e estávamos em vantagem sobre a grande maioria dos países, para agora receber uma punição severa, em que é evidente que alguns setores vão ser afetados.”
- VEJA TAMBÉM: Como investir no cenário macroeconômico atual? Confira as principais recomendações do BTG Pactual em uma curadoria gratuita do Seu Dinheiro
Brasil deveria buscar menos retaliação e mais diplomacia
O CEO da AZ Quest também criticou a retórica tarifária do Brasil, em que o governo inicialmente sinalizou retaliações com base na lei da reciprocidade. Para Maciel, essa estratégia foi “inútil” e poderia trazer um saldo bem negativo ao país.
“Você só acabava cutucando a onça com vara curta. Isso apenas expôs o Brasil a uma situação de vulnerabilidade em um momento onde nossa balança de pagamentos já está frágil. Tudo isso é muito ruim e é gratuito, porque não trouxe bem nenhum. Agora, a nossa única saída é por canais diplomáticos. O governo Lula deve insistir e tentar negociar, mostrando alinhamento com os EUA”, disse o CEO da AZ Quest.
No entanto, ele ressalta que isso não significa que o Brasil deva ceder à pressão política dos EUA.
Em vez disso, o país deve deixar claro que as disputas internas precisam ser resolvidas dentro do âmbito jurídico e não devem ser usadas como justificativa para retaliações políticas externas.
Para o gestor, o Brasil deveria abrir um caminho de diálogo com o governo norte-americano. Lula deveria explicar que somos um país democrático, em que os poderes são independentes e onde não há muita coisa que o Executivo possa fazer para interferir em um julgamento que está sendo conduzido pelo Judiciário.
Vale ressaltar que a conversa com Walter Maciel aconteceu antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter concedido uma entrevista à CNN norte-americana e feito um pronunciamento em rede nacional de rádio e TV.
Bolsonaro, Lula e o saldo político da pressão de Donald Trump
Para Maciel, apesar da hostilidade dos EUA, as medidas de Trump não devem mudar o resultado dos julgamentos e investigações contra Bolsonaro.
“Na minha opinião, o Bolsonaro é o maior perdedor de tudo isso. Nada disso vai ajudar o caso dele. O Supremo não vai deixar de julgá-lo e a consequência final do julgamento não vai mudar. A decisão não vai mudar por o Brasil ter medo dos Estados Unidos. Bolsonaro só vai acabar sendo apontado como vilão pela punição do Brasil”, avaliou.
Quanto a Lula, o gestor acredita que, embora o presidente tenha ganhado popularidade nas pesquisas recentes devido à postura mais firme frente aos EUA, isso não se traduzirá em ganhos duradouros a longo prazo.
Na realidade, segundo o CEO da AZ Quest, o efeito econômico negativo para Lula poderia ser “muito mais deletério” do que qualquer ganho político positivo até as eleições de 2026.
Isso porque manter essa bandeira nacionalista viva até outubro do ano que vem exigiria um aumento na "briga" com os americanos, o que poderia gerar efeitos econômicos muito mais grosseiros, como uma inflação mais elevada e juros em patamares restritivos por mais tempo.
Quem sai ganhando?
Se alguém pode se beneficiar politicamente dessa situação toda, segundo Maciel, é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
“O maior beneficiário dessa confusão toda é o Tarcísio, que apareceu com uma postura um pouco mais estadista e com uma tentativa de abrir diálogo diplomático. Isso distancia ele dos dois lados mais radicais e pode fortalecer sua posição política”, afirmou o executivo.
Senado aprova PEC dos precatórios e libera governo de incluir dívidas nas metas fiscais até 2027
A proposta de emenda ainda precisa passar por um segundo turno de votação no Senado antes de ser promulgada. Veja o que diz a medida
Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil avança; após vitória na Comissão da Câmara, Lira se prepara para briga no plenário
O projeto relatado pelo deputado Arthur Lira (PP-AL), também prevê uma isenção parcial e progressiva para rendimentos até R$ 7.350 e aumento na cobrança para quem ganha acima de R$ 50 mil por mês
Tarifas ajudam na popularidade do governo Lula — e pesquisa indica um outro fator que pode aproximar o eleitorado
A aprovação do presidente foi impulsionada por uma mudança na perspectiva dos brasileiros que estão fora da base do governo
Problema para o próximo presidente? Câmara aprova PEC dos precatórios, que adia inclusão na meta fiscal para a partir de 2027
Texto, aprovado em comissão especial, retarda em dez anos a incorporação total desses gastos nas contas públicas
Agora é com Alexandre de Moraes: audiência sobre impasse do IOF termina sem acordo; entenda os próximos passos
Em vez de realizar negociações, os participantes afirmaram que “preferiam aguardar a decisão judicial” sobre o impasse
Lula ou Tarcísio em 2026? Dólar indica quem a ‘Faria Lima’ acredita ter mais chances e especialistas do ASA explicam o porquê
Em encontro com jornalistas, Fabio Kanczuk e Jeferson Bittencourt analisaram os principais temas de macroeconomia que estão mexendo com os mercados
Trump ajuda e aprovação de Lula avança, enquanto brasileiros avaliam tarifa como ‘injustificada’, mostra pesquisa
A atuação do petista no impasse com os EUA no comércio também está sendo visto como positiva pelos brasileiros
Bolsonaro vai pegar pena de 43 anos? PGR pede que ex-presidente seja condenado por tentativa de golpe de Estado; entenda o que acontece agora
A PGR alega que o ex-presidente e seus ex-ministros integraram o “núcleo crucial” do plano que levou ao ato do 8 de janeiro
Congresso pede que STF valide decreto legislativo que derrubou aumento do IOF do governo Lula
A manifestação foi protocolada a quatro dias da audiência de conciliação marcada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes entre o Legislativo e o Executivo, para que se encontre uma solução para o tema
“Respeita o Brasil”: governo recebe apoio contra tarifas de Trump nas redes, com apelo à defesa da soberania nacional
Publicações saíram em defesa do presidente Lula, que conseguiu captar o sentimento nacionalista do país diante da ameaça estrangeira
Pau a pau com Michelle Bolsonaro: Lula atinge maior patamar de aprovação no ano; confira como ficam os cenários eleitorais agora
Um levantamento da Atlas em parceria com a Bloomberg indica que, se as eleições ocorressem hoje, Lula até ganharia a disputa no primeiro turno, porém a corrida eleitoral seria acirrada
Uma das mais importantes casas de análise, Gavekal escreve sobre avanço da direita na América Latina — especialmente no Brasil, com Tarcísio
Aliar Tarcísio de Freitas, Bolsonaro e centrão elevaria o real, os títulos e as ações brasileiras, na visão da empresa
A suspensão de Moraes: entenda a decisão do ministro sobre o IOF em novo revés para Lula
O ministro do STF suspendeu temporariamente os efeitos do decreto presidencial que elevou as alíquotas do imposto, mas também suspendeu a decisão do Congresso de revogar o decreto
Isenção de IR até R$ 5 mil: pesquisa mostra que 88% dos deputados apoiam, mas aumento do imposto para ricos fica em cima do muro
Projeto de lei é prioridade do governo do Lula e deve ser votado no segundo semestre de 2025
Novo feriado no radar: Lula propõe “Dia da Consolidação da Independência”; veja qual é a data e o dia de comemoração
Projeto de lei foi enviado ao Congresso Nacional e precisa ser aprovado pelos parlamentares antes de ser promulgado
Aumento do IOF pode voltar: governo aciona STF contra derrubada do decreto e mira R$ 12 bilhões em jogo
Advocacia-Geral da União defende competência presidencial sobre o imposto e alerta para violação da separação de poderes pelo Congresso com a revogação do decreto
Derrota para o governo: Senado segue a Câmara e derruba decreto de Lula que aumenta IOF
A derrubada do decreto presidencial obriga agora a equipe econômica a buscar alternativas para compensar uma perda de arrecadação estimada em R$ 10 bilhões
Câmara pode votar hoje projeto que derruba decreto do aumento do IOF
O presidente da Casa, Hugo Motta, surpreendeu a todos ao pautar para esta quarta-feira a votação do Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que contraria o governo
Comissão aprova requerimento contra Lula por possível interferência em apuração de fraudes no INSS
O pedido ainda depende do aval do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para ser encaminhado à PGR
Avaliação negativa do governo Lula diminui, mas petista aparece empatado com Bolsonaro em simulação de eleições
Pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) traz avaliações segmentadas sobre a atuação do governo federal e simulações para as eleições em 2026