Roma de dia, Roma de noite: dois mundos em uma cidade — e como vivê-los ao máximo

Roma é uma cidade de muitos tempos – há a Roma do Império, aquela da história clássica; há a Roma contemporânea, dinâmica e sempre movimentada. Mas talvez seja da Roma renascentista o legado estético que até hoje faz da capital italiana uma lembrança imediata.

Parte desse legado está justamente ligada à tradição barroca, desenvolvida nas artes e na arquitetura a partir do cristianismo católico da época. Foi na névoa iluminada do Renascimento para a Modernidade, entre os séculos XVI e XVII que o planejamento urbano da cidade tomou alguns dos traços que a denominam até hoje.

No auge da contrarreforma, papas como Urbano VIII e Alexandre VII se tornariam fiadores do movimento que levaria à cidade nomes como Gian Lorenzo Bernini e Francesco Borromini, dois dos responsáveis por repensar traçado urbano, valorizando os imponentes templos que, àquela altura, se multiplicavam.

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O resultado desse uso deliberado de contrastes acabou tornando Roma, ela própria, uma cidade que se vale de diferentes perspectivas, apresentando-se diferente sob determinada luz. E nada mais fácil para comprovar esse jogo de contraposições do que conferir a cidade pela noite.

Roma muda do dia para a noite. A experiência diurna é um mergulho na sua rica herança cultural, a oportunidade de imergir em sua história milenar em detalhes. À noite, porém, é que as portas da cidade de abrem para as experiências – sem tanto movimento, é quando se vive aquilo que, durante o dia, talvez fosse difícil ou concorrido demais.

São Romas quase diferentes, e que merecem um olhar específico para cada. Pensando nisso, criamos este guia para ajudar você a organizar sua viagem e aproveitar cada momento da melhor forma.

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Roma de dia

Os clássicos sob o Sol

Vamos deixar o Coliseu de lado, por enquanto – você pode (e deve!) passar por ele de dia, mas falaremos mais sobre ele em instantes. De dia, o imprescindível da Roma histórica é visitar o Foro Romano.

Localizado entre os montes Palatino e Capitolino, o complexo arqueológico abriga ruínas do que um dia foi o coração político e religioso do Império Romano. Estes sim devem ser conferidos de dia, para uma viagem no tempo completa. Há ruínas e detalhes que só podem ser vistos sob a luz do sol.

Entre os pontos mais interessantes, destaco o Templo de Saturno, a Via Sacra e a Cúria Julia.

Um dia no museu

Outra visita que obrigatoriamente deve ser encaixada durante o dia, o Museu do Vaticano é um dos mais importantes do mundo, com seu acervo de mais de 70 mil obras.

Mais do que um espaço de exposição, o espaço em si é uma obra de arte, já que muitas pinturas e afrescos foram criados diretamente em suas paredes, tetos e palácios. Visite consciente que é impossível ver tudo em uma única visita. Para uma visita, no entanto, vale programar-se para conferir os clássicos:

• Capela Sistina: a obra prima de Michelangelo e um dos maiores feitos da história da arte. Destaque para o afresco “O juízo final” (no altar) e a “Criação de Adão” (no centro do teto);
• Galeria dos mapas: leva esse nome por abrigar um conjunto de mapas do século XVI exposto em suas paredes, representando a visão geografia da época. Mas o que realmente impressiona é seu teto, com seus afrescos dourados e ornamentação barroca. É simplesmente impossível entrar nesse local sem se impressionar com sua magnificência;
• As salas de Rafael: antes de chegar à Capela Sistina, passa-se pelas Stanze di Raffaello, um conjunto de salas decoradas pelo artista Rafael, considerado um dos maiores tesouros do Renascimento, representando uma síntese perfeita entre arte, história e simbolismo.

Vita Lenta

O fator apreciação: algo que pode passar despercebido por alguns visitantes, é que em Roma, observar e absorver a cidade faz parte da experiência.  Caminhar sem pressa por seus prédios históricos, piazzas e vicoli (vielas) permite uma conexão mais profunda com a atmosfera romana.

Esse estilo de vida inspirou até a página do Instagram @vita_____lenta, criada pelo designer Gianvito Fanelli para retratar a forma leve e descomplicada como os italianos vivem o cotidiano.

Uma excelente opção para este momento de apreciação é visitando o terraço do Castelo de Santo Ângelo, que além da riqueza histórica, oferece uma vista única do rio Tibre e da Basílica de São Pedro, o cenário perfeito para admirar a cidade.

Mangiare!

Você não esteve em Roma se não aproveitou um café da manhã, ou colazione local. Diferente de outros países, o café da manhã italiano é simples e leve: um cappuccino ou expresso acompanhado de um cornetto (croissant italiano), biscoitos e, talvez, um iogurte ou suco.

Uma ótima alternativa é o Sant’Eustachio il Caffè (Piazza di S. Eustachio, 82), localizado entre o Pantheon e a Piazza Navona, endereço com o café em estilo romano, para experimentar a cidade sob sua própria luz. O Gran Caffé, tradicional da casa, talvez desperte nostalgia em paladares brasileiros, já que os grãos são importados para a Itália diretamente de uma cooperativa mineira.

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Já para paladares mais internacionais, vale o clichê que, de tão clichê, volta a ser pedida inusitada: o Starbucks da Piazza San Silvestro (Piazza di S.Silvestro, 6) funciona como uma flagship da marca. Projetado como uma referência na Itália, oferece em um ambiente bem italiano as opções para quem curte jogar no seguro.

Já o típico almoço romano tende a ser um dos pontos altos da visita. Aclamada por sua qualidade e simplicidade, a gastronomia mantém-se fiel à cozinha popular e rústica, que remonta à antiguidade, seguindo o lema “pochi ma buoni” (poucos, mas bons). Ingredientes como pecorino, alcachofra e guanciale (bochecha de porco curada) são amplamente utilizados e entre os pratos mais emblemáticos destacam-se as massas carbonara, cacio e pepe e amatriciana. Para apreciar cada uma delas no almoço, aqui estão algumas sugestões de restaurantes:

• Amatriciana: Armando al Pantheon (Salita de' Crescenzi, 31)
• Carbonara: La Carbonara (Campo de' Fiori, 23)
• Cacio e pepe : Tonnarello (Piazza della Scala, 19/21)

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Roma à noite

Um anoitecer inesquecível

Assistir ao Coliseu se acendendo ao anoitecer é uma experiência inesquecível. À medida que o sol se põe e o céu de Roma se transforma a as luzes começam a iluminar as arcadas da ruína. Este espetáculo pode ser visto de muitos ângulos, mas pouco são tão incríveis como o que se tem do Bar The Court, que fica localizado no terraço do Hotel Palazzo Manfred. Um espaço super aconchegante que oferece uma visão panorâmica do Coliseu, sem falar da carta de drinks que é assinada por Matteo Zed, um dos mixologistas mais renomados da Itália. Mas é preciso reservar com certa antecedência, pois o local é bastante concorrido.

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E o Coliseu de dentro, afinal? Também vale a visita noturna. Uma dica para evitar multidões e conferir a estrutura sob uma perspectiva diferente é voltar a noite em alguns passeios esporádicos abertos ao ano, chamados Uma Notte Al Colosseo. Neles, grupos menores são guiados a partir das 20h em tours de cerca de 75 minutos pela imensa estrutura e seus corredores, agora iluminados em uma atmosfera à parte.

Entre vias

A Roma noturna passa, invariavelmente, pela Via Del Corso e pela Piazza di Spagna: Uma das ruas mais movimentadas de Roma, essa ganha charme especial à noite. Muito menos movimentada, permite admirar a beleza da arquitetura dos prédios que abrigam marcas como Uniqlo, Zara, Sephora e GAP, que atraem tanto turismo até ali durante o dia. Pela noite, no entanto, suas luminárias apenas ajudam a aprofundar os detalhes dos edifícios.

Para aproveitar essa via, vale partir da altura da Piazza Colonna e subir em direção a Piazza del Popolo (que é um dos lugares mais fotogênicos de Roma à noite). Uma vez na Piazza del Popolo, desça pela Via del Babuino até chegar na Piazza de Spagna, que é um dos lugares mais elegantes de Roma.

É lá que fica a famosa Escadaria da Piazza que conduz até a Igreja de Trinità dei Monti, de onde se tem uma vista lindíssima do horizonte iluminado de Roma. É também nesta região que se concentram as lojas de grife mais famosas, como Gucci, Prada e Chanel, que neste horário estarão com suas fachadas iluminadas.

Outra parada noturna quase obrigatória é a Fontana di Trevi — igualmente bela, mas sem a multidão. Este é um dos pontos turísticos mais concorridos de Roma. Ao visitá-lo a noite, você terá grandes chances de encontrá-lo mais vazio, com esculturas iluminadas que ganham destaque especial. Outro detalhe encantador da visita noturna é o som das águas fluindo, algo que se perde no burburinho do dia.

Na ausência da multidão, é possível até aproximar-se da fonte para fazer um pedido com uma moeda — o ritual tão disputado durante o dia.

Os dois lados do Tibre

Sem deixar a boêmia de fora, as duas dicas acontecem uma de cada lado do rio. O bairro de Trastevere, nome que significa "além do Tibre", tem um charme todo especial à noite, com suas ruas de paralelepípedos repletas de restaurantes, bares e luzes suaves.

Por lá você se senta à Enoteca Ferrara para apreciar uma taça de Amarone vêneto acompanhado de aperitivos ou ao Tonnarello para experimentar aquele cacio e pepe que pulou almoço, perché no?

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Já “do lado de cá” do rio, entre a tríade da Via Nazionale, Via Cavour e Via dei Fori Imperiali, fica Monti, o recorte dito “descolado” da capital. No fim de tarde, suas ruas são tomadas por jovens e visitantes em busca de um aperitivo do entorno da Piazza della Madonna dei Monti e suas muitas opções.

Quer algo sem compromisso? Passe no Fafiuché (Via della Madonna dei Monti, 28) e experimente um aperitivo enquanto se distrai com os produtos do espaço, que é meio bar, meio mercearia. Busca algo mais elevado? Se permita às criações dos chefs Riccardo Bernabei e Antonio Sarnataro na enoteca ítalo-francesa Cavour 313 (Via Cavour, 313). Sentiu saudades de casa? Faça um pit-stop no (que só pode ser descrito como um brasilo-fusion) Temakinho (Via dei Serpenti, 16), para uma inusitada caipirinha à italiana.

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