Da torneira à taça, como Gabriela Monteleone repensou a indústria brasileira de vinhos naturais
Após fazer sucesso com formato mais durável e sustentável de servir vinhos no Brasil, Gabriela Monteleone cruzou o Atlântico para abrir no Porto o terceiro endereço de sua Casa Tão Longe, Tão Perto

Gabriela Monteleone é daquelas mulheres que não pedem licença para entrar. Ela chega, propõe, executa e ainda brinda. Sommelière de formação, com passagens por grandes casas da gastronomia brasileira, Gabi virou a representante mais vibrante e combativa de uma revolução que, aos poucos, está escorrendo pelas taças: a dos vinhos naturais brasileiros.
Seu projeto, de nome poético e provocador, Tão Longe, Tão Perto, tem três frentes bem definidas e interligadas: uma distribuidora de vinhos naturais brasileiros, um bar de vinhos e o grande trunfo — os vinhos na torneira.
Sim, você leu certo. Na torneira. Mas vamos por partes.

O vinho como manifesto
A lógica é simples: por que continuar servindo vinho em taça de garrafa aberta, que oxida em dois ou três dias e custa caro ao restaurante e ao cliente, se é possível servir vinho fresco, com preço justo, direto da torneira?
Foi pensando nisso que Gabriela criou um sistema de retornéis — tonéis de aço inox forrados com bags de 20 litros, abastecidos com vinhos a granel de pequenos produtores nacionais.

O resultado? Um vinho que pode ser conservado por até 3 meses depois de “engatado”, sem perda, sem desperdício e, o melhor, com pegada ambiental muito mais leve.
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Um barril desses substitui nada menos que 24 garrafas de vidro. E se você acha que vidro é fácil de reciclar, pergunte a qualquer restaurante o que acontece com o lixo acumulado ao final da noite. Spoiler: na maioria das vezes, tudo vai para o mesmo contêiner.
“Nosso discurso de sustentabilidade precisa deixar de ser seletivo”, diz Gabi. “Os chefs falam de aproveitamento integral da cenoura, mas não pensam na quantidade de vidro que descartam por dia com vinhos de baixa qualidade.”
O elo perdido entre o campo e a cidade
Gabi aponta para uma desconexão gritante entre produtores e consumidores. “Os produtores de vinhos naturais são pequenos, sustentáveis, biodinâmicos, cuidadosos com o solo e com o tempo. Mas o público final está nos grandes centros, onde ainda se valoriza mais um rótulo importado de qualidade duvidosa do que um bom vinho brasileiro honesto.”
Essa desconexão não é só brasileira. A Inglaterra precisou de um Douglas McMaster (Silo, Londres) para começar a conversa sobre sustentabilidade 360° na gastronomia. Na Espanha, os irmãos Roca (El Celler de Can Roca) seguem a mesma linha com seu Roca 360, que recicla até a água das champanheiras para regar o jardim.
“Falta olhar o todo”, resume Gabi. “A sustentabilidade não pode parar só no prato.”
O paladar que educa
A iniciativa de Gabriela também tem outro efeito colateral maravilhoso: educa o consumidor. E isso vale tanto para quem senta no balcão de um bar quanto para os jovens sommeliers que estão começando a formar sua visão de mundo.
O vinho por torneira aproxima o público mais jovem, moderno e curioso de rótulos nacionais de alta qualidade, com preço justo. Sem o ranço elitista, portanto, ainda cultivado com certa devoção no universo do vinho.

Não que não existam garrafas em seus endereços – elas só são disponibilizadas em volume muito inferior, uma pequena seleção em cada casa, sempre com um olhar para o produtor de baixa intervenção.
“Eu , com meu projeto, comunico com gente real, com todo mundo, não só com os que compram rótulos”, provoca.
De São Paulo ao Porto
Gabriela e seus sócios, também brasileiros, deram mais um passo ousado: abriram uma unidade do Tão Longe Tão Perto na Vila de Nova Gaia, área metropolitana de Porto, Portugal. Lá, os vinhos também são todos de mínima intervenção, de pequenos produtores, todos portugueses – e de torneira, claro.
O bar completou um ano em junho, com público fiel, eventos vibrantes e uma comunidade de bebedores atentos e generosos.
O mesmo formato de bar de vinhos também está presente em Botafogo, no Rio de Janeiro, e na Barra Funda, em São Paulo, criando o Na Torneira, uma espécie de rede líquida entre quem produz e quem consome de forma consciente.
A chancela internacional
Gabriela Monteleone não está reinventando a roda. Sua mensagem é de que é possível rodar melhor, com menos desperdício, mais consciência e muito mais sabor. E não é só o público final que está de olho. A sommelière argentina Paz Levinson, radicada em Paris e considerada uma das maiores referências da profissão, não economiza elogios:
“É uma das melhores soluções que já vi. Vinho mais fresco, sem perdas e sem os problemas clássicos de armazenamento. Gabriela teve uma ideia brilhante.”

Invertendo os vetores, Gabi também tem suas próprias recomendações pessoais na Europa, feita por gente que pensa o vinho para além do modelo tradicional. Como ela, uma lista que estoura a rolha da indústria:
- Paris: Clown Bar;
- Porto: Tão Longe Tão Perto e Prova;
- Veneza: Vino Vero;
- Barcelona: Bar Salvatge (vinhos de torneira também, claro);
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