Da Geórgia à Romênia, sommeliers traçam um tour pelos vinhos do leste europeu
De Tokaj às encostas do Cáucaso, vinícolas da Geórgia, Hungria, Moldávia, Romênia e Eslovênia revelam tradições milenares, terroirs singulares e um novo fôlego para o vinho europeu
Durante décadas, o mapa do vinho europeu se limitou ao eixo França-Itália-Espanha. Mas, ao leste, há um território de história milenar, técnicas ancestrais e vinhos que desafiam padrões consolidados. Geórgia, Hungria, Moldávia, Romênia e Eslovênia formam hoje um novo eixo da viticultura europeia. Em comum, compartilham história, clima continental, castas autóctones e uma disposição rara de unir o passado ao presente.
Da vinificação em qvevri georgianas, ânforas de barro usadas há milênios, às adegas subterrâneas da Moldávia, a região oferece experiências únicas – e ainda pouco exploradas. São países que produziram vinho antes da França existir como nação, mas que só agora começam a ocupar espaço nas prateleiras e nas rotas de enoturismo do Ocidente.
Para desvendar o universo dos vinhos do leste europeu, ouvimos dois sommeliers: Fernando Moreira, da Santo Vino, e Túlio Mentes, do Miles Wine & Jazz Bar. Juntos, eles explicam o que torna esses vinhos únicos e montam um guia essencial de uvas e regiões.
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Autenticidade e expressão de terroir
Para os especialistas, o que define a alma dos vinhos do leste europeu é a identidade. De acordo com Fernando Moreira, “a região se destaca pela autenticidade regional, com variedades locais expressivas, técnicas ancestrais e uma rusticidade controlada que valoriza o caráter e a originalidade em vez da padronização”.
“São vinhos de alta acidez natural, estrutura firme, textura viva e caráter terroso, muitas vezes com toques oxidativos e aromas de frutas silvestres e ervas. Para mim, mostram mais autenticidade e expressão de terroir”, complementa Túlio Mendes.
O clima continental, com verões quentes e noites frias, por exemplo, proporciona amplitude térmica ideal à maturação das uvas. “Isso permite obter vinhos equilibrados, estruturados e frescos”, explica Moreira. “Os solos variam de calcário e marno a aluvião e vulcânico, e cada tipo imprime sua marca: mineralidade nos brancos, textura e fruta mais redonda nos tintos.”
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As técnicas ancestrais são preservadas com orgulho, agora aliadas às novas tecnologias.
“A convivência é harmoniosa e criativa. Fermentação em qvevri, macerações longas e leveduras indígenas, preservam valor cultural e sensorial”, comenta Moreira. “Já os produtores contemporâneos usam controle de temperatura, cubas de inox e micro-oxigenação. Essa fusão mantém a autenticidade, com refinamento técnico e estabilidade, tornando-os, assim, mais competitivos no mercado global."

Energia fora do padrão
Cada país exibe castas próprias, pouco conhecidas do público brasileiro. Entre as brancas, Furmint (Hungria) e Rkatsiteli (Geórgia) se destacam pela acidez e capacidade de envelhecimento. Entre as tintas, por outro lado, Saperavi (Geórgia), Negru de Purcari (Moldávia) e Fetească Neagră (Romênia) revelam profundidade, taninos firmes e aromas de frutas negras.
Para Mentes, esses vinhos têm “um frescor natural e uma energia que fogem do padrão dos rótulos mais polidos da Europa Ocidental”. Moreira complementa: “Todas merecem atenção do público brasileiro porque oferecem estilos autênticos e diferentes dos clássicos, combinando bem com a diversidade da culinária nacional”.
“Não é resistência, é desconhecimento”
Se os vinhos são tão gastronômicos e autênticos, por que ainda são pouco vistos nas prateleiras? A resposta não está no paladar, mas no acesso. Soma-se a isso o desafio linguístico e cultural: nomes de uvas e regiões pouco familiares geram resistência inicial.
“A principal barreira é a falta de distribuição e divulgação”, crava Moreira. “O mercado brasileiro historicamente concentrou-se em vinhos da França, Itália, Espanha, Chile e Argentina”. Mendes complementa, dizendo que a importação ainda é limitada e há pouco investimento em educação.

“Ao mesmo tempo, as redes sociais e a facilidade no acesso à informação nos trouxe mais clareza das regiões. O paladar brasileiro aceita bem esses vinhos quando apresentados com contexto; não é resistência, portanto: é desconhecimento”, complementa o sommelier.
Um roteiro pelos vinhos da região
Geórgia: Pheasant’s Tears, Château Mukhrani e Teliani Valley
Em Kakheti, região que concentra a maior parte da produção georgiana, o enoturismo é uma imersão cultural. A Pheasant’s Tears, em Sighnaghi, por exemplo, foca na vinificação em qvevri e oferece degustações no próprio restaurante. O tour ainda incluiu a chacha, uma aguardente local. O acesso desde Tbilisi é feito pela típica minivan marshrutka, saindo da estação Samgori.

Mais próxima da capital, a cerca de 45 minutos de carro, o Château Mukhrani ocupa um palácio do século 19 restaurado. O tour básico combina visita às adegas e passeio pelos jardins históricos. Em Telavi, a Teliani Valley oferece tours e hospedagem. As acomodações estão localizadas no prédio de escritórios da propriedade, ideal, portanto, para viajantes que buscam uma imersão completa na cultura georgiana.

Hungria: Royal Tokaji e Oremus
Cofundada em 1990 pelo escritor e crítico Hugh Johnson, a Royal Tokaji foi decisiva na revitalização da região após o período socialista. Produz vinhos a partir de parcelas históricas e trabalha tanto com os brancos secos de Furmint quanto com os Tokaji doces. As visitas são feitas sob agendamento, com degustações que exploram as diferentes expressões de solo.

Propriedade do grupo Vega Sicilia, a Oremus combina tradição local e precisão técnica. O tour percorre adegas subterrâneas do século 13 e termina com a degustação de três vinhos, incluindo o icônico Tokaji Aszú. É uma das experiências mais didáticas, inclusive para compreender o envelhecimento e o equilíbrio natural que definem o estilo da região.

Moldávia: Cricova Winery, Purcari Winery e IMPERIAL-VIN
A partir da capital, Chișinău, é possível visitar algumas das vinícolas mais impressionantes da Europa. A Cricova Winery, classificada como Patrimônio Cultural Nacional, por exemplo, forma um complexo subterrâneo de 120 quilômetros, que possui até ruas nomeadas. O tour Orașul Subteran inclui visita à Enoteca Nacional, que abriga impressionantes 1,3 milhão de garrafas.

A Purcari Winery combina vinhedos e hospedagem – inclusive com quartos em formato de barril. Seu pacote Classic inclui tour e degustação de quatro vinhos. O histórico Negru de Purcari, premiado na Exposição Universal de Paris em 1878 , aliás, está disponível para degustação em pacotes de nível superior, como o Exclusive Reserves. Vale acrescentar no roteiro a IMPERIAL-VIN, que vem ganhando mercado com vinhos de estilo moderno e acessível a preços competitivos, como conta Túlio Mendes.

Romênia: Jidvei e Domeniile Recaș
No coração da Transilvânia, a Jidvei convida o visitante a uma viagem pela história. Suas degustações acontecem no Castelo Bethlen-Haller, uma construção do século 16 completamente restaurada. O tour combina arquitetura e enologia: é possível conhecer as adegas subterrâneas e depois provar os vinhos que simbolizam a nova fase da Romênia no mercado europeu.

A 30 minutos de ônibus de Timișoara, a Domeniile Recaș é um retrato da nova Romênia vitivinícola: profissional, estruturada e voltada à experiência do visitante. As visitas percorrem vinhedos e adegas modernas, com quatro opções de tour, do Curious ao Connoisseur, por exemplo, que inclui refeição completa. Mas lembre-se: é necessário reservar com 48 horas de antecedência.
Eslovênia: Movia Wines
Na fronteira com a Itália, o vale de Goriška Brda combina vinhedos inclinados, pequenas aldeias e uma das expressões mais refinadas do vinho biodinâmico europeu. A referência local é a Movia Wines, produtora reconhecida, aliás, por unir cultivo orgânico e vinificação artesanal. As visitas são feitas apenas mediante agendamento prévio, em dois formatos: o pacote Classic e o Premium, que incluem a degustação de cinco vinhos da vinícola. O trajeto de carro de Ljubljana até Brda leva cerca de uma hora e meia.

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