Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek
Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor
A última semana de janeiro foi, como dizem os americanos “action packed”, com o mercado esperando pela “Super Quarta” de bancos centrais e a divulgação de resultados de algumas das Mag 7 que respondem por volta de 35% do valor da bolsa americana. Mas tudo ficou em segundo plano quanto a empresa chinesa DeepSeek soltou um chatbot baseado em um modelo muito mais barato para treinar do que todas as outras empresas de AI.
Os mercados abriram em forte queda na segunda-feira, questionando e reprecificando várias teses ligadas a temáticas de AI. Empresas geradoras de energia para os data centers, como Vistra e Costellation Energy, sofreram, junto com a NVDIA, as maiores quedas.
Mas rapidamente várias dúvidas foram levantadas sobre o suposto avanço revolucionário. Elon Musk sugeriu que a DeepSeek estava de fato usando chips avançados da NVIDIA adquiridos ilegalmente. A OpenAi e seu parceiro, a Microsoft, alegam ter encontrado evidências de “distillation” feitas pelo DeepSeek, onde se usa um modelo, violando os termos de uso, para criar/treinar um outro modelo.
O “Czar” de AI e Cripto do governo Trump, David Sacks, confirmou que há “evidências fortes” que houve o que ele chamou de “roubo de propriedade intelectual”.
Enquanto tudo isso pode ou não ser verdade, o fato que a DeepSeek publicou seu modelo permitiu vários especialistas (como Yann LeCun, chefe de AI da Meta) a confirmarem que de fato, independentemente das questões acima, a empresa chinesa fez avanços substanciais na forma de treinar modelos LLM.
Assim, o fenômeno DeepSeek não pode ser “descontado”, tanto para um mercado e uma economia cada vez mais dependente na temática AI. Considere que a Morgan Stanley estima que os investimentos em AI para 2025 e 2026 em US$ 650 bilhões – isso antes do choque DeepSeek. Até para a enorme economia americana, esse montante tem relevância.
Leia Também
Como qualquer inovação tecnológica há ganhadores e perdedores. Vamos enumerar esses dois grupos.
- LEIA MAIS: DeepSeek é como um ‘Sputnik 2.0’: corrida tecnológica está só no começo e big techs devem se recuperar, segundo analista
Os perdedores com a inovação da IA
Talvez um dos maiores perdedores seja, de fato, a OpenAi. A tese que avanços em AI necessitam sempre mais e maiores investimentos apontavam para um modelo de mercado altamente oligopolista, restrito a empresas com a capacidade de bancar continuamente vultosos investimentos (lembrem que foi somente alguns dias atrás que Sam Altman e Masayoshi Son da Softbank prometeram, anunciando em evento público junto com Donald Trump, investir US$ 500 bilhões nos próximos anos).
Outro aparente perdedor, que sofreu inicialmente a maior queda de valor, foi a NVIDIA. Se, afinal, a DeepSeek conseguiu essa façanha usando chips mais antigos que não sofrem as restrições de exportação impostas pelos EUA a China, por que o mercado vai pagar por chips mais avançados?
Aqui há de se questionar se, de fato, a NVIDIA perde com essas inovações.
Quando a queda de custo diminui o custo unitário de um o insumo, essa queda de custo pode, em alguns casos, aumentar a demanda, de tal forma que o gasto total/demanda pelo insumo aumenta. Isso é o fenômeno econômico conhecido como “Paradoxo de Jevons”.
Olhando o mercado de tecnologia, podemos achar vários exemplos desse “paradoxo” – o computador pessoal seria um deles.
Assim pressupondo que a NVIDIA mantenha sua liderança relativa no desenho de chips (algo que o mercado em geral acredita) baratear o custo de treinamento e inferência poderia acelerar a adoção do AI, aumentando a demanda.
Um “porém” desse raciocínio é que o “paradoxo” normalmente se manifesta no longo prazo. Assim pode haver um alongamento do fluxo esperado de demanda que justifique uma queda de preços da ação. Assim, ao nosso ver o efeito sobre NVIDIA é, neste momento, ambíguo e difícil de mensurar – especialmente dado o altíssimo P/L que a NVIDIA sustenta até depois dessa correção.
Quem ganha com a DeepSeek
Esse mesmo “paradoxo” tem um efeito potencialmente ambíguo, mas provavelmente positivo, sobre as outras empresas – como a Meta e a Microsoft – que são, ao mesmo tempo, desenvolvedoras de AI e “clientes” internos da tecnologia nos seus produtos. Seus investimentos em AI podem perder valor, mas a aplicação de AI será mais rápida e mais barata.
Mas um inegável ganhador (fora a China) é a economia como um todo. O rápido barateamento de uma tecnologia tão importante deve ser visto como um choque positivo de produtividade – o economista Olivier Blanchard defende que essa inovação "foi provavelmente o maior choque de produtividade na história do mundo".
Outro efeito positivo para a economia – e os consumidores como um todo – é a possibilidade que a indústria de AI será muito mais competitiva que a oligopolizada indústria de tecnologia de hoje.
Um futuro mais competitivo transferiria mais da cadeia de valor aos consumidores, e não aos semimonopolistas de hoje. Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor.
*Tony Volpon é economista e ex-diretor do Banco Central
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Chile, assim como a Argentina, vive mudanças políticas que podem servir de sinal para o que está por vir no Brasil. Mercado aguarda ata do Banco Central e dados de emprego nos EUA
Chile vira a página — o Brasil vai ler ou rasgar o livro?
Não por acaso, ganha força a leitura de que o Chile de 2025 antecipa, em diversos aspectos, o Brasil de 2026
Felipe Miranda: Uma visão de Brasil, por Daniel Goldberg
O fundador da Lumina Capital participou de um dos episódios de ‘Hello, Brasil!’ e faz um diagnóstico da realidade brasileira
Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje
O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje