Quantas divisões tem o papa? A escolha de Leão XIV e um contraponto à influência de Trump
Ao se anunciar como Leão XIV, Robert Francis Prevost está ditando não só uma continuidade da obra de Francisco, como também deixando claro que seu objetivo principal será a missão social da Igreja

Segundo se diz, a pergunta acima foi feita pelo ditador soviético Josef Stalin durante uma conferência de Estado. Na ocasião, ele questionava a importância da opinião do papa Pio XII a respeito de um tema que era discutido.
Há dúvidas sobre a data e o local da conversa e também sobre o interlocutor de Stalin.
Pesquisas na internet resultam em respostas diferentes. Alguns sites informam que isso aconteceu em 1935, durante uma visita a Moscou do chanceler francês Pierre Laval. Em outros, consta que o questionado foi o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, durante a conferência de Teerã, em 1943, ou a de Potsdam, em agosto de 1945.
Pode ser também que Stalin tenha feito essa pergunta nas três ocasiões, o que significa que a menção do papa como influenciador da opinião pública o irritava, já que em seu país simplesmente não havia opinião pública.
Tomando a liberdade de viajar no tempo e na geografia, acredito que o papa tem muitas divisões.
É óbvio que não estou me referindo aos lanceiros da simbólica Guarda Suíça do Vaticano, mas sim à influência que o papa exerce sobre a opinião pública mundial.
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Como todo mundo sabe, na semana passada o conclave dos cardeais escolheu o substituto do papa Francisco. Para surpresa da maioria dos vaticanistas, o escolhido foi o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost, apontado por apenas 1% dos apostadores nos bookmakers ingleses.
Algumas coisas devem ser consideradas não só a respeito dessa escolha, mas também sobre as primeiras atitudes de Leão XIV.
Antes de mais nada, a rapidez da decisão, ocorrida no segundo dia de votações, mostrando que a Igreja está coesa. Mas isso já havia acontecido por ocasião das eleições de Bento XVI e Francisco.
Em meu juízo, o fato de o papa ser norte-americano nos leva a algumas observações importantes:
Em primeiro lugar, isso servirá de contraponto à influência que Donald Trump está querendo exercer sobre o planeta. Ver suas ideias contestadas por um concidadão ocupante do trono de São Pedro será de suma importância.
Afinal de contas, um em cada cinco americanos é católico. E, mais importante, metade deles é republicana.
Seis dos nove juízes da Corte Suprema dos Estados Unidos são católicos.
Para temperar a reação negativa que alguns católicos em todo o mundo poderiam ter ao ver um ianque como papa, pode-se argumentar que Leão XIV é ianque pero no mucho. Por sua livre e espontânea vontade, o bispo Robert Prevost, desde 2015, é também cidadão peruano.
Trata-se, portanto, de um segundo papa sul-americano, um logo após o outro.
Para mim, a atitude mais simbólica de Prevost foi a escolha do nome. Leão XIII, que foi papa entre 1878 e 1903, reformou a doutrina da Igreja, dando-lhe um cunho social. Defendeu o movimento sindical e questionou a relação capital/trabalho.
Havia muitos séculos, os papas se preocupavam principalmente com as propriedades da Igreja, o maior latifúndio que já existiu, convivendo bem com a escravidão, com a servidão, com a tirania.
Aos que ousavam questionar o reinado dos papas, estes ameaçavam com a excomunhão e, principalmente, com o fogo eterno do inferno.
O próprio fogo do inferno era objeto de negócio.
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Durante a Idade Média, por uma boa soma em moedas de ouro, o Vaticano vendia indulgências plenárias, garantia de vida eterna no céu. Aliás, foi essa prática que deu origem ao Protestantismo com as teses e manifestos de Martinho Lutero (1483-1546).
Ao se anunciar como Leão XIV, Robert Francis Prevost está ditando não só uma continuidade da obra de Francisco, como também deixando claro que seu objetivo principal será a missão social da Igreja.
Uma das vantagens da Igreja Católica sobre as demais religiões é o fato de que ela tem um chefe inconteste (ou pouquíssimo contestado).
Os muçulmanos, por exemplo, além da divisão principal entre sunitas e xiitas, têm diversas sub-seitas, se é que podemos classificá-las assim. Quando ocorre um episódio importante envolvendo islâmicos, fica faltando um líder que possa responder por todos.
Será importante observar o comportamento de Leão XIV daqui para a frente.
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Papas permanecem na mídia o tempo todo, e não apenas ao serem escolhidos e ao morrerem, como ocorreu nas últimas semanas.
A cada acontecimento importante, seja uma tragédia, seja o início de uma guerra, seja um desastre ecológico, as agências noticiosas comentam:
“Em Roma, o Papa disse…”
“In Rome, the Pope said…”
“En Roma, el Papa dijo…”
“À Rome, le Pape a déclaré…”
“In Rom, sagte der Papst”
“A Roma, ha detto il Papa”
Essa gigantesca rede de comunicação representa as divisões com as quais Leão XIV irá combater.
Um forte abraço!
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