FIIs: alívio tributário e mudança de rota
Se comparado ao sentimento do comecinho do ano, certamente os participantes da indústria estão aliviados com o panorama atual das cotas de FIIs — ainda assim, enxergamos diversos descontos nos fundos listados, especialmente nos segmentos de tijolos
Após um mês de janeiro desafiador, os fundos imobiliários retomaram a animação dos investidores. Com alta de 9,5% desde a mínima do ano, o Índice de Fundos Imobiliários (Ifix) inverteu a tendência do começo do ano e se tornou um dos destaques do mercado doméstico, ao lado dos outros ativos de renda variável.
Em linha com o esperado, a reação discrepante das primeiras semanas foi rapidamente capturada pelos participantes mais atentos da indústria.
De acordo com a indicação de janeiro, os fundos de crédito se destacam no ano, com valorização próxima de 7% no período.
| Segmento | Fevereiro | 2025 |
|---|---|---|
| Crédito | 4,2% | 7,1% |
| Logística | 5,7% | 5,3% |
| Shopping Center | 6,8% | 5,6% |
| Lajes Corporativas | 4,8% | 4,9% |
| Hedge Fund | 5,8% | 4,6% |
| FoFs | 4,7% | 2,0% |
| Ifix | 4,4% | 4,6% |
Entre as novidades das últimas semanas, vale comentar a revisão de algumas casas sobre o atual ciclo de alta da taxa Selic. O Itaú, por exemplo, revisou a projeção para o final do primeiro semestre para 15,25% ao ano.
Com um custo de oportunidade ligeiramente menos restritivo, o fluxo de migração de capital da renda variável para renda fixa perde intensidade, na margem. Com isso, as cotas dos FIIs respondem positivamente.
Além da política monetária, outro assunto importante dos últimos dias foram as movimentações do governo no âmbito tributário.
Leia Também
O salvador da pátria para a Raízen, e o que esperar dos mercados hoje
Felipe Miranda: Um conto de duas cidades
- VEJA MAIS: Saiba como entrar para o clube de investidores do Seu Dinheiro de forma gratuita e fique por dentro de tudo que acontece no mercado financeiro
A isenção de impostos dos FIIs
Primeiro, tivemos dias decisivos no que diz respeito à tributação dos aluguéis dos fundos imobiliários e fiagros na reforma tributária do IVA (Imposto sobre o Valor Agregado).
No texto vigente (após o veto presidencial), os fundos de investimento seriam categorizados como prestadores de serviços e estariam sujeitos à cobrança do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS).
Portanto, a receita imobiliária dos fundos seria negativamente impactada pela incidência da alíquota a partir da nova estrutura, que prevê um período de transição entre 2026 e 2032.
Após grande movimentação das bancadas envolvidas e de integrantes do governo, foi apresentada uma minuta do projeto de lei na última semana com os representantes do setor.
O novo texto prevê que os impostos não incidirão sobre operações de alienação, cessão, locação ou arrendamento de imóveis quando realizadas por FIIs e Fiagros.
A minuta está em análise e deve ser definida nos próximos dias. Lembrando que o Congresso ainda pode derrubar o veto presidencial por meio de votação em sessão conjunta da Câmara dos Deputados e do Senado, caso a minuta não atenda a expectativa.
Além disso, o governo apresentou o projeto de reforma do Imposto de Renda, sendo a isenção dos contribuintes com renda mensal de até R$ 5 mil como principal pilar. Em compensação, seria aplicada uma alíquota mínima de imposto para pessoas com rendimentos anuais superiores a R$ 600 mil.
Neste caso, os fundos imobiliários e fiagros não são considerados nesta base de cálculo e, portanto, seus rendimentos não serão afetados pelo imposto.
Ao que tudo indica, os fundos imobiliários devem permanecer isentos de impostos.
- Leia também: Fila no café, metrô lotado e trânsito: a volta do trabalho presencial abre oportunidade para FIIs de escritórios?
Há justiça na isenção?
Na minha visão, há pertinência para manutenção da isenção.
Primeiro, os FIIs têm se tornado agentes importantes no setor da construção civil, especialmente no financiamento.
Inclusive, o estímulo ao setor é um ponto crucial da estratégia do governo, como evidenciado pelas mudanças no programa Minha Casa Minha Vida. Com o arrefecimento da caderneta de poupança, são necessários outros veículos de acesso a capital.
Da mesma forma, os Fiagros têm um potencial interessante para o agronegócio, outro pilar econômico significativo do Brasil. O crescimento dessa categoria nos últimos anos ilustra bem esse cenário — obviamente, a isenção tributária foi um fator chave para atrair investimentos nos fundos.
Na outra ponta, a pessoa física representa 75% dos investidores de fundos imobiliários atualmente. Trata-se de um instrumento acessível e simples, se tornando uma ótima porta de entrada para iniciantes no mercado de capitais.
Devido à facilidade de investimento, baixo valor mínimo de aplicação, possibilidade de diversificação e isenção tributária, hoje existem quase 3 milhões de cotistas de fundos imobiliários. Muitos deles são pessoas que buscam alternativas acessíveis para investir em imóveis, com saldo mediano investido em FIIs de R$ 2 mil por conta.
Portanto, o cotista atual definitivamente não é o principal alvo do governo.
Para futuras reavaliações no âmbito tributário, acredito ser crucial uma revisão profunda sobre fundos, focada na sustentabilidade da indústria. Os raros benefícios e os diversos prejuízos devem ser colocados na balança.
- E MAIS: Conheça carteira de ativos indicada para investir em meio a desajuste econômico no Brasil
O desempenho positivo de 2025 deve continuar?
Se comparado ao sentimento do comecinho do ano, certamente os participantes da indústria estão aliviados com o panorama atual das cotas de FIIs.
Ainda assim, enxergamos diversos descontos nos fundos listados, especialmente nos segmentos de tijolos. Conforme descrito na última coluna, o setor de escritórios é o que mais chama atenção, devido ao elevado desconto em relação ao valor patrimonial.
Minha percepção é que o Ifix deve continuar apresentando volatilidade ao longo de 2025, pautado nos temas citados acima. As eleições do próximo ano também estão inseridas neste contexto, dado que já apresenta influência nos preços de mercado.
Em caso de cenário favorável, diante do atual desconto nas cotas, uma pequena aposta em lajes corporativas me parece interessante, olhando para ganho de capital.
VBI Prime Properties (PVBI11): alocação em qualidade
O VBI Prime Properties (PVBI11) é um dos fundos de lajes corporativas de melhor qualidade e posicionamento na indústria (entre os diversificados, certamente é o maior). Já abordamos o FII nesta coluna, inclusive.
O portfólio do PVBI11 é composto atualmente por sete imóveis, todos localizados em regiões nobres de São Paulo, totalizando uma área bruta locável (ABL) de cerca de 84 mil metros quadrados.
Em 2024, o mercado enxergou as últimas aquisições do fundo com postura negativa, tendo em vista a pressão no dividendo de curto prazo. Com isso, suas cotas foram bem penalizadas e hoje registram um desconto próximo da máxima histórica.
É bem verdade que temos avaliação cética sobre alguns movimentos da gestão, diante dos preços e/ou estruturas estabelecidas. No entanto, é impossível ignorar os aspectos qualitativos do portfólio.
Em fevereiro deste ano, o fundo anunciou a alienação de conjuntos do Vila Olímpia Corporate (VOC), pelo montante de R$ 20,04 milhões (R$ 26,5 mil por metro quadrado), pago à vista.
Se considerarmos a precificação atual do PVBI11, encontramos um EV/m2 de R$ 24,8 mil, ou seja, inferior ao múltiplo negociado em venda de participação do VOC recentemente. Vale citar que os conjuntos negociados estão vagos e que o Vila Olímpia Corporate não está entre os principais imóveis do portfólio quando avaliamos qualidade e localização.
De modo geral, entendo que o fundo é um ótimo candidato para exposição em lajes corporativas. Após atualizarmos o nosso modelo, encontramos um potencial de valorização de suas cotas de 13,5%, associado a uma geração de renda de 8,7% para os próximos 12 meses.
Como riscos, chamo atenção para o nível de ocupação do fundo e a concentração da receita de aluguel em um locatário específico.
Você pode conferir a tese de investimento completa do FII na assinatura Renda Imobiliária da Empiricus.
Abraço,
Caio
Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor
Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro
Cada um tem seu momento: Ibovespa tenta manter o bom momento em dia de pacote de Lula contra o tarifaço
Expectativa de corte de juros nos Estados Unidos mantém aberto o apetite por risco nos mercados financeiros internacionais
De olho nos preços: Ibovespa aguarda dados de inflação nos Brasil e nos EUA com impasse comercial como pano de fundo
Projeções indicam que IPCA de julho deve acelerar em relação a junho e perder força no acumulado em 12 meses
As projeções para a inflação caem há 11 semanas; o que ainda segura o Banco Central de cortar juros?
Dados de inflação no Brasil e nos EUA podem redefinir apostas em cortes de juros, caso o impacto tarifário seja limitado e os preços continuem cedendo
Felipe Miranda: Parada súbita ou razões para uma Selic bem mais baixa à frente
Uma Selic abaixo de 12% ainda seria bastante alta, mas já muito diferente dos níveis atuais. Estamos amortecidos, anestesiados pelas doses homeopáticas de sofrimento e pelo barulho da polarização política, intensificada com o tarifaço
Ninguém segura: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de balanços e dados de inflação, mas tarifaço segue no radar
Enquanto Brasil trabalha em plano de contingência para o tarifaço, trégua entre EUA e China se aproxima do fim
O que Donald Trump e o tarifaço nos ensinam sobre negociação com pessoas difíceis?
Somos todos negociadores. Você negocia com seu filho, com seu chefe, com o vendedor ambulante. A diferença é que alguns negociam sem preparo, enquanto outros usam estratégias.
Efeito Trumpoleta: Ibovespa repercute balanços em dia de agenda fraca; resultado da Petrobras (PETR4) é destaque
Investidores reagem a balanços enquanto monitoram possível reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin
Ainda dá tempo de investir na Eletrobras (ELET3)? A resposta é sim — mas não demore muito
Pelo histórico mais curto (como empresa privada) e um dividendo até pouco tempo escasso, a Eletrobras ainda negocia com um múltiplo de cinco vezes, mas o potencial de crescimento é significativo
De olho no fluxo: Ibovespa reage a balanços em dia de alívio momentâneo com a guerra comercial e expectativa com Petrobras
Ibovespa vem de três altas seguidas; decisão brasileira de não retaliar os EUA desfaz parte da tensão no mercado
Rodolfo Amstalden: Como lucrar com o pegapacapá entre Hume e Descartes?
A ocasião faz o ladrão, e também faz o filósofo. Há momentos convidativos para adotarmos uma ou outra visão de mundo e de mercado.
Complicar para depois descomplicar: Ibovespa repercute balanços e início do tarifaço enquanto monitora Brasília
Ibovespa vem de duas leves altas consecutivas; balança comercial de julho é destaque entre indicadores
Anjos e demônios na bolsa: Ibovespa reage a balanços, ata do Copom e possível impacto de prisão de Bolsonaro sobre tarifaço de Trump
Investidores estão em compasso de espera quanto à reação da Trump à prisão domiciliar de Bolsonaro
O Brasil entre o impulso de confrontar e a necessidade de negociar com Trump
Guerra comercial com os EUA se mistura com cenário pré-eleitoral no Brasil e não deixa espaço para o tédio até a disputa pelo Planalto no ano que vem
Felipe Miranda: Em busca do heroísmo genuíno
O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira
No pain, no gain: Ibovespa e outras bolsas buscam recompensa depois do sacrifício do último pregão
Ibovespa tenta acompanhar bolsas internacionais às vésperas da entra em vigor do tarifaço de Trump contra o Brasil
Gen Z stare e o silêncio que diz (muito) mais do que parece
Fomos treinados a reconhecer atenção por gestos claros: acenos, olho no olho, perguntas bem colocadas. Essa era a gramática da interação no trabalho. Mas e se os GenZs estiverem escrevendo com outra sintaxe?
Sem trégua: Tarifaço de Trump desata maré vermelha nos mercados internacionais; Ibovespa também repercute Vale
Donald Trump assinou na noite de ontem decreto com novas tarifas para mais de 90 países que fazem comércio com os EUA; sobretaxa de 50% ao Brasil ficou para a semana que vem
A ação que caiu com as tarifas de Trump mas, diferente de Embraer (EMBR3), ainda não voltou — e segue barata
Essas ações ainda estão bem abaixo dos níveis de 8 de julho, véspera do anúncio da taxação ao Brasil — o que para mim é uma oportunidade, já que negociam por apenas 4 vezes o Ebitda
O amarelo, o laranja e o café: Ibovespa reage a tarifaço aguado e à temporada de balanços enquanto aguarda Vale
Rescaldo da guerra comercial e da Super Quarta competem com repercussão de balanços no Brasil e nos EUA