A primeira Super Quarta de 2025: Brasil e EUA em rotas divergentes
Lá, o Federal Reserve deve manter os juros inalterados até maio pelo menos; por aqui, a Selic está contratada para subir 1 ponto

Teremos a primeira Super Quarta de 2025, um evento conhecido no Brasil pela coincidência das reuniões de política monetária entre o Banco Central brasileiro e o Federal Reserve nos EUA (naturalmente, só nós chamamos assim).
Embora esta semana também traga decisões importantes de outros países economicamente relevantes — como ilustra o cronograma abaixo —, nosso foco principal recai sobre esses dois encontros. São eles que carregam o maior peso para definir os rumos dos mercados globais e o impacto direto em nossa economia local.
Pode-se argumentar que a decisão do Banco Central Europeu, marcada para quinta-feira, também carrega significativa relevância para os mercados globais, dado seu impacto sobre o euro e, por consequência, sobre o dólar em escala mundial. No entanto, é inegável que o grande destaque desta semana será mesmo a quarta-feira.
E este dia central da semana não poderia chegar em um momento mais tumultuado.
Nos EUA, os investidores ainda processam a correção observada na segunda-feira, provocada pelo lançamento de uma nova ferramenta de inteligência artificial generativa pela startup chinesa DeepSeek, uma concorrente direta do ChatGPT. O anúncio sacudiu as ações das principais empresas de tecnologia.
Leia Também
Além disso, a semana está recheada de eventos importantes, incluindo resultados corporativos de grandes empresas e dados cruciais de inflação e atividade econômica nos EUA, que devem moldar as expectativas quanto à trajetória dos juros.
- VEJA TAMBÉM: O que esperar do cenário internacional em 2025 com o novo mandato de Trump? Analistas dizem onde investir agora – confira as recomendações neste e-book gratuito
Holofotes na decisão de juros nos EUA
Os holofotes globais estarão inevitavelmente voltados para o Federal Reserve. O cenário mais provável aponta para a manutenção das taxas de juros nos EUA.
De acordo com o FedWatch do CME Group, a precificação dos contratos futuros reflete uma probabilidade de 98% de que as taxas permaneçam na faixa atual de 4,25% a 4,5%, como ilustrado abaixo.
A decisão será observada de perto, pois qualquer sinalização diferente pode redefinir os rumos dos mercados.
A combinação de uma inflação ainda elevada com um crescimento econômico resiliente e condições robustas no mercado de trabalho indica que não há urgência em avançar com novos cortes de juros nos EUA.
Isso não significa que eles estão fora de questão para 2025. Encaro a decisão atual mais como uma pausa estratégica para que o Fed avalie melhor os dados futuros e os próximos movimentos do governo Trump.
Desde a posse, o novo presidente dos EUA surpreendeu positivamente ao não adotar uma postura tão agressiva em relação às tarifas — ao menos na prática, ainda que não necessariamente na retórica —, como se temia.
A única exceção foi a ameaça à Colômbia durante o fim de semana, caso o país não mudasse sua posição sobre a recepção de deportados. Não demorou para o governo colombiano ceder.
Por outro lado, a pressão institucional exercida por Trump sobre o Federal Reserve, insistindo em cortes de juros, segue como um fator prejudicial à percepção de independência da autoridade monetária. Essa retórica não é novidade em seu estilo de governar.
Durante seu primeiro mandato, Trump frequentemente criticou Jerome Powell, presidente do Fed indicado por ele mesmo, chegando a sugerir sua substituição, o que levantou dúvidas sobre a autonomia do banco central.
Ainda assim, na campanha de 2024, Trump prometeu não buscar a remoção de Powell antes do fim de seu mandato, em maio de 2026. Apesar dessa promessa, ele mantém uma retórica agressiva, pressionando o Fed por taxas mais baixas.
Na minha visão, os juros devem permanecer estáveis pelo menos até maio, quando o Fed poderá voltar a avaliar cortes. É provável que 2025 veja um ou dois cortes de juros, dependendo do comportamento da atividade econômica e dos próximos passos da administração Trump. P
ara o mercado, que já precifica essa possibilidade, um ou dois cortes não devem gerar grandes turbulências.
- VEJA TAMBÉM: Quais são as melhores ações para investir em 2025? E-book gratuito mostra as perspectivas da Empiricus Research, Trígono Capital e BTG Pactual
Uma luz sobre a decisão no Brasil
No Brasil, contudo, o cenário é bem distinto.
Em meio a uma Brasília envolta em ruídos e balões de ensaio, continuamos à mercê do ambiente internacional. O câmbio encontrou algum alívio, mas a Bolsa e os juros não tiveram a mesma sorte.
Ambos continuam pressionados pela repercussão da crise gerada pela polêmica do PIX, que deixou o governo desestabilizado, e pelo perigoso flerte com medidas heterodoxas para lidar com a alta dos preços dos alimentos.
A prévia da inflação divulgada na última sexta-feira reforçou a deterioração do cenário. O IPCA-15 registrou uma alta de 0,11% em janeiro, frustrando a expectativa do mercado de uma leve queda de 0,01%. Em 12 meses, o índice está em 4,5%.
O cenário qualitativo da inflação revela um quadro ainda mais preocupante: os núcleos mostram uma clara tendência de aceleração, enquanto a difusão alcançou níveis alarmantes de 70%. E isso considerando fatores temporariamente positivos, como o pagamento do bônus de Itaipu e a bandeira tarifária verde em dezembro, que aliviaram momentaneamente a pressão inflacionária.
Assim, o Banco Central não tem outra opção a não ser continuar subindo os juros.
O Comitê de Política Monetária (Copom) deve elevar a taxa Selic em 100 pontos-base e, muito possivelmente, já sinalizar novos aumentos, não apenas para a reunião de março, mas também para a de maio. Contudo, é evidente que a política monetária isoladamente não será suficiente para combater a inflação de maneira eficaz.
A responsabilidade agora recai sobre o governo, que precisa urgentemente assumir um papel mais ativo no ajuste fiscal.
Como destacou recentemente Marcos Mendes em sua coluna na Folha de S. Paulo, o déficit primário de 2024, anunciado como 0,1% do PIB, foi mascarado por uma série de ajustes contábeis, sendo na realidade de 2,1%. O Brasil, em resumo, está gastando muito mais do que deveria.
Infelizmente, a disposição do governo para adotar medidas estruturais e fiscalmente responsáveis parece incerta. A recente queda de 5 pontos na aprovação de Lula, agora em 47%, acompanhada de uma desaprovação de 49%, agrava ainda mais o quadro.
A grande preocupação é que, em vez de adotar um caminho de ajustes estruturais, a administração atual opte por medidas paliativas ou populistas, que apenas agravariam a situação fiscal e enfraqueceriam ainda mais a confiança do mercado.
Por outro lado, esse ambiente de crescente instabilidade também reforça as perspectivas de uma mudança política em 2026.
O desgaste acelerado do atual governo, combinado com a perda de credibilidade e a incapacidade de oferecer soluções efetivas, abre espaço para um pêndulo político que favoreça um governo mais pró-mercado e comprometido com a responsabilidade fiscal.
Vale lembrar que 2025 é, em essência, uma ponte. É um período que será definido tanto pelos erros e acertos do governo quanto pela capacidade da oposição de apresentar uma alternativa sólida e convincente. O cenário está aberto, mas exige atenção de todos os lados.
Entenda a resolução do BC que estremeceu as provisões dos bancos e custou ao Banco do Brasil (BBAS3) quase R$ 1 bilhão no resultado do 1T25
Espelhada em padrões internacionais, a resolução 4.966 requer dos bancos uma abordagem mais preventiva e proativa contra calotes. Saiba como isso afetou os resultados dos bancões e derrubou as ações do Banco do Brasil na B3
Na dúvida, fica como está: ata do Fed indica preocupação com as possíveis consequências das tarifas de Trump
A decisão pela manutenção das taxas de juros passou pelo dilema entre derrubar a atividade econômica e o risco de aumento de inflação pelas tarifas
O ciclo de alta acabou? Bitcoin (BTC) recua para US$ 107 mil, e mercado de criptomoedas entra em modo de correção
Bitcoin recua após alta de quase 50% em menos de dois meses, altcoins desabam e mercado entra em correção — mas analistas ainda veem espaço para valorização
Época de provas na bolsa: Ibovespa tenta renovar máximas em dia de Caged, ata do Fed e recuperação judicial da Azul
No noticiário corporativo, o BTG Pactual anunciou a compra de R$ 1,5 bilhão em ativos de Daniel Vorcaro; dinheiro será usado para capitalizar o Banco Master
BTG Pactual (BPAC11) compra R$ 1,5 bilhão em ativos de Daniel Vorcaro, e recursos serão usados para capitalizar o Banco Master
Operação faz parte do processo da venda do Master para o BRB e inclui a compra de participações na Light (LIGT3) e no Méliuz (CASH3)
Ibovespa vai sustentar tendência mesmo com juros altos e risco fiscal? Sócio fundador da Polo Capital vê bom momento para a bolsa — mas há outros perigos no radar
No podcast Touros e Ursos desta semana, Cláudio Andrade, sócio fundador da gestora Polo Capital, fala sobre as perspectivas para a bolsa brasileira
Não dá mais para adiar: Ibovespa repercute IPCA-15 enquanto mudanças no IOF seguem causando tensão
Bolsas de Nova York voltam de feriado ainda reagindo ao mais recente recuo de Trump na guerra comercial
Banco Central planeja serviço para impedir fraudes, mas a medida de segurança vai depender de você
Novas ferramentas incluem bloqueio preventivo para abertura de contas, solicitação automática de valores esquecidos e chatbot com inteligência artificial, entre outros serviços
Tijolo por tijolo: Ibovespa busca caminho de volta a novos recordes em meio ao morde-assopra de Trump e feriado nos EUA
Depois de ameaçar com antecipação de tarifas mais altas à UE, agora Trump diz que vai negociar até 9 de julho
Agenda econômica: PIB no Brasil e nos Estados Unidos, prévia da inflação e ata do Fed; confira os indicadores mais importantes da semana
Após uma semana intensa no Brasil e no mundo, IGP-M, balanço orçamentário, taxa de desemprego e dados do PIB prometem movimentar os mercados nos próximos dias
Fim da alta da Selic? Seleto grupo de investidores já está protegendo a rentabilidade da carteira e ‘travando’ retornos acima de 14,75% ao ano; veja como
Focus projeta máxima da Selic em 14,75% em 2025, e é hora de buscar oportunidades para poder manter retornos de dois dígitos
Corrigindo a rota: Governo recua de elevação de IOF sobre remessas a fundos no exterior e tenta tirar pressão da bolsa e do câmbio
Depois de repercussão inicial negativa, governo desistiu de taxar remessas ao exterior para investimento em fundos
Dinheiro na mão é solução: Medidas para cumprimento do arcabouço testam otimismo com o Ibovespa
Apesar da forte queda de ontem, bolsa brasileira segue flertando com novas máximas históricas
Bitcoin Pizza Day: como tudo começou com duas pizzas e chegou aos trilhões
No dia 22 de maio, o mercado de criptomoedas comemora a transação de 10 mil BTC por duas pizzas, que marcou o início do setor que já supera os US$ 3,5 trilhões
Impacto do clima nos negócios de bancos e instituições financeiras mais que dobra, aponta pesquisa do BC
Levantamento mostra que os principais canais de transmissão dos riscos climáticos são impactos em ativos, produção e renda, o que afeta crédito e inadimplência
Só pra contrariar: Ibovespa parte dos 140 mil pontos pela primeira vez na história em dia de petróleo e minério de ferro em alta
Agenda vazia deixa o Ibovespa a reboque do noticiário, mas existe espaço para a bolsa subir ainda mais?
Uma questão de contexto: Ibovespa busca novos recordes em dia de agenda fraca depois de corte de juros na China
Investidores repercutem avanço da Petrobras à última etapa prevista no processo de licenciamento da Margem Equatorial
Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, libera compra de bitcoin para clientes, mas se mantém crítico e compara BTC a cigarro
Com um longo histórico de ceticismo, Jamie Dimon afirmou que o JP Morgan permitirá a compra de bitcoin, mas sem custodiar os ativos: “Vamos apenas colocar nos extratos dos clientes”
Morgan Stanley vê rebaixamento do rating dos EUA como oportunidade para investir na bolsa americana; confira as ações recomendadas
Recomendação acontece após as bolsas de Nova York recuperarem o fôlego após trégua nas tarifas entre EUA e China, reduzindo de 145% para 30%
Agenda econômica: IBC-Br e CMN no Brasil, ata do BCE na Europa; veja o que movimenta a semana
Semana não traz novos balanços, mas segue movimentada com decisão de juros na China e indicadores econômicos relevantes ao redor do mundo