O risco do Tesouro Direto que não te contaram (spoiler: tem a ver com inflação e imposto de renda)
Mordida do Leão sobre o Tesouro IPCA+ ocorre não só sobre o retorno real do título, mas também sobre a variação da inflação; e isso tem implicações para o investidor

Com a remuneração dos títulos públicos Tesouro IPCA+ novamente beirando os 6% ao ano acima da inflação abriu-se uma oportunidade de compra para esses papéis no Tesouro Direto.
Por oferecerem proteção contra a inflação e terem o menor risco de crédito do mercado – afinal, são garantidos pelo governo federal – esses títulos de renda fixa tem sido bons investimentos historicamente.
Mas não existe investimento totalmente sem risco (nem mesmo deixar o dinheiro embaixo do colchão), e isso também é verdade para os títulos públicos indexados à inflação.
É verdade que o risco de calote do Tesouro IPCA+ para quem ganha e gasta seu dinheiro em reais é baixo, uma vez que o garantidor do título, como eu disse acima, é o Tesouro Nacional.
Ou seja, em matéria de risco de crédito, os títulos públicos federais são mais seguros até que a caderneta de poupança, que é garantida apenas em até R$ 250 mil pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), uma entidade privada sem fins lucrativos mantida pelos bancos.
O risco de liquidez também é mínimo, pois é possível resgatar seus títulos públicos a qualquer momento no Tesouro Direto. O Tesouro Nacional garante a recompra para quem quiser se desfazer deles antes do vencimento.
Leia Também
- IPCA+ 9%: ‘É isso que o investidor de renda fixa deveria procurar todo dia’, diz analista; veja 4 recomendações de títulos premium
Porém, se você já investiu em Tesouro IPCA+, talvez já tenha percebido que esses papéis podem ser bem voláteis. Embora a rentabilidade no vencimento seja garantida – você recebe exatamente a remuneração contratada na compra –, se quiser resgatar o título antes do fim do prazo, a venda é feita a preço de mercado, e este varia dia a dia de acordo com as perspectivas para os juros básicos.
Como os preços de mercado dos títulos atrelados à inflação podem subir e descer, o investidor tanto pode vendê-los com lucro quanto realizar um prejuízo, caso o preço de resgate acabe sendo menor que o de compra. Assim, retornos negativos na venda antecipada desses papéis não são impossíveis.
Mas estes riscos já são bastante conhecidos dos investidores e muito falados por consultores e educadores financeiros e pela imprensa especializada. Agora, existe um risco pouco mencionado e que o investidor não deveria ignorar, ainda mais tendo em vista que existem alternativas. E ele tem a ver com o fato de o Tesouro Direto ser tributado.
Imposto sobre a inflação
A correção pela inflação torna o Tesouro IPCA+ – e outros títulos públicos e privados atrelados a índices de preços – interessantes para investimentos de longo prazo, como a aposentadoria.
Porém, títulos públicos estão sujeitos à cobrança de imposto de renda, e a menor alíquota, válida para aplicações de mais de dois anos, ainda é de 15%.
Isso faz com que a proteção contra a inflação dos títulos Tesouro IPCA+ não seja perfeita, pois o imposto de renda incide não apenas sobre o retorno real, mas também sobre a parcela da rentabilidade que é correspondente à variação da inflação.
Em outras palavras, o investidor paga IR sobre um retorno que corresponde tão somente à reposição da perda do seu poder de compra. Como resultado, sua rentabilidade real é de fato menor do que aquele juro prefixado contratado na compra do título.
O Tesouro IPCA+ e o risco de hiperinflação
Mas se o juro prefixado contratado na hora da compra for razoável e a inflação até o vencimento do título também, pelo menos a proteção contra a inflação funciona. O problema é se, em algum momento até o fim do prazo, os preços saírem de controle e o país voltar a ter uma hiperinflação.
Ainda que a taxa prefixada do papel tenha sido alta na hora da compra – para os parâmetros de hoje –, se a variação do IPCA for grande demais, o retorno real do investidor será negativo, isto é, ele ainda perderá da inflação.
“Se o juro real do título é de 6% e a inflação é de cerca de 60%, o imposto sobre o rendimento de 60% é superior ao rendimento de 6% do juro real”, exemplifica Lais Costa, analista de renda fixa da Empiricus.
Se você quiser receber os relatórios semanais de renda fixa da Lais, com recomendações de títulos que podem render acima da Selic, cadastre-se gratuitamente para receber.
O gráfico a seguir, elaborado por ela, mostra como a rentabilidade real líquida de IR de um título indexado à inflação não isento cai à medida que a inflação sobe, até o ponto em que passa a ser negativa:
Elaboração: Lais Costa, analista de renda fixa da Empiricus
A analista inclusive já havia chamado a atenção para isso em uma entrevista recente ao podcast Touros e Ursos, do Seu Dinheiro. Você pode ouvir o comentário dela a partir do minuto 12:00 do vídeo a seguir, ao comparar o Tesouro IPCA+ com os títulos de crédito privado isentos de imposto de renda:
Devo me preocupar?
Está certo que o risco de hiperinflação não é algo que está no radar do Brasil hoje, mas é bom lembrar que os títulos do Tesouro Direto indexados à inflação, como o Tesouro IPCA+, o Tesouro Educa+ e o Tesouro RendA+ – este último inclusive voltado para a aposentadoria – são papéis de prazo bem longo, que podem superar os 30 anos. E quanto mais distante o futuro, mais difícil é prever o que vai acontecer com a economia de um país.
Assim, é importante ter pelo menos uma parte da sua carteira de renda fixa indexada à inflação alocada em títulos isentos de imposto de renda ou fundos que invistam nestes papéis.
Debêntures incentivadas, LCIs, LCAs, CRIs e CRAs indexados ao IPCA são opções, ainda que estes últimos títulos tenham ficado mais escassos após mudanças nas suas regras em fevereiro.
Como esses papéis têm mais risco e não contam com a garantia nem do governo, nem do FGC – o investidor fica exposto ao risco do próprio emissor, que pode ser, dependendo do caso, uma empresa ou um banco –, o mais indicado para a pessoa física é investir por meio de fundos, como aqueles que se dedicam a investir em debêntures incentivadas.
Esses produtos são diversificados, contam com uma gestão profissional para comprar e vender os papéis e mantêm a isenção de IR. Há inclusive opções com cotas negociadas em bolsa. Nós falamos mais sobre esses fundos de debêntures incentivadas nesta outra matéria.
Tenda (TEND3) sem milagres: por que a incorporadora ficou (mais uma vez) para trás no rali das ações do setor?
O que explica o desempenho menor de TEND3 em relação a concorrentes como Cury (CURY3), Direcional (DIRR3) e Plano & Plano (PLPL3) e por que há ‘má vontade’ dos gestores
Trump x Powell: uma briga muito além do corte de juros
O presidente norte-americano seguiu na campanha de pressão sobre Jerome Powell e o Federal Reserve e voltou a derrubar os mercados norte-americanos nesta segunda-feira (21)
Bitcoin (BTC) em alta: criptomoeda vai na contramão dos ativos de risco e atinge o maior valor em semanas
Ambiente de juros mais baixos costuma favorecer os ativos digitais, mas não é só isso que mexe com o setor nesta segunda-feira (21)
É recorde: preço do ouro ultrapassa US$ 3.400 e já acumula alta de 30% no ano
Os contratos futuros do ouro chegaram a atingir US$ 3.433,10 a onça na manhã desta segunda-feira (21), um novo recorde, enquanto o dólar ia às mínimas em três anos
A bolsa de Nova York sangra: Dow Jones cai quase 1 mil pontos e S&P 500 e Nasdaq recuam mais de 2%; saiba o que derrubou Wall Street
No mercado de câmbio, o dólar perde força com relação a outras moedas, atingindo o menor nível desde março de 2022
Como declarar fiagros e fundos imobiliários (FIIs) no imposto de renda 2025
Fundos imobiliários e fiagros têm cotas negociadas em bolsa, sendo tributados e declarados de formas bem parecidas
Agenda econômica: é dada a largada dos balanços do 1T25; CMN, IPCA-15, Livro Bege e FMI também agitam o mercado
Semana pós-feriadão traz agenda carregada, com direito a balanço da Vale (VALE3), prévia da inflação brasileira e reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN)
De olho na classe média, faixa 4 do Minha Casa Minha Vida começa a valer em maio; saiba quem pode participar e como aderir
Em meio à perda de popularidade de Lula, governo anunciou a inclusão de famílias com renda de até R$ 12 mil no programa habitacional que prevê financiamentos de imóveis com juros mais baixos
Imposto de Renda 2025: 7 erros que podem levar investidores a perder dinheiro na restituição e como evitá-los
Regras de declaração do Imposto de Renda podem mudar para cada classe de ativos e confundir contribuintes; guia gratuito ensina como evitar erros
Lucro de 17% isento de Imposto de Renda e com ‘pinga-pinga’ mensal na conta: veja como investir em estratégia ‘ganha-ganha’ com imóveis
EQI Investimentos localiza oportunidade em um ativo com retorno-alvo de 17% ao final de 2025, acima da inflação e da taxa básica de juros atual
Caiu na malha fina? Receita libera consulta ao lote de restituição do Imposto de Renda na quarta-feira
Ao todo, 279,5 mil contribuintes receberão R$ 339,63 milhões, mas há quem receberá o pagamento do lote de restituição do Imposto de Renda antes
Ações x títulos da Petrobras, follow-on da Azul e 25 ações para comprar após o caos: o que bombou no Seu Dinheiro esta semana
Outra forma de investir em Petrobras além das ações em bolsa e oferta subsequente de ações da Azul estão entre as matérias mais lidas da última semana em SD
Você está demitido: Donald Trump segue empenhado na justa causa de Jerome Powell
Diferente do reality “O Aprendiz”, o republicano vai precisar de um esforço adicional para remover o presidente do Fed do cargo antes do fim do mandato
IPCA de março é o mais alto para o mês desde 2023, mas esse ativo pode render acima da inflação; conheça
Com o maior IPCA registrado para o mês de março desde 2023, essa estratégia livre de IR pode ser ainda mais rentável que a inflação, aponta EQI
Imposto de Renda 2025: mais de 10,5 milhões de declarações já foram entregues à Receita Federal; saiba como declarar de forma fácil e sem erros
Entenda quem é obrigado a declarar, quem está isento e como evitar erros de preenchimento com o Guia do Imposto de Renda 2025 do Seu Dinheiro
Monas e Michelin: tradições de Páscoa são renovadas por chefs na Catalunha
Mais que sobremesa, as monas de Páscoa catalãs contam a história de um povo — e hoje atraem viajantes em busca de arte comestível com assinatura de chefs
Como declarar opções de ações no imposto de renda 2025
O jeito de declarar opções é bem parecido com o de declarar ações em diversos pontos; as diferenças maiores recaem na forma de calcular o custo de aquisição e os ganhos e prejuízos
Show de ofensas: a pressão total de Donald Trump sobre o Fed e Jerome Powell
“Terrível”, “devagar” e “muito político” foram algumas das críticas que o presidente norte-americano fez ao chefe do banco central, que ele mesmo escolheu, em defesa do corte de juros imediato
Que telefone vai tocar primeiro: de Xi ou de Trump? Expectativa mexe com os mercados globais; veja o que esperar desta quinta
Depois do toma lá dá cá tarifário entre EUA e China, começam a crescer as expectativas de que Xi Jinping e Donald Trump possam iniciar negociações. Resta saber qual telefone irá tocar primeiro.
Como declarar ETF no imposto de renda 2025, seja de ações, criptomoedas ou renda fixa
Os fundos de índice, conhecidos como ETFs, têm cotas negociadas em bolsa, e podem ser de renda fixa ou renda variável. Veja como informá-los na declaração em cada caso