O morde e assopra de Powell: as 3 pistas do chefão do Fed sobre o futuro dos juros na maior economia do mundo — e a reação do mercado
Powell prestou depoimento ao comitê bancário do Senado — um compromisso que o presidente do BC dos EUA tem semestralmente em uma espécie de prestação de contas e deu mais sinais sobre o que pode acontecer por lá

Quando Jerome Powell concedeu a tradicional coletiva após a decisão de manter os juros na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano em junho, ele deixou pistas: um dado surpreendentemente fraco do mercado de trabalho poderia fazer o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) iniciar o ciclo de afrouxamento monetário nos EUA.
O payroll do mês passado trouxe o que Powell invocou: a revisão para baixo de 111 mil vagas nos meses de abril e maio combinados, uma taxa de desemprego que ultrapassou os 4% e o ritmo mais lento do aumento dos salários desde o segundo trimestre de 2021. O Seu Dinheiro detalhou o relatório de emprego norte-americano.
O mercado imediatamente ajustou a posição no aumento de chances de corte de juros em setembro e dezembro deste ano — ainda que o gráfico de pontos do Fomc (o comitê de política monetária do Fed) indique apenas uma elevação da taxa em 2024.
Nesta terça-feira (9), Powell prestou depoimento ao comitê bancário do Senado — um compromisso que o presidente do BC dos EUA tem semestralmente em uma espécie de prestação de contas. É o Congresso que define o mandato do Fed (inflação em 2% e pleno emprego). E, mais uma vez, ele deu sinais do futuro da política monetária da maior economia do mundo.
- Como proteger os seus investimentos: dólar e ouro são ativos “clássicos” para quem quer blindar o patrimônio da volatilidade do mercado. Mas, afinal, qual é a melhor forma de investir em cada um deles? Descubra aqui.
O payroll de junho é suficiente para fazer os juros caírem?
Pelos sinais que Powell deu hoje, não. Mas o chefão do Fed reconheceu que um enfraquecimento excessivo do mercado de trabalho pode ser uma razão para iniciar o tão aguardado afrouxamento monetário nos EUA.
O presidente do BC norte-americano lembrou que uma série de leituras favoráveis de inflação e emprego foi interrompida no primeiro trimestre deste ano, frente à breve aceleração dos preços e da economia.
Leia Também
"É difícil estimar se este risco vai se materializar", afirmou.
Em uma espécie de morde e assopra, Powell disse que o mercado de trabalho norte-americano parece ter retornado ao nível pré-pandemia "forte, sem um aquecimento exagerado".
Citando o payroll de junho, ele afirmou que há uma "clara desaceleração significativa" do emprego, com vários subíndices de volta aos níveis de 2019, e equilíbrio entre oferta e demanda.
"Mas apesar desse arrefecimento, o mercado de trabalho continua forte e temos consciência de que precisamos protegê-lo", afirmou.
- Leia também: “Primária blitz”: como os democratas vão escolher um novo candidato em caso de desistência de Biden
Fed está de olho na inflação e na economia
Não é só o emprego que importa para os juros caírem nos EUA. Powell reforçou que o Fed está atento aos riscos dos dois lados do mandato e que os juros restritivos continuam necessários para desacelerar a inflação e garantir a estabilidade de preços no longo prazo.
"Estamos comprometidos em cumprir nosso objetivo de retornar a inflação para 2%", afirmou ele, observando que os preços seguem acima dessa meta.
Em maio, o índice de preços para gastos pessoais (PCE, na sigla em inglês) desacelerou para 2,6% em termos anuais e o núcleo — que exclui itens voláteis como energia e alimentos — saiu de 2,8% para 2,6% na mesma base de comparação.
Sobre a economia, Powell apontou que a atividade continua a se expandir em ritmo sólido, junto a um desempenho ainda robusto de gastos com consumo e demanda doméstica privada.
No entanto, o chefão do Fed notou que houve uma moderação no crescimento econômico e que os gastos com consumo têm avançado em ritmo mais lento.
A reação ao morde e assopra de Powell
A relutância de Powell em corroborar a expectativa do mercado de que os juros começarão a cair em setembro nos EUA levou as taxas dos títulos do Tesouro norte-americano às máximas da sessão.
O dólar também ganhou força, enquanto as bolsas de Nova York se mantiveram sem direção única, com o S&P 500 e o Nasdaq renovando recorde histórico intradiário.
No Brasil, o Ibovespa operou quase estável, mas acima da mínima do dia, enquanto as taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) subiram levemente, acompanhando os Treasurys.
O dólar era o ativo que destoava, com queda de aproximadamente 0,5% em relação ao real, refletindo o ingresso de fluxo comercial em meio ao feriado da Revolução Constitucionalista em São Paulo, que manteve o mercado aberto, mas com volume reduzido.
Para a Capital Economics, Powell deu poucas pistas sobre o potencial momento para cortar juros. A consultoria destacou que, segundo ele, o Fed ainda espera por "mais dados bons" para fortalecer a confiança de que a inflação retornará à meta.
A consultoria espera uma redução de 25 pontos-base em setembro e outra, do mesmo calire, em dezembro.
Para James Knightley, economista chefe internacional do ING, Powell sinalizou hoje disposição para cortar os juros, mas ainda quer ver mais progresso em direção às metas do Fed.
“Parece haver progresso no desejo do Fed de levar a economia a um equilíbrio melhor e, assim, desacelerar a inflação para a meta de 2%. Os riscos bidirecionais também estão sendo cada vez mais reconhecidos e se os dados avançarem na direção, esperamos que o potencial de um corte de juros em setembro ganhe ainda mais força”, afirmou.
A culpa é de Trump? Powell usa o maior evento dos BCs no mundo para dizer por que não cortou os juros ainda
O evento organizado pelo BCE reuniu os chefes dos principais bancos centrais do mundo — e todos eles têm um inimigo em comum
Agência vai na contramão de Trump e afirma que Irã pode voltar a enriquecer urânio nos próximos meses; confira a resposta de Teerã
Em meio a pronunciamentos dos governos iraniano e norte-americano neste fim de semana, o presidente francês, Emmanuel Macron, cobrou retorno do Irã à mesa de negociações
G7 blinda empresas dos EUA de impostos mínimos globais após pressão de Trump
O acordo para a tributação das companhias norte-americanas foi firmado em meio a uma decisão do governo Trump no megaprojeto de gastos
Trump tem vitória no Senado com avanço de megaprojeto de gastos, e Elon Musk solta o verbo: “Completamente insano”
Apesar da vitória, a votação não foi fácil. O projeto vem sendo criticado pela oposição e também por aliados, incluindo o CEO da Tesla
Recebendo currículos, Trump diz o que o candidato precisa ter para ser escolhido presidente do Fed
O mandato do atual chefe do banco central norte-americana acaba em maio do ano que vem e o republicano já está em busca de nomes para a sucessão
Será que deu ruim? Titãs de Wall Street passam por teste de estresse; confira se algum dos grandes bancos EUA foi reprovado
A avaliação considerou uma recessão global severa, com desemprego em 10% e queda acumulada do Produto Interno Bruto (PIB) real de 7,8%
A guerra dos EUA com a China acabou? O sinal de Trump que pode colocar fim à disputa entre as duas maiores economias do mundo
Um ponto crucial para as tarifas serem suspensas teria sido acordado nesta semana, segundo fontes da Casa Branca
A guerra acabou, decreta Trump sobre Israel e Irã — mas nem ele mesmo tem certeza disso
Presidente norte-americano deu declarações conflituosas sobre o status do conflito entre os dois inimigos no Oriente Médio, que mantêm um cessar-fogo frágil
Trump dá aval para Powell subir juros, mas impõe uma condição para isso acontecer nos EUA
O presidente do banco central norte-americano participou do segundo dia de depoimentos semestrais no Congresso; já o republicano usou os holofotes da Otan para falar da política monetária norte-americana
A Europa corre perigo? Otan sobe meta de gastos para 5% em mudança histórica e Trump manda recado duro para um membro
A medida mais decisiva da aliança em mais de uma década ocorre em meio à escalada de tensões no Oriente Médio e ao conflito entre Ucrânia e Rússia — mas um país europeu ainda resiste
Trump falhou: peças centrais do programa nuclear do Irã seguem intactas, diz inteligência dos EUA
Enquanto a Casa Branca nega as informações, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, promete atacar novamente se Teerã retomar seu programa nuclear
Após cessar-fogo entre Irã e Israel, Donald Trump é indicado ao Nobel da Paz (de novo)
Mais que prestígio, a indicação ao prêmio entra no jogo político da Casa Branca — e no xadrez internacional
Israel e Irã podem mexer com a política de juros nos EUA? Powell responde
O presidente do Federal Reserve presta depoimento ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara e fala dos reflexos da instabilidade no Oriente Médio nas decisões do banco central norte-americano
Powell diz o que pensa na guerra pelo corte de juros após ser chamado de burro por Trump
O presidente do Federal Reserve presta depoimento ao Comitê de Serviços Financeiros da Câmara e fala o que vai acontecer com os juros, o que pensa sobre as tarifas e sobre a guerra entre Israel e Irã
A guerra não acabou: Trump anuncia cessar-fogo entre Israel e Irã — mas tem o maior dos desafios pela frente
Mais cedo, Teerã respondeu à ofensiva norte-americana contra instalações nucleares com um ataque com mísseis à Base Aérea de Al Udeid, no Catar
Brasil na guerra: governo se posiciona sobre ataque dos EUA ao Irã; veja o que diz o Itamaraty
Ministério das Relações Exteriores emite nota oficial sobre a escalada do conflito no Oriente Médio; mais cedo o ex-chanceler e agora assessor especial Celso Amorim havia se manifestado sobre os confrontos
Empresas começam a suspender atividades com escalada da guerra entre Israel e Irã
Do setor marítimo ao setor aéreo, as primeiras companhias começam a anunciar uma paralisação temporária das operações na esteira dos ataques dos EUA às instalações nucleares iranianas
Apagando fogo com gasolina: a oferta da Rússia ao Irã que pode desencadear uma guerra nuclear
Um dos homens fortes do governo de Putin questiona sucesso do ofensiva norte-americana, que atacou três instalações nucleares iranianas, afirmando que uma futura produção de armas atômicas segue sobre a mesa
O Estreito de Ormuz na berlinda: Irã se prepara para fechar a passagem marítima mais importante do mundo
Embora tenha ameaçado diversas vezes, o governo iraniano nunca fechou, de fato, a via, mas, agora, o parlamento começa a dar passos nessa direção
Da China a Europa: a reação internacional ao ataque dos EUA às instalações nucleares do Irã
Na noite de sábado (21), o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou uma operação classificada por ele como bem-sucedida contra três usinas nucleares iranianas