Tony Volpon: Mantendo a esperança nas bolsas americanas
Começamos maio de forma bem mais positiva do que foi abril — sigo uma regra que, se não infalível, tem uma taxa de acerto bastante alta: se o payroll for positivo, o mês será positivo para as bolsas americanas

Finalmente um mês negativo nas bolsas americanas. Oportunidade de compra ou o começo de uma correção mais profunda (seguindo o ditado “sell in May and go away”)?
No mês passado, tínhamos alertado para o fato de que os fundamentos que ajudam a determinar a inflação estavam mais para um “no landing” do que para o pouso suave sinalizado pelo Fed e desejado pelo mercado.
E os dados durante o mês – especialmente os dados de inflação – foram todos nessa direção, com algumas pequenas exceções. O CPI (Consumer Price Index), por exemplo, foi de 3,5% no acumulado dos últimos 12 meses, fechando março em 0,4%, assim como em fevereiro.
Lembramos que, na última reunião do Fed, Powell disse que era importante “não ter uma reação exagerada” aos dados mensais, e a parte mais dovish do mercado continuava acreditando que os dados estavam poluídos por fatores sazonais típicos do início do ano.
Mas, depois de março, tais argumentos acabaram perdendo força: houve uma clara aceleração da inflação americana no início do ano.
- Onde investir neste mês? Veja 10 ações em diferentes setores da economia para buscar lucros. Baixe o relatório gratuito aqui.
Isso não deveria ser nenhuma surpresa. Só que, mais uma vez, o mercado ficou muito impressionado com o forward guidance otimista do Fed e a pivotada dovish de dezembro, esquecendo de olhar os fundamentos.
Leia Também
As condições financeiras (estou aqui usando o índice do Chicago Fed) começaram a ficar mais expansionistas no meio de 2023, e esse movimento acelerou no final do ano. E, a despeito da recente correção altista nas taxas das Treasuries e das bolsas americanas, há somente uma leve reversão contracionista no final de abril que deve ser revertida com o movimento dos mercados nos últimos dias.
E o outro lado do conjunto?
O patrimônio líquido das famílias (total net worth) no final do ano estava subindo 8,4%, com os preços dos imóveis subindo 6,6% no ano – a despeito de taxas de financiamento imobiliário superando os 7% ao ano.
Mais um dado interessante: o pagamento de juros pelo Tesouro americano superou 1 trilhão de dólares nos últimos doze meses. Em 2020, essa cifra estava em 450 bilhões de dólares. Se os juros não caírem, o Bank of America calcula que chegaremos a 1,7 trilhão em 2025.
Há algumas qualificações. É verdade que muitos desses benéficos estão se concentrando no topo da pirâmide de renda das bolsas americanas – aqueles que têm mais ativos do que passivos. Assim, dados como inadimplência nos cartões de crédito ou em empréstimos para a compra de automóveis estão subindo. E o setor de imóveis comerciais está em plena crise, apesar do jogo de “extend and pretend” entre as empresas do setor e o sistema bancário.
- Leia também: Tony Volpon: E se a inflação superar a meta do Fed? Precificando o “no landing” dos juros nos Estados Unidos
Mas o “conjunto da obra” ainda aparece muito saudável. Não devemos esquecer talvez os mais importantes condicionantes da demanda agregada: o déficit fiscal está rodando perto de 6%, e a média desde 2020 está em 9,4% ao ano.
E, com as pesquisas eleitorais ainda dando Trump como vitorioso, o governo Biden está em modo populismo fiscal (mais um pacote de perdão de empréstimos estudantis foi anunciado recentemente).
Podemos manter a esperança?
Com esse cenário, o mercado chegou na reunião do Fed bastante preocupado, especialmente depois de falas hawkish por Jay Powell durante as reuniões de primavera do FMI em Washington. Seria possível ver uma pivotada hawkish anulando o que ocorreu em dezembro?
Felizmente não – para o mercado.
Durante a conferência de imprensa, os repórteres tentaram de todas as maneiras tirar de Powell qual o cenário para o Fed voltar a subir os juros, mas Powell permaneceu resoluto em sua convicção que o próximo movimento será de queda.
- Faça sua declaração do Imposto de Renda sem dor de cabeça: baixe nosso Guia do IR, feito pela jornalista especializada Julia Wiltgen. Clique aqui e receba gratuitamente no seu e-mail.
E, seguindo a ideia de que o que importa é o último dado, o número de novos empregos (Non-farm payroll) para abril saiu em 175 mil contra 240 mil esperados, com salários subindo somente 0,2% e a taxa de desemprego subindo para 3,9% – o tipo de número “goldilocks” que o mercado desesperadamente gostaria de ver, mostrando que Powell acertou em sua mensagem dovish.
Assim começamos maio de forma bem mais positiva do que foi abril. Sigo uma regra que, se não infalível, tem uma taxa de acerto bastante alta: se o payroll for positivo, o mês será positivo para as bolsas americanas: buy the April dip!
Apesar do payroll, não vamos esquecer que ainda temos uma economia com demanda sobreaquecida e com uma inflação atolada acima de 2%.
Powell certamente não vai mais subir os juros neste ciclo, mas o caminho para cortar o fed funds ainda não existe. Os dados de inflação ao longo do mês vão ditar se a reação positiva aos dados do mercado de trabalho terão ou não fôlego para continuar.
*Tony Volpon é economista e ex-diretor do Banco Central
Mantendo a tradição: Ibovespa tenta recuperar os 140 mil pontos em dia de produção industrial e dados sobre o mercado de trabalho nos EUA
Investidores também monitoram decisão do governo de recorrer ao STF para manter aumento do IOF
Os fantasmas de Nelson Rodrigues: Ibovespa começa o semestre tentando sustentar posto de melhor investimento do ano
Melhor investimento do primeiro semestre, Ibovespa reage a trégua na guerra comercial, trade eleitoral e treta do IOF
Rumo a 2026 com a máquina enguiçada e o cofre furado
Com a aproximação do calendário eleitoral, cresce a percepção de que o pêndulo político está prestes a mudar de direção — e, com ele, toda a correlação de forças no país — o problema é o intervalo até lá
Tony Volpon: Mercado sobrevive a mais um susto… e as bolsas americanas batem nas máximas do ano
O “sangue frio” coletivo também é uma evidência de força dos mercados acionários em geral, que depois do cessar-fogo, atingiram novas máximas no ano e novas máximas históricas
Tudo sob controle: Ibovespa precisa de uma leve alta para fechar junho no azul, mas não depende só de si
Ibovespa vem de três altas mensais consecutivas, mas as turbulências de junho colocam a sequência em risco
Ser CLT virou ofensa? O que há por trás do medo da geração Z pela carteira assinada
De símbolo de estabilidade a motivo de piada nas redes sociais: o que esse movimento diz sobre o mundo do trabalho — e sobre a forma como estamos lidando com ele?
Atenção aos sinais: Bolsas internacionais sobem com notícia de acordo EUA-China; Ibovespa acompanha desemprego e PCE
Ibovespa tenta manter o bom momento enquanto governo busca meio de contornar derrubada do aumento do IOF
Siga na bolsa mesmo com a Selic em 15%: os sinais dizem que chegou a hora de comprar ações
A elevação do juro no Brasil não significa que chegou a hora de abandonar a renda variável de vez e mergulhar na super renda fixa brasileira — e eu te explico os motivos
Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA
Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária
Rodolfo Amstalden: Não existem níveis seguros para a oferta de segurança
Em tese, o forward guidance é tanto mais necessário quanto menos crível for a atitude da autoridade monetária. Se o seu cônjuge precisa prometer que vai voltar cedo toda vez que sai sozinho de casa, provavelmente há um ou mais motivos para isso.
É melhor ter um plano: Ibovespa busca manter tom positivo em dia de agenda fraca e Powell no Senado dos EUA
Bolsas internacionais seguem no azul, ainda repercutindo a trégua na guerra entre Israel e o Irã
Um longo caminho: Ibovespa monitora cessar-fogo enquanto investidores repercutem ata do Copom e testemunho de Powell
Trégua anunciada por Donald Trump impulsiona ativos de risco nos mercados internacionais e pode ajudar o Ibovespa
Um frágil cessar-fogo antes do tiro no pé que o Irã não vai querer dar
Cessar-fogo em guerra contra o Irã traz alívio, mas não resolve impasse estrutural. Trégua será duradoura ou apenas mais uma pausa antes do próximo ato?
Felipe Miranda: Precisamos (re)conversar sobre Méliuz (CASH3)
Depois de ter queimado a largada quase literalmente, Méliuz pode vir a ser uma opção, sobretudo àqueles interessados em uma alternativa para se expor a criptomoedas
Nem todo mundo em pânico: Ibovespa busca recuperação em meio a reação morna dos investidores a ataque dos EUA ao Irã
Por ordem de Trump, EUA bombardearam instalações nucleares do Irã na passagem do sábado para o domingo
É tempo de festa junina para os FIIs
Alguns elementos clássicos das festas juninas se encaixam perfeitamente na dinâmica dos FIIs, com paralelos divertidos (e úteis) entre as brincadeiras e a realidade do mercado
Tambores da guerra: Ibovespa volta do feriado repercutindo alta dos juros e temores de que Trump ordene ataques ao Irã
Enquanto Trump avalia a possibilidade de envolver diretamente os EUA na guerra, investidores reagem à alta da taxa de juros a 15% ao ano no Brasil
Conflito entre Israel e Irã abre oportunidade para mais dividendos da Petrobras (PETR4) — e ainda dá tempo de pegar carona nos ganhos
É claro que a alta do petróleo é positiva para a Petrobras, afinal isso implica em aumento das receitas. Mas há um outro detalhe ainda mais importante nesse movimento recente.
Não foi por falta de aviso: Copom encontra um sótão para subir os juros, mas repercussão no Ibovespa fica para amanhã
Investidores terão um dia inteiro para digerir as decisões de juros da Super Quarta devido a feriados que mantêm as bolsas fechadas no Brasil e nos Estados Unidos
Rodolfo Amstalden: São tudo pequenas coisas de 25 bps, e tudo deve passar
Vimos um build up da Selic terminal para 15,00%, de modo que a aposta em manutenção na reunião de hoje virou zebra (!). E aí, qual é a Selic de equilíbrio para o contexto atual? E qual deveria ser?