Tony Volpon: E se a inflação superar a meta do Fed? Precificando o “no landing” dos juros nos Estados Unidos
O Fed sinalizou três cortes de juros de 0.25% neste ano. Mas, como em 2023, vale a pena perguntar: e se o esperado não acontecer?
Como já defendi aqui, muitas vezes a coisa mais importante nos mercados foi aquilo que não aconteceu. No ano passado, o fato de não ter havido uma recessão nos Estados Unidos depois de um dos ciclos mais agressivos de alta de juros (e bastante tardio).
Com a melhora na inflação, o Federal Reserve levou o mercado, a partir da reunião dovish de dezembro, a precificar entre cinco e seis cortes de juros neste ano, o que impulsionou os mercados de risco.
De lá para cá, uma sequência de dados mais salgados de inflação tem levado o mercado a diminuir essa expectativa, que hoje casa com o que o Fed sinalizou nos dot plots já em dezembro, de três cortes de juros de 0.25% neste ano.
Esse ajuste de expectativa não tem impactado negativamente os mercados de risco, ainda sobre a influência positiva da temática (ou bolha) da inteligência artificial. Assim podemos dizer que apesar desse ajuste o mercado – seguindo o Fed – ainda aposta em um cenário macro com um “pouso suave”.
- [Evento online e 100% gratuito] Luis Stuhlberger, Daniel Goldberg, Marcos Troyjo e outros grandes economistas e gestores debatem cenário macro e oportunidades de investimentos; saiba como participar
E se o esperado não acontecer nos juros americanos?
Mas, como em 2023, vale a pena perguntar: e se o esperado não acontecer?
Jason Furman, ex-membro da equipe econômica de Obama e hoje professor na Harvard, fez uma interessante e correta observação na plataforma X (estou parafraseando): “O Fed nos últimos 12 anos tem feito um bom trabalho ajustando a política de juros e compra de ativos; mas tem feito um péssimo trabalho projetando o nível de juros futuro”. Ele advoga que o Fed simplesmente abandone qualquer tentativa de forward guidance.
Leia Também
Os sinais do dado de emprego sobre o caminho dos juros nos EUA. Bolsas se antecipam à próxima decisão do Fed
Ele está certo. Basta lembrar o desastre que foi a tese da inflação “transitória”, quando o Fed no final de 2021 estava prevendo a volta da inflação para 2% sem alta de juros.
Em sua defesa, Powell & Co. repetem que os dot plots são projeções do momento, e não nenhum tipo de forward guidance, mas essa explicação é para lá de ingênua: se os dot plots não têm nenhuma importância para sinalizar intenção, por que publicá-los?
Mas colocando de lado o debate sobre a utilidade real dessas projeções, temos que manter em mente que o Fed de fato basicamente tem “feito a coisa certa” – se com algum atraso – e nunca sentiu nenhum constrangimento em jogar no lixo suas projeções.
Assim não devemos levar muito a sério a sinalização do início do ciclo de corte de juros na reunião de junho.
Powell – que falou na sexta-feira da Páscoa apesar do feriado e depois da divulgação do PCE – tem de forma consistente projetado otimismo com a tese do soft landing, mas com o “porém” de que o comitê tem que ter mais confiança que a inflação de fato está em rota de convergência para a meta de 2% antes de cortar o fed funds.
- LEIA TAMBÉM: Casa de análise libera carteira gratuita de ações americanas pra você buscar lucros dolarizados em 2024. Clique aqui e acesse.
E como vai a inflação?
Vou abusar do Jason Furman mais uma vez, utilizando um resumo que ele faz da média de várias maneiras de mensurar a inflação CPI (cheia, núcleos, média aparada, etc) ajustada à métrica do PCE (que é a meta formal do Fed).
Essas médias (todas anualizadas) são de 4,1% no último mês, 3,4% em três meses, 2,5% em seis meses, e 2,5% em 12 meses.
Bom, não me parece que esses dados sugerem processo de convergência para 2%...
Mas os otimistas têm vários argumentos. Podemos estar vendo um fenômeno sazonal (inclusive um mau ajuste sazonal pós-pandemia). Algo similar aconteceu no início de 2023. E devemos em breve ver forte queda no item de aluguel (de fato o núcleo anualizado de um mês “ex-aluguéis e carros usados” foi de somente 1,5%).
Ok, mas devemos ter cuidado com cortes cada vez mais finos da cesta de inflação para chegar à conclusão desejada – se fez exatamente isso durante a alta da inflação entre 2021 e 2022 para justificar a furada tese da inflação “transitória”.
O que mais apoia a tese de que a inflação talvez não esteja de fato em rota de convergência? Talvez os mesmos fatores que ajudaram a causar o “não evento” esperado de 2023: uma política fiscal e condições financeiras expansionistas.
Vamos aos números. O índice de condições financeiras do Fed de Chicago – depois de um forte aperto entre o início de 2022 e o meio de 2023 – tem mostrado condições favoráveis à atividade econômica desde então, e hoje se encontra no mesmo patamar expansionista visto no início de 2022.
O déficit primário em 2023 foi de 5,5% do PIB, e o FMI projeta 4,3% para este ano. Isso com a economia em pleno emprego com o PIB rodando acima do seu potencial.
- LEIA TAMBÉM: Rodolfo Amstalden: Deus abençoe as meme stocks
O tal do "no landing"
Assim, um cenário de no landing – onde a inflação se estabilize acima da meta do Fed – não parece algo tão improvável. Os mesmos fatores que impediram a recessão de ocorrer em 2023 podem impedir a convergência da inflação em 2024. Aqui no Brasil conhecemos bem o que acontece quando a política fiscal está com o pé no acelerador e a monetária no freio.
Talvez os últimos dados de inflação sejam uma mera corcova, mas, se não, o Fed deve continuar a jogar para frente a data do início do ciclo de queda.
Dada a força dos mercados, postergar o início do ciclo de queda não deve apresentar grandes problemas. Com a economia indo bem, Powell sinaliza ter grande paciência.
O risco, porém, está no desconhecido.
Até se o Fed tem como jogo velado aceitar uma inflação mais alta pelo período necessário (com uma postura assimétrica de cortar juros se a economia inesperadamente enfraquecer) é possível também haver um cenário onde algum choque inflacionário (provavelmente por um evento geopolítico) gere uma alta da inflação que o Fed não vai conseguir ignorar, colocando novos aumentos de juros na mesa.
Neste caso, apesar de toda a vontade de ver o copo meio cheio, os mercados de risco, que já mostram sinais de cansaço e valuations bastante esticados, não terão como não reagir negativamente.
Vejo isso como o cenário de risco, e não o cenário base. Até ocorrer um choque dessa natureza, o mercado e o Fed continuarão a jogar um “me engana que eu gosto”. Assim continuo (cinicamente) comprado, se hoje bem mais preocupado.
*Tony Volpon é economista e ex-diretor do Banco Central
Trump vem aí: Powell diz o que pode fazer com os juros nos EUA diante das ameaças do republicano — e isso tem a ver com você
Com o republicano batendo na porta da Casa Branca, presidente do Fed deu novas pistas sobre o que pensa para o ritmo de corte da taxa referencial na maior economia do mundo
Setor de franquias fatura mais de R$ 70 bilhões e cresce 12% no terceiro trimestre; conheça redes para investir nos segmentos mais lucrativos
A Pesquisa Trimestral de Desempenho da Associação Brasileira de Franchising (ABF) revelou que todos os segmentos de franquias cresceram no terceiro trimestre de 2024
Um conto de Natal na bolsa: Ibovespa aguarda dados de produção industrial no Brasil e de emprego nos EUA antes de discurso de Powell
Bolsa busca manter recuperação apesar do dólar na casa dos R$ 6 e dos juros projetados a 15% depois do PIB forte do terceiro trimestre
‘Preferimos novos aportes em títulos pós-fixados’: por que a Empiricus gosta da renda fixa indexada ao CDI para quem investir agora
Perspectiva de alta de juros acima do esperado inicialmente deve impulsionar ativos atrelados à Selic e ao DI; veja os títulos recomendados pela casa de análise
4 pontos que ajudaram o PIB brasileiro a bombar (de novo) no terceiro trimestre, apesar da decepção com o agro
Crescimento do PIB do Brasil atingiu os 4% no terceiro trimestre de 2024, mas juros em alta tendem a provocar desaceleração em um futuro próximo
Quando a conta não fecha: Ibovespa repercute envio de pacote fiscal ao Congresso em dia de PIB do terceiro trimestre
Governo enviou PEC do pacote fiscal ao Congresso na noite de segunda-feira enquanto o dólar segue acima dos R$ 6
A dura realidade matemática: ou o Brasil acerta a trajetória fiscal ou a situação explode
Mercado esperava mensagem clara de responsabilidade fiscal e controle das contas públicas, mas o governo falhou em transmitir essa segurança
8 títulos de renda fixa isentos de imposto de renda para lucrar em cenário de alta de juros e inflação, segundo o BB-BI
Banco manteve indicações de novembro e acrescentou CRA da Marfrig e debênture da Eletrobras, diante da aversão a risco no mercado doméstico
Selic a 15% ao ano, inflação e fantasma fiscal: por que a Kinea está vendida na bolsa brasileira?
Responsável por mais de R$ 132 bilhões em ativos, a gestora afirma que “existem melhores oportunidades no exterior”; veja onde a Kinea investe hoje
Não deu tempo? Focus fica imune à reação do mercado ao pacote fiscal e mantêm projeções para dólar e juros
Enquanto as projeções para a inflação e o PIB subiram, as estimativas para o dólar e os juros permaneceram estáveis
Botafogo bota fogo na bolsa: semana cheia começa com investidores acompanhando fôlego do Trump Trade
Ao longo dos próximos dias, uma série de relatórios de empregos nos Estados Unidos serão publicados, com o destaque para o payroll de sexta-feira
Agenda econômica: Payroll, Livro Bege e discurso do presidente do Fed dominam a semana; no Brasil, PIB ganha destaque
Agenda econômica desta semana conta ainda com relatório Jolts nos EUA e PIB na Zona do Euro; no cenário nacional, pacote fiscal e dados da inflação do país ficam no radar
A Selic vai a 14%? Pacote de corte de gastos considerado insuficiente leva mercado a apostar em juros ainda mais altos
Mercado já começa a reajustar as estimativas para a taxa básica de juros e agora espera uma alta de 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom
Dólar atinge R$ 6,10 e juros futuros disparam: nem fala do futuro presidente do Banco Central segurou os mercados hoje
Gabriel Galípolo tentou colocar panos quentes nos anúncios mais recentes do governo, afirmando perseguir a meta de inflação e sinalizar a continuidade do aperto da Selic
Um presente e um almoço: pregão espremido entre feriado e fim de semana deve trazer volatilidade para bolsa brasileira hoje
Em dia de pagamento da primeira parcela do décimo terceiro e Black Friday, investidor deve continuar a digerir o pacote apresentado por Haddad
Ranking do Tesouro Direto do mês: retorno dos títulos públicos vira para o vermelho na reta final de novembro com pacote de corte de gastos
Títulos prefixados e indexados à inflação caminhavam para fechar o mês em alta, mas viraram para queda após anúncio de Haddad
Tesouro IPCA+ volta a oferecer retorno de 7% acima da inflação em meio à disparada dos juros futuros e do dólar
A volatilidade vista no mercado que impulsiona os juros futuros e, consequentemente, as taxas dos títulos do Tesouro Direto, é provocada pela divulgação do aguardado pacote de corte de gastos do governo
Seu pacote chegou! Haddad confirma corte de R$ 70 bilhões, mas isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil deve pesar na bolsa hoje
O feriado do dia de Ação de Graças mantém as bolsas dos Estados Unidos fechadas por hoje e amanhã, o que deve aumentar a volatilidade global
Caos nos mercados? Dólar sobe a R$ 5,9135 e Ibovespa fecha na mínima, aos 127.668,61 pontos — o que mexeu com as bolsas aqui e lá fora
Nos EUA, uma enxurrada de indicadores refletiram o comportamento das bolsas antes do feriado. No Brasil, rumores sobre o pacote fiscal seguiram ditando o ritmo das negociações.
Nunca é tarde para diversificar: Ibovespa continua à espera de pacote em dia de revisão de PIB e PCE nos EUA
Haddad pretende começar hoje a apresentação do pacote fiscal do governo aos líderes do Congresso Nacional