Felipe Miranda: Plantas embaixo do aquário — Scott Bessent e o flerte com a racionalidade econômica
O negacionismo da ciência não deveria ser o caminho. Serve para questões sanitárias — cloroquina não cura a covid-19. Serve para o respeito às contas públicas, porque palavras não pagam dívidas

Caio me convida para o show do Keinemusik. Peço ajuda para o ChatGPT. Não conhecia. Agradeço —gentilmente. Não é muito a minha praia. A coisa mais nova que escuto deve ser o Smashing Pumpkins.
No Brasil, parei em 1986, naquele disco Dois da Legião. As favoritas são aqueles tesouros escondidos, espécie de Lado B. Deve ser meu interesse pelas small caps: “Acrilic on Canvas” e “Plantas embaixo do aquário”, embora deva gratidão genuína a “Tempo Perdido”, cuja execução no violão rendeu uns golzinhos por aí.
Num passado bem distante, claro. Era paleozoica. "Faça do bom senso a nova ordem” é a frase imperativa para anunciar o refrão.
A nomeação de Scott Bessent para secretaria do Tesouro norte-americano é um flerte com a racionalidade econômica, a moderação e o bom senso.
- Em busca de dividendos? Série Double Income reúne os melhores ativos para os investidores interessados em renda passiva.
Scott Bessent o 'falcão fiscal'
Embora seja muito prematura, emerge a possibilidade de uma administração Trump mais fiscalista, o que seria surpreendente depois de uma campanha desprovida do necessário debate sobre a trajetória fiscal norte-americana.
Bessent é tido como um “falcão fiscal”, discípulo de George Soros, ciente da preocupante escalada da dívida pública.
Leia Também
Bessent também é um moderado, com histórico de doação para o partido Democrata. Pode impor tarifas aduaneiras conforme sinalizado em campanha, mas numa intensidade menor ao previamente temido.
E para a turma mais obcecada pela “guerra cultural”, que só via misoginia e truculência no governo Trump, a narrativa encontra um empecilho retórico: Bessent é gay.
Depois de escolhas mais ideológicas para outros departamentos e outras secretarias, a nomeação de Bessent não poderia ser mais apropriada. A política econômica parece menos inclinada a radicalismo e a politização. Indicação de vitória do pragmatismo e da racionalidade, num momento bastante delicado da economia política em nível global.
Muitos traçam paralelos do momento atual com os anos 2000. O frenesi em torno da inteligência artificial guardaria semelhança com a bolha pontocom. Sempre precisamos nos preocupar com valuations esticados, mas a situação agora mostra empresas com balanços bem sólidos, gerando muito caixa.
No agregado, embora os preços tenham, de fato, uma escalada impressionante, é ainda mais extraordinário o lucro das empresas ter andado com igual intensidade.
Outros tentam comparar 2024 com 1995, quando ganhos de produtividade empurravam os ativos de risco. Ainda teríamos bons anos pela frente até a explosão de 99/00.
Máquina do tempo
No Brasil, também temos as próprias analogias. O paralelo popular da vez é entre o Lula III e a nova matriz econômica da era Dilma.
O pé na tábua fiscal, a insegurança jurídica e o Estado como grande indutor do crescimento mostram a cara de um parecida com o focinho da outra. Mas há nuances a serem respeitadas. Apesar do vetor em direção razoavelmente parecida, o tamanho e a convicção importam. A diferença entre o remédio e o veneno é a dose.
O BNDES agora está muito mais bem comportado, há menor intervenção na economia, não tivemos (ao menos até agora) nada tão amalucado quanto aquela MP 579 e a equipe econômica mostra um mínimo respeito à aritmética das contas públicas (Haddad não é Guido).
O Congresso refreia guinadas mais à esquerda, a inflação é muito menor do que aquela, a situação do balanço de pagamentos é muito mais confortável, a economia cresce em ritmo vigoroso (embora o prognóstico seja de desaceleração), o Banco Central é independente, as empresas estão em situação muito melhor, menos endividadas e com maior geração de caixa.
A sociedade aprendeu (ao menos parcialmente) com os erros do passado e o escrutínio é hoje muito maior. Ao primeiro sinal do Pé de Meia fora do arcabouço, de gigantismo do BNDES ou da aventura do Vale Gás, o barulho é imediato.
Se fosse para apontar uma analogia do presente com o passado, suspeito que estejamos voltando exatamente 10 anos no tempo.
O ano de 2025 pode ser a antessala de uma grande mudança do pêndulo político, em direção à responsabilidade fiscal, valorização do empreendedorismo, obediência às sinalizações do sistema de preço, maior segurança jurídica, reorientação do tamanho do Estado.
Em sendo o caso, estaríamos contratando um ciclo extraordinário de valorização dos ativos brasileiros, semelhante àquele observado entre 2016 e 2019.
Sem COMPROMISSO com a REGRA FISCAL, o BRASIL não DESLANCHA
Bessent e uma Nova Ordem Mundial
Já em relação ao ambiente internacional, receio de que as comparações com 2000 ou 1995 sejam imprecisas. Também afasto os mais pessimistas que estejamos caminhando para ideologias semelhantes àquelas dos anos 30, quando o totalitarismo preencheu um vácuo e presenciamos as trágicas emergências do fascismo e do nazismo.
Apesar de não ver um caminho tão ruim, já se pode notar a configuração de uma Nova Ordem Mundial.
Quando vemos o recrudescimento das tensões na Ucrânia e vislumbramos a possibilidade de redução do apoio ocidental, a hipótese de Putin angariando boa parte do território ucraniano ganha probabilidade. O que aconteceria depois? Moldávia, Georgia, Lituânia, Estônia, Letônia?
Como pano de fundo, há todo um questionamento da Ordem Mundial, dos tratados internacionais, dos fóruns, das entidades e das fronteiras estabelecidas pós-45. O nível de confiança e valorização em instituições como a Otan, a ONU e o Banco Mundial é o menor em vários e vários anos.
Se a hipótese otimista era de que a queda do Muro de Berlim representaria a síntese definitiva da democracia liberal e o fim dos conflitos dialéticos da História, a passagem do tempo indicou algo diferente.
A Guerra Fria suprimiu uma série de conflitos regionais, que vieram à superfície quando de seu encerramento. É uma vitória intelectual de John Gray sobre Francis Fukuyama.
Os valores ocidentais clássicos e a democracia liberal podem não servir a todo o planeta, em especial se a grande preocupação é com a segurança ou a sobrevivência. A partir do Leviatã de Thomas Hobbes, conseguimos entender que a democracia pode ser um valor menor para determinados povos sob grande ameaça e com sensação de insegurança.
Se continuássemos caminhando com vitórias de autocratas populistas sobre democracias liberais, incorreríamos no risco de voltarmos a um ambiente mais parecido com aquele anterior à Primeira Guerra Mundial, sem uma grande potência única dominante que impunha seus valores e instituições ao resto dos países.
Vários grandes países e impérios existiriam isoladamente, com interações comerciais, fluxos de capital e de pessoas e, vez ou outra, conflitos bélicos regionais.
A nomeação de Scott Bessent é um passo na direção correta. Os mercados recebem de maneira positiva seu nome, inclusive abrandando o movimento do “Trump Trade”. O dólar se enfraquece, os yields dos Treasuries caem.
Pode ser uma boa notícia para países emergentes, em especial para aqueles que entenderem o recado. A racionalidade econômica e a valorização da ciência são frutos do Iluminismo.
O negacionismo da ciência não deveria ser o caminho. Serve para questões sanitárias — cloroquina não cura a covid-19. Serve para o respeito às contas públicas, porque palavras não pagam dívidas. Esperamos que o pacote fiscal não fique para semana que vem…
Trocando as lentes: Ibovespa repercute derrubada de ajuste do IOF pelo Congresso, IPCA-15 de junho e PIB final dos EUA
Os investidores também monitoram entrevista coletiva de Galípolo após divulgação de Relatório de Política Monetária
Rodolfo Amstalden: Não existem níveis seguros para a oferta de segurança
Em tese, o forward guidance é tanto mais necessário quanto menos crível for a atitude da autoridade monetária. Se o seu cônjuge precisa prometer que vai voltar cedo toda vez que sai sozinho de casa, provavelmente há um ou mais motivos para isso.
É melhor ter um plano: Ibovespa busca manter tom positivo em dia de agenda fraca e Powell no Senado dos EUA
Bolsas internacionais seguem no azul, ainda repercutindo a trégua na guerra entre Israel e o Irã
Um longo caminho: Ibovespa monitora cessar-fogo enquanto investidores repercutem ata do Copom e testemunho de Powell
Trégua anunciada por Donald Trump impulsiona ativos de risco nos mercados internacionais e pode ajudar o Ibovespa
Um frágil cessar-fogo antes do tiro no pé que o Irã não vai querer dar
Cessar-fogo em guerra contra o Irã traz alívio, mas não resolve impasse estrutural. Trégua será duradoura ou apenas mais uma pausa antes do próximo ato?
Felipe Miranda: Precisamos (re)conversar sobre Méliuz (CASH3)
Depois de ter queimado a largada quase literalmente, Méliuz pode vir a ser uma opção, sobretudo àqueles interessados em uma alternativa para se expor a criptomoedas
Nem todo mundo em pânico: Ibovespa busca recuperação em meio a reação morna dos investidores a ataque dos EUA ao Irã
Por ordem de Trump, EUA bombardearam instalações nucleares do Irã na passagem do sábado para o domingo
É tempo de festa junina para os FIIs
Alguns elementos clássicos das festas juninas se encaixam perfeitamente na dinâmica dos FIIs, com paralelos divertidos (e úteis) entre as brincadeiras e a realidade do mercado
Tambores da guerra: Ibovespa volta do feriado repercutindo alta dos juros e temores de que Trump ordene ataques ao Irã
Enquanto Trump avalia a possibilidade de envolver diretamente os EUA na guerra, investidores reagem à alta da taxa de juros a 15% ao ano no Brasil
Conflito entre Israel e Irã abre oportunidade para mais dividendos da Petrobras (PETR4) — e ainda dá tempo de pegar carona nos ganhos
É claro que a alta do petróleo é positiva para a Petrobras, afinal isso implica em aumento das receitas. Mas há um outro detalhe ainda mais importante nesse movimento recente.
Não foi por falta de aviso: Copom encontra um sótão para subir os juros, mas repercussão no Ibovespa fica para amanhã
Investidores terão um dia inteiro para digerir as decisões de juros da Super Quarta devido a feriados que mantêm as bolsas fechadas no Brasil e nos Estados Unidos
Rodolfo Amstalden: São tudo pequenas coisas de 25 bps, e tudo deve passar
Vimos um build up da Selic terminal para 15,00%, de modo que a aposta em manutenção na reunião de hoje virou zebra (!). E aí, qual é a Selic de equilíbrio para o contexto atual? E qual deveria ser?
Olhando para cima: Ibovespa busca recuperação, mas Trump e Super Quarta limitam o fôlego
Enquanto Copom e Fed preparam nova decisão de juros, Trump cogita envolver os EUA diretamente na guerra
Do alçapão ao sótão: Ibovespa repercute andamento da guerra aérea entre Israel e Irã e disputa sobre o IOF
Um dia depois de subir 1,49%, Ibovespa se prepara para queimar a gordura depois de Trump abandonar antecipadamente o G-7
Acima do teto tem um sótão? Copom chega para mais uma Super Quarta mirando fim do ciclo de alta dos juros
Maioria dos participantes do mercado financeiro espera uma alta residual da taxa de juros pelo Copom na quarta-feira, mas início de cortes pode vir antes do que se imagina
Felipe Miranda: O fim do Dollar Smile?
Agora o ouro, e não mais o dólar ou os Treasuries, representa o ativo livre de risco no imaginário das pessoas
17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar
Desdobramentos do conflito que começou na sexta-feira (13) segue ditando o humor dos mercados, em semana de Super Quarta
Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal
Mercados globais operam em queda, com ouro e petróleo em alta com aumento da aversão ao risco
Labubu x Vale (VALE3): quem sai de moda primeiro?
Se fosse para colocar o meu suado dinheirinho na fabricante do Labubu ou na mineradora, escolho aquela cujas ações, no longo prazo, acompanham o fundamento da empresa
Novo pacote, velhos vícios: arrecadar, arrecadar, arrecadar
O episódio do IOF não é a raiz do problema, mas apenas mais uma manifestação dos sintomas de uma doença crônica