Felipe Miranda: Francis ou Francisco: dançando à beira do vulcão
Não há como subestimar o atentado contra Donald Trump. Quando Francisco Ferdinando foi assassinado, ninguém imaginou que caminharíamos para a Primeira Guerra Mundial
E se você tivesse de escolher entre o fascismo e o comunismo? Estaria preparado? Qual a sua decisão?
Ray Dalio, o mais do que gestor da Bridgewater, lançou a provocação em artigo recente em seu LinkedIn. O texto era, em grande medida, uma longa argumentação para justificar sua atribuição de mais de 50% de probabilidade para uma guerra civil nos EUA.
O nível de polarização da sociedade norte-americana (talvez pudéssemos dizer o mesmo sobre a brasileira) é tamanho que o diálogo com o outro espectro vai se tornando impossível.
Se você odeia tanto o outro lado, se acha que a vitória de seu antagonista político lhe representa um grande mal ou se a pior coisa que pode acontecer àquela sociedade é a visão oposta assumir o poder, então vale tudo para impedir sua ascensão.
No “vale tudo”, incluem-se, claro, atentados contra candidatos a presidente, fechamentos do Congresso, perseguição a membros da Suprema Corte, censura à imprensa.
Estamos cada vez mais fechados em nossos comportamentos tribais, olhando o mundo por aquelas lentes apenas.
Leia Também
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Se você está com fome e sob ameaça de morte, mais valem a proteção do grupo e a segurança de um líder forte (populista) do que propriamente a alternância de poder ou instituições de representação popular.
- E-BOOK LIBERADO: o Seu Dinheiro consultou especialistas do mercado financeiro para descobrir onde estão as melhores oportunidades de investimento para o 2º semestre de 2024; baixe aqui
Violência política e o atentado contra Trump
A democracia, que não admite violência política e depende de judiciário e imprensa independentes para funcionar, tem sido violentada.
Os “ídolos da tribo” de Francis Bacon são um dos quatro obstáculos para chegar à verdade.
Estamos penetrados num viciado “group thinking”, em que mais vale obedecer a certos critérios ideologizados do que pensar com a própria cabeça.
Estamos nós mesmos criando a própria “cama de Procusto” – para nos fazer caber dentro de determinado campo político-ideológico, abrimos mão da complexidade e da pluralidade de individualidade humana, com suas contradições e vicissitudes, para nos limitarmos a determinado rótulo.
Não há como subestimar o atentado contra Donald Trump – quando Francisco Ferdinando foi assassinado, ninguém imaginou a priori que caminharíamos para a Primeira Guerra Mundial.
Ainda que seja ação de um lobo solitário, reflete o grau de polarização da sociedade e até onde cada um dos lados está disposto a ir para evitar a vitória de seu antagonista.
Quando colocamos a coisa em contexto e a somamos à facada contra Bolsonaro, à invasão do Capitólio e aos eventos de 8 de janeiro de 2023 no Brasil, percebemos o quanto a corda está esticada. Ela tem resistido, mas não sabemos até quando.
- Leia também: Felipe Miranda: Desiludidos pelo acaso
O tiro contra Trump e um alerta para o futuro
O evento do final de semana deveria servir como alerta. As lideranças políticas poderiam e deveriam atuar em prol do abrandamento das tensões.
Os grupos, de lado a lado, precisariam reconhecer como esse caminho é ruim e onde poderia nos levar. As primeiras reações ao atentado, no entanto, não são nada auspiciosas.
A esquerda mais radical insiste num suposto atentado, de um suposto tiro, vindo de um suposto rifle, ainda que o atirador tenha sido morto e pessoas na plateia tenham sido assassinadas.
A direita extremista, por sua vez, identifica uma guerra do bem contra o mal – ainda mais surpreendente, se autoproclama no lado do bem, evidente. Curioso como a crítica anterior era de que a esquerda se posicionava como monopolista da virtude, posto esse ocupado agora pela direita radical.
A Segunda Guerra Fria
Não é um suposto atentado. E também não há guerra alguma do bem contra o mal.
O maniqueísmo só existe em Hollywood e em proposições religiosas, como narrativas simplificadoras e infantilizadas da nossa existência – como na infância, precisamos de alguém para nos proteger da grandiosidade de um mundo desconhecido e ameaçador, seja um ente sobrenatural, seja um político para servir-nos de figura paterna. Alguns “dad issues” são insuperáveis.
Enquanto acharmos que o outro lado representa o mal, o distanciamento só fará aumentar. Nós, seres iluminados dotados do bem, teremos de combatê-los a qualquer custo. Chegamos, assim, à guerra civil interna nas grandes democracias.
Evidentemente, para o eixo composto por Rússia, Irã, China e as adjacentes Coreia do Norte e Venezuela, é ótima notícia. Se nós mesmos não valorizamos os princípios ocidentais consagrados pelo Iluminismo, por que os outros o farão?
A fragmentação e o conflito internos são a antessala da ameaça externa. O adversário na Segunda Guerra Fria em curso acompanha com entusiasmo os recentes desdobramentos.
O risco maior é de que nós sejamos os soviéticos dessa vez – nunca as universidades norte-americanas de ponta estiveram tão questionadas, jamais houve esse nível de desconfiança sobre a Suprema Corte dos EUA, a imprensa tradicional estadunidense perde penetração e relevância, o Congresso não ecoa os anseios da população, não há lideranças jovens e renovadas; ao contrário, os candidatos à presidência são tão viris quanto Brezhnev, Andropov e Chernenko.
Atentado contra Trump e o efeito nos mercados
Para os mercados, a ideia de que o atentado fortalece a candidatura republicana disparou o chamado “Trump Trade”, associado a maior inclinação da curva de juros, fortalecimento do dólar sobretudo contra moedas emergentes, disparada das criptomoedas e valorização das bolsas dos EUA.
Trump cortaria impostos e renovaria estímulos tributários vincendo em 2027, beneficiando os lucros corporativos (bom para as ações) mas também se descuidando do fiscal (juros longos pra cima).
Também imporia mais tarifas à China, com potencial recrudescimento das relações comerciais e alta dos produtos importados, tendo efeitos inflacionários.
A ideia do excepcionalismo norte-americano tentaria isolar a China e afastar-se da Otan. Restrições à imigração poderiam aumentar salários, também pressionando a inflação.
Em termos microeconômicos, o setor de defesa poderia receber mais gastos e incentivos.
A maior militarização, inclusive, tenderia a beneficiar aço e minério de ferro, ao menos na margem.
O segmento de petróleo fica mais bem posicionado, assim como a menor regulamentação deve ajudar o setor financeiro.
Por outro lado, nichos de energia limpa e grandes farmacêuticas são perdedores em termos relativos.
Ademais, o recrudescimento das tensões sócio-políticas e a evidência de radicalização intensa são um catalisar em prol de hedges canônicos, como ouro, ativos físicos e, em alguma medida, o bitcoin, que cada vez mais ocupa um espaço como reserva de valor.
Imóveis e, particularmente, terras podem ser especialmente atraentes sob ameaças recorrentes à democracia.
Numa eventual guerra, você vai precisar de energia e comida. Aliás, estar na América Latina, no meio do Planalto Central brasileiro, pode não ser uma má ideia.
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo
Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje
Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA