A jornada tortuosa do Banco Central: Como Campos Neto virou refém dos indicadores — e não deve escapar desse cativeiro antes de junho
BC não percebeu alterações no cenário econômico e parece pessimista demais, mas ata do Copom, IPCA-15 e RTI devem ajudar a esclarecer essa visão
 
					A última semana foi marcada por importantes comunicações dos principais bancos centrais ao redor do mundo, iniciando com uma decisão histórica do Banco do Japão (BoJ), que optou por encerrar quase uma década de taxas de juros negativas, promovendo seu primeiro aumento de juros em 17 anos.
Em resposta a preocupações com dados inflacionários mais vigorosos do início do ano, o Federal Reserve (Fed) dos Estados Unidos tranquilizou o mercado ao reiterar a projeção de três cortes nas taxas para 2024, embora tenha mantido certa ambiguidade sobre o início desses ajustes.
Em um movimento inesperado, o banco central da Suíça tomou a dianteira dos cortes de juros na Europa, marcando um ponto de inflexão nas políticas monetárias europeias.
Paralelamente, o Banco da Inglaterra (BoE) exibiu uma mudança notável em sua abordagem, com dois dos seus integrantes que previamente defendiam aumentos nas taxas optando pela manutenção, pavimentando o caminho para potenciais cortes a partir do meio do ano.
De maneira geral, observa-se uma predisposição crescente dos bancos centrais das economias avançadas em direcionar para uma redução das taxas de juros a partir do meio do ano, fornecendo um sentimento de estabilidade aos mercados devido à sincronia global das políticas monetárias.
Entretanto, nuances regionais na implementação destas políticas apontam para as idiossincrasias de cada contexto.
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E como o Brasil se encaixa nisso?
No cenário econômico brasileiro, o destaque foi a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de promover um novo ajuste na taxa básica de juros, a Selic, reduzindo-a em 50 pontos-base para chegar a 10,75% ao ano.
Este movimento segue a linha de flexibilização monetária adotada desde agosto de 2023, alinhando-se às expectativas do mercado sem apresentar surpresas.
A mudança que chamou atenção veio através do comunicado que acompanha a decisão, que ajustou a orientação futura, o forward guidance, indicando agora apenas mais uma redução de 50 pontos para a reunião de maio, o que levaria a Selic a 10,25%.
Esta previsão já vinha sendo contemplada desde janeiro, mas o comunicado anterior sugeria a possibilidade de dois cortes dessa magnitude (março e maio), mantendo o futuro próximo mais aberto (junho).
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Uma letra faz toda a diferença
Com a nova formulação, mencionando apenas "na próxima reunião" em vez de "nas próximas reuniões", as expectativas para uma taxa Selic de 9,75% no final do primeiro semestre foram moderadas, embora ainda exista essa possibilidade.
O comunicado do Copom enfatizou: “Dada a constância do cenário-base e o aumento das incertezas, optamos por uma estratégia que nos concede maior flexibilidade na condução da política monetária, antevendo, sob confirmação do cenário esperado, uma redução da mesma magnitude na próxima reunião.”
Essa postura mais cautelosa do Banco Central parece prudente diante de fatores como:
- O diferencial de juros com Estados Unidos e México, este último iniciando cortes na taxa de juros pela primeira vez em vários meses;
- O reconhecimento dos desafios inflacionários nos primeiros meses do ano, que, embora não interrompam a trajetória de desinflação, demandam atenção; e
- A necessidade de manter uma estabilidade monetária na ausência de uma sólida âncora fiscal, garantindo a continuidade de políticas monetárias responsáveis.
A questão internacional
No cenário atual, a decisão do México de reduzir as taxas de juros oferece um certo alívio para a política monetária brasileira.
No entanto, a postura cautelosa adotada pela autoridade monetária mexicana sinaliza uma abordagem conservadora quanto aos futuros ajustes, sugerindo que a disparidade entre as taxas de juros pode se ampliar caso o Brasil continue no caminho dos cortes.
Tal cenário aumentaria os riscos para ativos e poderia pressionar negativamente o real.
Nos Estados Unidos, a comunicação do Federal Reserve, após manter as taxas entre 5,25% e 5,5%, foi recebida com cautela pelo mercado, refletindo preocupações com a inflação observada no início do ano.
As projeções atualizadas do Fed para a economia e a inflação se fortaleceram, alinhando-se às expectativas.
O panorama se modificou significativamente, no entanto, durante a coletiva de Jerome Powell, onde ele reconheceu a adversidade dos dados recentes mas levantou a hipótese de influências sazonais, observando uma melhoria em fevereiro, apesar de uma inflação ainda acima do ideal.
Sua avaliação dos primeiros meses do ano sugere que o quadro geral da desinflação permanece intacto, uma interpretação mais flexível (dovish) em contraste com os indicadores econômicos e as projeções do Fed.
Além disso, Powell destacou discussões sobre a desaceleração na redução do balanço do Fed, que até então vinha diminuindo a uma taxa mensal de US$ 95 bilhões, totalizando uma contração de US$ 1,5 trilhão desde o início do aperto quantitativo.
Uma moderação neste processo indicaria uma injeção de liquidez adicional na economia.
Esse conjunto de fatores gerou otimismo no mercado, apesar das preocupações iniciais com a inflação. Powell ressaltou que esses dados não desviaram a política monetária do curso previsto, mantendo o caminho para a redução gradual da inflação.
Nesta semana, declarações futuras de autoridades do Fed, juntamente com os dados sobre o Personal Consumption Expenditures (PCE) de fevereiro e indicadores do último trimestre, poderão esclarecer a direção futura da política monetária.
Assim, sigo prevendo três cortes de juros nos EUA para este ano, começando em junho, seguidos de setembro e dezembro, cada um de 25 pontos-base.
Este movimento deve estimular não só o mercado norte-americano, mas também influenciar positivamente o Brasil e outros mercados emergentes, dependendo, claro, da evolução dos indicadores econômicos nos próximos meses.
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Desdobramentos para o Brasil
Caso os mercados avançados procedam com reduções nas taxas de juros — expectativa reforçada pelos indicadores do segundo trimestre — e se países emergentes, a exemplo do México, seguirem essa direção, ainda contemplamos a possibilidade de um corte adicional de 50 pontos pela Selic em junho, caminhando em um segundo momento para uma Selic terminal de 9%.
Todavia, essa expectativa encontra-se momentaneamente moderada.
Neste contexto, a semana, abreviada pelo feriado de sexta-feira, tem como ponto focal no Brasil a aguardada divulgação da ata do Copom nesta terça-feira.
Esse documento é crucial para esclarecer as direções que o Banco Central pretende seguir na política monetária, sendo um item de análise prioritária para o mercado.
Além disso, indicadores como o IPCA-15, também previsto para terça-feira, e o Relatório Trimestral de Inflação, que será publicado na quinta-feira, são fundamentais. Eles contribuirão para ajustar as expectativas em relação à Selic terminal, que, na minha análise, permanece estimada em 9%.
É evidente a influência do cenário internacional no mercado financeiro brasileiro, destacando-se pela influência direta na performance menos favorável de ações ligadas a commodities e estatais.
Em paralelo, o cenário fiscal interno do Brasil segue sob escrutínio, demandando atenção redobrada dos investidores e analistas.
A situação fiscal brasileira
Na semana que se encerrou, tivemos a concretização de um bloqueio orçamentário de R$ 2,9 bilhões, uma cifra inferior às estimativas iniciais que apontavam para um ajuste de R$ 5 bilhões.
No entanto, essa ação não conseguiu dissipar a atmosfera de preocupação que permeia o mercado, particularmente em relação à forma como o governo planeja lidar com os desafios fiscais que se avizinham.
Diante dessa indefinição, o Banco Central opta por deixar a porta aberta para possíveis ajustes na política monetária após maio, sinalizando uma prudência em um momento em que a firmeza fiscal ainda não está garantida.
Assim, espera-se que a política monetária cumpra uma função de estabilização, assumindo o papel de âncora na ausência de uma âncora fiscal efetiva.
Espera-se que parte dessa incerteza seja esclarecida com a publicação da ata do Copom de hoje, conforme mencionei previamente, trazendo possíveis indicações sobre as próximas ações do Banco Central diante do panorama atual.
A nossa trajetória até junho
Atualmente, as interpretações sobre as futuras ações do Comitê de Política Monetária (Copom) parecem ser prematuras.
O fato de o Copom não ter prometido um corte adicional de 50 pontos-base para sua próxima reunião não equivale a um compromisso de realizar um corte menor.
Na verdade, o Copom adotou uma postura meticulosa ao ajustar sua mensagem, declarando explicitamente que não percebeu alterações no cenário econômico atual e reiterou isso indiretamente, mantendo sua previsão de inflação em 3,2% para 2025 com base nas expectativas do mercado.
Isso sugere que o mercado pode estar adotando uma visão excessivamente pessimista no momento. As futuras decisões serão baseadas em novos dados econômicos. Por isso, a publicação da ata do Copom hoje poderá ser um elemento crucial para ajustar essa percepção, especialmente por ser acompanhada pelo IPCA-15.
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