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O dragão está adormecido, mas ainda é prematuro dizer que a China atingiu seu ápice

O Congresso Nacional do Povo da China marca um momento crucial para o governo de Xi Jinping apresentar estratégias econômicas para 2024

5 de março de 2024
7:31 - atualizado às 10:17
China derruba cotações do petróleo hoje
Imagem: Shutterstock

Nesta terça-feira, o Congresso Nacional do Povo da China deu início a um evento decisivo, no qual o governo de Xi Jinping, presidente do país, apresentará ao longo dos próximos dias suas estratégias para o desenvolvimento econômico da China em 2024.

Este encontro oferece aos líderes chineses uma chance de remodelar o discurso sobre sua economia, que enfrenta desafios consideráveis.

Uma mudança notável este ano é o cancelamento do briefing tradicionalmente conduzido pelo primeiro-ministro Li Qiang logo no final de semana que antecede a ocasião, uma ocorrência inédita desde 1993.

Esse briefing costumava ser uma oportunidade precoce para investidores e observadores internacionais obterem insights sobre as políticas governamentais.

A ausência dessa comunicação preliminar indica um reforço no centralismo de Xi Jinping e adia a revelação das metas econômicas anuais até a divulgação do relatório de trabalho na terça-feira.

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China anuncia meta de crescimento para 2024

A China confirmou hoje a expectativa dominante entre os economistas, de que a meta de crescimento seria estabelecida em torno de 5%.

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Um objetivo mais ambicioso, ainda que de mesma amplitude, se comparado ao ano anterior, que seguiu à recuperação pós-pandêmica. Isso sugere a introdução de novos estímulos para fomentar o crescimento.

No entanto, considerando os desafios do setor imobiliário e a queda no consumo interno, não se descartava a possibilidade de uma meta mais cautelosa, em torno de 4,5%, indicando um pacote de estímulo mais moderado, o que poderia decepcionar os mercados.

O foco também se volta para a previsão do déficit fiscal, estimado em 3,3% do PIB.

Com a economia chinesa mostrando uma recuperação fragmentada — avanço na produção industrial, mas retração no consumo interno —, pode ser necessário um aumento no estímulo fiscal e no setor imobiliário, especialmente se a demanda externa enfraquecer.

Flexibilização da política monetária da China é esperada

Em relação à política monetária, os detalhes serão sutis, exigindo uma leitura atenta para identificar possíveis ajustes. Espera-se uma inclinação para a flexibilização, embora a postura oficial continue a ser descrita como “prudente”.

Podemos antecipar uma possível ênfase renovada na sincronia entre a política monetária e os alvos de desenvolvimento econômico e estabilidade de preços no próximo relatório.

Diferentemente do ano anterior, que focou somente no “crescimento econômico nominal” sem mencionar explicitamente os níveis de preços, este ano poderá trazer alterações nesse aspecto.

Terminologias diferentes como “novas forças produtivas” e “crescimento de alta qualidade” serão cruciais, indicando onde os investimentos governamentais estão sendo canalizados — notadamente para setores inovadores como veículos elétricos, baterias e energias renováveis.

Estes investimentos, embora promovam a inovação, também intensificam o problema de supercapacidade nessas áreas e exacerbam as tensões comerciais com nações como os Estados Unidos e a Europa.

Uma China em desaceleração

Este foco renovado surge em um contexto onde a economia chinesa, após décadas de expansão acelerada, encara agora uma desaceleração notável.

Esta fase é caracterizada por uma crise imobiliária agravante, pressões deflacionárias, uma desvalorização de US$ 6 trilhões no mercado acionário em 18 meses, e um crescimento do desemprego, principalmente entre os jovens.

Entre 1980 e 2022, a China viu seu PIB per capita, em comparação com os Estados Unidos, crescer de 2% para 28%, um reflexo de seu rápido desenvolvimento industrial e de suas exportações manufatureiras.

Essa era de crescimento vertiginoso chegou ao fim.

A desaceleração chinesa tem implicações globais, afetando a demanda por produtos e serviços internacionais e reduzindo os investimentos chineses no exterior, como em projetos de infraestrutura na África e em portos europeus.

Multinacionais que contavam com o mercado chinês para crescimento agora encaram desafios significativos.

Adicionalmente, a economia da China é frequentemente criticada por sua excessiva dependência de exportações, salários reprimidos e uma moeda subvalorizada, fatores que contribuíram para crises econômicas anteriores, incluindo dívidas insustentáveis, dependência de exportações e deflação.

Enquanto o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China demonstra sinais de enfraquecimento, o fluxo de investimentos estrangeiros no país diminui a uma velocidade alarmante e o mercado de ações enfrenta uma desvalorização dramática, ultrapassando a marca de US$ 6 trilhões.

Mesmo com dados oficiais apontando para um crescimento de 5,2% em 2023, há ceticismo quanto à precisão desses números, com suspeitas de que possam ter sido inflados por autoridades locais.

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Teria a China chegado ao ápice?

Em meio a debates em Washington, surge a teoria de que o auge do desenvolvimento chinês pode ter sido ultrapassado, o que por sua vez, reafirma a posição de liderança global dos Estados Unidos.

Contudo, a desaceleração econômica da China não implica necessariamente em uma redução de sua influência geopolítica.

A China preserva sua proeminência industrial, demonstrada pelo seu consumo de eletricidade, que excede o dos Estados Unidos desde 2010, evidenciando a robustez de sua economia industrial.

Além disso, sua expansão de influência econômica na Ásia e no Pacífico, principalmente por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota, coloca-a à frente dos Estados Unidos em termos de influência regional.

Adicionalmente, a China tem fortalecido sua presença militar na região da Ásia-Pacífico, contrastando com a atenção dos Estados Unidos voltada para outras áreas.

O país também lidera na cadeia de suprimentos de tecnologias sustentáveis, incluindo turbinas eólicas, painéis solares e veículos elétricos, posicionando-se estrategicamente para moldar o futuro da energia verde no cenário mundial.

Influência geopolítica chinesa segue crescendo

Apesar dos desafios econômicos enfrentados, a influência geopolítica da China e sua liderança na transição para tecnologias verdes seguem em ascensão.

A atual conjuntura global, repleta de incertezas e riscos, sugere que é prematuro declarar que a China atingiu seu ápice.

O desafio crucial para Xi Jinping é prevenir que as adversidades econômicas se convertam em um descontentamento generalizado entre a população.

Para o governo chinês, torna-se imperativo redobrar esforços para modernizar a infraestrutura industrial e impulsionar o desenvolvimento de novas forças produtivas, visando superar a estagnação econômica que aflige modelos econômicos asiáticos similares.

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