Os juros vão subir ainda mais? Quando a âncora fiscal falha, a âncora monetária precisa ser acionada com mais força
Falta de avanços na agenda fiscal faz aumentar a chance de uma elevação ainda maior dos juros na última reunião do Copom em 2024
O mercado financeiro mantém um tom de cautela, refletindo a falta de avanços significativos na agenda fiscal ao longo da última semana. A proposta do governo para conter o crescimento dos gastos públicos, que comentei na terça-feira passada, enfrenta alguma resistência no Congresso, contribuindo para um cenário de incertezas. Esse ambiente foi claramente demonstrado no comportamento do mercado na última sexta-feira, destacando a magnitude do desafio fiscal enfrentado pelo Brasil.
A dimensão do problema fiscal é inegável: atualmente, o país direciona 38% de seu Produto Interno Bruto (PIB) a gastos correntes, enquanto a arrecadação atinge 36,5% do PIB, resultando em um déficit estrutural de 1,5%.
Quando adicionamos uma relação dívida/PIB próxima de 80% e juros reais ao redor de 7%, o custo anual do serviço da dívida chega a aproximadamente R$ 1 trilhão, elevando o total de despesas para impressionantes R$ 6 trilhões.
Diante disso, a economia prometida de R$ 30 bilhões para 2025 representa um esforço insuficiente para equilibrar as contas públicas. Mesmo que o arcabouço fiscal seja executado, os números indicam que a sustentabilidade fiscal continuará em xeque.
O pessimismo permanece evidente no mercado local desde o anúncio do Ministro Fernando Haddad, sem qualquer sinal de alívio no clima entre os investidores.
Foco no Copom
Agora, o foco se desloca para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para terça (9) e quarta-feira (10).
Leia Também
A divulgação do IPCA de novembro, nesta terça-feira, deverá ter um impacto limitado sobre as decisões do Banco Central, já que o mercado considera praticamente certa uma alta de pelo menos 75 pontos-base na Selic.
Entretanto, a deterioração das expectativas nos últimos dias intensificou as apostas sobre um aumento de 100 pontos-base, refletindo a pressão crescente. Nas condições atuais, parece plausível.
O Boletim Focus desta semana destacou uma deterioração adicional nas projeções: a Selic esperada para 2025 subiu para 13,5%.
Entretanto, é importante ressaltar que as projeções do Focus podem não captar toda a velocidade dos acontecimentos recentes.
A lição é clara: quando a âncora fiscal falha, a responsabilidade recai integralmente sobre a política monetária, que precisa operar em intensidade maior.
Fonte: Banco Central do Brasil.
No mercado, a inflação implícita na curva de juros para dois anos ultrapassou 7%, um patamar alarmante que reflete uma deterioração significativa das expectativas de mercado.
Esse contexto de juros reais elevados contrasta de forma marcante com avanços estruturais cruciais conquistados nos últimos anos, como o fim da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e a consolidação da autonomia do Banco Central.
O que anteriormente era visto como uma possibilidade remota de dominância fiscal agora começa a se materializar nas projeções econômicas.
- Os impactos nos mercados são evidentes.
- O Ibovespa caiu para 125 mil pontos, negociado a um múltiplo reduzido de 7 vezes os lucros.
- O dólar, por sua vez, superou a marca de R$ 6,00, em sua maior cotação histórica.
Simultaneamente, a curva de juros precifica uma Selic terminal de 15,75%, com os juros reais retornando a níveis do pior momento da era Dilma.
Esse contexto é agravado por uma conjuntura global desafiadora.
Isso porque os Bancos Centrais de quatro continentes estão promovendo ajustes simultâneos em suas políticas monetárias nos próximos dias, buscando conter pressões inflacionárias e estabilizar seus respectivos mercados — a perspectiva de um novo mandato de Donald Trump nos Estados Unidos adiciona uma camada adicional de incerteza ao mundo.
Fonte: Bloomberg.
Até o fim do ano, nove dos dez maiores bancos centrais do mundo ainda irão determinar suas diretrizes monetárias, mantendo os mercados atentos.
Especificamente, o Banco Central Europeu (BCE) deve realizar um corte de ao menos 25 pontos-base na taxa de juros nesta semana, enquanto o Federal Reserve (Fed) parece inclinado a seguir o mesmo caminho na semana que vem, antes de possivelmente pausar o ciclo de flexibilização no início do próximo ano.
No que diz respeito aos ativos brasileiros, a confiança na política econômica do país está praticamente inexistente, agravada pela ausência de catalisadores de curto prazo que poderiam estimular o mercado.
Além disso, a falta de um comprador marginal relevante reflete o foco predominante nos ruídos políticos e econômicos, com pouca consideração pelos fundamentos e valuations de longo prazo.
Crise e oportunidade
Para os investidores capazes de aproveitar esse desalinhamento entre preço e valor, há uma oportunidade.
Em termos mais diretos, se a política econômica não for corrigida, o cenário aponta para uma mudança de poder na próxima eleição presidencial, o que pode inaugurar um superciclo econômico antes mesmo de 2027.
Entretanto, o caminho até lá será marcado por turbulências.
A política monetária terá de ser mais restritiva para conter os desequilíbrios atuais, o que significa juros mais altos por um período prolongado.
Neste contexto, uma alta de 100 pontos da Selic no Copom desta semana me parece uma expectativa razoável.
O desafio, portanto, será equilibrar a exposição aos ativos locais com a gestão dos riscos inerentes a essa trajetória incerta, mas potencialmente recompensadora no longo prazo.
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano
FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR
BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil
É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar
Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro
Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje
Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos
Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi
Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado
A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial
Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje
A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira
Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas
Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026
A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje
Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje
O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado
A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul
Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região