Quando Warren Buffett fala, os investidores param para ouvir. E neste sábado (25) não foi diferente: o Oráculo de Omaha divulgou a tão aguardada carta anual aos acionistas — em um momento crucial de aumento da taxa de juros e dos temores de recessão.
Junto com a carta, o presidente e CEO da Berkshire Hathaway, de 92 anos, apresentou os últimos resultados trimestrais do conglomerado — e as notícias não são das melhores.
Nem mesmo Buffett conseguiu escapar das pressões inflacionárias: o lucro operacional da Berkshire Hathaway totalizou US$ 6,7 bilhões no quarto trimestre de 2022, uma queda de 7,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.
O lucro operacional refere-se ao lucro total dos negócios do conglomerado. Buffett há muito sustenta que o lucro operacional é um reflexo melhor de como a Berkshire está se saindo, uma vez que as regras contábeis exigem que a empresa inclua ganhos e perdas não realizados de sua enorme carteira de investimentos em seu lucro líquido.
Os mercados voláteis podem fazer com que o lucro líquido do conglomerado mude substancialmente de trimestre para trimestre, independentemente de como estão seus negócios.
Por isso, se olharmos para o lucro líquido trimestral, a pancada é bem maior: baixa de 54%, para US$ 18,16 bilhões, de US$ 39,65 bilhões um ano antes.
O desempenho nos últimos três meses do ano foi atribuído pela Berkshire Hathaway a ganhos mais baixos de investimentos e perdas cambiais à medida que o dólar se desvalorizou.
No ano, a performance foi melhor: o lucro operacional do conglomerado totalizou US$ 30,793 bilhões, um aumento de 12,2% em relação aos US$ 27,455 bilhões em 2021.
Mas houve prejuízo líquido de US$ 22,82 bilhões no ano, impactado por US$ 67,9 bilhões em investimentos e perdas em contratos de derivativos. Em 2021, a Berkshire registrou lucro líquido de US$ 90,8 bilhões. A receita total aumentou 9,4%, para US$ 302,1 bilhões.
O que realmente interessa: o caixa
O que interessa mesmo nos resultados da Berkshire Hathaway é o tamanho do caixa da empresa, que mostra a capacidade de Buffett continuar investindo.
Entre outubro e dezembro do ano passado, o conglomerado usou US$ 2,855 bilhões para recomprar ações — US$ 1 bilhão a mais do que no terceiro trimestre, mas bem menos do que os US$ 6,9 bilhões do mesmo período do ano anterior.
Diante disso, o caixa da Berkshire cresceu para US$ 128,651 bilhões no quarto trimestre de 2022, principalmente em títulos do Tesouro dos EUA, acima dos US$ 109 bilhões do terceiro trimestre do mesmo ano.
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O que Buffett comprou e o que ele vendeu
O ambiente de alta das taxas também pode beneficiar os famosos negócios de Buffett. Não apenas devido à queda dos preços dos ativos, mas porque o megainvestidor desfruta de liquidez mais ampla, enquanto seus concorrentes, como empresas de private equity, precisam tomar empréstimos para fechar negócios.
E Buffett foi às compras. O Oráculo de Omaha continuou a aumentar sua posição na Occidental Petroleum no ano passado, com a participação da Berkshire na gigante do petróleo chegando a 21% — em agosto, a Berkshire recebeu aprovação regulatória para comprar até 50% da companhia, gerando especulações de que poderia eventualmente assumir o controle de toda a Occidental.
Muitos estão ansiosos para descobrir se Buffett tem apetite por ainda mais ações da Occidental, dado o baixo desempenho da produtora de petróleo e gás em 2023. As ações caíram cerca de 6% este ano, sendo negociadas abaixo de US$ 60 depois de mais do que dobrarem em 2022.
Outra gigante do petróleo, a Chevron permaneceu como a terceira maior participação acionária da Berkshire no final de 2022, atrás apenas da Apple e do Bank of America.
O conglomerado também abriu novas posições na empresa de mídia Paramount Global e na fabricante de materiais de construção Louisiana-Pacific Corp, entre outros negócios.
Mas a Berkshire também foi uma vendedora líquida de ações no quarto trimestre. O conglomerado se desfez de uma parcela significativa da Taiwan Semiconductor, um fabricante de chips cujos papéis foram adquiridos no terceiro trimestre. A Berkshire também reduziu suas ações no Bank of New York Mellon e no US Bancorp entre outubro e dezembro de 2022.
Com a palavra, Warren Buffett
A carta do “Oráculo de Omaha” é considerada leitura obrigatória para investidores há décadas, e a mensagem deste ano estava sendo particularmente aguardada devido à mudança no cenário de investimentos.
Embora as ações e títulos tenham recuado em 2022 — sob efeito do ritmo acelerado de aperto monetário ao redor mundo para tentar controlar a inflação — Buffett manteve seu senso de otimismo na carta anual. Ele atribuiu muito de seu sucesso ao longo dos anos à resiliência da economia dos EUA.
"Eu tenho investido por 80 anos. Apesar da propensão de nossos cidadãos — quase entusiasmo — para a autocrítica e a dúvida, ainda não vi um momento no qual faz sentido uma aposta de longo prazo contra os EUA."
Warren Buffett em carta anual aos acionistas
No final de 2022, a Berkshire era a maior acionista de oito empresas: American Express, Bank of America, Chevron, Coca-Cola, HP, Moody's, Occidental e Paramount Global.
"Os EUA estariam bem sem a Berkshire. O contrário não é verdade", disse Buffett na carta.
Buffett vai se aposentar?
Havia especulações de que Buffett poderia anunciar sua aposentadoria na carta deste sábado. Embora não tenha pendurado as chuteiras ainda, o Oráculo de Omaha deu algumas pistas do que pretende para o futuro da companhia sem ele.
Segundo Buffett, a Berkshire continuará a manter uma “montanha” de dinheiro e títulos do Tesouro dos EUA, juntamente com sua miríade de negócios. Ele especificou que os futuros CEOs da empresa terão uma “parte significativa” de seu patrimônio líquido em ações da Berkshire.
“Também evitaremos comportamentos que possam resultar em necessidades de caixa desconfortáveis em momentos inconvenientes, incluindo pânicos financeiros e perdas de seguros sem precedentes”, escreveu Buffett.
“E sim, nossos acionistas continuarão a poupar e prosperar retendo lucros. Na Berkshire, não há fim da linha”, acrescentou.