Por que os vinhos da Argentina seguem caros para os brasileiros apesar do dólar alto e do real forte no país vizinho
Diferentemente do que se esperava, com a força do real frente ao peso, os preços deveriam cair para os brasileiros — mas não foi o que aconteceu

Diz o ditado em latim: in vino veritas, in aqua sanitas, que, traduzido para o bom português, quer dizer que “no vinho está a verdade, na água, a saúde”. A julgar pelo crescimento de 36% do consumo da bebida entre 2010 e 2023, os brasileiros estão cada vez mais interessados na verdade. E, morando do lado de um dos maiores produtores do mundo — estamos falando da Argentina — é difícil negar uma ou mais taças.
É verdade que nossos hermanos estão passando por uma crise de tirar o paladar de qualquer um.
A inflação de mais de 130% registrada nos últimos 12 meses, o aprofundamento da desigualdade social, a escassez de dólares nos cofres públicos e uma das eleições mais acirradas de sua história se aproximando definitivamente não harmonizam.
Nesse cenário, o peso argentino teve uma forte desvalorização frente ao dólar — a cotação oficial da moeda norte-americana disparou cerca de 98% desde o começo do ano. Já o real subiu 108% no mesmo período.
Isso em relação às cotações oficiais — levando em conta os câmbios paralelos, a desvalorização é ainda maior. Isso significa que ficou mais barato comprar os produtos do vizinho, então não é por acaso que os brasileiros estão lotando Buenos Aires.
Entretanto, os amantes da “verdade” — quero dizer, do vinho —- não viram o reflexo da desvalorização nas garrafas. Os preços dos principais rótulos argentinos permaneceram praticamente os mesmos desde o ano passado.
Leia Também
Os culpados pelo vinho argentino caro
Os motivos do preço dos vinhos argentinos seguirem em alta passam pela inflação galopante no país vizinho, no dólar elevado e no fenômeno climático El Niño.
Quem explica como esses três fenômenos envelheceram mal o mercado de vinhos da Argentina para o Brasil é German Garfinkel, diretor de B2B (business to business) e supply do Grupo Wine.
“A lógica de desvalorizar uma moeda favorece as exportações funciona, mas a Argentina é diferente”, diz Garfinkel, que tem “lugar de fala”. Afinal, ele é argentino, de Buenos Aires, e fala com certo pesar do país onde nasceu.
As safras ruins da economia hermana
Como se sabe, não é de hoje que a Argentina convive com crises econômicas. Mas a “safra” mais recente teve origem em meados dos anos 2000, quando os governos peronistas investiram forte em políticas de bem estar social.
No fim das contas, era possível sustentar grandes subsídios — afinal, o mundo vivia uma grande demanda por commodities, da qual a Argentina é grande exportador.
Um dos efeitos colaterais dessa política foi a alta da inflação e o descontrole fiscal. Ainda assim, a economia do país conseguiu conviver por vários anos dessa maneira.
Porém, entre o final de 2022 e o começo de 2023 houve uma forte seca na lavoura do país, que limitou as exportações, o que limitou a oferta de dólares.
A escassez da moeda norte-americana fez o governo perder de vez o controle da inflação, que chegou a mais de 130% na última leitura.
Para tentar conter a sangria, o governo estabeleceu um congelamento do chamado câmbio oficial, a 350 dólares por peso — e os exportadores ficaram de mãos atadas com uma situação insustentável.
Qual dólar subiu na Argentina?
“Veja bem, o dólar que disparou foi o blue [paralelo]. Nós, que lidamos com importação e exportação, usamos a cotação oficial, que foi congelada, ou seja, não aproveitamos essa cotação de mil pesos”, diz Garfinkel, em referência à recente disparada da moeda.
Os custos de produção não paravam de crescer, mas o preço de exportação estava cada vez mais desfavorável, quase não cobrindo as despesas.
“Nós chegamos a ter um aumento [de custos] no começo do ano, mas não repassamos aos clientes porque enxergamos que era algo transitório”, afirma o executivo da Wine. No fim, os preços permaneceram praticamente os mesmos.
Vale lembrar que a Argentina possui mais de uma dezena de câmbios — um deles é o Malbec, utilizado para a exportação de vinhos.
Em números: o mercado de vinhos da Argentina…
Para os argentinos, o preço do vinho subiu mais do que a inflação do país.
Segundo o índice de preços do vinho (IPV) — calculado pelo Vinodata — o custo da bebida aumentou 13,6% em agosto, contra uma inflação de 12,4% do índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês), medido pelo Indec, o equivalente ao IBGE do país.
Ao mesmo tempo, as exportações totais de vinho (branco e tinto) caíram 22,1% em setembro, acumulando recuo de quase 30% em 2023 em relação a 2022, segundo o ministério da Economia do país.
A pasta é, inclusive, chefiada pelo candidato à presidência, Sergio Massa, herdeiro político do peronismo e sucessor do atual chefe de Estado da Argentina, Alberto Fernández.
… E para o Brasil
Segundo o Comex Vis, sistema oficial de consulta aos dados do comércio exterior brasileiro, a Argentina foi o quarto país com o qual o Brasil mais fez trocas internacionais entre janeiro e setembro deste ano.
Somando as exportações e importações, os negócios entre os países movimentaram US$ 22,6 bilhões no mesmo período. Foram mais de US$ 9 bilhões importados da Argentina, a maior parte (aproximadamente 37%) veículos das mais variadas sortes.
Apenas uma pequena parcela — 0,70%, ou cerca de US$ 63 milhões — são de bebidas alcoólicas.
- Novo índice de dividendos da B3 (IDIV) não é a melhor escolha para buscar renda extra mensal na bolsa; entenda
O futuro do mercado de vinhos da Argentina
Como se não bastasse a profunda crise econômica, o país se aproxima das eleições presidenciais, uma das mais acirradas da história recente.
A plataforma de Javier Milei, o candidato de extrema-direita que surpreendeu com a votação nas primárias, sugere, entre outras coisas, a dolarização da economia. Eu perguntei para German Garfinkel se isso seria positivo para os negócios.
“Não tem a ver exatamente com a dolarização ou não. Pode ter dado certo em um ou outro país da América Central ou como foi o caso do Equador, mas a Argentina é diferente”, diz ele. “O que a indústria precisa mesmo é de previsibilidade. Isso pode ser atingido unificando os câmbios, por exemplo”.
Um olhar mais institucional para a questão
A corrida eleitoral no país pode ter fechado as portas para um debate menos técnico e mais emocional da questão da dolarização da economia. Entretanto, os analistas do Goldman Sachs não enxergam a ideia com tanto ceticismo.
Um relatório publicado no final de setembro questiona se a dolarização seria realmente a pior das saídas para o país. Utilizar uma moeda estável como o dólar para trazer estabilidade — e, consequentemente, previsibilidade — para a economia é uma alternativa viável na visão dos analistas.
Entretanto, existem alguns poréns. O governo precisaria recomprar os pesos distribuídos pelo país e redistribuir essa quantia em dólar — para isso, é preciso ter dólares em caixa, coisa que o BCRA não tem.
Outro ponto importante é de que essa seria uma solução temporária para o problema. Isso porque o país fica exposto a choques externos — como aumento dos juros nos EUA — e perde a soberania sobre sua própria política monetária.
Além disso, a dolarização deve estar aliada a uma política de austeridade e flexibilização do câmbio — o que não combina com a política argentina dos últimos anos.
Em resumo, dizem os analistas e concorda o executivo da Wine, não há uma saída fácil para o problema da Argentina, que vive os últimos momentos do governo de Alberto Fernandéz com um gosto avinagrado na boca.
Resposta dos EUA à condenação de Bolsonaro deve vir nos próximos dias, anuncia Marco Rubio; veja o que disse secretário de Estado norte-americano
O secretário de Estado norte-americano também voltou a criticar o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes
TikTok vê luz no fim do túnel: acordo de venda do aplicativo nos EUA é confirmado por Trump e por negociador da China
Trump também afirmou em sua rede social que vai conversar com o presidente chinês na sexta sobre negociação que deixará os jovens “muito felizes”
Trump pede que SEC acabe com obrigatoriedade de divulgação trimestral de balanços para as empresas nos EUA
Esta não é a primeira vez que o republicano defende o fim do modelo em vigor nos EUA desde 1970, sob os argumentos de flexibilidade e redução de custos
O conselho de um neurocientista ganhador do Nobel para as novas gerações
IA em ritmo acelerado: Nobel Demis Hassabis alerta que aprender a aprender será a habilidade crucial do futuro
China aperta cerco ao setor de semicondutores dos EUA com duas investigações sobre práticas discriminatórias e de antidumping contra o país
As investigações ocorrem após os EUA adicionarem mais 23 empresas sediadas na China à sua lista de entidades consideradas contrárias à segurança norte-americana
Trump reage à condenação de Bolsonaro e Marco Rubio promete: “os EUA responderão de forma adequada a essa caça às bruxas”
Tarifas de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros tiveram origem no caso contra Bolsonaro e, mais recentemente, a Casa Branca chegou a mencionar o uso da força militar para defender a liberdade de expressão no mundo
Como um projeto de fim de semana do fundador do Twitter se tornou opção em meio ao corte das redes sociais no Nepal
Sem internet e sem censura: app criado por Jack Dorsey ganha força nos protestos no Nepal ao permitir comunicação direta entre celulares via Bluetooth
11 de setembro: 24 anos do acontecimento que ‘inaugurou’ o século 21; eis o que você precisa saber sobre o atentado
Do impacto humano à transformação geopolítica, os atentados de 11 de setembro completam 24 anos
Bolsa da Argentina despenca, enquanto mercados globais sobem; índice Merval cai 50% em dólar, pior tombo desde 2008
Após um rali de mais de 100% em 2024, a bolsa argentina volta a despencar e revive o histórico de crises passadas
Novo revés para Trump: tribunal dos EUA mantém Lisa Cook como diretora do Fed em meio à disputa com o republicano
Decisão judicial impede tentativa de Trump de destituir a primeira mulher negra a integrar o conselho do Federal Reserve; entenda o confronto
EUA falam em usar poder econômico e militar para defender liberdade de expressão em meio a julgamento de Bolsonaro
Porta-voz da Casa Branca, Caroline Leavitt, afirmou que EUA aplicaram tarifas e sanções contra o Brasil para defender “liberdade de expressão”; mercado teme novas sanções
A cidade que sente na pele os efeitos do tarifaço e da política anti-imigrantes de Donald Trump
Tarifas de Donald Trump e suas políticas imigratórias impactam diretamente a indústria têxtil nos Estados Unidos, contrastando com a promessa de uma economia pujante
Uma mensagem dura para Milei: o que o resultado da eleição regional diz sobre os rumos da Argentina
Apesar de ser um pleito legislativo, a votação serve de termômetro para o que está por vir na corrida eleitoral de 2027
Mark Zuckerberg versus Mark Zuckerberg: um curioso caso judicial chega aos tribunais dos EUA
Advogado de Indiana acusa a Meta de prejuízos por bloqueios recorrentes em sua página profissional no Facebook; detalhe: ele se chama Mark Zuckerberg
Depois de duas duras derrotas em poucas semanas, primeiro-ministro do Japão renuncia para evitar mais uma
Shigeru Ishiba renunciou ao cargo às vésperas de completar um ano na posição de chefe de governo do Japão
Em meio a ‘tempestade perfeita’, uma eleição regional testa a popularidade de Javier Milei entre os argentinos
Eleitores da província de Buenos Aires vão às urnas em momento no qual Milei sofre duras derrotas políticas e atravessa escândalo de corrupção envolvendo diretamente sua própria irmã
Como uma missão ultrassecreta de espionagem dos EUA levou à morte de inocentes desarmados na Coreia do Norte
Ação frustrada de espionagem ocorreu em 2019, em meio ao comentado ‘bromance’ entre Trump e Kim, mas só foi revelado agora pelo New York Times
Ato simbólico ou um aviso ao mundo? O que está por trás do ‘Departamento de Guerra’ de Donald Trump
Donald Trump assinou na sexta-feira uma ordem executiva para mudar o nome do Pentágono para ‘Departamento de Guerra’
US Open 2025: Quanto carrasca de Bia Haddad pode faturar se vencer Sabalenka, atual número 1 do mundo, na final
Amanda Anisimova e Aryna Sabalenka se enfrentam pela décima vez, desta vez valendo o título (e a bolada) do US Open 2025
Warsh, Waller e Hasset: o trio que ganhou o “coração” de Donald Trump
O republicano confirmou nesta sexta-feira (5) que os três são os preferidos dele para assumir uma posição fundamental para a economia norte-americana