Sob uma atmosfera de tensão, o homem forte de Vladimir Putin conduziu nesta segunda-feira (24) uma reunião na sede das Nações Unidas (ONU), em Nova York, e aproveitou para mandar um recado ao mundo.
Falando aos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse que o mundo atingiu uma situação mais perigosa do que durante a Guerra Fria.
"Como foi o caso na Guerra Fria, atingimos o limite perigoso, possivelmente ainda mais perigoso", disse ele no encontro.
Lavrov foi o encarregado da reunião, intitulada “Manutenção da paz e segurança internacionais”, porque a Rússia atualmente ocupa a presidência rotativa do Conselho de Segurança.
A última vez que a Rússia presidiu o Conselho de Segurança foi em fevereiro de 2022, quando lançou a invasão da Ucrânia.
Os diplomatas russos foram praticamente afastados de várias conferências internacionais desde que Moscou lançou sua invasão em grande escala da Ucrânia em fevereiro do ano passado.
No entanto, a liderança do Conselho de Segurança, órgão mais poderoso da ONU, gira em ordem alfabética entre seus 15 países membros. Cinco países — China, França, Rússia, Reino Unido e EUA — têm assentos permanentes no conselho. Os 10 membros restantes são eleitos para mandatos de dois anos pela Assembleia Geral da ONU.
A Rússia assumiu a presidência em 1 de abril, um evento que vários diplomatas descreveram como uma “piada do primeiro de abril”.
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O homem forte de Putin não cedeu
Em seus comentários iniciais, Lavrov lançou uma série de acusações contra a Ucrânia e seus aliados ocidentais, culpando-os pelo conflito.
O ministro russo disse, por exemplo, que os “EUA e seus aliados abandonaram a diplomacia e exigiram esclarecimentos das relações no campo de batalha”.
Lavrov repetidamente descreveu o governo ucraniano como “os golpistas” e “o regime nazista de Kiev” — uma afirmação infundada que a Rússia repetidamente fez para justificar a invasão do país.
O chefe da diplomacia russa também criticou os países ocidentais por não reconhecerem a península ucraniana da Crimeia como território da Rússia, apesar de “um referendo estar sendo realizado lá”.
A Rússia anexou a Crimeia à força em 2014, depois de realizar um referendo questionável. A Ucrânia e seus aliados ocidentais consideram a área ocupada como território ucraniano. A ONU rejeitou de forma esmagadora o referendo como ilegítimo e a anexação como ilegal.
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Os inimigos de Putin reagem
Diplomatas ocidentais criticaram Lavrov pelo ataque não provocado à Ucrânia durante a reunião do Conselho de Segurança da ONU — embaixadores da ONU para os EUA, Reino Unido e Suíça usaram seus discursos na reunião para condenar a invasão russa.
As três mulheres — a norte-americana Linda Thomas-Greenfield, a britânica Barbara Woodward e a suíça Pascale Baeriswyl — fizeram críticas fortes e diretas à Rússia e a Lavrov, muitas vezes olhando diretamente para o diplomata russo.
“Nosso hipócrita convocador hoje, a Rússia, invadiu seu vizinho, a Ucrânia, e atingiu o cerne da Carta da ONU. Essa guerra ilegal, não provocada e desnecessária vai contra nossos princípios mais compartilhados — que uma guerra de agressão e conquista territorial nunca, jamais é aceitável”, disse Thomas-Greenfield.
Os países da União Europeia emitiram uma declaração conjunta antes da reunião, condenando as ações da Rússia na Ucrânia e criticando a presença de Lavrov no encontro de hoje.
“A Rússia está tentando se apresentar como defensora da carta da ONU e do multilateralismo. Nada pode estar mais longe da verdade. É cínico”, disse Olaf Skoog, representante da União Europeia na ONU.
“Todos nós sabemos que enquanto a Rússia está destruindo, nós estamos construindo. Enquanto eles violam, nós protegemos.”
Vai faltar comida, Lavrov?
Não bastasse o clima nada amistoso da reunião, o homem forte de Putin colocou sobre a mesa um outro ponto de tensão: o fornecimento de comida.
Lavrov disse, segundo o governo russo, ao secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, que um pacto entre Moscou e a ONU para as exportações de grãos e fertilizantes da Rússia não está sendo cumprido.
“É um acordo que inclui duas partes e ambas as partes devem ser realizadas e cumpridas igualmente”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, a repórteres.
A Rússia sinalizou que não permitirá que um acordo sobre a exportação segura de grãos ucranianos no Mar Negro — acertado em julho do ano passado — continue além de 18 de maio porque uma lista de exigências para facilitar suas próprias exportações de grãos e fertilizantes não foi atendida.
“Enfatizamos esse problema e enfatizamos nossa posição muitas vezes e faremos isso de novo e de novo”, disse Zakharova.
*Com informações da CNN Internacional e da Reuters