O mercado de capitais no ano passado movimentou um volume 10,9% inferior a 2021 e totalizou R$ 544 bilhões, de acordo com a Anbima.
Os dados publicados nesta terça-feira (17) indicam que apenas a renda variável observou uma contração de 57%, com o volume total atingindo R$ 55 bilhões. A renda fixa, por sua vez, cresceu 6,6%, para R$ 457 bilhões.
O ambiente econômico no ano passado foi marcado pela elevação das taxas de juros, tanto local quanto no exterior, além de incertezas relacionadas às eleições no Brasil.
Apesar da queda em termos de volume, a Anbima destacou que o mercado de capitais amadureceu em 2022.
“A gente vê uma acomodação, com renda fixa crescendo e outros instrumentos também. Mostra uma enorme maturidade”, destacou em coletiva de imprensa o vice-presidente do Fórum de Estruturação de Mercado de Capitais da entidade, Guilherme Maranhão.
Dentre os produtos, os destaques ficaram com o CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), que cresceram 62,4% e 48,55%, respectivamente.
De acordo com o vice-presidente da Anbima, José Eduardo Laloni, o crescimento da indústria de fundos específicos está elevando a demanda por operações de CRAs e CRIs e gerando dinamismo nas emissões desses instrumentos.
Laloni destacou, ainda, que uma modificação nas regras dos CRIs, que passou a permitir que empresas que pagam aluguel participem desses instrumentos, deu novo fôlego para o mercado imobiliário acessar o mercado de capitais.
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Debêntures também cresceram
As debêntures, ou seja, os títulos de dívida emitidos por empresas, foram um instrumento que também cresceu entre 2021 e 2022, com aumento de 8,2%.
No total, houve R$ 271 bilhões e 465 emissões. Desse montante, 41,5% foram destinados a aumento de capital de giro. O setor de energia elétrica liderou a emissão de debêntures, com R$ 54 bilhões.
Nas debêntures incentivadas, isto é, os títulos que contam com isenção de imposto de renda, o prazo médio ficou acima dos níveis pré-pandemia e atingiu o pico de 12,7 anos.
“Isto reforça a capacidade que o mercado está tendo de financiar, com bastante eficiência, os projetos que precisam de prazo mais longo”, afirmou Laloni.
No caso das debêntures simples, o prazo ficou estável de um ano para o outro, com uma média de 5,1 anos.
Emissões de ações foram mais fracas
Conforme esperado, o volume de emissões de ações foi bem mais fraco do que em 2021 e caiu 57%, para um total de R$ 55 bilhões, sendo que quase tudo foi referente a follow-on (oferta subsequente). Mas vale apontar que 88,2% das emissões foi primária, ou seja, o dinheiro captado foi direto para o caixa das companhias.
No ano retrasado, a história foi bem diferente. O volume foi de R$ 128,1 bilhões, sendo que R$ 63,6 bilhões foram de IPO e R$ 64,5 bilhões de follow-on. Do total, 68,2% foram emissões primárias e o restante foi distribuição secundária.
O que vem por aí
Laloni frisou que há uma quantidade abundante de projetos de infraestrutura que devem procurar o mercado de capitais para se financiarem.
“Com o mercado de capitais do tamanho que está e a necessidade dos governos federal e estaduais de prover infraestrutura, haverá fluxo natural de investimento em infraestrutura que governo nenhum teria dinheiro pra financiar sozinho”, disse Laloni.
Questionado sobre se o BNDES poderia “competir” por esses projetos, Laloni exaltou o banco de fomento e disse que seu papel é complementar ao do mercado de capitais.
“São um player relevante do mercado, muito técnicos e excelentes validadores de projetos. Mas o tamanho que o mercado de capitais atingiu nos últimos anos mostrou que é possível se financiar com prazo, volume e preço adequados. A gente não imagina que o BNDES tenha visão de substituir o mercado de capitais”, destacou.