A elevação dos preços das commodities, especialmente do petróleo, e a inércia deixada como herança por 2021 foram os principais vilões para que o Banco Central não tenha entregado a inflação dentro da meta no ano passado.
Os motivos estão em carta do presidente do BC, Roberto Campos Neto, para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A carta é uma determinação prevista em lei.
A meta de inflação de 2022 era de 3,5%, com tolerância de 1,5 ponto percentual (pp) para cima ou para baixo. A taxa, no entanto, encerrou o ano em 5,79%.
De acordo com a metodologia utilizada pelo BC, o principal fator que contribuiu para o desvio da meta foi a inércia inflacionária do ano anterior, com impacto de 2,74 pp. Já as medidas tributárias tiveram o maior impacto desinflacionário, de 2,33 pp.
Os desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos e gargalos nas cadeias produtivas globais, choques em preços de alimentação, resultantes de questões climáticas, e a retomada na demanda de serviços e no emprego após o recrudescimento da pandemia de covid-19 são apontados como outros fatores que contribuíram para que a meta de inflação não fosse cumprida.
Fatores que contribuíram com a desinflação
Na contramão, alguns fatores contribuíram com a desaceleração da inflação. São eles:
- Redução na tributação sobre combustíveis
- Energia elétrica e telecomunicações
- Bandeira de energia elétrica
- Apreciação cambial
- Hiato do produto no campo negativo
Juros x inflação
O presidente do Banco Central alegou na carta a Haddad que o aumento da taxa de juros real no ciclo atual é o maior ocorrido durante todo o regime de metas para a inflação, iniciado em 1999.
A taxa Selic está em 13,75% ao ano, após o processo de alta de juros mais longo da história do Comitê de Política Monetária (Copom). No documento, Campos Neto também ressaltou que o BC tem definido a Selic e vai continuar a fazê-lo, com vistas ao cumprimento das metas de inflação.
Campos Neto destacou ainda que a política monetária passou do campo expansionista para o território contracionista, com o juro real neutro atingindo 7,8% no último trimestre de 2022, acima da taxa neutra considerada pela autoridade monetária, de 4,00%.
Considerando as estimativas da última pesquisa Focus, o BC calcula que a taxa real de juros permanece em 7,8% no primeiro trimestre de 2023 e então inicia trajetória declinante, atingindo 6,9% ao final de 2023, 5,2% ao final de 2024 e 4,7% ao final de 2025, ainda acima da taxa real neutra.
O que esperar para 2023
Campos Neto reconheceu que a inflação em 2023 deve se manter superior à meta estabelecida, considerando a projeção condicional de 5,0% para este ano.
O limite de tolerância superior em 2023 é de 4,75%. Mas, considerando as projeções para 2024 (3,0%) e 2025 (2,8%), o BC argumenta que o “cenário é de convergência da inflação para as suas metas”.
Apesar disso, o BC estima que a inflação deve continuar em trajetória de queda ao longo deste ano, terminando abaixo do resultado de 5,79% em 2022, que superou o teto da meta em 0,79 ponto porcentual.