Há quem se recorde de como era viver no “Brasil da hiperinflação”, o medo de retornar aos mercados horas depois e encontrar um amontoado de remarcação de preços, uma colada por cima da outra. Ao final da década de 80, os preços chegavam a subir mais de 3.000% ao ano no país.
O Plano Real surgiu com a intenção de resolver uma das maiores crises inflacionárias do mundo e trazer os preços de volta a um patamar, no mínimo, aceitável. Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, o dragão da inflação foi abandonando os palcos brasileiros cada vez mais — isto é, até a explosão da pandemia.
No ano passado, os temores de inércia inflacionária e indexação voltaram aos holofotes — e, do mesmo jeito que na época da hiperinflação, as altas de preços passadas voltaram a se refletir nos preços futuros e manter a inflação em alta.
Afinal, é tudo uma questão de expectativa. Fabiano Rios, CIO da Absolute Investimentos, chegou a afirmar no Market Makers que a razão para o patamar mais elevado dos juros era justamente a projeção do aumento de preços, chamada de inflação prospectiva.
No episódio #36 do podcast, o economista Marcos Mendes, Doutor em Economia pela USP e pesquisador do Insper, diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode estar repetindo os erros cometidos na gestão de Dilma Rousseff.
“Entre 2011 e 2015, a política monetária do Banco Central foi absolutamente inconsistente. O governo baixou juros na marra achando que isso ia fazer baixar o juros da economia como um todo, e o efeito foi completamente inverso. Na hora que o mercado olhou para a influência política sobre o Banco Central, as taxas de longo prazo dispararam e as expectativas de inflação se desancoraram”, explica Mendes.
“A gente vê hoje, de novo, o mesmo discurso. É como se a prática recente não tivesse demonstrado cabalmente que houve uma ‘barbeiragem’ de política monetária ali e que não é a fixação da taxa Selic que determina uma taxa de juros alta na economia brasileira.”
Isso porque, segundo o economista “pai do teto de gastos”, quem determina a taxa de juros altos na economia brasileira são as incertezas, a expectativa de inflação e a insegurança fiscal. “Toda vez que o Banco Central tenta puxar a Selic, o restante da curva [de juros] não acompanha ou até anda na direção contrária”.
Confira o episódio completo:
O Brasil da hiperinflação
O economista Marcos Mendes acredita que o governo de Lula poderia ter um bom resultado caso estivesse focado na atuação nos segmentos ambientais, educacionais e de energia. Porém, o “erro” do petista foi ter escolhido a área econômica.
“Infelizmente, o governo está indo para uma agenda econômica absolutamente retrógrada que repete boa parte dos erros. Não tem uma sinalização clara de política econômica consistente”, afirma o pesquisador.
Em conversa com os apresentadores Thiago Salomão e Renato Santiago, Mendes cita alguns dos projetos que podem acabar com o governo Lula por completo. “Eu vejo sinalizações muito complicadas. Eu não sei como esse governo [de Lula] chegará na metade com esse direcionamento. Corremos o risco de voltar para uma situação pré-Plano Real.”
“Eu acho que a gente vai para um modelo de financiamento inflacionário, a não ser que haja alguma mudança de orientação de política econômica. Hoje, nós estamos discutindo aí se [a inflação] vai ser oito ou seis por cento. Daqui um ano, a gente pode estar discutindo se vai ser de 10%, 12% ou 15%. Isso muda o patamar, e logo será normal discutir se o número estará entre 20% ou 25%.”
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Os erros de Lula
Entre as questões que preocupam o economista Marcos Mendes, estão o “cavalo de pau na gestão da Petrobras” e o programa “Desenrola”, que pretende tirar a negativação do nome de pessoas de baixa renda.
“Você vai pegar 10 bilhões de reais [dos recursos públicos], vai pagar a dívida das pessoas para que elas voltem a tomar crédito. Enquanto o Banco Central está aumentando o juros para acalmar o mercado de crédito, o Poder Executivo está colocando mais pessoas no mercado de crédito que podem tomar crédito novo, dar calote e quebrar de novo. Um programa complicado.”
Já em relação à Petrobras (PETR4), Mendes destaca a interrupção de concessões, privatizações e a “perigosíssima redução de distribuição de dividendos para financiar investimentos”.
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