Um guia para atravessar a tempestade nos mercados com a perspectiva dos gestores dos melhores fundos do país
Conheça a opinião consolidada de 44 gestoras de fundos multimercados da indústria – que, juntas, somam mais de R$ 160 bilhões em patrimônio
Você já dirigiu em uma estrada chuvosa?
Em caso positivo, provavelmente sabe como é difícil manter o controle do veículo (e o seu próprio controle emocional), enquanto a chuva reduz a visibilidade e torna o asfalto escorregadio – um desafio até para os motoristas mais experientes.
Só é possível ouvir o barulho da água batendo no vidro, do limpador de para-brisa em sua velocidade máxima e enxergar somente os 30 centímetros de pista à sua frente se confundindo com as luzes dos faróis na pista contrária.
Quando as condições do ambiente não nos favorecem – ou, pior ainda, quando nos desfavorecem fortemente –, aqueles ao nosso redor podem estar ainda mais apreensivos, e o caminho mais prudente é manter a calma e evitar decisões precipitadas ou movimentos bruscos.
Esse conselho vale tanto para a direção em uma estrada chuvosa quanto para investir em um mercado financeiro volátil.
Dirigindo em meio à tempestade econômica
No cenário econômico atual, a tempestade não está nada fácil, sendo traduzida em um ambiente de inflação alta, juros altos e expectativa de recessão (desaceleração grave na atividade) nas principais economias. No Brasil, ainda temos uma possível crise de crédito (credit crunch) para engrossar essa chuva.
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Nesse sentido, o gestor de um fundo de investimento nada mais é do que aquele que conduz esse enorme veículo, carregando consigo milhares de cotistas como seus passageiros.
E, vamos ser realistas: muitos desses passageiros estão desesperados no ambiente atual. A maioria, inclusive, prefere pular do carro em movimento e tentar a sorte na tempestade, ao invés de confiar no condutor.
Nesses momentos, um instante pode mudar tudo e ter alguém experiente no comando faz toda a diferença.
Na última edição da Linha D’Água, a Rafa comentou sobre a importância de escolhermos bem aqueles que optamos por ouvir – ou mesmo para conduzir nossos investimentos, aplicando em seus fundos –, servindo como nossos guias para atravessar este cenário tempestuoso. São aqueles que colocam, na prática, o dinheiro naquilo que acreditam, ou seja, têm a “pele em risco”.
Por isso, é importante acompanharmos o que eles têm a dizer, tanto sobre os eventos passados quanto sobre o que esperam (e como estão posicionados) para o futuro.
O que causou a chuva forte em fevereiro?
Antes de entendermos o momento atual para as casas, abaixo elenco os principais temas – e o desempenho dos principais índices – que movimentaram os mercados, brasileiro e globais, em fevereiro:
Brasil:
- Ibovespa (R$): -7,49% no mês de fevereiro / -4,38% acumulado no ano;
- Meta de inflação: intensas discussões sobre uma possível mudança da meta de inflação, ainda que não tenham se concretizado, geraram ruídos no mês;
- Combustíveis: reoneração dos impostos federais sobre a gasolina e o etanol tem sido vista como positiva para os mercados, o que poderá trazer alívio às contas públicas. Por outro lado, a criação do imposto sobre exportação do petróleo traz preocupações, abrindo precedente para a adoção dessa medida para outros produtos;
- Arcabouço fiscal: discussão sobre o novo arcabouço fiscal, a ser divulgado ainda em março, permanece incerta, gerando pessimismo em relação a uma responsabilidade fiscal crível e à condução da política fiscal pelo novo governo;
- Atrito institucional: discussões intensificaram entre Roberto Campos Neto (atual presidente do Banco Central), que se vê compelido a ter uma atitude ainda conservadora em relação aos juros diante de um ambiente político e fiscal instável; e o presidente Lula, que deseja levar os juros para baixo o quanto antes;
- Indústria de crédito: após o evento de fraude contábil da Americanas em janeiro, o mercado de crédito se fechou para novas emissões, levando a uma abertura dos spreads no mercado secundário e em novas indicações de ofertas. As perdas atípicas sofridas por fundos de crédito privado levaram a uma onda de resgates por parte de investidores de varejo e institucionais, retroalimentando esse aumento de spreads e o ambiente difícil para a classe;
No geral, o cenário local permanece incerto e inóspito, especialmente em relação à condução da política fiscal e monetária, intensificando o pessimismo dos investidores para a região.
Mundo:
- S&P 500 (US$): -2,61% no mês de fevereiro / +3,40% acumulado no ano;
- EUA: dados mais fortes de atividade e de inflação surpreenderam no mês, levando a uma revisão pelo mercado nas curvas de juros americanas para um patamar mais alto (e por mais tempo), com taxas terminais possivelmente entre 5,5% e 6%;
- Europa: similar aos EUA, os dados de inflação e atividade europeus também surpreenderam para cima, ocasionando uma reprecificação altista para as curvas de juros da região;
- China: mercado segue atento ao processo de reabertura do país, com sólida performance e melhora gradual nos indicadores de mobilidade;
De forma geral, o cenário internacional se mostrou mais desafiador do que se pensava, substituindo o tom mais construtivo de janeiro, o que pode exigir uma reação mais dura dos bancos centrais nas principais economias.
A opinião dos condutores mais experientes
Com os principais eventos de fevereiro em mente, o importante agora é saber como os maiores condutores da indústria estão se posicionando agora.
Para isso, desde agosto de 2021, temos enviado uma pesquisa mensalmente que coleta, através de um formulário eletrônico, as respostas de 44 gestoras de multimercados que, juntas, representam mais de R$ 160 bilhões em patrimônio das estratégias em questão.
Isso é feito sempre nos primeiros dias úteis do mês e, portanto, representando uma visão bastante atualizada dos gestores.
O objetivo é entender, de forma consolidada, o sentimento dos maiores tomadores de decisão em relação a indicadores da economia brasileira e americana, como o crescimento do PIB, a dinâmica de inflação e o ambiente fiscal, para os próximos seis meses (a partir do mês de resposta).
Além disso, buscamos saber qual o viés direcional (se houver) para cada um dos principais ativos operados por fundos multimercados: juros (nominais e reais), inflação, crédito privado, moedas, bolsa e commodities.
Essa pesquisa, já com 20 meses completos, tem sido bastante proveitosa aos assinantes do Os Melhores Fundos de Investimento, e agora aproveito este espaço para compartilhar com você também, caro leitor.
Apresento os principais resultados a seguir, mas, se você quiser acessar o relatório completo e detalhado, basta clicar aqui.
Heatmap: o mapa ideal para o ajuste de rota
A tempestade não está fácil, não é? E acredito que ainda dure mais um tempo.
Que bom que encontramos um posto (ou um Graal, companheiro de muitos viajantes), para pararmos e ajustarmos nosso trajeto, se necessário.
Para nos ajudar com isso, o mapa de calor (heatmap) a seguir será o nosso guia de hoje, representando o compilado das respostas dos gestores nos últimos 12 meses para cada um dos indicadores mencionados, de forma a compararmos as mudanças ao longo do percurso e nos prepararmos para o que vem à frente.
Sua leitura é simples: quanto mais vermelho o indicador, mais pessimista está a indústria de multimercados sobre ele, no mês referente. A cor verde, por outro lado, indica um patamar otimista. Isso vale para o sentimento em relação ao crescimento do PIB, Inflação e fiscal.
Para as posições em juros, a cor vermelha significa que esse grupo de fundos está com um viés para posições tomadas (que apostam na alta das taxas) e, a cor verde, para posições aplicadas (que apostam na queda das taxas).
Para a operação de “inclinação”, uma posição tomada (vermelho) se trata da aposta de que as taxas de longo prazo subirão mais (ou cairão menos) do que as de curto prazo (tomada na curva longa e aplicada na curta). O inverso seria uma posição aplicada (verde).
Para a operação de “inflação implícita”, uma posição tomada (vermelho) se refere à aposta de que a inflação irá subir e, assim, vende/toma títulos prefixados e compra/aplica em NTN-B, por exemplo. Novamente, uma posição aplicada (verde) inverte essa lógica.
Sem mais delongas, vamos ao mapa atualizado para o mês de março:
O que, na prática, é possível extrair desse guia de fundos?
Neste mês de março, no Brasil, os sentimentos dos fundos para os três indicadores (PIB, inflação e fiscal) seguem, em conjunto, nos patamares mais pessimistas da série
Isso significa uma expectativa de menos crescimento para a região, diante de incertezas quanto à condução da política monetária e fiscal, harmonia entre instituições e iminente crise de crédito na região.
Além disso, parece existir uma percepção entre os fundos de que o início da queda dos juros pelo BC está mais próximo, com um viés aplicado para as taxas nominais e reais.
A posição em inclinação teve um incremento relevante no viés tomado, ou seja, acredita-se que os juros longos subirão mais (ou cairão menos) do que os de curto prazo, o que novamente reflete um posicionamento mais pessimista, estruturalmente, quanto à condução da política fiscal na região.
As posições dos fundos em bolsa brasileira – no patamar mais pessimista dos últimos 12 meses – também refletiram esse pessimismo generalizado, em que ativos de risco podem ainda enfrentar um período difícil nesse ambiente inóspito, auxiliado pela crise de crédito local e desaceleração da atividade.
Nos Estados Unidos, houve incremento considerável no pessimismo em relação à inflação, após dados inflacionários e de atividade mais persistentes e de uma deterioração na expectativa do cenário de "soft landing" (Banco Central americano conseguir trazer a inflação para a meta com baixa desaceleração na atividade) e de proximidade para o término do ciclo de alta de juros.
Os juros americanos em ambos os vértices (de curto e longo prazo) apresentaram incremento significativo para o viés tomado, ancorados por um tom mais duro do Fed em suas comunicações recentes. Assim, as curvas de juros para a região têm sido elevadas gradualmente.
Em reflexo, as posições em bolsa americana também sofreram deterioração relevante, dado que um ambiente de juros ainda mais altos por mais tempo é desfavorável para ativos de risco. As posições dos fundos em commodities continuam em patamar otimista apesar da redução marginal, seguindo a visão positiva dos mercados para a reabertura chinesa.
Tema do mês: o que será da inflação (e atividade) americana?
Em conjunto à pesquisa geral anterior, todos os meses, buscamos entender a opinião dos gestores de fundos em relação ao principal tema do mês atual, sempre em uma linha diferente.
O tema deste mês buscou entender o sentimento dos gestores em relação ao cenário mais provável na dinâmica de atividade e inflação nos Estados Unidos, para os próximos 12 meses.
Acompanhe os resultados a seguir:
De acordo com as respostas, a maior parte das casas (64%) acredita que a inflação americana deve convergir à meta nos próximos 12 meses, enquanto o restante (36%) entende que o indicador ainda deve permanecer em patamar mais alto no curto prazo.
Para o primeiro grupo, a maioria acredita que, apesar de ocorrer essa convergência, ela será acompanhada de uma desaceleração da atividade, seja ela em ritmo moderado (soft landing) ou mais grave (hard landing), em que há uma opinião dividida neste último quesito.
Agora nos resta esperar para entender qual o cenário que de fato irá se concretizar e como isso impactará as demais economias – que também possuem seus próprios problemas, internos e externos.
Mesmo após meses (e anos) nesta tempestade, céus mais claros ainda parecem distantes. Mesmo assim, é preciso seguir em frente, e a cautela e um condutor experiente serão os seus maiores aliados nesse trajeto.
Novamente, se você quiser acessar a pesquisa completa, com ainda mais detalhes, você pode clicar aqui.
Um abraço,
Alê Alvarenga
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