Nadando com os tubarões: a visão dos grandes gestores de fundos sobre o que esperar da economia e dos mercados
Quem melhor para buscar informações sobre o mercado do que aqueles que colocam a cara a tapa ao investirem bilhões de reais?
Com certeza você já conhece a famosa frase que diz que “o ano do brasileiro só começa de fato depois do Carnaval”. Mas, convenhamos, o mercado financeiro não é de tirar férias.
Aqui no Brasil, as páginas de notícias vão do abadá da Gisele Bündchen ao triste caos no litoral norte de São Paulo. O resto do mundo, contudo, também vem passando por poucas e boas.
Preparado(a) para uma imersão no que tivemos por aí nos últimos dias?
O Carnaval do mercado
Nos Estados Unidos, tivemos a temporada de divulgação de resultados do último trimestre de 2022 e as empresas de varejo apresentaram resultados bem desanimadores, com projeções de mais um ano fraco pela frente.
A terça-feira (21) também foi marcada pela queda nas Bolsas de Wall Street, influenciada pelo temor do que seria divulgado na ata da última reunião do Fed (banco central americano), já que havia um grande receio de uma fase de juros altos ainda mais longa pela frente.
Os mercados se mostraram preocupados, do ocidente ao oriente, impactando negativamente também as Bolsas asiáticas e europeia.
Na Quarta-Feira de Cinzas (22), o tempo realmente fechou em solos americanos, já que a ata do Fomc (comitê de política monetária americano) demonstrou que, mesmo com o alívio nos preços, o mercado de trabalho ainda está aquecido e a inflação segue alta, o que confirma o temor de que não existirá uma pausa ou recuo nas taxas de juros dos EUA ainda em 2023.
Hoje (24), ainda temos o aniversário de um ano do conflito entre Rússia e Ucrânia e, nesse ponto, as notícias também continuam sendo bem ruins.
Vladimir Putin, presidente russo, afirmou nesta segunda-feira que não participará mais do tratado de controle de armas nucleares com os EUA, o que aumenta ainda mais o receio de uma nova guerra mundial e também fragiliza a estabilidade dos mercados.
Ufa!
É notícia pra caramba pra um espaço de tempo tão curto, o que deixa ainda mais difícil digerir tim-tim por tim-tim.
O que os tubarões do mercado têm a dizer
O que ajuda bastante é ouvir a opinião de quem realmente entende do assunto. É aqui que entram os painéis da CEO Conference do BTG Pactual que ocorreu na semana passada, onde grandes nomes brasileiros comentaram sobre a economia no Brasil e no mundo.
Um dos painéis que merece o devido destaque, e que nos presenteou com um debate riquíssimo sobre inflação, taxa de juros e expectativas econômicas para Brasil e Estados Unidos, foi o de ninguém menos do que André Esteves, sócio sênior do BTG Pactual e os sócios-fundadores Rogério Xavier, da SPX Capital, Luis Stuhlberger, da Verde Asset e André Jakurski, da JGP – casas com fundos indicados na nossa série Melhores Fundos de Investimento da Empiricus e que são sinônimos de retornos expressivos e consistência no longo prazo.
Dando uma boa resumida, globalmente falando, a opinião dos gestores é de que a precificação do mercado em relação à inflação e principalmente aos juros está equivocada, já que há uma persistência inflacionária que não está sendo colocada na conta.
Em um período relativamente curto – esses três anos após a crise de Covid-19 passaram voando –, convivemos com eventos que poderiam representar os "quatro cavaleiros do apocalipse": pandemia, inflação alta, juros altos e guerra. Como isso poderia não acumular pressões mais intensas nos mercados?
O juro de equilíbrio
Para Stuhlberger, a taxa de juros neutra de equilíbrio nos EUA deveria ser de 2,5%, enquanto a da Europa, de 1,5%. Segundo o gestor, a inflação permanecerá entre 3% e 4% por um longo período, sem que o Fed consiga aumentar as taxas de juros para além de 5,5% devido ao risco de uma forte recessão.
Jakurski complementa essa visão lembrando que, nos últimos 70 anos, uma recessão nunca deixou de ocorrer quando a curva de juros inverteu como ocorre hoje. O gestor se diz menos otimista com a capacidade de se compensar um crescimento menor com uma produtividade maior, já que a produtividade global deve continuar caindo devido à cinco principais pontos: demografia, desigualdade, descarbonização, desglobalização e nível alto de dívida.
Xavier também concorda com o fato de que o mercado de trabalho está mudando e que a produtividade tende a cair. Ele acredita que a percepção das pessoas migrou para uma postura em que julgam serem capazes de trabalhar menos e seguir com a mesma entrega, mas que isso não tem se provado real e tem afetado diretamente no resultado das empresas.
E a meta de inflação?
No Brasil, a discussão ficou mais centralizada na meta de inflação.
O consenso entre os gestores é de que ela é inalcançável no patamar atual, sendo necessária uma correção. Líderes políticos têm buscado por soluções de curto prazo, o que não é o ideal para a economia do país.
Em contrapartida, Haddad – sentado na primeira fileira do evento – já afirmou que a revisão da meta de inflação não está na pauta do Conselho Monetário Nacional (CMN).
A velocidade com que os eventos vêm acontecendo esse ano é surpreendente. Saber por onde se informar virou crucial, para não cair nas “fake news” de grupos do WhatsApp.
Por isso, minha sugestão hoje é que você sempre busque fontes confiáveis para alimentá-lo dos principais acontecimentos (e das opiniões) do mercado.
E quem melhor para buscar informações do que aqueles que colocam, todos os dias, a cara a tapa ao investirem bilhões de reais em suas convicções?
A opinião sem o dinheiro na mesa, definitivamente, não tem o mesmo peso.
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