🔴 +30 RECOMENDAÇÕES DE ONDE INVESTIR EM DEZEMBRO – VEJA AQUI

Tony Volpon: Chegou o ponto de virada para os juros nos Estados Unidos?

A alta nas taxas de juros na parte longa da curva dos EUA ainda continua a ser o maior driver dos mercados globais

30 de outubro de 2023
20:02 - atualizado às 18:34
Arte mostrando uma lupa focalizando um símbolo de porcentagem; indicação para matérias envolvendo juros, Selic, Banco Central (BC), investimentos e outros
Imagem: Shutterstock

Começo a coluna deste mês com dois comentários sobre os efeitos e possíveis consequências da tragédia humanitária que estamos vivendo no Oriente Médio. Não sou especialista no assunto, assim não vou me estender em nenhuma análise mais profunda, mas acho que há duas coisas a serem notadas do ponto de vista de riscos para os mercados globais.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Primeiro, as reações do mercado até agora têm sido relativamente modestas, pelo menos em relação ao padrão histórico de outras crises na região. Isso parece sugerir que o mercado está acreditando que o conflito não deve se alastrar, o que potencialmente teria impactos mais severos no mercado de petróleo. Assim, o risco de cauda atual é um aumento no escopo do conflito, especialmente em relação ao Irã.

A alta nas taxas de juros na parte longa da curva dos EUA ainda continua a ser o maior driver dos mercados globais. E vamos aqui abordar o assunto não somente do ponto de vista de suas causas, mas sim da interpretação desse movimento.

Sobre as causas, me parece que temos um conjunto de fatores agindo ao mesmo tempo, onde um deles me parece estrutural e duradouro, enquanto os outros são de natureza temporária e cíclica.

Questão fiscal americana: o driver permanente dos juros

O driver permanente da recente alta de juros é a questão fiscal americana. Queira ou não, me parece que o vírus MMTista infectou o software mental do establishment político americano. 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

E devemos notar que não há perspectiva política para isso se reverter em algum horizonte próximo. Em um sistema político dividido bem no meio, ambos os partidos acabam exercendo um poder de veto: os Democratas não aceitam corte de gastos, os Republicanos não aceitam aumentos de impostos.

Leia Também

Em alguns momentos de impasse igual, como nos anos 90 com Bill Clinton, era possível construir uma maioria de moderados entre ambos os partidos e endereçar o problema com uma combinação de corte de juros e aumento de impostos, mas no ambiente polarizado atual isso não é mais imaginável.

Agora, isso não é exatamente uma novidade, mas não estava sendo precificado pelos mercados de forma adequada até a combinação do downgrade da nota soberana em agosto e o anúncio do Tesouro da intenção de emitir mais papéis longos do que esperado pelo mercado, adicionando muito mais risco de duration no mercado.

Por que o mercado demorou tanto para precificar algo já conhecido? Podemos oferecer várias explanações (inatenção racional, por exemplo), mas o mais importante é determinar qual o nível de prêmio adequado, e se já há exagero na precificação da curva longa ao redor de 5% ao ano.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O debate sobre este assunto – não só no mercado, mas também no Federal Reserve – tem se dividido entre atribuir boa parte da alta ao “term premium”, (o prêmio de risco pago ao investidor por tomar risco de duration), e a taxa neutra de juros, a tal R estrela ou R*.

Isso tudo pode parecer jargão de economista, mas peço sua paciência porque a distinção entre os dois vai ser vital para as decisões do Fed e a dinâmica da curva de juros e dos mercados.

Se boa parte da alta recente das taxas longas representa um ajuste no R*, esse ajuste seria algo endógeno, um ajuste de equilíbrio, e não implicaria em condições financeiras mais restritivas.

Assim, apesar da alta da taxa neutra conter um componente cíclico (e, portanto, algo que deve se reverter em algum momento futuro), o Fed talvez não estaria ainda com uma política monetária suficientemente restritiva para fazer a inflação convergir para sua meta, e, portanto, haveria a necessidade de altas de juros adicionais.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Agora, se boa parte da alta representa a manifestação do term premium, isso representaria um ajuste exógeno que aperta as condições financeiras, e, portanto, estaria “fazendo o trabalho sujo” de desacelerar a demanda agregada, o que então levaria o Fed não somente a não ter que subir mais o fed funds, mas poderia acelerar o início eventual de um ciclo de queda de juros.

Obviamente os dois efeitos podem estar ocorrendo ao mesmo tempo: uma precificação do term premium devido à questão fiscal; e um R* mais alto devido a um mix de fatores cíclicos (efeitos ainda duradouros dos excessos de estímulos durante a pandemia) e permanentes (alta de potencial de crescimento devido aos efeitos positivos sobre a produtividade e níveis de investimentos pelos temas da AI, da transição climática e do onshoring).

Jay Powell, em sua última fala, parece ter dado apoio à tese que o recente movimento se deve mais ao term premium – sinalizando então que não devemos ver uma alta adicional de juros na próxima reunião no início de novembro, mas (corretamente) não se comprometeu com essa tese, e, portanto, altas adicionais são possíveis, se não houver uma desaceleração da economia (com no terceiro trimestre a economia crescendo 4,9% anualizado) e um bom comportamento da inflação.

Me parece que a estratégia de Powell é manter o mercado sob aviso (isto é, precificando ao redor de 50% de probabilidade de alta de juros nas próximas reuniões) até a economia desacelerar de forma convincente.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

A força da economia dos EUA

Vamos nos deter sobre esse último dado… a economia americana cresceu no terceiro trimestre mais de 4,9%! Isso quando (veja a última coluna) havia vários fatores apontando para uma desaceleração, como a retomada dos pagamentos dos empréstimos estudantis e a greve do setor automobilístico.

Com essa expansão americana e a China também crescendo mais do que esperado (6,9% anualizados no terceiro trimestre) o JP Morgan estima que o crescimento global esteja ao redor de 3,5%, bem acima das estimativas do potencial sustentável.

As notícias no front inflacionário também podem ser problemáticas no curto prazo: os economistas do UBS se colocam do lado otimista na questão da tendência de inflação no médio/longo prazo, mas acreditam que, por uma variedade de fatores atípicos (como problemas nos ajustes sazonais), os próximos dois meses podem mostrar a inflação (inclusive os núcleos) acelerando.

Assim me parece que a recente “rejeição” do mercado ao nível de 5% do Treasury de dez anos (coincidindo com o bastante comentado tweet de Bill Ackman, do Pershing Square, informando que ele tinha zerado sua posição vendida em Treasuries) não deve ser o último teste.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Vamos fazer topo duplo ou triplo na taxa de dez anos? Difícil dizer, mas já há hoje uma realocação de recursos para a parte longa da curva da montanha de dinheiro alocada na parte curta (notamos, por exemplo, que o ETF TLT de Treasuries longo, que já caiu mais de 50% do seu pico e está nas mínimas do ano, ainda assim dobrou de patrimônio). Hoje, o balanço entre oferta de papel e demanda está bem melhor do que nos últimos meses.

A DINHEIRISTA - Fui parar no Serasa por ser fiador de um inadimplente. E agora?

A marcha dos juros

Outro ponto, que pode parecer à primeira vista como contra intuitivo, é que o discurso mais hawk de Powell pode ajudar a ancorar a parte longa da curva. Como notam os estrategistas do Goldman Sachs, a narrativa de não subir mais o fed funds tem transferido a volatilidade para a parte longa da curva e incentiva a empinação (steepening) entre taxas longas e curtas.

Eles notam que uma parte desproporcional da alta de yields recentes se deve ao aumento dos breakevens (a inflação esperada), e não as taxas reais de juros. O bom para a curva longa é a clássica combinação de um Fed hawk com risco de exagerar a dosagem e causar uma recessão.

Em um ambiente com tantas complexidades e erros contínuos de previsões (sem falar dos riscos geopolíticos) fica difícil decretar o fim do nosso pessimismo com ativos de risco que temos defendido desde agosto. Certamente, com o título de dez anos beirando 5%, estou mais confortável que a marcha de alta de juros que começou em agosto esteja perto do fim.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O dez anos testou e segurou os 5% até com o PIB monstro do terceiro trimestre, um excelente sinal técnico. A força inesperada da economia durante o terceiro trimestre já está precificada, e tudo indica que o quarto trimestre terá crescimento menor (o tracking do Morgan Stanley, por exemplo, está em 0,7% anualizados). 

Do lado da bolsa, a reação do mercado aos resultados das big techs tem sido, em grande parte, decepcionante (veja o que aconteceu com a Google). Mas devemos ver isso de forma contrarian: os grandes, os imbatíveis, estão caindo – estamos mais perto do fim da correção do mercado.

Assim, e digo isso bastante ciente das complexidades do momento, acredito que o roteiro mais provável será algum rompimento do nível de 5% no dez anos que gerará volatilidade adicional nas bolsas, representando uma melhor oportunidade de entrada.

Não acho possível dizer, com qualquer nível de confiança, que o rompimento será rejeitado, como acabou sendo com a divulgação do PIB, mas acredito que já existe um colchão de valuation no dez anos, junto com um provável desaquecimento da economia americana, para justificar uma exposição maior a risco, começando ver ondas de venda como oportunidades de compra.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Abandonamos então nosso pessimismo assumindo uma postura positiva, ainda que cuidadosa.

*Tony Volpon é economista e ex-diretor do Banco Central

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
RALI, RUÍDO E POLÍTICA

Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza

8 de dezembro de 2025 - 19:58

A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje

8 de dezembro de 2025 - 8:14

Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana

TRILHAS DE CARREIRA

É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira

7 de dezembro de 2025 - 8:00

As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas

5 de dezembro de 2025 - 8:05

O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro

SEXTOU COM O RUY

Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos

5 de dezembro de 2025 - 6:02

Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje

4 de dezembro de 2025 - 8:29

Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje

3 de dezembro de 2025 - 8:24

Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje

2 de dezembro de 2025 - 8:16

Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros

2 de dezembro de 2025 - 7:08

A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: Bolhas não acabam assim

1 de dezembro de 2025 - 19:55

Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso

DÉCIMO ANDAR

As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora

30 de novembro de 2025 - 8:00

Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado

28 de novembro de 2025 - 8:25

Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros

SEXTOU COM O RUY

Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo

28 de novembro de 2025 - 6:01

A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje

27 de novembro de 2025 - 8:23

Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim

27 de novembro de 2025 - 7:49

Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?

26 de novembro de 2025 - 19:30

Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje

26 de novembro de 2025 - 8:36

Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado

25 de novembro de 2025 - 8:20

Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central

24 de novembro de 2025 - 19:59

Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje

24 de novembro de 2025 - 7:58

Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar