O mito dos rankings de fundos: o que eles escondem de você
Os sedutores rankings elencam tão facilmente os “melhores fundos de investimento”, mas causam uma grave distorção na análise do investidor
Muito prazer! Sou o Pedro Claudino e é ótimo estar aqui com você compartilhando algumas reflexões nesta coluna de fundos. Hoje, fui gentilmente convidado pelo Alê e pela Rafa, idealizadores do Linha D’Água, a conduzir esta edição.
Tenho 20 anos, curso Ciências Econômicas na UNIFESP e faço parte da equipe de fundos de investimentos da Empiricus Research.
“Rentabilidade passada não é garantia de retorno futuro” é uma frase que você muito provavelmente encontrará em qualquer material de divulgação de fundos de investimentos.
Trata-se de uma diretriz de boas práticas da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que oferece uma mensagem valiosíssima. Não é porque um gestor ganhou muito dinheiro para seus cotistas no passado que ele vai necessariamente repetir o feito no futuro.
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Não dirija olhando apenas pelo retrovisor
Isso me lembra de uma velha analogia usada no mercado financeiro sobre a importância de não dirigir um carro olhando apenas para o retrovisor.
Se um fundo de sucesso no passado trouxe mudanças relevantes na equipe, como a saída do próprio gestor, suas chances de manter a boa performance são alteradas – se para melhor ou pior, só saberemos no futuro.
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Similarmente, se a estratégia sofreu alguma alteração na política de investimentos ou de riscos, analisar o seu histórico seria como avaliar um fundo que não existe mais.
Agora imagine que, além de dirigir focado no retrovisor, durante o trajeto há um caminhão enorme à sua frente, aumentando a quantidade de pontos cegos da visão. Você que dirige com certeza já passou por esse desconforto.
Por que não fazemos ranking de fundos
É isso o que acontece quando você avalia os famosos “rankings de fundos”, especialmente aqueles que premiam os bons desempenhos de curto prazo.
Ao olhar as maiores rentabilidades da indústria em um recorte muito específico no tempo, o investidor está propositalmente colocando um obstáculo em seu campo de visão. Um bom desempenho de curto prazo não significa necessariamente que o fundo é bom. Nem mesmo que ele é ruim.
Na verdade, essa avaliação do desempenho em janelas curtas diz pouquíssimo sobre ele.
Esse é um dos principais motivos pelo qual nós, da equipe Os Melhores Fundos de Investimento, nunca fizemos – ou faremos – um ranking dos “melhores fundos do ano” ou dos “melhores fundos para o próximo trimestre”.
No caso de um desempenho positivo, um gestor pode ter surfado a onda de um mercado muito favorável à classe, ter se exposto a um risco exagerado para o retorno obtido ou simplesmente ter sido abençoado com a sorte (acontece com mais frequência do que você imagina).
O mesmo pode acontecer com aquele que ficou em posição de menor destaque no tão aclamado “ranking de fundos”, e que acaba sofrendo com eventuais resgates por conta disso. Apesar do período aparentemente ruim, vale entender se o resultado é derivado de um momento de mercado difícil.
O tempo separa o joio do trigo
Mas, no longo prazo, o mercado sempre consegue separar o “joio do trigo”. Um gestor que toma risco de forma irresponsável eventualmente pode quebrar a cara, pois a sorte uma hora acaba.
É por isso que a análise de um fundo vai muito além de seu desempenho. As métricas de consistência, risco e controle do passivo – todas em janelas longas e equivalentes à estratégia – são tão importantes quanto.
Um fundo que bateu o benchmark (índice de referência) consistentemente durante uma década tem muito mais probabilidade de repetir o desempenho do que aquele acabou de nascer e possui dois bons anos.
Mais ainda se a equipe que trouxe esse sucesso aos cotistas se mantém, com boa sinergia e bem remunerada – importante, para reter talentos.
Desconsiderar o fator “tempo” é apenas um dos problemas que a maioria dos rankings de fundos cometem.
Um ranking de fundos compara os resultados com o restante da indústria. Mas não adianta comparar “banana com laranja”, pois você com certeza irá tirar conclusões erradas.
Laranjas na cesta de laranjas
Você já deve ter ido ao mercado e, no momento da escolha de uma laranja, a apertou para sentir sua consistência, compara com as outras e procura a de melhor qualidade do cesto.
Mas e se todas as frutas estivessem jogadas em um único recipiente? Seria muito mais difícil procurar aquela laranja docinha, concorda?
Você já deve saber que não adianta comparar um fundo de ações com um de renda fixa. Muito menos um fundo multimercado com um de criptomoedas – acredite, acontece.
Entretanto, é comum que um ranking de fundos compare estratégias de diferentes classes entre si, ainda que cada categoria de fundos exija métricas específicas na análise.
Por exemplo, em um fundo de gestão passiva, aquele cujo objetivo é acompanhar o desempenho de um índice, será importante avaliar seus custos e sua aderência ao índice frente aos demais candidatos. Enquanto isso, em um fundo de gestão ativa, cujo objetivo é superar esse índice, o processo será outro.
Também existem grandes diferenças entre estratégias dentro de uma mesma categoria, como a renda fixa, onde há os fundos de crédito privado, que compram títulos de dívida de empresas privadas, e os de renda fixa ativa, que operam juros e inflação (sem crédito).
Dá para ir ainda mais além
Um fundo de crédito privado high grade (que compra títulos de maior qualidade de empresas) é diferente de um fundo de crédito privado high yield (que compra títulos de maior risco, porém com prêmios maiores). Ambos possuem perspectivas de retorno diferentes e isso deve ser levado em consideração na análise.
Percebe como são muitos fatores e que, ao colocar todos na mesma cesta, você terá uma conclusão imprecisa?
Vamos a um breve exemplo prático
Separei um grupo de fundos classificados como multimercados a partir de alguns filtros básicos. Retirei fundos exclusivos, espelhos, com patrimônio líquido muito pequeno e os destinados a investidores profissionais (aqueles com mais de R$ 10 milhões investidores e atestado por escrito) – filtros bem comuns em plataformas.
Classifiquei os 631 veículos encontrados de acordo com a maior rentabilidade de 2023 e dos últimos 12 meses, e os 15 maiores retornos foram estes:

Pelo nome de vários deles você deve ter percebido qual seria o problema de classificá-los como “os melhores fundos multimercados de 2023”.
Muitos são fundos que investem somente em criptomoedas, indústria que está com um desempenho muito expressivo em 2023. Outros, são fundos atrelados ao ouro ou temáticos de carbono.
Provavelmente, ao buscar pela comparação de fundos “multimercados”, o investidor na verdade esperava encontrar os multimercados macros, aqueles mais semelhantes às estratégias das aclamadas gestoras Verde e SPX, por exemplo, estes que – veja só – estavam posicionados só na metade do grupo.
Não há nada contra fundos de criptomoedas. O ponto é que eles não deveriam ser colocados na mesma caixa que os demais multimercados. Estratégias diferentes exigem processos de avaliação distintos e, definitivamente, não devem ser comparados em recortes de curto prazo.
Observe também que, estendendo o retorno para o período de 12 meses, que ainda não é uma janela de longo prazo (mas já é melhor que “no ano”), a rentabilidade desses fundos varia bastante. Alguns ficam no negativo e outros até melhoram.
Veja, portanto, que há três problemas principais:
- a avaliação de janelas curtíssimas, incompatíveis com o investimento em fundos;
- a comparação entre fundos de classes e estratégias diferentes; e
- a falta de métricas quantitativas (e qualitativas) adicionais para complementar a análise, como consistência e risco.
Ainda há muito trabalho a ser feito para educar o investidor – e, principalmente, as próprias plataformas – sobre a avaliação justa de um investimento que irá receber seu tão suado dinheiro.
Como dizem, ter um mapa errado é pior do que não ter mapa. Nossa missão, portanto, é te apresentar o GPS que te direcionará corretamente.
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