O mercado voltou a acreditar em Mark Zuckerberg e na Netflix. Mas a recuperação das ações de tecnologia é sustentável?
Neste momento, existe um enorme contraste entre os resultados de empresas como a Meta e Netflix e a performance das ações

Olá, seja bem-vindo à Estrada do Futuro, onde conversamos semanalmente sobre a intersecção entre investimentos e tecnologia. Enquanto escrevo essas linhas, os principais índices de ações americanos ensaiam uma correção, depois de terem começado 2023 eufóricos.
O índice Nasdaq — associado às grandes empresas de tecnologia — chegou a subir 15% em seu ponto mais alto em 2023.
Dentro do índice, nomes específicos (muitos dos quais já retratados nesta coluna), tiveram performances ainda mais notáveis.
De seu ponto mais baixo, alcançado em junho de 2022, as ações da Netflix mais do que dobraram; outros nomes como Meta, Nvidia e AMD também saltaram entre 50% e 70% dos seus pontos mais baixos.
Neste momento, existe um enorme contraste entre os resultados dessas empresas e a performance das suas ações.
Na coluna de hoje, vamos discutir esses dois vetores e o que esperar deles nos próximos meses.
Leia Também
Hoje é dia de rock, bebê! Em dia cheio de grandes acontecimentos, saiba o que esperar dos mercados
Entre o rali eleitoral e o malabarismo fiscal: o que já está nos preços?
Meta: os resultados estão piorando, e daí?
No geral, tenho encontrado um mix de resultados fracos e guidances (projeções) abaixo do esperado pelo mercado em praticamente todas as empresas de tecnologia.
A Meta — dona do Facebook, Instagram e Whatsapp — é um bom exemplo.
A receita da empresa de Mark Zuckerberg encolheu 4% em relação ao 4T21.
A divisão "reality labs", que compila as iniciativas da companhia relacionadas ao metaverso, somou US$ 727 milhões em receitas, uma queda de 17% na comparação anual e um prejuízo operacional de US$ 4,2 bilhões.
Por fim, a margem líquida da Meta foi de 14,5%, metade da apresentada no final de 2021.
Para o futuro, os executivos da Meta seguiram com um guidance conservador e alertaram o mercado que os próximos trimestres ainda terão margens pressionadas e crescimento baixo.
Mesmo assim, as ações subiram 23% em resposta aos números.
O mercado se apegou à promessa de Mark Zuckerberg de que a Meta irá desacelerar o ritmo de investimentos e ser mais racional com os custos.
Em resumo, Mark prometeu ouvir os investidores.
Netflix: reprise que agradou
Dinâmica parecida aconteceu nos resultados da Netflix; apesar da reaceleração no números de novos usuários, a Netflix segue crescendo muito pouco (um dígito baixo) e com um perfil de rentabilidade incompatível com seu valuation atual.
Neste momento, o NFLX vale 50x o fluxo de caixa esperado para 2023.
Além de um valuation caro, há muitas dúvidas sobre a capacidade da empresa em crescer essa geração de caixa de maneira sustentável.
Novamente, os investidores abraçaram a promessa dos executivos que tornaria esse sonho possível: eles prometeram que o nível de gastos com conteúdo seguirá estável nos próximos anos em termos nominais.
Ou seja, todo o crescimento de receita que a empresa conseguir, mesmo que seja baixo, será muito acretivo para a geração de caixa.
Nas demais empresas de tecnologia, promessas similares a estas se acumulam.
Depois de anos de crescimento a qualquer custo, os executivos e fundadores têm prometido focar em rentabilidade e utilizado os layoffs como uma forma de mostrar aos investidores que estão falando sério em seus compromissos.
O rali que vimos neste começo de 2023 está totalmente ancorado nessas promessas
Nas conversas com pessoas do setor, noto que o clima ainda é muito diferente do visto em tempos de bull market.
Se os layoffs são importantes para garantir a saúde financeira da empresa, dá para notar o quanto eles impactam a moral da organização, pelo menos no curto prazo.
No segmento "enterprise", de vendas de softwares para grandes empresas, todos os fornecedores de tecnologia têm sido abordados por seus clientes com e-mails do tipo "precisamos reduzir a fatura, ou cancelar".
Mesmo entre as empresas mais respeitadas do mercado pela qualidade de seus produtos e sua velocidade de inovação, a mesma dinâmica impera.
Apesar de ser menos conhecida do público geral, a Datadog (Nasdaq: DDOG) é uma das empresas mais queridas de desenvolvedores do mundo todo.
Na semana passada, ao divulgar seus resultados, a empresa disse que espera crescer 20% neste ano, o que é mais de 40 pontos percentuais a menos que em 2022.
Na série Investidor Internacional — que é o carro-chefe da Empiricus para investimentos no exterior —, estamos "shorts" (ou seja, com uma posição vendida a descoberto) nas ações desta empresa.
Em geral, os mercados de softwares e infraestrutura em nuvem, historicamente marcados por crescimento rápido, estão em clara desaceleração. Esse ritmo, imagino, irá perdurar ao longo de 2023.
Neste momento, vejo duas exceções no segmento de tecnologia: semicondutores e serviços.
As exceções que confirmam a regra
Na semana passada, após a divulgação dos números de inflação nos EUA, comecei a receber uma série de gráficos como esse, abaixo:
Os preços de bens duráveis, alimentos e energia estão todos em queda, mas o segmento de serviços está segurando a inflação.
Essa dinâmica tem aparecido nos resultados de empresas de tecnologia com exposição ao setor de serviços.
O Airbnb, por exemplo, apresentou um resultado espetacular na semana passada, seguido de uma valorização de 13% da sua ação. Dinâmica parecida aconteceu com as ações da TripAdvisor.
O setor de OTAs, ou "agências de viagem online" em português, um dos que me parece ainda ter uma boa avenida de crescimento a surfar em 2023, com possível impacto positivo nas ações do setor.
Outro setor onde a recuperação das ações deve muito em breve ser ancorada por resultados melhores é o de semicondutores.
Escrevendo sobre Intel na semana passada, comentei o quanto o segmento de PCs sofreu, com vendas caindo mais de 40% nos últimos trimestres.
Na metade de 2023, a base de comparação dessas empresas será de resultados horrorosos vistos em 2022.
As manchetes serão de crescimento, graças a essa base de comparação fraca. E, se você acompanha o mercado há algum tempo, sabe que os investidores adoram bases de comparação deprimidas.
Na carteira do Investidor Internacional, selecionei duas boas oportunidades neste setor. Vale a pena conhecer.
Uma ação que pode valorizar com a megaoperação de ontem, e o que deve mover os mercados hoje
Fortes emoções voltam a circular no mercado após o presidente Lula autorizar o uso da Lei da Reciprocidade contra os EUA
Operação Carbono Oculto fortalece distribuidoras — e abre espaço para uma aposta menos óbvia entre as ações
Essa empresa negocia atualmente com um desconto de holding superior a 40%, bem acima da média e do que consideramos justo
A (nova) mordida do Leão na sua aposentadoria, e o que esperar dos mercados hoje
Mercado internacional reage ao balanço da Nvidia, divulgado na noite de ontem e que frustrou as expectativas dos investidores
Rodolfo Amstalden: O Dinizismo tem posição no mercado financeiro?
Na bolsa, assim como em campo, devemos ficar particularmente atentos às posições em que cada ação pode atuar diante das mudanças do mercado
O lixo que vale dinheiro: o sonho grande da Orizon (ORVR3), e o que esperar dos mercados hoje
Investidores ainda repercutem demissão de diretora do Fed por Trump e aguardam balanço da Nvidia; aqui no Brasil, expectativa pelos dados do Caged e falas de Haddad
Promessas a serem cumpridas: o andamento do plano 60-30-30 do Inter, e o que move os mercados hoje
Com demissão no Fed e ameaça de novas tarifas, Trump volta ao centro das atenções do mercado; por aqui, investidores acompanham também a prévia da inflação
Lady Tempestade e a era do absurdo
Os chineses passam a ser referência de respeito à propriedade privada e aos contratos, enquanto os EUA expropriam 10% da Intel — e não há razões para ficarmos enciumados: temos os absurdos para chamar de nossos
Quem quer ser um milionário? Como viver de renda em 2025, e o que move os mercados hoje
Investidores acompanham discursos de dirigentes do Fed e voltam a colocar a guerra na Ucrânia sob os holofotes
Da fila do telefone fixo à expansão do 5G: uma ação para ficar de olho, e o que esperar do mercado hoje
Investidores aguardam o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole
A ação “sem graça” que disparou 50% em 2025 tem potencial para mais e ainda paga dividendos gordos
Para os anos de 2025 e 2026, essa empresa já reiterou a intenção de distribuir pelo menos 100% do lucro aos acionistas de novo
Quem paga seu frete grátis: a disputa pelo e-commerce brasileiro, e o que esperar dos mercados hoje
Disputa entre EUA e Brasil continua no radar e destaque fica por conta do Simpósio de Jackson Hole, que começa nesta quinta-feira
Os ventos de Jackson Hole: brisa de alívio ou tempestade nos mercados?
As expectativas em torno do discurso de Jerome Powell no evento mais tradicional da agenda econômica global divide opiniões no mercado
Rodolfo Amstalden: Qual é seu espaço de tempo preferido para investir?
No mercado financeiro, os momentos estatísticos de 3ª ou 4ª ordem exercem influência muito grande, mas ficam ocultos durante a maior parte do jogo, esperando o técnico chamar do banco de reservas para decidir o placar
Aquele fatídico 9 de julho que mudou os rumos da bolsa brasileira, e o que esperar dos mercados hoje
Tarifa de 50% dos EUA sobre o Brasil vem impactando a bolsa por aqui desde seu anúncio; no cenário global, investidores aguardam negociações sobre guerra na Ucrânia
O salvador da pátria para a Raízen, e o que esperar dos mercados hoje
Em dia de agenda esvaziada, mercados aguardam negociações para a paz na Ucrânia
Felipe Miranda: Um conto de duas cidades
Na pujança da indústria de inteligência artificial e de seu entorno, raramente encontraremos na História uma excepcionalidade tão grande
Investidores na encruzilhada: Ibovespa repercute balanço do Banco do Brasil antes de cúpula Trump-Putin
Além da temporada de balanços, o mercado monitora dados de emprego e reunião de diretores do BC com economistas
A Petrobras (PETR4) despencou — oportunidade ou armadilha?
A forte queda das ações tem menos relação com resultados e dividendos do segundo trimestre, e mais a ver com perspectivas de entrada em segmentos menos rentáveis no futuro, além de possíveis interferências políticas
Tamanho não é documento na bolsa: Ibovespa digere pacote enquanto aguarda balanço do Banco do Brasil
Além do balanço do Banco do Brasil, investidores também estão de olho no resultado do Nubank
Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor
Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro