Intel: o Império da tecnologia (e dos dividendos) que não consegue contra-atacar
Hoje uma das maiores pagadoras de dividendos do Nasdaq, a Intel pode, muito em breve, ter que cortar drasticamente essa remuneração
Olá, seja bem-vindo à Estrada do Futuro, onde conversamos semanalmente sobre a intersecção entre investimentos e tecnologia. Nas últimas semanas, com algumas das maiores empresas de semicondutores do mundo divulgando seus resultados, voltei a visitar os números da Intel depois de alguns trimestres.
Minhas expectativas eram baixas, mas confesso ter ficado assustado com o que vi.
O passado glorioso da Intel contrasta com o crescente abismo tecnológico entre ela e suas duas maiores concorrentes e é agravado por resultados preocupantes de curto prazo.
Hoje uma das maiores pagadoras de dividendos do Nasdaq, eu acredito que a Intel possa, muito em breve, ter que cortar drasticamente essa remuneração.
Na coluna de hoje, eu te conto detalhes dessa história.
Intel: uma aristocrata em ascensão
A Intel é conhecida de todos nós, especialmente pela presença no mercado de computadores pessoais.
Leia Também
Entre as décadas de 80 e 90, a dominância da companhia foi consolidada tanto pela estratégia inovadora de ser a primeira marca de semicondutores fazendo marketing direto para o consumidor final como pela sua dominância tecnológica.
Mesmo sem nenhum conhecimento técnico, a maioria dos consumidores sabe que um processador i5 é mais potente que um i3, e que um i7 é o "top" de linha.
Ao tornar sua arquitetura x86 presente em todo o mercado de computadores pessoais, a Intel garantiu um lugar no coração dos desenvolvedores. Por dominar o mercado, qualquer aplicação desenvolvida por um terceiro iria priorizar a performance em computadores Intel.
Com o mercado trabalhando em prol dela, a Intel se manteve por muitos anos com os processadores mais rápidos e eficientes do mercado.
Durante mais de 20 anos, esse círculo virtuoso transformou a Intel na maior empresa de semicondutores do mundo, líder absoluta nos mercados de PCs e data centers.
Seus investidores foram recompensados com dividendos crescentes em praticamente todos os anos, nos últimos 30 anos.
Essa história começou a mudar quando Steve Jobs apresentou o iPhone para o mundo.
- Por que estamos no momento ideal para poder ganhar dinheiro com dividendos? O Seu Dinheiro preparou 3 aulas exclusivas para te ensinar como buscar renda extra com as melhores ações pagadoras da Bolsa. [ACESSE AQUI GRATUITAMENTE]
Com o sucesso, veio a soberba
Hoje, com o benefício da retrospectiva, vemos como a Intel perdeu feio a guerra do mercado de smartphones.
Mais de 95% dos aparelhos em circulação atualmente utilizam a arquitetura ARM, que nos últimos anos vem ganhando espaço também no segmento de PCs e, principalmente, data centers.
Todas as notícias que vemos na mídia sobre chips desenvolvidos por Apple, Amazon, Google e Meta são trabalhos construídos na arquitetura ARM, portanto distantes do ecossistema da Intel.
Mesmo tendo perdido completamente o mercado de smartphones (dominado pela Qualcomm e pela Samsung), a Intel aproveitou uma de suas derivadas.
Na medida em que os smartphones fizeram crescer o mercado de computação em nuvem, a Intel preservou sua incumbência no segmento de data centers.
Essa incumbência, porém, foi diminuindo na última década.
O perigo vem de Taiwan
Primeiro, a Intel perdeu a chance de vender volumes massivos de chips de smartphones que ajudariam a bancar novas e cada vez mais caras fábricas de semicondutores de alta performance.
Então, sem esses recursos, a empresa precisou equilibrar a necessidade de crescer seu dividendo todos os anos para agradar os acionistas e manter investimentos cada vez mais elevados para competir com as empresas asiáticas.
Foi assim que a Intel começou a perder sua liderança para a taiwanesa TSMC.
No gráfico abaixo, compilo o volume de investimentos anuais, em dólares, realizados por ambas as empresas.
Agora, veja a diferença entre os dividendos e recompras de ação realizados por ambas empresas, também nos últimos 5 anos.
A receita da TSMC
Enquanto a Intel pagava dividendos, a TSMC, impulsionada pelo influxo de receita massivo que veio do segmento de chips mobile, passou a receber pedidos dos maiores concorrentes da Intel, que abandonaram suas próprias fábricas, terceirizando para a TSMC sua produção em diversos outros seus segmentos e passaram a focar 100% de seus esforços no design.
Com isso, concorrentes como AMD e Nvidia passaram a superar a Intel no design de semicondutores, e sua concorrente na produção, a TSMC, está hoje muitos anos à frente da Intel em termos de tecnologia.
Neste momento, a TSMC tem 92% de market share nos segmentos de semicondutores mais avançados, a Samsung tem 8% e a Intel tem zero.
Hoje é a AMD, o segundo maior player do mercado de PCs, quem fabrica os melhores chips para data centers, graças, em parte, à vantagem de produzir seus chips nas fábricas da TSMC.
Trimestre após trimestre, a Intel tem perdido participação para a AMD em seus dois principais mercados.
Hoje, mesmo com um terço das receitas da Intel, a AMD possui o mesmo valor de mercado que a concorrente.
Sinais preocupantes na Intel
Há algumas semanas, a Intel divulgou seus resultados do 4T22 e um guidance (estimativa) desanimador para o início de 2023.
A receita consolidada foi de US$ 14 bilhões, uma queda de 31% na comparação anual. O lucro operacional ajustado, de US$ 602 milhões, foi 89% abaixo do 4T21.
Por fim, em termos de guidance, a Intel não quis se comprometer com 2023, e disse aos investidores que espera receitas de US$ 11 bilhões neste trimestre, 20% abaixo do que o mercado esperava.
Em meio a esse péssimo resultado, me chamou atenção a perda de apenas 1 ponto percentual de margem bruta no trimestre.
A Intel é um business de alto custo fixo.
Em negócios como esse, uma desaceleração grande nas receitas é naturalmente refletida numa margem bruta menor.
Ao me aprofundar nos demonstrativos, notei que a empresa alterou a regra aplicada a depreciação de seus ativos fabris.
Até então, a Intel adotava um período de cinco anos para depreciação desses equipamentos, em linha com os concorrentes. Com a mudança, eles estenderam o período de depreciação para oito anos.
A Intel está dizendo aos investidores que uma máquina que durava cinco anos até 2022, passará a durar oito anos a partir de 2023.
Não há qualquer irregularidade na mudança da regra. Inclusive há bons argumentos para justificar uma extensão da vida útil dos equipamentos das fábricas de semicondutores, que costumam seguir operando por muitos anos após a sua completa depreciação.
Ainda assim, no curto prazo, essa mudança contábil tem o efeito de distorcer as margens da empresa (para cima), justamente num momento em que essa rentabilidade está sendo questionada pelos investidores.
Dividendo garantido. Até quando?
Além disso, a empresa aproveitou a teleconferência para reforçar ao mercado o compromisso com seu dividendo.
Mesmo com uma geração de caixa livre negativa de US$ 9,4 bilhões em 2022, a Intel pagou US$ 6 bilhões em dividendos aos acionistas.
Nos anos que antecederam a pandemia, a geração de caixa operacional da companhia oscilou num patamar próximo de US$ 20 bilhões anuais. Aliás, o melhor ano foi 2021, quando alcançou os US$ 35 bilhões.
Hoje, vê-se claramente que o patamar alcançado em 2021 não deve voltar a se repetir tão cedo.
Neste ano, sua maior concorrente investirá mais de US$ 30 bilhões em novas fábricas e tecnologias. Então os executivos da Intel já anunciaram a intenção de acompanhá-los no ritmo de tais investimentos.
Com endividamento de 0,8x sobre Ebitda, é possível que a Intel mantenha a política de dividendos nos próximos dois anos com a emissão de dívidas. Especialmente considerando seu baixo custo de financiamento (cerca de 4,5% ao ano), torcendo para uma melhora radical do mercado.
Se essa melhora não vier, ou mesmo se vier e a Intel seguir sendo devorada por seus maiores concorrentes, é possível que os executivos tenham que cortar o dividendo numa situação muito diferente da atual, onde os resultados estarão ruins, mas o endividamento estará potencialmente elevado.
Em resumo, fique distante dessa ação.
Powered by Seu Dinheiro Select.
Não precisa se preocupar: enquanto o "rio" de proventos da Intel parece próximo de secar, existem outras empresas com perspectivas de continuarem enchendo o bolso de seus acionistas de dinheiro por um bom tempo.
Clique aqui para entender como identificar essas ações que são verdadeiras "vacas leiteiras" e, assim, buscar uma renda extra mensal com dividendos.
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional
Felipe Miranda: O paradoxo do banqueiro central
Se você é explicitamente “o menino de ouro” do presidente da República e próximo ao ministério da Fazenda, é natural desconfiar de sua eventual subserviência ao poder Executivo
Hapvida decepciona mais uma vez, dados da Europa e dos EUA e o que mais move a bolsa hoje
Operadora de saúde enfrenta mais uma vez os mesmos problemas que a fizeram despencar na bolsa há mais dois anos; investidores aguardam discurso da presidente do Banco Central Europeu (BCE) e dados da economia dos EUA
CDBs do Master, Oncoclínicas (ONCO3), o ‘terror dos vendidos’ e mais: as matérias mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matéria sobre a exposição da Oncoclínicas aos CDBs do Banco Master foi a mais lida da semana; veja os destaques do SD
A debandada da bolsa, pessimismo global e tarifas de Trump: veja o que move os mercados hoje
Nos últimos anos, diversas empresas deixaram a B3; veja o que está por trás desse movimento e o que mais pode afetar o seu bolso
Planejamento, pé no chão e consciência de que a realidade pode ser dura são alguns dos requisitos mais importantes de quem quer ser dono da própria empresa
Milhões de brasileiros sonham em abrir um negócio, mas especialistas alertam que a realidade envolve insegurança financeira, mais trabalho e falta de planejamento
Rodolfo Amstalden: Será que o Fed já pode usar AI para cortar juros?
Chegamos à situação contemporânea nos EUA em que o mercado de trabalho começa a dar sinais em prol de cortes nos juros, enquanto a inflação (acima da meta) sugere insistência no aperto
A nova estratégia dos FIIs para crescer, a espera pelo balanço da Nvidia e o que mais mexe com seu bolso hoje
Para continuarem entregando bons retornos, os Fundos de Investimento Imobiliários adaptaram sua estratégia; veja se há riscos para o investidor comum. Balanço da Nvidia e dados de emprego dos EUA também movem os mercados hoje
O recado das eleições chilenas para o Brasil, prisão de dono e liquidação do Banco Master e o que mais move os mercados hoje
Resultado do primeiro turno mostra que o Chile segue tendência de virada à direita já vista em outros países da América do Sul; BC decide liquidar o Banco Master, poucas horas depois que o banco recebeu uma proposta de compra da holding Fictor