Felipe Miranda: O que acontece no pós-pânico?
Os eventos microeconômicos passam a demonstrar maior protagonismo: e o caos na Lojas Americanas evidencia isso, no maior caso de inconsistência contábil que se tem notícia no mercado de capitais brasileiro
Íamos no carro da minha ex-sogra para o aeroporto de Guarulhos. Sexta-feira, Marginal Tietê, fim de tarde. Desnecessário dizer: trânsito absurdo. Por alguma razão desconhecida (ainda busco uma explicação para isso), o ar condicionado estava desligado. Janelas abertas naquele calor de um dezembro típico.
Atravessamos sob uma das pontes quando subitamente minha visão periférica captura um sujeito caminhando muito rápido em nossa direção, saca um revólver de dentro da camiseta e ordena: “dá o celular”.
Eu estava no banco de trás, na janela oposta à intervenção. Meu ex-sogro, uma das pessoas mais serenas que já conheci, desembargador aposentado, culto, paciente e educado, à época perto dos seus 70 anos, era a interlocução mais imediata com o assaltante.
Com o revólver apontado pra ele, a expectativa de todos ali era de que meu ex-sogro fosse entregar o celular rapidamente. Para surpresa de todos, ele empenha um soco no peito do ladrão e afirma: “este celular é meu, você não tem o direito de levá-lo”.
Entendo o legalismo do desembargador, mas aquele momento pedia uma postura um pouquinho diferente. Recebeu de volta uma coronhada no braço e ameaças de um tiro na testa. Até que acabou entregando o celular, o assaltante saiu correndo, sob os berros fervorosos ao fundo daquele perplexo senhor: “ladrão, vagabundo, pilantra.”
Pânico e racionalidade
Conto a história para provar um ponto: na hora do pânico, não há muita diferenciação. Em boa parte das vezes, os mais serenos cedem às intempéries das emoções e agem em desacordo com a racionalidade. Em avião caindo, ateu reza até Salve-Rainha e oração do anjinho da guarda.
Leia Também
Em investimentos, é mais ou menos assim também. Se alguém grita fogo no cinema, todos correm para a saída, indiscriminadamente. Como lembra Taleb, o mercado é um grande teatro com uma porta pequena.
Diante de um choque exógeno inesperado, muitos ativos caem de maneira igual, sem muita distinção. A diferenciação ocorre no pós-pânico.
Se o argumento ainda não está claro, tento de outra forma: num primeiro momento, as coisas caminham muito em função do “beta”, ou seja, conforme a sensibilidade do ativo às condições sistêmicas, desconsiderando suas características idiossincráticas. O micro fica atrás do macro. Num segundo momento, entram as virtudes e os defeitos individuais e particulares.
Ações, joio e trigo
O mercado bateu indiscriminadamente desde o segundo semestre de 2021 nas ações brasileiras – exceção feita aos bancos, numa espécie de vingança à era das fintechs com os juros subindo, e às commodities, ativo real barato num mundo inflacionário e de oferta restrita.
Nessa fuga para as colinas, misturou o joio e o trigo no mesmo balaio.
Empresas ruins, fake techs, companhias que só funcionaram sob a excepcionalidade da Selic a 2% foram equiparadas a outros casos de empresas de qualidade que atravessavam um mau momento, quase como, no limite, insolvência e iliquidez se tornassem sinônimos perfeitos.
Feito o ajuste sistêmico, com a acomodação ao novo governo e a alternância entre mediocridade e pitadas de tragédia já no preço, possivelmente entremos num novo momento, em que o “alpha" passa a predominar sobre o “beta”, quando o stock picking (a escolha das ações corretas) passa a fazer a diferença.
O mundo nos oferece uma oportunidade para isso, seja pela desaceleração mais intensa à frente, seja pela reabertura de China, que coloca os mercados emergentes e os produtores de commodity em evidência.
O próprio início do Fórum em Davos hoje é uma chance nessa direção – goste você ou não, a mudança climática está lá entre os principais temas do evento e a presença de Marina Silva recoloca o Brasil no mapa do capitalismo woke e dos fundos interessados em ESG e na Amazônia em particular.
Enquanto isso, Haddad tem a oportunidade de mostrar-se aberto ao diálogo e representante de uma esquerda mais moderada (talvez até de forma mais surpreendente para alguns, ele tem se mostrado adepto da aritmética básica das contas públicas).
O protagonismo do ambiente corporativo
Alguns sinais de que o ambiente corporativo começa a demonstrar maior protagonismo:
01. BR Properties
BR Properties acaba de propor uma OPA para fechar o capital da companhia com prêmio de 141% sobre as cotações correntes (já assumindo a redução de capital planejada); mostra o quanto suas ações e todo o setor em geral estavam depreciados.
02. Ações da 3R Petroleum
As ações de 3R sobem 17% no ano – estamos apenas em 16 de janeiro. A companhia acaba de reduzir o número de diretores e unificar a cultura em prol de mais eficiência operacional e diminuição do risco de execução.
Havia um certo desalinhamento entre argentinos e brasileiros; agora, fica o time ex-Petro, alinhado e com mais transparência.
Dados de produção recém-anunciados mudam a companhia de patamar e são inclusive superiores aos de Petro Recôncavo.
Desconto sobre as demais do setor vai perdendo sentido e, se continuar executando, 3R pode ser um dos raros casos de multiplicação do capital no ano com liquidez. É uma de nossas principais posições.
03. Valorização das ações de Mitre
Com pouca cobertura e comentários, os papéis de Mitre se valorizam 38% em 2023. Haviam sido destruídos ano passado, por preocupação setorial (legítima), vendas um pouco abaixo do esperado e saída do SMAL.
Mas aqui está um caso claro de juntar coisas diferentes no mesmo balaio. Empresa foi tratada como um caso de distressed asset e não é o caso. A Companhia sabe operar em São Paulo, tem um management competente e bons produtos.
Valuation veio a níveis exageradamente baixos, valendo em Bolsa menos do que seu banco de terrenos. Veio um short squeeze no setor e a companhia apresentou ótimos dados de venda relativos ao quarto trimestre.
Pode ser uma das grandes surpresas de dividendo no ano. Se lucrar R$ 115 M no ano (minha estimativa conservadora) e distribuir tudo (provável), é mais de 20% de dividendo.
04. A inconsistência contábil da Lojas Americanas
Se ainda restava dúvida da importância dos eventos microeconômicos, encerramos o assunto falando de Lojas Americanas. O maior caso de inconsistência contábil que se tem notícia no mercado de capitais brasileiro.
A companhia parece enveredar para o pedido de recuperação judicial, o que retiraria a empresa do Ibovespa e feriria de morte sua relação com bancos.
A ideia de que os ajustes são não-caixa não encontra respaldo na realidade. Pode até não haver de maneira direta e imediata, mas a reputação da companhia vai ao limbo.
Fornecedores já começam a interromper sua relação com a empresa, com medo de não receber. Vai faltar produto. Seca a venda e complica o capital de giro completamente.
Além disso, covenants vão pro espaço e bancos secam acesso a capital. Vira um ativo tóxico e, este sim, um caso de distressed. O aumento de capital ventilado, de R$ 6 bi, parece insuficiente para cobrir o rombo.
E se os operacionais já eram ruins com a agressividade contábil anterior, imagina se olhássemos os números certos…
Questão transborda a companhia, evidentemente. Pega os bancos credores, pode beneficiar concorrentes como Magalu e Mercado Livre e arrasta a credibilidade do 3G.
ALL teve problemas sérios com sua contabilidade, exigindo posterior republicação de balanço. Então, o método Bernardo Hees de contabilidade foi exportado para o mundo. Lá fora a Kraft Heinz tem problemas semelhantes. E agora a Americanas…
Estamos short em AmBev aqui – a companhia já enfrentava um ambiente desafiador e agora pode ter sua reputação e seus controladores dragados por esse problema.
Não estamos falando de Americanas ou AmBev apenas. É o simbolismo dos grandes representantes vivos do capitalismo brasileiro e de todo o legado Lemann – Fundação Lemann, Fundação Estudar, Eleva… não há como apresentar-se em favor da formação de líderes competentes e éticos no Brasil enquanto se mostra conivente com 10 anos de contabilidade criativa.
Pesadelo Grande.
Investir com emoção pode custar caro: o que os recordes do Ibovespa ensinam
Se você quer saber se o Ibovespa tem espaço para continuar subindo mesmo perto das máximas, eu não apenas acredito nisso como entendo que podemos estar diante de uma grande janela de valorização da bolsa brasileira — mas isso não livra o investidor de armadilhas
Seca dos IPOs ainda vai continuar, fim do shutdown e o que mais movimenta a bolsa hoje
Mesmo com Regime Fácil, empresas ainda podem demorar a listar ações na bolsa e devem optar por lançar dívidas corporativas; mercado deve reagir ao fim do maior shutdown da história dos EUA, à espera da divulgação de novos dados
Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?
Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano
FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR
BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil
É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar
Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro
Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje
Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos
Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi
Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado
A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial
Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje
A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira