Como Jorge Paulo Lemann fez fortuna e quase perdeu tudo “transando” no mercado financeiro
A carreira de Lemann não foi meteórica desde o início. Me lembro que ele costumava dizer: “Vamos transar?”, numa época em que o verbo tinha conotação diferente

No início de 1967, após ter trabalhado no mercado de câmbio e de títulos de renda fixa em Belo Horizonte, e estudado portfolio management na Graduated School of Business Administration da NYU (Universidade de Nova York), voltei a morar no Rio de Janeiro, minha terra natal.
Aqui, nessa oportunidade, ouvi falar pela primeira vez de Jorge Paulo Lemann, principal acionista da Americanas — ao lado de seus sócios e fiéis escudeiros Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Aos 27 anos de idade (eu tinha 26), Lemann aparecia nas páginas dos jornais cariocas sendo retratado em duas situações totalmente distintas uma da outra.
Nascido no Rio em 1939, Jorge Paulo era filho de um casal de suíços, o que lhe valeu dupla nacionalidade, Morava com os pais no Leblon. Cursara, em sistema bilíngue, o ensino básico na Escola Americana.
Mais tarde, se formou em Economia na Universidade de Harvard.
- Não perca dinheiro em 2023: o Seu Dinheiro conversou com os principais especialistas do mercado financeiro e reuniu neste material as melhores oportunidades de investimentos em ações, BDRs, fundos imobiliários e muito mais. ACESSE AQUI GRATUITAMENTE
Lemann: pai queijeiro, filho banqueiro
De volta ao Brasil, Lemann tornou-se campeão amador de tênis, esporte que começara a praticar aos sete anos de idade e que agora treinava todas as manhãs.
Leia Também
Fazia isso nas quadras de saibro do Rio de Janeiro Country Club, localizado na orla de Ipanema e até os dias de hoje o mais exclusivo da cidade.
Só o fato de ter estudado em Harvard e ser sócio do Country já revelava que Lemann nascera e crescera em berço de ouro.
Não foi bem assim.
Seu pai, Paul Lemann, fora queijeiro na cidade suíça de Langnau im Emmental.
Nos primeiros anos do século XX, numa ocasião em que os negócios não iam bem, talvez em função da Primeira Guerra Mundial, Paul decidiu emigrar para o Brasil, onde comprou uma fábrica de laticínios, cujo nome mudou para Leco, acrônimo de Lemann & Co.
Basta dar um pouco de tratos à bola para se deduzir que um jovem que estudara em Harvard e frequentava o Country era filho de pai rico. E, se era filho de pai rico, isso é sinal de que o laticínio Leco fora um empreendimento muito bem-sucedido.
VEJA TAMBÉM - Americanas não foi o único fracasso de Lemann: veja outros 3 grandes desastres na história do homem mais rico do Brasil
Transando com Lemann
A outra face de Jorge Paulo Lemann era a de profissional de mercado de capitais.
Foi quando o conheci, mais por conversas ao telefone.
Me lembro que ele costumava dizer: “Vamos transar?”, numa época em que o verbo tinha conotação diferente.
Transar era apenas fazer negócios.
Ao contrário do que as pessoas de hoje possam imaginar, a carreira de Lemann não foi meteórica desde o início.
A primeira empresa na qual trabalhou como trader, sendo também acionista minoritário, foi a corretora Invesco, que simplesmente foi à falência.
Seu segundo emprego foi na corretora Libra, da qual tinha uma participação um pouco maior.
Nessa ocasião, seu nome começava a se projetar como guru do mercado de ações negociadas na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, então a mais importante do país.
Não se sabe se Jorge Paulo comprava ações porque elas iriam subir ou se elas subiam porque ele as comprara, já que boa parte do mercado seguia seus passos.
“O Lemann está comprado em Kibon”, os operadores espalhavam aos cochichos. E todo mundo saía comprando.
Nasce o Garantia
Em 1964, os militares tomaram o poder, numa ação que alguns chamam de golpe e outros, de revolução.
O marechal Humberto de Alencar Castelo Branco tornou-se presidente, substituindo João (Jango) Goulart, que se refugiou no Uruguai.
Uma das primeiras medidas de Castelo foi convidar Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões para assumirem, respectivamente, as pastas do Planejamento e da Fazenda.
Entre outras coisas, a dupla Campos/Bulhões patrocinou a criação do Banco Central do Brasil (31.12.1964) e a promulgação da lei do mercado de capitais – naquela época, o poder executivo podia legislar por decreto-lei em matéria financeira – em 14 de julho do ano seguinte.
Até então, o país não tinha dívida interna e a externa era praticamente desprezível.
Foram então criados dois títulos públicos: as ORTNs – Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional – e LTNs – Letras do Tesouro Nacional.
O sucesso dos novos papéis foi estrondoso.
Pessoas jurídicas e físicas aplicavam nesses títulos no que passou a se chamar open market, não raro de um dia para o outro, operação conhecida como overnight ou simplesmente over.
O melhor negócio do mundo
Como a taxa que os bancos, corretoras e distribuidoras de valores pagavam aos clientes era um pouco menor do que a remuneração dos papéis do Tesouro, essas instituições embolsavam a diferença.
Melhor: podiam alavancar. Ou seja, possuir em carteira até 30 vezes a soma de seu capital + reservas.
Um pequeno spread de 0,2% podia se transportava em 6%.
Estava criado então o melhor negócio do mundo. Jorge Paulo, que acabara de completar 30 anos de idade, juntou-se a outros profissionais de mercado para fundar a corretora Garantia, mais tarde Banco Garantia.
Entre esses profissionais, Luiz Cezar Fernandes, o Cezinha, Marcel Telles e Carlos Alberto (Beto) Sicupira.
Naquela ocasião, imitando o que o FED (Federal Reserve Bank) fazia nos Estados Unidos, o Banco Central só fazia negócios através de seus dealers. Estes podiam ser bancos, sociedades corretoras e até mesmo distribuidoras de valores.
A Garantia conseguiu ser uma dessas instituições ungidas pelo BC.
De fato, para que o open market fosse um negócio lucrativo, era preciso que houvesse inflação. Caso contrário, as empresas e pessoas físicas não sentiriam necessidade de manter seu caixa aplicado todos os dias.
Mas também não podia ser hiperinflação, coisa que o Brasil iria experimentar na década seguinte, a de 1980, e na primeira metade da de 1990. Hipótese na qual os choques heterodoxos, os congelamentos de salários e preços, as tablitas deflatoras, os confiscos, enfim, o descontrole total da moeda invalidaria qualquer espécie de operação planejada e calculada.
Antes disso acontecer, Luiz Cezar Fernandes saiu da sociedade e fundou, juntamente com André Jacurski e Paulo Guedes (sim, o Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro), o banco Pactual, que também faria história no mercado brasileiro de capitais.
O fim da "primeira fase" de Lemann
Existem diversas versões para o fato, mas o certo é que, duas décadas após sua fundação, o banco Garantia tornou-se inadimplente.
Os sócios foram acusados de fraude cambial e outras operações ilegais.
O pior momento foi quando alguns fundos tiveram de chamar seus cotistas para pôr mais dinheiro, pois os valores das cotas se tornaram negativos. Jorge Paulo, Sicupira e Marcel Telles então venderam o Garantia para o Credit Suisse.
Então tudo indicava que a carreira de Lemann se encerrara nesse ponto.
O que era impossível de se prever naquela ocasião era que uma segunda fase iria se iniciar: a do grande tycoon internacional.
Isso é o que veremos no próximo mês, na segunda parte deste relato.
Um forte abraço,
Ivan Sant'Anna
Ações da Hertz dobram de valor em dois dias após bilionário Bill Ackman revelar que assumiu 20% de participação na locadora de carros
A gestora Pershing Square começou a montar posição na Hertz no fim de 2024, mas teve o aval da SEC para adiar o comunicado ao mercado enquanto quintuplicava a aposta
O destino mais desejado da Europa é a cidade mais cara do mundo em 2025; quanto custa a viagem?
Seleção do European Best Destinations consultou mais de 1,2 milhão de viajantes em 158 países para elencar os 20 melhores destinos europeus para o ano
Por que o Mercado Livre (MELI34) vai investir R$ 34 bilhões no Brasil em 2025? Aporte só não é maior que o de Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3)
Com o valor anunciado pela varejista online, seria possível comprar quatro vezes Magalu, Americanas e Casas Bahia juntos; conversamos com o vice-presidente e líder do Meli no Brasil para entender o que a empresa quer fazer com essa bolada
Brasil fica fora de lista com as cidades mais ricas de 2025; Nova York lidera, confira
Nova York lidera ranking de metrópoles com mais habitantes milionários publicado pela Henley & Partners e pela New World Wealth; nenhuma cidade da América Latina ou da África aparece no top 50
Smartphones e chips na berlinda de Trump: o que esperar dos mercados para hoje
Com indefinição sobre tarifas para smartphones, chips e eletrônicos, bolsas esboçam reação positiva nesta segunda-feira; veja outros destaques
Barsi sem aversão a risco, CDBs do Banco Master e a ressaca do “sonho grande de Lemann”: o que bombou no Seu Dinheiro esta semana
De Barsi a Lemann, confira as reportagens que mais bombaram no SD esta semana
Dia de ressaca na bolsa: Depois do rali com o recuo de Trump, Wall Street e Ibovespa se preparam para a inflação nos EUA
Passo atrás de Trump na guerra comercial animou os mercados na quarta-feira, mas investidores já começam a colocar os pés no chão
Ambev (ABEV3) vai do sonho grande de Lemann à “grande ressaca”: por que o mercado largou as ações da cervejaria — e o que esperar
Com queda de 30% nas ações nos últimos dez anos, cervejaria domina mercado totalmente maduro e não vê perspectiva de crescimento clara, diante de um momento de mudança nos hábitos de consumo
Ivan Sant’Anna: Trumponomics e o impacto de um erro colossal
Tal como sempre acontece, o mercado percebeu imediatamente o tamanho da sandice e reagiu na mesma proporção
Taxa sobre taxa: Resposta da China a Trump aprofunda queda das bolsas internacionais em dia de ata do Fed
Xi Jinping reage às sobretaxas norte-americanas enquanto fica cada vez mais claro que o alvo principal de Donald Trump é a China
Prazo de validade: Ibovespa tenta acompanhar correção das bolsas internacionais, mas ainda há um Trump no meio do caminho
Bolsas recuperam-se parcialmente das perdas dos últimos dias, mas ameaça de Trump à China coloca em risco a continuidade desse movimento
Sem medo do efeito Trump: Warren Buffett é o único entre os 10 maiores bilionários do mundo a ganhar dinheiro em 2025
O bilionário engordou seu patrimônio em US$ 12,7 bilhões neste ano, na contramão do desempenho das fortunas dos homens mais ricos do planeta
Sem aversão ao risco? Luiz Barsi aumenta aposta em ação de companhia em recuperação judicial — e papéis sobem forte na B3
Desde o início do ano, essa empresa praticamente dobrou de valor na bolsa, com uma valorização acumulada de 97% no período. Veja qual é o papel
Bilionário Bill Ackman diz que Trump está perdendo a confiança dos empresários após tarifas: “Não foi para isso que votamos”
O investidor americano acredita que os Estados Unidos estão caminhando para um “inverno nuclear econômico” como resultado da implementação da política tarifária do republicano, que ele vê como um erro
Mark Zuckerberg e Elon Musk no vermelho: Os bilionários que mais perdem com as novas tarifas de Trump
Só no último pregão, os 10 homens mais ricos do mundo perderam, juntos, em torno de US$ 74,1 bilhões em patrimônio, de acordo com a Bloomberg
Trump Day: Mesmo com Brasil ‘poupado’ na guerra comercial, Ibovespa fica a reboque em sangria das bolsas internacionais
Mercados internacionais reagem em forte queda ao tarifaço amplo, geral e irrestrito imposto por Trump aos parceiros comerciais dos EUA
As 10 celebridades bilionárias mais ricas de 2025, segundo a Forbes
Em 2025, publicação listou 18 famosos que concentram um total de US$ 39 bilhões; aqui, detalhamos os 10 mais ricos
Trump-palooza: Alta tensão com tarifaço dos EUA força cautela nas bolsas internacionais e afeta Ibovespa
Donald Trump vai detalhar no fim da tarde de hoje o que chama de tarifas “recíprocas” contra países que “maltratam” os EUA
Os bilionários de 2025 no Brasil e no mundo — confira quem subiu e quem caiu na lista da Forbes
Lista de bilionários bate recorde, reunindo 3.000 nomes que, juntos, somam US$ 16,1 trilhões, com Musk, Zuckerberg e Bezos liderando o ranking
Ex-CEO da Americanas (AMER3) na mira do MPF: Procuradoria denuncia 13 antigos executivos da varejista após fraude multibilionária
Miguel Gutierrez é descrito como o principal responsável pelo rombo na varejista, denunciado por crimes como insider trading, manipulação e organização criminosa