O dilema de Milei: Argentina pode fazer ‘limonada’ com propostas de privatização da YPF, a ‘Petrobras’ do país, mas alianças no Congresso são problema
As propostas de privatização de empresas estatais, como a YPF, são notáveis, e sua relação com outros países, especialmente o Brasil, será crucial

Um dos pontos de destaque do final de semana foi a conclusão das eleições na Argentina. O candidato peronista, Sérgio Massa, não esperou sequer a conclusão oficial da apuração para reconhecer a vitória de Javier Milei, que obteve expressivos 55% dos votos no pleito de domingo.
Massa, apesar dos esforços, não conseguiu se desvincular de Alberto Fernandez e Cristina Kirchner, alcançando apenas 44%.
Tornava-se cada vez mais improvável a eleição do ministro da Economia em um país com inflação na casa dos 140% e com dois em cada cinco cidadãos vivendo abaixo da linha da pobreza, evidenciando as dificuldades do populismo de esquerda latino-americano para gerar novas lideranças. Por exemplo, após Lula, quem se destaca como representante da esquerda populista brasileira? A incerteza prevalece.
A postura pública combativa de Milei e suas propostas radicais para enfrentar os perenes desafios econômicos da Argentina, incluindo a dolarização, o encerramento do banco central e a redução dos gastos governamentais em 15% do PIB, atraíram eleitores insatisfeitos com a política convencional. Contudo, é crucial notar que ele não contará com a maioria no Congresso para aprovar suas propostas mais ousadas.
Argentina: o que esperar agora
Costuma-se brincar que os bancos centrais estão divididos em quatro categorias: os ruins, como a Reserva Federal, os muito ruins, como os da América Latina, os terrivelmente ruins e o Banco Central da Argentina. Neste caso, pode parecer sensato abrir mão da autoridade monetária, mas não é tão simples assim.
Afinal, dolarizar a economia não é uma solução milagrosa. Embora seja verdade que países como Zimbábue e Equador tenham usado essa tática para remover a capacidade do governo de imprimir dinheiro, a Argentina não é o Zimbábue.
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Entregar unilateralmente ao Federal Reserve dos EUA o controle da política monetária em uma economia de 622 bilhões de dólares é absolutamente sem precedentes.
Sim, a Argentina já tentou dolarizar a economia em outro momento. Não deu certo.
Na ponta do lápis, dolarização pode gerar hiperinflação
A dolarização de uma economia de tal magnitude, anunciada com antecedência, pode, na verdade, provocar um aumento na inflação.
Para concretizar a dolarização total, Milei precisaria adquirir dólares em quantidade suficiente para converter todos os pesos em circulação, além de converter todos os contratos e ativos para a moeda norte-americana. Lembre-se que os argentinos já enfrentam desafios na compra de dólares devido à fragilidade do peso e a ausência de reservas estrangeiras.
Com o peso prestes a enfraquecer ainda mais, é provável que Milei tenha que imprimir mais pesos apenas para iniciar o processo de dolarização. Contudo, esse movimento pode desencadear outra rodada de hiperinflação, o que pode corroer rapidamente sua popularidade política.
Xadrez complexo da política na Argentina
No entanto, é importante notar que o partido do presidente eleito não terá maioria no Congresso e nem apoio nos governos provinciais, sendo necessário buscar alianças para avançar com seus planos.
Sim, inicialmente, as declarações de Milei eram bastante controversas. No entanto, ao longo do tempo, houve uma atenuação, especialmente no segundo turno, com concessões feitas para obter o apoio de Patricia Bullrich.
O segundo turno teve um caráter pedagógico para Milei, resultando em uma humildade intelectual mais evidente. Com isso, as chances de Milei parecem estar diretamente ligadas à possibilidade de moderação de seu discurso, algo que é considerado viável, assim como sua agenda.
Algumas propostas, no entanto, são dignas de nota
A confirmação dos planos de privatização da estatal de petróleo e gás YPF destaca-se, cumprindo a promessa de campanha de reduzir significativamente o tamanho do Estado. O primeiro passo será garantir a recuperação dos resultados da empresa para garantir uma venda mais valorizada.
Milei também planeja transferir para o setor privado o controle de empresas de comunicação, incluindo a Rádio Nacional e a agência de notícias Telám. Isso pode fornecer lições valiosas para o Brasil em 2026.
Outro aspecto crucial será a relação de Milei com o resto do mundo. Lula foi um dos primeiros a reconhecer a vitória de Javier Milei, postando no Twitter uma nota com votos de êxito e boa sorte ao novo governo, mesmo sem mencionar o nome do presidente eleito. Essa relação promete ser bastante turbulenta.
Celso Amorim, assessor de assuntos internacionais do presidente Lula, advoga pela adoção de uma "relação de Estado" com a Argentina. A habilidade de colocar os interesses do Estado acima das preferências pessoais é essencial para construir uma relação produtiva, mesmo entre presidentes de ideologias divergentes. Será uma verdadeira lição de Realpolitik.
Mercosul e UE querem fechar acordo antes da troca de poder na Argentina
Ao mesmo tempo, a União Europeia busca finalizar o acordo com o Mercosul até 7 de dezembro, dias antes da posse de Milei em 10 de dezembro. As negociações foram descritas como extremamente construtivas, e a UE planeja encerrar o processo até o final de 2023.
O presidente Lula, pessoalmente envolvido, conversou com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, buscando discutir o acordo após a eleição de Milei, que já expressou oposição à manutenção do bloco comercial, colocando em risco as negociações.
No cenário de estruturação do governo, Federico Sturzenegger, ex-presidente do Banco Central durante o governo de Mauricio Macri, surge como principal candidato ao Ministério da Economia. Sturzenegger é conhecido por eliminar restrições cambiais e implementar o regime de metas de inflação com câmbio flutuante.
Outro nome cotado é Luis Caputo, ex-chefe da mesa de trading para América Latina do JPMorgan e ex-presidente do Deutsche Bank na Argentina, apresentando uma trajetória interessante para o cargo. Luciano Laspina, deputado federal e economista-chefe do Banco Ciudad de Buenos Aires, é mencionado como uma possível conexão com a aliança de Bullrich.
Contudo, apesar das expectativas para esse novo governo, ressalto que a falta de maioria no Congresso pode limitar a aprovação de propostas mais ousadas (algumas necessárias), antecipando desafios significativos para a governabilidade de Milei.
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