O Ibovespa é o principal índice acionário do país, mas ele não é o único: há um sem-número de carteiras teóricas de ações cujo objetivo é refletir o desempenho da bolsa brasileira como um todo. Nesse sentido, a própria B3 organiza alguns portfólios temáticos — uma espécie de termômetro dos mais diversos setores da economia no mercado.
Há recortes dos mais variados: apenas small caps, as empresas de valor de mercado mais baixo; as mid/large caps, companhias de maior capitalização; índices que englobam apenas corporações ligadas ao setor de consumo, ou ao de finanças, ou ao de energia elétrica — você entendeu a ideia.
Nesse sentido, um exercício possível de se fazer é: quais dos índices setoriais da B3 superam o Ibovespa no ano? Ou, em outras palavras: quais setores da economia estão tendo um desempenho acima da média no mercado de ações?
Lembre-se que, no acumulado de 2023 até aqui, o Ibovespa amarga perdas de mais de 8%, fechando a quinta-feira (6) aos 100.821 pontos. E, com esse dado em mente, chegamos à resposta de que a maior parte desses índices temáticos supera o benchmark; no entanto, apenas um deles — o imobiliário (IMOB) — apresenta desempenho positivo no ano.

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Ibovespa e índices setoriais: o que explica?
Antes de tudo, vale lembrar que a composição do Ibovespa em si é muito concentrada em dois tipos de empresas: as da cadeia de commodities, como Petrobras (PETR4), Vale (VALE3) e siderúrgicas, e os grandes bancos — caso de Itaú (ITUB4), Bradesco (BBDC4), Santander (SANB11) e Banco do Brasil (BBAS3).
E esses dois setores não tiveram um bom início de ano, como o gráfico acima deixa bastante claro: tanto o índice financeiro (IFNC) quanto o de materiais básicos (IMAT) estão no vermelho, com perdas de 5,18% e 12,18% em 2023 — o que, consequentemente, puxa o Ibovespa para baixo. Mas o que explica esse comportamento?
No caso do setor financeiro, o evento Americanas (AMER3) foi decisivo: a exposição dos grandes bancos à dívida bilionária da varejista exigiu provisionamentos vultuosos nos balanços e trouxe cautela aos investidores; Bradesco e Santander foram os mais penalizados, enquanto Itaú e BB conseguiram atravessar a crise sem maiores problemas.
Já o segmento de commodities sofre com a economia global ainda fraca, o que afeta a demanda por combustíveis e outros produtos básicos — e a reabertura econômica da China, ao mesmo por ora, não implicou num aumento do consumo. O petróleo até se valorizou nos últimos dias, mas ainda segue sem animar as empresas do setor.
Ainda no IMAT, vale lembrar que a Petrobras enfrenta grande volatilidade desde o começo do ano, em meio às dúvidas do mercado quanto ao futuro da política de preços da estatal, da estratégia de venda de ativos e do pagamento de dividendos; até agora, há um ruído bastante intenso envolvendo esses temas, o que afasta investidores.
Índice Imobiliário (IMOB) no azul
Mas e o índice imobiliário (IMOB)? Por que ele é o único com desempenho positivo no ano, considerando que os juros a 13,75% ao ano, a priori, são bastante ruins para o setor?
Não há uma explicação muito nítida, mas alguns pontos ajudam a entender esse comportamento. Em primeiro lugar, há o fato de que esse índice vinha com níveis de preço bastante descontados no passado recente, começando 2023 num patamar relativamente baixo.
Também é importante salientar que essa carteira inclui, além de construtoras e incorporadoras, as administradoras de shopping centers e de galpões logísticos, como Iguatemi (IGTI11) e Multiplan (MULT3) — companhias que, apesar do ambiente retraído de consumo, têm mostrado desempenhos operacionais bastante sólidos.
Mas, acima de tudo, há as inúmeras iniciativas e sinalizações por parte do governo federal para reativação e aceleração dos programas sociais de habitação, como o Minha Casa, Minha Vida — rebatizado de Casa Verde e Amarela durante o governo Bolsonaro.
Concessão de crédito mais barato para as empresas focadas no setor de baixa renda e para os consumidores desses imóveis, estímulos para a construção de moradias populares e outras medidas do tipo têm dado força a ações como MRV (MRVE3), Direcional (DIRR3) e Tenda (TEND3), embora o ambiente macroeconômico continue duro.
Ibovespa x outros: os destaques
- O índice de small caps (SMLL), cujas integrantes têm menor porte e costumam estar mais expostas ao ciclo econômico doméstico, cai bem mais que as mid/large caps (MLCX), mais ligado à economia global;
- O índice de consumo (ICON) tem o pior desempenho de todos os índices setoriais da B3. A crise na Americanas, as dificuldades financeiras enfrentadas por diversas varejistas — como Marisa (AMAR3), Tok&Stok e outras — e as vendas ainda fracas, em meio à inflação e juros altos, afetam diretamente o setor.
- No fim de janeiro, tanto o Ibovespa quanto todos os índices setoriais da B3 apareciam no campo positivo; as turbulências corporativas e políticas, no entanto, pesaram sobre o desempenho da bolsa como um todo de lá para cá.

Você pode ver a composição de cada um dos índices no site da B3.