Tesouro IPCA+ foi o melhor investimento de março, mas alta vem acompanhada de queda na remuneração; ainda vale a pena investir?
Com valorização das NTN-Bs, rendimento para quem comprar agora está mais baixo, mas ainda tem taxa pra caramba
Os títulos públicos atrelados à inflação, chamados de Tesouro IPCA+ ou NTN-B, vinham de uma fase ruim com a alta dos juros e o descontrole inflacionário, dois fatores que costumam afetar negativamente os preços desses papéis. No entanto, em março eles viram uma redenção, apresentando forte valorização e sagrando-se entre os melhores investimentos do mês.
No pódio do ranking montado mensalmente pelo Seu Dinheiro, duas NTN-Bs de prazos longos ocupam posições: o Tesouro IPCA+ 2045 foi o campeão de rentabilidade no mês, com alta de 6,78%; já o Tesouro IPCA+ 2035 viu uma valorização de 4,58% em março, ficando atrás apenas do Ibovespa, que subiu 6,06% no período.
A alta dos preços de mercado desses títulos públicos se deve ao fato de que os juros futuros mais longos caíram na reta final do mês, com o alívio nas pressões inflacionárias devido à queda dos preços do petróleo.
A sinalização, por parte do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que a taxa Selic só deve passar por mais uma alta neste ano, parando de subir quando atingir 12,75%, também contribuiu para a descompressão nos juros.
E quando as taxas futuras caem, títulos públicos que têm uma parte ou a totalidade da sua remuneração prefixada - como é o caso do Tesouro IPCA+ - se valorizam. Ao mesmo tempo, porém, as suas remunerações, para novas aplicações, caem.
Quem comprou NTN-Bs longas no início de março, contratando remunerações maiores, percebeu a valorização dos títulos na sua carteira de investimentos; se os vender antecipadamente, poderá realizar o lucro, mas se decidir levá-los ao vencimento, receberá a gorda taxa contratada no ato do investimento.
No caso dos títulos Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2035 e 2045, a remuneração chegou a 5,90% ao ano mais a variação do IPCA nos momentos mais tensos do último mês (e de 2022!), quando seus preços estavam mais depreciados.
Alguém que tivesse comprado um desses papéis no seu preço mínimo e o vendesse agora embolsaria um ganho de 7% no caso do Tesouro IPCA+ 2035 ou de 11%, no caso do 2045. Isso num espaço de mais ou menos 15 dias!
Mas se decidisse ficar com eles até o vencimento, ganharia quase 6% acima da inflação - que continua elevada, é bom lembrar - por mais 13 ou 23 anos, dependendo do vencimento escolhido; uma rentabilidade alta para os tempos atuais, para todos os efeitos, e tudo isso com garantia do governo federal.
Como eu falei, porém, quando esses títulos se valorizam, a sua rentabilidade, para novos investimentos, cai. Assim, quem resolver adquiri-los hoje não vai mais conseguir aquela remuneração de 5,90% mais IPCA de meados de março, nem a ainda ótima remuneração na faixa de 5,70% do início do mês. Sendo assim, ainda vale a pena investir?
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Ainda tem taxa pra caramba no Tesouro IPCA+
Bem, mesmo com a queda das taxas pagas pelas NTN-Bs e a alta dos preços, uma rápida olhada no site do Tesouro Direto mostra que as remunerações desses títulos ainda estão bem elevadas.
O Tesouro IPCA+ mais curto, com vencimento em 2026, está pagando 5,11% ao ano acima da inflação, enquanto o mais longo, que vence em 2055 e paga rendimentos semestrais, está pagando 5,59% ao ano mais IPCA. Nada mau, não?
Se de fato o ciclo de alta da Selic estiver chegando ao fim, os preços do petróleo não voltarem a disparar, e a inflação, por consequência, ficar mais comportada, ainda que elevada - que é o que se espera agora - os juros futuros têm espaço para cair mais.
E se isso acontecer, significa duas coisas: primeiro que as NTN-Bs podem continuar se valorizando, o que será positivo para quem as tiver adquirido neste momento de juros altos; segundo que, quem deixar para comprar esses títulos mais para frente, vai encontrar taxas menores do que as pagas hoje.
É claro que, nesse tipo de investimento, existe o risco de mercado. Se as previsões de inflação dispararem e a Selic precisar subir mais por qualquer motivo, ou se o risco fiscal aumentar, por exemplo, por causa da corrida eleitoral, as taxas de juros futuras podem voltar a subir, desvalorizando de novo esses títulos.
Mas para quem está de olho em travar uma rentabilidade gorda para o longo prazo - investir o dinheiro e deixá-lo rendendo por muito tempo - não tem nem muito o que pensar. As rentabilidades atuais ainda são atrativas, e o fato de ser corrigida pela inflação garante o poder de compra do investidor, não importa o que aconteça com os preços.
Além disso, quem leva o título ao vencimento obtém exatamente a remuneração contratada no ato da compra; apenas quem o vende antecipadamente corre o risco de ter perdas devido a uma eventual queda de preços.
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