Os grandes bancos estão de volta: ações disparam com alta da Selic e dividendos gordos. O que esperar daqui para frente?
Há também a questão de melhora relativa dos bancões em relação às fintechs, que têm mais problemas na captação de recursos

Nesta temporada de resultados, todo mundo está morrendo de medo do que as companhias mais expostas ao varejo e à indústria vão conseguir apresentar.
Em um ambiente cheio de problemas nas cadeias de suprimento, com forte aumento de custos de matérias-primas e um poder de compra cada vez mais corroído pela inflação, tem muita gente se questionando sobre a capacidade de as companhias manterem margens saudáveis.
Um exemplo prático
A Alpargatas (ALPA4), dona da marca Havaianas, apresentou resultados muito afetados por essa dinâmica.
Mesmo produzindo o chinelo mais vendido e amado no Brasil, os resultados operacionais foram bastante afetados no trimestre.
O motivo? O preço da principal matéria-prima subiu 42%, e, nem sendo dona de uma das marcas mais fortes do país, a companhia conseguiu repassar preços o suficiente para manter as margens operacionais robustas.
Não à toa, as ações caem mais de 20% no ano, também atrapalhadas pela aquisição da Rothy's que trouxe algumas dúvidas sobre a estratégia da companhia.
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As exceções
Mas nem todas as empresas apanharam. Neste início de temporada de resultados, Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) foram grandes exceções.
Para começar, a enorme elevação da Selic ajuda os bancos, que conseguem emprestar dinheiro com juros mais elevados.
Além disso, se a dinâmica de inflação atrapalha os custos no varejo e nas indústrias, esses bancões ainda têm muito mato para cortar e mitigar o efeito do aumento de gastos.
Centenas de agências estão sendo fechadas e a migração para um modelo digital têm contribuído para melhorar a produtividade e a eficiência.
Mas não se trata apenas da melhora do resultado desses bancos de forma isolada. É também uma questão de melhora relativa na comparação com as fintechs.
Esse ambiente de juros elevados atrapalha mais as fintechs de duas formas. Primeiro, impacta a captação de recursos para elas continuarem crescendo, já que IPOs e follow-ons tendem a diminuir em um cenário de Selic elevada – os bancões, já bem capitalizados, não sofrem desse mal.
Além disso, os mesmos juros elevados tendem a impactar mais negativamente o valuation dessas empresas novatas.
Nas aulas sobre Fluxo de Caixa Descontado no nosso MBA você vai aprender exatamente o motivo de o preço justo das fintechs sofrer mais com o aumento dos juros.
Mas apenas para exemplificar, com o CDI em 2% ao ano, R$ 10 mil investidos durante dez anos em Tesouro Selic se transformariam em R$ 12,2 mil. Como o retorno é muito baixo, vale a pena apostar em uma fintech e ver no que dá.
Mas com a Selic rondando os 11% como nos dias atuais, a coisa muda bastante de figura. Os mesmos R$ 10 mil virariam R$ 28,4 mil. Neste caso, não faz mais tanto sentido apostar em algo com retorno tão distante e incerto como uma fintech se você pode colocar a grana em um investimento com ótimo rendimento e retorno garantido como o Tesouro Selic. Isso tende a pressionar o valuation dessas companhias.
Os bancões, por outro lado, como já possuem altos retornos e pagam elevados dividendos recorrentes, são pouco impactados.
O fim dos bancos?
Mas mesmo com bons números no quarto trimestre de 2021, muita gente ainda morre de medo do que vai acontecer com o setor daqui a quatro ou cinco anos.
Será que o ambiente vai voltar a ficar propício para as fintechs dominarem o sistema financeiro?
Será que vão acabar de vez as vantagens competitivas dos grandes bancos do país?
Essas são perguntas que nem eu, nem você, nem ninguém consegue responder ainda.
Vai depender do poder de adaptação desses incumbentes à modernização, das taxas de juros, da retomada do apetite de investidores por teses mais arriscadas, e por aí vai.
O que sabemos é que os bancões vêm adotando com sucesso o modelo digital, com grande aumento de participação nas interações e transações online e via app, e mesmo diante do aumento da competição das fintechs conseguiram manter um índice de rentabilidade (retorno sobre o patrimônio líquido, ou ROE) em níveis muito satisfatórios nos últimos anos.
O Itaú acabou de apresentar um ROE de 20% e negocia por 9 vezes lucros, com 5% de dividend yield, níveis de preços que na minha visão mais do que compensam os riscos pela frente. Por isso, o Itaú faz parte da série Vacas Leiteiras.
Caso emblemático entre os bancos
O caso do Banco do Brasil é ainda mais emblemático: ele negocia por apenas 4,5 vezes lucros e 9% de dividend yield.
O banco estatal está presente na Carteira Empiricus em uma operação de Long & Short. Na ponta comprada está o BB e na ponta vendida está justamente uma fintech. Nessa operação você ganha dinheiro se Banco do Brasil subir mais que a fintech, ou se a fintech cair mais do que o BB.
Agora, se o Banco do Brasil subir e a fintech cair, o ganho será ainda maior.
Se quiser conferir essa e muitas outras operações da série, fica aqui o convite.
É claro que você não deve rechear a sua carteira com ações de bancos tradicionais. Mas nos preços atuais, faz sentido ter pelo menos alguma exposição a esse setor.
Um grande abraço e até a semana que vem!
Ruy
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