Em modo “aversão ao risco”, os mercados globais seguem em trajetória baixista neste início de ano. Os principais índices dos EUA — Nasdaq, S&P 500 e Dow Jones — caem 13,5%, 8,6% e 5,6%, respectivamente.
Quando analisamos esses índices mais de perto, já é possível ver empresas que caem 70% ou mais desde as máximas.
Estima-se que, no pior momento da última segunda-feira, cerca de US$ 3 trilhões evaporaram do mercado acionário americano.
Uma verdadeira destruição de valor que certamente deixará marcas nos investidores.
Essa rápida reprecificação não foi a primeira nem será a última e expõe os excessos que o mercado vez ou outra comete.
Com o passar do tempo, o pêndulo do mercado, conceito que Howard Marks expõe em seu livro “The Most Important Thing”, se alterna.
Ganância e prudência
Em dados momentos, quando o cenário é positivo, a ganância (ou euforia) estimula os investidores a se apressarem a comprar mais, esquecendo-se da prudência.
No Brasil, o caso do fundo que estava alavancado em Banco Inter e perdeu mais de R$ 8 bilhões de patrimônio em seis meses é emblemático.
Nos EUA, Warren Buffett narra a história de outro sócio da Berkshire Hathaway que acabou não tendo o mesmo futuro promissor que o seu e o de Charlie Munger.
Rick Guerin, embora inteligente e com track record avassalador, acabou sendo levado pela ganância ao se alavancar demais.
Sem conseguir prever o cisne negro da recessão de 1973-74, Rick, que havia colocado as próprias ações como garantia, teve que liquidar suas posições e amargou perdas irreversíveis que o tiraram de forma definitiva da sociedade.
Rapidamente, contudo, esse otimismo exagerado pode dar lugar a medo ou pânico, que também podem ser extremamente maléficos para o investidor.
No auge da bolha pontocom, a Amazon chegou a cair mais de 80%. O investidor que se desfez do papel naquele momento certamente se arrependeu do movimento alguns anos depois.
Lições pré-decisão
Mas, afinal, quais são as lições que um investidor deve ter em mente antes de tomar qualquer decisão no calor da emoção? Pego-as emprestadas do livro “A Psicologia Financeira”, de Morgan Housel.
Mais do que focar em grandes retornos, o investidor deve mirar em um portfólio à prova de falências. Em sendo o caso, uma correta alocação de recursos combinada com uma janela temporal longa o bastante fará maravilhas.
Para citar novamente Buffett, estima-se que 99,6% do seu patrimônio tenha sido construído após completar mais de cinco décadas de vida e mais de 96% foram conquistados após os 60, quando ele se tornou elegível para a aposentadoria.
Por outro ponto de vista, a probabilidade de ganhar dinheiro com a Bolsa americana, em um dia, é de 50%. Em um intervalo de um ano, essa proporção sobe para 68% e para 88% em intervalos de dez anos. Portanto, para chegar lá, é preciso ser paciente e evitar a ruína.
Margem de segurança
De acordo com Housel, fazer planos é importante, mas a parte mais importante de um plano é ter um plano para quando o plano não estiver saindo de acordo com o plano.
Resumindo esse trava-língua: ter margem de segurança é fundamental.
Boas empresas, com balanço sólido, governança de primeira e com diversas avenidas de crescimento aumentam a robustez do nosso portfólio.
O investimento em eventos binários não está descartado, mas deve ser acompanhado de um sizing adequado.
Otimismo e ceticismo
Por fim, o investidor de ações deve ser um otimista quanto ao futuro, mas cético em relação ao que pode impedir esse futuro de chegar.
O “buy and hold” (comprar e manter) não deve ser entendido como “buy and forget” (comprar e esquecer). Avaliar os ativos em carteira e as oportunidades abertas pelo mercado deve ser uma atividade rotineira.
Em épocas de Selic se aproximando dos 12% ao ano, o custo de oportunidade se torna grande e eventuais “cortes na carne” para se posicionar em ativos com maior potencial de valorização podem se fazer necessários.
Ao final do dia de hoje, saberemos o que foi discutido na reunião do Fed, que certamente será o grande gatilho para o posicionamento dos investidores nas próximas semanas.
De antemão, não saberia dizer qual será o tom adotado por Jerome Powell, mas sugiro que você reflita sobre os três pontos levantados acima. Eles certamente te auxiliarão nesta jornada.
E se quiser saber quais ativos compõem a minha carteira recomendada e que estão em linha com essa filosofia de investimentos, fica aqui o convite para você conhecer a série As Melhores Ações da Bolsa.
Forte abraço,
Fernando Ferrer