E o Oscar de melhor fundo no curto prazo vai para…
Nas crises, o investidor inteligente é aquele que sobrevive. Para isso, deve-se preferir a consistência de bons retornos à raridade de desempenhos excepcionais

Desde 2008, tenho o hábito de avaliar todo filme a que assisto.
De imediato, para capturar a opinião nua e crua, sem dar tempo de qualquer discussão técnica sobre os efeitos especiais dos blockbusters ou filosófica sobre as reflexões dos mais cults.
É claro que não há uma fórmula mágica para garantir que um filme receba nota alta – e seria loucura esperar isso de uma expressão artística, que toca cada um de forma diferente.
Mas, após mais de 1.000 filmes nesses 14 anos, consigo identificar certos padrões.
Os novos padrões
Personagens narradores, linhas do tempo não-lineares, trilhas sonoras marcantes, dilemas existenciais e anti-heróis de moral questionável estão presentes em várias “notas 10” dessa classificação pessoal e totalmente subjetiva.
Nas últimas semanas, surgiu um novo padrão: notas elevadas para curtas-metragens.
Leia Também
Incentivados pelo clichê legítimo (como a maioria dos clichês) dos pais de primeira viagem que nunca mais param para relaxar, os curtas conquistaram seu espaço lá em casa – ainda no período pré-Disney.
Como a maioria dos filmes premiados e que chegam ao streaming tem menos de 15 minutos de duração, a lista de curtas assistidos cresce mais rapidamente do que a média.
Acontece que ser curto tem feito a diferença. Enquanto minha avaliação média para todos os filmes desde 2008 foi de 7,5 – e o viés de disponibilidade e a curadoria prévia explicam –, a nota média dos curtas já está acima de 8.
Menos tempo para errar
O outro extremo é ainda mais relevante… 25% de todos os filmes dos últimos 14 anos receberam alguma nota abaixo de 6 e apenas 9% nos curtas.
O que é comum a esses filmes que tem me inclinado a não os considerar como ruins?
Não há qualquer predileção pessoal por curtas-metragens, mas sim um benefício negligenciado do qual a categoria usufrui: menos tempo para errar.
Um filme de 10 minutos é, sob várias óticas, mais simples do que um de 120 minutos. Criar uma narrativa curta e objetiva força o produtor a seguir o princípio da navalha de Occam, sobrando apenas o simples e essencial.
Não é à toa que alguns dos grandes diretores, como Steven Spielberg, George Lucas, Martin Scorsese e Christopher Nolan, iniciaram suas carreiras de sucesso em curtas-metragens.
Análise dos gestores de fundos
Há alguns anos, também passei a avaliar diariamente gestores de fundos.
Entre a subjetividade da sétima arte e a dinâmica das seis a oito reuniões semanais que temos com gestores desde 2019, onde procuramos indícios que aumentem ou diminuam a probabilidade de um fundo gerar retornos descorrelacionados no futuro, não há mesmo tanta coisa em comum.
Perigos na priorização de fundos
Mas o perigo de valorizar exageradamente fundos mais curtos com alto desempenho está presente o tempo inteiro.
Para o Verde ser nossa maior posição em multimercados, por exemplo, não bastam dois ou três anos de bom desempenho, mas 25 anos de histórico vencedor do Stuhlberger.
O outro lado dessa moeda é que dois ou três anos de desempenho abaixo da média também não desqualificam uma indicação, se nada foi alterado.
Nossa tendência de priorizar bons retornos de longo prazo a excepcionais retornos de curto prazo tem sido alvo de estudos acadêmicos e práticos.
As cartas das gestoras
Neste mês de julho, duas gestoras sistemáticas que acompanhamos escreveram cartas com temática parecida.
Fundos da Avantgarde
A Avantgarde, que completa três anos daqui a 15 dias e já entrega retorno de mais de 50% acima do IBX em seu fundo long biased, montou uma simulação para mostrar que, nos últimos 20 anos, quanto mais tempo um investidor da sua estratégia multifatorial tivesse ficado investido, maior teria sido sua probabilidade de retornos positivos:
“A diligência é a mãe da boa sorte”, já dizia um antigo provérbio inglês.
No curtíssimo prazo, a aleatoriedade domina qualquer análise. E é apenas a partir de cerca de três anos de cota pública que conseguimos começar a concluir algo a respeito da dinâmica entre sorte e verdadeira habilidade dos gestores.
Fundos da Kadima
Já a Kadima, gestora que recomendamos e alocamos nas carteiras da série Os Melhores Fundos de Investimento, utilizou seu relatório trimestral para trazer uma reflexão cotidiana: como escolher entre dois vendedores que anunciam o mesmo produto, quando o primeiro tem 90% de aprovação de apenas 10 usuários e o segundo 85% de aprovação de 500 usuários?
Quem você escolhe?
Podemos ir além: entre dois cirurgiões para realizar um procedimento delicado, você escolheria aquele que faz isso há apenas dois anos com 95% de sucesso ou outro, com experiência de 15 anos, mas 90% de sucesso?
São todas roupagens diferentes do mesmo dilema comparativo entre o “excelente” de uma amostra pequena e o “muito bom” de uma amostra bem maior.
Qual, afinal, é o tempo necessário para batermos o martelo sobre a habilidade (ou falta dela) de um gestor em superar o mercado?
Idade, desempenho e retorno dos fundos
A carta da gestora propõe adaptar uma regra simples criada por LaPlace, matemático francês do século 18, que ajudaria o investidor a analisar melhor a relação entre a idade de um fundo e seu desempenho acima do benchmark.
Quanto maior a idade, maior a convicção de que o resultado desde o início representa mais habilidade do que aleatoriedade, seja ele bom ou ruim.
Como regra de bolso, valorizo mais aqueles que batem seu benchmark em mais de 80% do tempo, lembrando que também importa a magnitude dos ganhos e das perdas.
Por último, este paper de 2008 do pesquisador e atual chefe global de investimentos do fundo soberano de Abu Dhabi, Marcos López de Prado, propõe alterar o caráter exato do Índice de Sharpe – principal medida de eficiência utilizada pela indústria de fundos – para considerá-lo como algo probabilístico, além de incorporar em seu cálculo riscos de cauda.
Assim, seria possível utilizar ferramentas estatísticas para sugerir quais gestores, com 95% de confiança, obtiveram um retorno ajustado ao risco consistentemente alto desde seu início.
Crise e fundos multimercados no Brasil
Em nossas adaptações iniciais do paper para a indústria de multimercados no Brasil, já dá para cravar: são pouquíssimos os fundos que apresentam consistência nesse teste, gerando alfa relevante acima de 10 anos.
Nas crises, o investidor inteligente é aquele que sobrevive. Para isso, deve-se preferir a consistência de bons retornos à raridade de desempenhos excepcionais.
É hora de voltar, novamente, a atenção aos longas – e aos melhores fundos no longo prazo.
Em 15 minutos de filme, não dá nem tempo do primeiro choro.
A fome de aquisições de um FII que superou a crise da Americanas e tudo que mexe com o seu bolso nesta quarta (15)
A história e a estratégia de expansão do GGRC11, prestes a se tornar um dos cinco maiores FIIs da bolsa, são os destaques do dia; nos mercados, atenção para a guerra comercial, o Livro Bege e balanços nos EUA
Um atalho para a bolsa: os riscos dos IPOs reversos, da imprevisibilidade de Trump e do que mexe com o seu bolso hoje
Reportagem especial explora o caminho encontrado por algumas empresas para chegarem à bolsa com a janela de IPOs fechada; colunista Matheus Spiess explora o que está em jogo com a nova tarifa à China anunciada por Trump
100% de tarifa, 0% de previsibilidade: Trump reacende risco global com novo round da guerra comercial com a China
O republicano voltou a impor tarifas de 100% aos produtos chineses. A decisão foi uma resposta direta ao endurecimento da postura de Pequim
Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
Abuse, use e invista: C&A queridinha dos analistas e Trump de volta ao morde-assopra com a China; o que mexe com o mercado hoje?
Reportagem especial do Seu Dinheiro aborda disparada da varejista na bolsa. Confira ainda a agenda da semana e a mais nova guerra tarifária do presidente norte-americano
ThIAgo e eu: uma conversa sobre IA, autenticidade e o futuro do trabalho
Uma colab entre mim e a inteligência artificial para refletir sobre três temas quentes de carreira — coffee badging, micro-shifting e as demissões por falta de produtividade no home office
A pequena notável que nos conecta, e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (10)
No Brasil, investidores avaliam embate após a queda da MP 1.303 e anúncio de novos recursos para a construção civil; nos EUA, todos de olho nos índices de inflação
Esta ação subiu mais de 50% em menos de um mês – e tem espaço para ir bem mais longe
Por que a aquisição da Desktop (DESK3) pela Claro faz sentido para a compradora e até onde pode ir a Microcap
Menos leão no IR e mais peru no Natal, e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (9)
No cenário local, investidores aguardam inflação de setembro e repercutem derrota do governo no Congresso; nos EUA, foco no discurso de Powell
Rodolfo Amstalden: No news is bad news
Apuração da Bloomberg diz que os financistas globais têm reclamado de outubro principalmente por sua ausência de notícias
Pão de queijo, doce de leite e… privatização, e o que mexe com os mercados nesta quarta-feira (8)
No Brasil, investidores de olho na votação da MP do IOF na Câmara e no Senado; no exterior, ata do Fomc e shutdown nos EUA
O declínio do império americano — e do dólar — vem aí? Saiba também o que mexe com os mercados hoje
No cenário nacional, investidores repercutem ligação entre Lula e Trump; no exterior, mudanças políticas na França e no Japão, além de discursos de dirigentes do Fed
O dólar já não reina sozinho: Trump abala o status da moeda como porto seguro global — e o Brasil pode ganhar com isso
Trump sempre deixou clara sua preferência por um dólar mais fraco. Porém, na prática, o atual enfraquecimento não decorre de uma estratégia deliberada, mas sim de efeitos colaterais das decisões que abalaram a confiança global na moeda
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
O foco do curso foi a revolução provocada pela IA generativa. E não se engane: isso é mesmo uma revolução
Tudo para ontem — ou melhor, amanhã, no caso do e-commerce — e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (6)
No cenário local, investidores aguardam a balança comercial de setembro; no exterior, mudanças de premiê na França e no Japão agitam as bolsas
Shopping centers: é melhor investir via fundos imobiliários ou ações?
Na última semana, foi divulgada alteração na MP que trata da tributação de investimentos antes isentos. Com o tema mais sensível retirado da pauta, os FIIs voltam ao radar dos investidores
A volta do campeão na ação do mês, o esperado caso da Ambipar e o que move os mercados nesta sexta-feira (3)
Por aqui, investidores ainda avaliam aprovação da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil; no exterior, todos de olho no shutdown nos EUA, que suspendeu a divulgação de dados econômicos
Tragédia anunciada: o que a derrocada da Ambipar (AMBP3) ensina sobre a relação entre preço e fundamento
Se o fundamento não converge para o preço, fatalmente é o preço que convergirá para o fundamento, como no caso da Ambipar
As críticas a uma Petrobras ‘do poço ao posto’ e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (2)
No Brasil, investidores repercutem a aprovação do projeto de isenção do IR e o IPC-Fipe de setembro; no exterior, shutdown nos EUA e dados do emprego na zona do euro
Rodolfo Amstalden: Bolhas de pus, bolhas de sabão e outras hipóteses
Ainda que uma bolha de preços no setor de inteligência artificial pareça improvável, uma bolha de lucros continua sendo possível