E o Oscar de melhor fundo no curto prazo vai para…
Nas crises, o investidor inteligente é aquele que sobrevive. Para isso, deve-se preferir a consistência de bons retornos à raridade de desempenhos excepcionais

Desde 2008, tenho o hábito de avaliar todo filme a que assisto.
De imediato, para capturar a opinião nua e crua, sem dar tempo de qualquer discussão técnica sobre os efeitos especiais dos blockbusters ou filosófica sobre as reflexões dos mais cults.
É claro que não há uma fórmula mágica para garantir que um filme receba nota alta – e seria loucura esperar isso de uma expressão artística, que toca cada um de forma diferente.
Mas, após mais de 1.000 filmes nesses 14 anos, consigo identificar certos padrões.
Os novos padrões
Personagens narradores, linhas do tempo não-lineares, trilhas sonoras marcantes, dilemas existenciais e anti-heróis de moral questionável estão presentes em várias “notas 10” dessa classificação pessoal e totalmente subjetiva.
Nas últimas semanas, surgiu um novo padrão: notas elevadas para curtas-metragens.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: A parábola dos talentos financeiros é uma anomalia de volatilidade
Felipe Miranda: O último trem do sertão (ou do bull market)
Incentivados pelo clichê legítimo (como a maioria dos clichês) dos pais de primeira viagem que nunca mais param para relaxar, os curtas conquistaram seu espaço lá em casa – ainda no período pré-Disney.
Como a maioria dos filmes premiados e que chegam ao streaming tem menos de 15 minutos de duração, a lista de curtas assistidos cresce mais rapidamente do que a média.
Acontece que ser curto tem feito a diferença. Enquanto minha avaliação média para todos os filmes desde 2008 foi de 7,5 – e o viés de disponibilidade e a curadoria prévia explicam –, a nota média dos curtas já está acima de 8.
Menos tempo para errar
O outro extremo é ainda mais relevante… 25% de todos os filmes dos últimos 14 anos receberam alguma nota abaixo de 6 e apenas 9% nos curtas.
O que é comum a esses filmes que tem me inclinado a não os considerar como ruins?
Não há qualquer predileção pessoal por curtas-metragens, mas sim um benefício negligenciado do qual a categoria usufrui: menos tempo para errar.
Um filme de 10 minutos é, sob várias óticas, mais simples do que um de 120 minutos. Criar uma narrativa curta e objetiva força o produtor a seguir o princípio da navalha de Occam, sobrando apenas o simples e essencial.
Não é à toa que alguns dos grandes diretores, como Steven Spielberg, George Lucas, Martin Scorsese e Christopher Nolan, iniciaram suas carreiras de sucesso em curtas-metragens.
Análise dos gestores de fundos
Há alguns anos, também passei a avaliar diariamente gestores de fundos.
Entre a subjetividade da sétima arte e a dinâmica das seis a oito reuniões semanais que temos com gestores desde 2019, onde procuramos indícios que aumentem ou diminuam a probabilidade de um fundo gerar retornos descorrelacionados no futuro, não há mesmo tanta coisa em comum.
Perigos na priorização de fundos
Mas o perigo de valorizar exageradamente fundos mais curtos com alto desempenho está presente o tempo inteiro.
Para o Verde ser nossa maior posição em multimercados, por exemplo, não bastam dois ou três anos de bom desempenho, mas 25 anos de histórico vencedor do Stuhlberger.
O outro lado dessa moeda é que dois ou três anos de desempenho abaixo da média também não desqualificam uma indicação, se nada foi alterado.
Nossa tendência de priorizar bons retornos de longo prazo a excepcionais retornos de curto prazo tem sido alvo de estudos acadêmicos e práticos.
As cartas das gestoras
Neste mês de julho, duas gestoras sistemáticas que acompanhamos escreveram cartas com temática parecida.
Fundos da Avantgarde
A Avantgarde, que completa três anos daqui a 15 dias e já entrega retorno de mais de 50% acima do IBX em seu fundo long biased, montou uma simulação para mostrar que, nos últimos 20 anos, quanto mais tempo um investidor da sua estratégia multifatorial tivesse ficado investido, maior teria sido sua probabilidade de retornos positivos:
“A diligência é a mãe da boa sorte”, já dizia um antigo provérbio inglês.
No curtíssimo prazo, a aleatoriedade domina qualquer análise. E é apenas a partir de cerca de três anos de cota pública que conseguimos começar a concluir algo a respeito da dinâmica entre sorte e verdadeira habilidade dos gestores.
Fundos da Kadima
Já a Kadima, gestora que recomendamos e alocamos nas carteiras da série Os Melhores Fundos de Investimento, utilizou seu relatório trimestral para trazer uma reflexão cotidiana: como escolher entre dois vendedores que anunciam o mesmo produto, quando o primeiro tem 90% de aprovação de apenas 10 usuários e o segundo 85% de aprovação de 500 usuários?
Quem você escolhe?
Podemos ir além: entre dois cirurgiões para realizar um procedimento delicado, você escolheria aquele que faz isso há apenas dois anos com 95% de sucesso ou outro, com experiência de 15 anos, mas 90% de sucesso?
São todas roupagens diferentes do mesmo dilema comparativo entre o “excelente” de uma amostra pequena e o “muito bom” de uma amostra bem maior.
Qual, afinal, é o tempo necessário para batermos o martelo sobre a habilidade (ou falta dela) de um gestor em superar o mercado?
Idade, desempenho e retorno dos fundos
A carta da gestora propõe adaptar uma regra simples criada por LaPlace, matemático francês do século 18, que ajudaria o investidor a analisar melhor a relação entre a idade de um fundo e seu desempenho acima do benchmark.
Quanto maior a idade, maior a convicção de que o resultado desde o início representa mais habilidade do que aleatoriedade, seja ele bom ou ruim.
Como regra de bolso, valorizo mais aqueles que batem seu benchmark em mais de 80% do tempo, lembrando que também importa a magnitude dos ganhos e das perdas.
Por último, este paper de 2008 do pesquisador e atual chefe global de investimentos do fundo soberano de Abu Dhabi, Marcos López de Prado, propõe alterar o caráter exato do Índice de Sharpe – principal medida de eficiência utilizada pela indústria de fundos – para considerá-lo como algo probabilístico, além de incorporar em seu cálculo riscos de cauda.
Assim, seria possível utilizar ferramentas estatísticas para sugerir quais gestores, com 95% de confiança, obtiveram um retorno ajustado ao risco consistentemente alto desde seu início.
Crise e fundos multimercados no Brasil
Em nossas adaptações iniciais do paper para a indústria de multimercados no Brasil, já dá para cravar: são pouquíssimos os fundos que apresentam consistência nesse teste, gerando alfa relevante acima de 10 anos.
Nas crises, o investidor inteligente é aquele que sobrevive. Para isso, deve-se preferir a consistência de bons retornos à raridade de desempenhos excepcionais.
É hora de voltar, novamente, a atenção aos longas – e aos melhores fundos no longo prazo.
Em 15 minutos de filme, não dá nem tempo do primeiro choro.
Felipe Miranda: O elogio do vira-lata (ou sobre small caps brasileiras)
Hoje, anestesiados por um longo ciclo ruim dos mercados brasileiros, cujo início poderia ser marcado em 2010, e por mais uma década perdida, parecemos nos esquecer das virtudes brasileiras
Rodolfo Amstalden: A disputa epistemológica entre números e narrativas tem um novo campeão
Uma certa mudança de Zeitgeist epistemológico pode ser capturada nas últimas décadas, demarcando aquilo que eu ousaria chamar de um renascimento de Dionísio no campo de estudos financeiros
Rodolfo Amstalden: Seu frouxo, eu mando te demitir, mas nunca falei nada disso
Ameaçar Jerome Powell de demissão e chamá-lo de frouxo (“a major loser”), pressionando pela queda da taxa básica, só tende a corromper o dólar e alimentar os juros de longo prazo
Rodolfo Amstalden: Escute as feras
As arbitrariedades tarifárias de Peter “Sack of Bricks” Navarro jogaram a Bolsa americana em um dos drawdowns mais bizarros de sua longa e virtuosa história
Felipe Miranda: Do excepcionalismo ao repúdio
Citando Michael Hartnett, o excepcionalismo norte-americano se transformou em repúdio. O antagonismo nos vocábulos tem sido uma constante: a Goldman Sachs já havia rebatizado as Magníficas Sete, chamando-as de Malévolas Sete
Tony Volpon: Buy the dip
Já que o pessimismo virou o consenso, vou aqui argumentar por que de fato uma recessão é ainda improvável (com uma importante qualificação final)
Rodolfo Amstalden: Buy the dip, e leve um hedge de brinde
Para o investidor brasileiro, o “buy the dip” não só sustenta uma razão própria como pode funcionar também como instrumento de diversificação, especialmente quando associado às tecnologias de ponta
Felipe Miranda: Dedo no gatilho
Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.
Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas
A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir
Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?
Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação
Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante
Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial
Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump
Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes
Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso
O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.
Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º
Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação
Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump
Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump
Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável
Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa
Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio
Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek
Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor
Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?
Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares