O mesmo Ibovespa que amargou uma queda de 12% em 2021 já acumula ganhos de quase 4% em janeiro — e sem qualquer tipo de novidade no cenário político-econômico doméstico que justificasse uma injeção de otimismo na bolsa. Pelo contrário: no exterior, o clima é cada vez mais pesado para os mercados de ações. Esse desempenho surpreendente foi o tema do podcast Touros e Ursos desta semana; é só dar play para ouvir o programa.
Os repórteres Julia Wiltgen, Victor Aguiar e Vinicius Pinheiro debateram a fundo os fatores que dão força ao Ibovespa neste início de ano. E fazem uma ressalva: se, por um lado, o índice como um todo vai bem, não se pode estender o bom desempenho para a bolsa como um todo.
Enquanto os setores com mais peso na composição do Ibovespa estão subindo forte — especialmente as ações de empresas ligadas às commodities e ao segmento financeiro —, outros papéis têm mostrado um comportamento bem menos intenso. É o caso dos ativos mais ligados ao mercado doméstico e dependentes do cenário de juros.
Ou seja: o Ibovespa ir bem não quer dizer que a bolsa toda esteja subindo. As chamadas blue chips — empresas de grande porte, como Petrobras, Vale e os bancões — começaram o ano com tudo e puxam o índice para cima; já as small caps, companhias de porte menor e mais ligadas à dinâmica local, enfrentam turbulências.
Uma matéria publicada pelo Seu Dinheiro nesta semana explicou com detalhes os motivos por trás do bom desempenho do Ibovespa em janeiro, mas o podcast Touros e Ursos deu alguns passos além, trazendo percepções de gestores e outros players do mercado financeiro sobre o atual momento da bolsa.
Além do ciclo aquecido das commodities e do intenso fluxo de entrada de recursos estrangeiros no mercado acionário do país, também vale lembrar que os preços dos ativos domésticos estavam bastante deprimidos — especialmente quando convertidos para dólar. Assim, em meio à incerteza global, o Brasil apareceu como uma boa oportunidade para quem buscava uma alocação maior em ações.
Ibovespa x exterior: ganhando de lavada
A alta de quase 4% do Ibovespa em janeiro chama ainda mais atenção quando colocada lado a lado com os principais mercados acionários do mundo. Lá fora, as bolsas estão sofrendo intensamente com o ambiente de juros em elevação — veja a tabela abaixo:
Índice | País | Desempenho em 2022* |
Dow Jones | EUA | -5,7% |
S&P 500 | EUA | -7,7% |
Nasdaq | EUA | -12,0% |
Ibovespa | Brasil | +3,9% |
DAX | Alemanha | -1,8% |
FTSE 100 | Reino Unido | +1,5% |
CAC 40 | França | -1,2% |
Nikkei 225 | Japão | -4,4% |
Shanghai | China | -3,2% |
S&P/BMV IPC | México | -3,1% |
MOEX | Rússia | -9,2% |
Repare que as baixas são praticamente unânimes, independente do continente ou do perfil do país: tanto mercados desenvolvidos quanto os de países emergentes enfrentam dificuldades neste começo de ano. O Ibovespa e o FTSE 100, do Reino Unido, aparecem como pontos fora da curva.
Chama a atenção o mau desempenho do Nasdaq, com uma forte baixa de 12% no mês. A queda de mais de 20% nas ações da Netflix (NFLX) nesta sexta-feira (21), em reação ao balanço trimestral da companhia, contribuiu para que o índice tombasse mais de 2% no dia, mas a tendência negativa vem desde os primeiros dias de 2021.
E isso porque a postura mais agressiva do Fed no combate à inflação afeta diretamente o setor de tecnologia, e o Nasdaq é conhecido por concentrar companhias com esse perfil. Juros mais altos impactam fortemente as empresas desse segmento, uma vez que as taxas de desconto dos fluxos de caixa futuros fica maior — e, em geral, as techs concentram grande parte de seu valor na perpetuidade.
O podcast Touros e Ursos vai ao ar às sextas-feiras, sempre discutindo os temas do momento para os mercados e os seus investimentos. Para ouvir o debate sobre o Ibovespa, basta dar play: