A Ser Educacional já enxerga o futuro do ensino — e tem um plano para chegar lá
Jânyo Diniz, presidente da Ser Educacional, diz que o grupo estuda mais aquisições e aposta num ecossistema de ensino digital

Pouco antes de Jânyo Diniz aparecer na sala de conferência, eu enfrentava problemas típicos dos tempos de home office. A internet estava instável no escritório e eu fui para sala; uma vez lá, meus cães insistiam em pular no meu colo — eles queriam porque queriam participar da entrevista com o presidente da Ser Educacional.
Ossos do ofício, por assim dizer. O "novo normal" embaralhou tudo — casa, trabalho e escola estão no mesmo lugar; pais, filhos e pets dividem o mesmo espaço; e a vida, mais do que nunca, é intermediada por telas.
Só que, com a vacinação ganhando escala no país, uma dúvida começa a surgir no horizonte: o "velho normal" voltará a existir, ou um "novíssimo normal" emergirá, incorporando elementos da rotina da pandemia?
"O ensino vai ser híbrido e à distância", crava Diniz, em entrevista ao Seu Dinheiro — e sem cães aparecendo no vídeo. "Quando olhamos para o futuro, vemos um uso intensivo de tecnologia [na educação], um ecossistema com trilhas de aprendizado".
Ou seja: para o executivo, cursos 100% presenciais serão coisa do passado. Flexibilidade será a palavra de ordem no ensino superior, com os alunos livres para escolher como e quando estudar — e com incentivos para ir além de uma simples graduação.
A Ser Educacional, naturalmente, se prepara para a visão de futuro do seu presidente: os investimentos em digitalização são prioridade no grupo, de modo a aperfeiçoar as plataformas de ensino. E, para concluir essa tarefa, a companhia está de olho em novas oportunidades no mercado.
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"Temos espaço para cerca de R$ 500 milhões em aquisições", diz Rodrigo Alves, diretor de relação com investidores da Ser Educacional, também presente à conferência. Na mira, estão as chamadas edtechs — startups que aliam tecnologia e educação —, além de instituições de ensino no campo da saúde e grupos focados em EAD.
Mudança cultural
Jânyo Diniz avalia que a pandemia acelerou alguns processos que já estavam em andamento: a adoção do EAD em massa não fazia parte dos planos da Ser Educacional já em 2020, embora o ensino a distância já estivesse ganhando importância no grupo.
Em 2017, por exemplo, os cursos in loco representavam mais de 90% da base de alunos da Ser; em 2020, a proporção já era mais equilibrada: 72% na modalidade híbrida/presencial e 28% no digital. No primeiro trimestre deste ano, a diferença caiu ainda mais: 62% a 38%.
A maior presença do ensino totalmente digital no mix, por outro lado, traz uma consequência: o tíquete médio fica menor. Cursos de EAD costumam ser mais baratos que os presenciais ou híbridos — o tíquete da Ser caiu de R$ 716 em 2017 para R$ 570 em 2020.
Ainda assim, a Ser conseguiu mostrar uma estabilidade na linha de receita líquida, com o crescimento da base de alunos compensando as mensalidades mais baratas.

Diniz pondera, no entanto, que a mudança mais significativa no setor de educação ocorreu nos aspectos culturais.
Depois de quase um ano e meio de pandemia, o executivo afirma que boa parte do preconceito em relação ao ensino a distância caiu por terra. A modalidade, hoje, é mais bem aceita por pais e alunos; o mercado de trabalho é mais receptivo aos profissionais com formação digital.
"A mudança de cultura faz com que as pessoas tenham uma tendência maior a aceitar o ensino digital. O presencial puro deixa de existir, qualquer instituição ou curso vai ter um componente a distância", diz Diniz.
Essa migração não consiste na simples troca da lousa pelo monitor. O executivo ressalta que o uso da tecnologia serve para ampliar o leque dos alunos: conteúdos extra, professores de outras localidades e aulas gravadas são algumas das possibilidades.
Graduações que exigem aulas práticas continuarão com elementos presenciais, enquanto outras poderão ser 100% digitais — nesses casos, o aluno tem a opção de assistir as aulas in loco, se preferir. A continuidade dos estudos, com cursos livres e de atualização, também é facilitada e incentivada.
O ecossistema da Ser Educacional
Sendo assim, a companhia aposta todas as fichas no aperfeiçoamento de seu ecossistema de ensino. Nesse contexto, foi lançada no começo deste ano a Ubíqua, a nova matriz curricular híbrida que disponibiliza conteúdos digitais e tecnologias que complementam o aprendizado.
Outro braço importante é o GoKursos, uma espécie de marketplace de ensino com cursos diversos, todos estruturados pela companhia — e com assinaturas mensais que vão de R$ 29,90 a R$ 89,90. "Temos a expectativa de desenvolver conteúdo e fazer aquisições estratégicas para fortalecer o ecossistema, diz Diniz.
Dito tudo isso, há uma barreira importante para os planos: a limitação tecnológica no lado dos alunos.
Os problemas que eu enfrentei antes da conversa com Jânyo Diniz foram pequenos e facilmente solucionados: fui para outro cômodo da casa, contei com a boa vontade dos cães e pronto — fiz uma hora de entrevista sem maiores dificuldades.
Infelizmente, nem todos possuem as mesmas condições: internet instável, computadores antigos, empregos incompatíveis com o ensino digital — há uma gama de empecilhos que podem afastar os alunos, apesar das mensalidades mais baratas.
O presidente da Ser Educacional reconhece que, de fato, a barreira tecnológica e a desigualdade nas condições de acesso entre os alunos é uma questão importante a ser discutida. E, tendo esse contexto em mente, a empresa tem como meta ampliar a opção de cursos, com cada vez mais flexibilidade e variedade de duração.
A ampliação desse leque é fundamental para os planos da Ser: para o executivo, a volatilidade do mercado de trabalho tornará inviável que uma pessoa faça apenas um curso de graduação durante a vida.
E, considerando que muitas funções novas não exigem um diploma específico, os cursos livres e de atualização profissional — justamente os oferecidos no GoKursos — terão uma demanda elevada.
É o que chamamos de massificação customizada da educação, feita para atender às necessidades de forma cirúrgica. É um grande Lego.
Jânyo Diniz, presidente da Ser Educacional
As aquisições para o fortalecimento do ecossistema já começaram: em dezembro, a Ser Educacional comprou a Beduka, uma edtech que auxilia os usuários a escolherem carreiras e cursos — uma espécie de teste vocacional mais sofisticado.
E, para Diniz, falta ainda construir a última perna do tripé: a de encaminhamento profissional. "Queremos colocar uma plataforma de empregabilidade dentro do ecossistema".

Ser Educacional, pandemia e aquisições
O plano da Ser foi acelerado com a pandemia, uma vez que a criação de plataformas massivas de ensino a distância foi imperativa. Ao mesmo tempo, os grupos de educação precisaram se adaptar à pressão econômica e ao aumento na evasão de alunos.
Mas, ainda no ano passado, um filão começou a se mostrar promissor: o dos cursos cuja percepção de valor é maior. Boas avaliações pelo MEC, instalações modernas para aulas práticas, ferramentas de ensino avançadas — tudo isso eleva o tíquete médio, mas também cria um vínculo mais forte com os alunos, que não interrompem os estudos.
Nesse sentido, a Ser Educacional pisou no acelerador e fez diversas aquisições ao longo de 2020, quase todas com esse racional em mente. Cursos bem conceituados e com tíquetes mais altos, como os de medicina e saúde, eram o alvo a ser atingido.
E a empresa de Jânyo Diniz buscou as oportunidades existentes no mercado. Veja abaixo a lista de aquisições feitas pela Ser Educacional desde o ano passado:
Ativo | Local | Data | Preço (R$ mi) |
Faculdade Educacional da Lapa | Paraná | 31/mai/21 | 280 |
Faculdade Internacional da Paraíba (FPB) e Centro Universitário dos Guararapes (UniFG)* | Paraíba e Pernambuco | 28/dez/20 | 180 |
Centro Universitário São Francisco de Barreiras (Unifasb) | Bahia | 20/dez/20 | 210 |
Portal Beduka (edutech) | - | 18/dez/20 | - |
Sociedade Educacional de Rondônia | Rondônia | 14/dez/20 | 120 |
Faculdade de Juazeiro do Norte | Ceará | 18/set/20 | 24 |
Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal | Rondônia | 06/ago/20 | 150 |
*Opções de compra fechadas; a operação ainda não foi concluída
Todas as aquisições de 2020, com exceção da Beduka, têm algumas características em comum: concentram-se nas regiões Norte e Nordeste, áreas em que a Ser tem grande presença; e oferecem cursos de medicina ou saúde, com tíquetes mais elevados.
"A Laureate era atrativa pelo portfólio de medicina muito forte, quase 800 vagas", diz Diniz — a Ser chegou a fechar acordo para comprar o grupo de americano, mas foi superada pela Ânima.
Ainda assim, a Ser Educacional recebeu pagamentos referentes à quebra do contrato e assinou acordos judiciais com a Ânima, passando a deter opções de compra de algumas faculdades da Laureate — a Ser exerceu o direito de aquisição da FPB e da UniFG, mas a operação ainda não foi concluída.
A compra da Fael, em maio deste ano, já teve outro racional: o grupo paranaense tem 90 mil alunos, possui expertise avançada em ensino digital e conta com mais de 600 polos parceiros ativos. Trata-se de uma instituição complementar ao portfólio da Ser, tanto pela exposição às regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, quanto pelo modelo de atuação via polos.
Com o negócio com a Fael, a Ser chega a aproximadamente 175 mil alunos em cursos digitais e mais de 300 mil no total. Mas, e agora? Quais os próximos passos?
Bem, a companhia deu um passo importante para continuar com as compras: obteve um financiamento de R$ 200 milhões junto à International Finance Corporation (IFC) — o prazo de pagamento, de sete anos, é mais alongado que a média.
Segundo Jânyo Diniz, muitas opções de compra estão sendo analisadas pela Ser Educacional. "Estamos de olho em coisas maiores, transformacionais. Analisamos especialmente as oportunidades em saúde, edtechs e EAD". E a empresa tem poder de fogo, com os R$ 500 milhões citados pelo diretor de RI.

Futuro digital
Pouco a pouco, o clima de excepcionalidade gerado pela pandemia vai ficando para trás no setor de educação superior, com os grandes grupos já pensando num retorno à normalidade e planejando o futuro — que, para Diniz, terá cursos híbridos e 100% digitais coexistindo.
"Somos sociáveis por natureza, sentimos necessidade de interação humana. Uma parte dos alunos vai querer fazer disciplinas presenciais, outros vão preferir tudo a distância", avalia o presidente da Ser Educacional.
Cursos híbridos, por sua natureza, têm tíquetes médios maiores: a possibilidade de frequentar as salas de aula ou a necessidade de uso de instalações físicas, como laboratórios, exigem uma estrutura maior por parte das instituições.
Outros, cuja estrutura de ensino é essencialmente teórica, poderão ser feitos 100% pelas plataformas digitais, o que barateia as mensalidades e facilita o acesso ao ensino.
Por fim, a oferta de cursos livres, que dão continuidade ao processo de formação e preparação profissional, são a aposta da Ser Educacional — um processo de educação contínua e perene.
Ou, nas palavras do presidente da companhia:
O lifelong learning passa a existir, as pessoas passam a estudar. Não dá mais para fazer um curso para a vida toda. Mudou tudo.
Jânyo Diniz, presidente da Ser Educacional
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