Quais ações de empresas em recuperação judicial podem valer o risco?
Companhias nessa condição costumam ter ações baratas e que oferecem enorme potencial de ganho; os riscos, no entanto, são imensos

Uma das máximas do mundo dos investimentos é a de que quanto maior o risco, maior o retorno. E se há uma classe de ativos arriscada na bolsa, é a das ações de empresas em recuperação judicial — uma condição que, na maioria dos casos, antecede a falência.
Não são poucas as companhias de capital aberto que estão nesse estado: atualmente, 20 integrantes da bolsa encontram-se em situação financeira crítica. A mais famosa delas é a Oi, cujo processo se arrasta desde 2016 e já foi alvo de inúmeras contestações por parte dos credores.
Além da tele, há outras 19 empresas com ações negociadas na B3 que estão em recuperação judicial. São elas:
- Bardella (BDLL3);
- Eternit (ETER3);
- Fertilizantes Heringer (FHER3);
- Gradiente (IGBR3);
- Hotéis Othon (HOOT4);
- Inepar (INEP4);
- João Fortes Engenharia (JFEN3);
- Lupatech (LUPA3);
- MMX (MMXM3);
- PDG Realty (PDGR3);
- Pomifrutas (FRTA3);
- Renova Energia (RNEW4);
- Refinaria Manguinhos (RPMG3);
- Sansuy (SNSY5);
- Saraiva (SLED3);
- Tecnosolo (TCNO4);
- Teka (TEKA4);
- Viver (VIVR3); e
- Wetzel (MWET3).
Todas essas ações têm um ponto em comum: sofreram um intenso processo de desvalorização desde o anúncio da recuperação judicial, passando a ser negociadas a uma fração do preço anterior.
E essa queda brusca nos papéis é mais do que justificada: um levantamento do Banco Central mostra que, entre todas as pequenas e médias empresas que dão entrada num processo de recuperação, apenas 9% voltam a operar normalmente — o restante tem a falência decretada.
No caso das grandes empresas, os números são mais equilibrados: 57% das ocorrências são bem-sucedidas, enquanto 43% dão início ao processo falimentar. Vale lembrar, no entanto, que as grandes empresas são minoria no universo das recuperações judiciais.
Leia Também
Nova Ordem Mundial à vista? Os possíveis desfechos da guerra comercial de Trump, do caos total à supremacia da China
Donald Trump: um breve balanço do caos

Além disso, recuperações judiciais costumam ser demoradas: processos bem-sucedidos levam, em média, de dois a três anos; casos que terminam em falência tendem a durar de três a quatro anos, de acordo com o BC.
Ou seja: ações de empresas em recuperação judicial, por mais baratas que sejam, podem permanecer nesses patamares por um tempo prolongado. Mas isso não quer dizer que não haja casos com riscos mais controlados.
A decisão de comprar um papel com essas características passa por uma série de questões: em primeiro lugar, você precisa ter bastante tolerância a eventuais perdas; em segundo, deve ter a consciência de que tais ações podem ficar anos sem reagir; em terceiro, deve analisar a fundo as empresas, de modo a ter confiança numa eventual reestruturação.
E, de fato, na lista mencionada acima, há algumas companhias que se encontram em melhores condições que outras — mais uma vez, a Oi se destaca e parece estar bem encaminhada para a normalização. Vamos falar sobre esses casos em breve.
O processo
Antes de mais nada, é importante entender exatamente o que é o processo de recuperação judicial — e as razões que levam uma empresa a acionarem esse mecanismo.
Assim como uma pessoa pode contrair dívidas no banco para comprar imóveis ou outros bens, uma empresa pega dinheiro emprestado para financiar seu crescimento. Num cenário ideal, os compromissos são quitados conforme as normas contratuais. Mas e se, por qualquer razão, esses vencimentos não forem cumpridos?
Num cenário como esse, uma pessoa comum entraria em contato com o banco e tentaria renegociar essa dívida. Uma empresa, no entanto, costuma ter múltiplos credores, e é pouco provável que se consiga firmar acordo com cada um deles. É aí que a Justiça entra em cena.
"A recuperação judicial é um processo que protege a companhia e impede que os credores tentem atacar seus ativos. Isso permite que as dívidas sejam renegociadas e dá a oportunidade de a empresa criar um plano de pagamento", explica Giuliano Colombo, sócio do Pinheiro Neto Advogados.
Quando uma empresa dá entrada num pedido de recuperação judicial, todo um cronograma é disparado: é preciso apresentar o plano num período de 60 dias; em sequência, os credores tem outros 30 dias para apresentar objeções — e, normalmente, são várias.
Nesse caso de desacordo entre as partes, é convocada uma assembleia de credores para votar a aprovação do plano de recuperação judicial. Inicialmente, o prazo de blindagem das empresas é de 180 dias, podendo ser prorrogado por igual período.
"Simplificando a questão: a maior parte das recuperações judiciais têm como objetivo fazer a dívida caber na empresa", diz Thomas Felsberg, fundador da Felsberg Advogados. "Se a dívida não cabe, ela não consegue pagar e dá início ao processo para reestruturar os vencimentos".
O plano em si costuma recorrer a alguns mecanismos para permitir o pagamento das dívidas da empresa. Alongamentos de prazo e proposta de desconto são ferramentas comuns, assim como eventuais capitalizações para aumentar a capacidade financeira da companhia.
O objetivo é o mesmo: fazer uma empresa insolvente ficar solvente
Thomas Felsberg, da Felsberg Associados
Avaliando os riscos
Dito isso: como saber quais empresas em recuperação judicial têm mais chances de uma reestruturação bem-sucedida?
Conforme já foi dito, a Oi é a empresa que aparece mais bem posicionada nesse grupo. Após anos de disputas com os credores e inúmeros ajustes no plano de recuperação, a companhia finalmente conseguiu avançar com seu programa de venda de ativos, levantando caixa para fazer frente às obrigações financeiras.
Veja o que a Oi já conseguiu negociar nos últimos meses:
- Torres e data centers, por R$ 1,4 bilhão;
- Rede de telefonia móvel, por R$ 16,5 bilhões; e
- Parte da rede de fibra ótica, por R$ 12,9 bilhões.
São cifras que impressionam, tanto pelo volume quanto pela rapidez com que foram fechadas. Ainda assim, vale lembrar que, ao fim de 2020, a dívida líquida da Oi girava em torno de R$ 22 bilhões.
A percepção de que a recuperação judicial está caminhando bem e de que a companhia finalmente começa a ver a luz no fim do túnel já é refletida nas bolsa: os papéis PN (OIBR4), que há um ano valiam menos de R$ 1,00, agora já aparecem na casa de R$ 2,40 — em maio de 2014, antes do início do processo, as ações eram negociadas acima de R$ 20,00.
Entre os bancos, a confiança em relação ao futuro da Oi também parece crescer. Veja abaixo as recomendações e preços-alvos de cinco grandes casas de análise para as ações PN da companhia:
INSTITUIÇÃO | RECOMENDAÇÃO | PREÇO-ALVO |
Bradesco BBI | Compra | R$ 3,40 |
BTG Pactual | Compra | R$ 3,10 |
UBS | Compra | R$ 3,00 |
HSBC | Compra | R$ 2,35 |
Santander | Neutro | R$ 2,30 |
Além da Oi, poucas empresas são apontadas por analistas e especialistas como possíveis candidatas a investimento. A mais citada é a Eternit, que entrou com pedido de recuperação judicial em 2018.
O caso da Eternit é emblemático: tradicional fabricante de telhas e caixas d'água de amianto, a companhia viu suas receitas minguarem conforme a exploração do produto — um composto químico cancerígeno — foi sendo proibida pelos governos estaduais. A hesitação em abandonar a matéria-prima colocou a empresa numa situação financeira delicada.
Mas, desde que a recuperação judicial teve início, a Eternit passou por uma grande reestruturação de suas operações. O amianto foi abandonado em definitivo, assim como a divisão de louças e metais sanitários; agora, a empresa se dedica às telhas e outras estruturas para telhados, mas usando materiais como fibrocimento.
O resultado começa a aparecer: a Eternit reportou lucro de R$ 63,5 milhões no quarto trimestre de 2020 e Ebitda de R$ 67 milhões; a dívida bruta está cada vez menor, encerrando o ano passado em R$ 66 milhões.
E assim como a Oi, a companhia também tem se recuperado na bolsa: as ações ON da Eternit (ETER3) acumulam ganhos de 83% desde o início do ano, sendo negociadas na faixa dos R$ 23,00.

Uma terceira empresa apontada como potencial vencedora do processo de recuperação é a construtora Viver. Ela também passou por intensa reestruturação de suas operações e já conseguiu reduzir bastante seu endividamento, embora ainda tenha alguns desafios pela frente.
Desde o início do processo, a Viver deixou as atividades de construção e incorporação de lado, passando a focar na gestão de ativos imobiliários. A dívida total gira ao redor de R$ 200 milhões, mas há um problema: a empresa ainda dá prejuízo e tem Ebitda negativo.
A própria geração de receita é bastante fraca: apenas R$ 16,6 milhões no quarto trimestre de 2020. Assim, se é verdade que a transformação operacional e a contenção do endividamento são boas notícias, também é verdade que a empresa está num estado de quase hibernação — o que deixa o cenário adiante mais incerto.
Em recuperação judicial
Se você chegou até aqui e estiver pensando em comprar ações dessas três companhias, é preciso ter em mente que há vários fatores de risco associados: em geral, papéis de empresas em recuperação judicial têm liquidez bastante baixa — a exceção, mais uma vez, é a Oi; além disso, num cenário de falência, os acionistas são os últimos da fila para receber alguma parcela da massa falida.
"Fazer operação com esse tipo de empresa não é para amadores, é preciso ter expertise em situações de crise", diz Salvatore Milanese, sócio-fundador da Pantalica Partners, especializada em gestão estratégica e processos de reestruturação corporativa. "Não especule o dinheiro da sua aposentadoria. É um investimento de potencial alto retorno, mas alto risco".
E, de fato, recuperação judicial é um processo vagaroso e que, muitas vezes, não tem final feliz. No começo de 2019, o Seu Dinheiro fez uma matéria parecida e, de lá para cá, não houve grandes mudanças no cenário.
Naquela lista, também eram 20 empresas, mas a Brasil Pharma teve a falência decretada e a Fibam foi deslistada da bolsa. OSX e GPC conseguiram voltar às operações normais.
Eternit, Gradiente, Hotéis Othon, Inepar, Lupatech, MMX, Oi, Refinaria Manguinhos, PDG, Pomifrutas, Sansuy, Saraiva, Tecnosolo, Teka, Viver e Wetzel seguem na mesma (a Pomifrutas teve a falência decretada, mas a questão ainda corre na Justiça); Bardella, Fertilizantes Heringer, João Fortes Engenharia e Renova Energia deram entrada no processo de 2019 para cá.
Milanese elenca alguns pontos fundamentais para identificar uma companhia em recuperação judicial que poderá ser bem-sucedida. São eles:
- Credibilidade do plano: é preciso que o planejamento seja realista e bem feito, traçando um roteiro plausível para a reestruturação da dívida e das operações;
- Viabilização de recursos: a venda de ativos e a obtenção de novas fontes de capital é essencial para que a situação financeira da empresa melhore — o plano, assim, deve fazer menção a essas questões;
- Transparência: uma empresa em recuperação judicial deve prestar contas à CVM de maneira periódica. Ainda assim, a comunicação aberta com os credores e potenciais investidores, independente do regulador, é vista como um bom sinal;
- Administração especializada em situações de crise: é preciso que a diretoria saiba conduzir a empresa nesse momento excepcional — em geral, a manutenção de executivos no alto escalão é vista com ressalvas.
Não brinque com fogo. Se quiser perder dinheiro, invista irracionalmente
Salvatore Milanese, da Pantalica Partners
Quanto ao comportamento das ações, o potencial de valorização num cenário em que a companhia consegue sair da recuperação judicial é bastante atrativo. Mas é necessário compreender que, por mais que a notícia seja excelente, os papéis dificilmente voltarão ao patamar de preço anterior ao processo.
E isso porque, ao atravessar uma recuperação, a empresa como um todo passa por uma mudança profunda. Peguemos a Oi como exemplo: antes, ela era uma gigante do setor de telecomunicações, com operações em telefonia móvel, fibra ótica, torres e diversas outras atividades. No entanto, boa parte desses ativos foi vendida.
Ou seja: o patamar de R$ 20,00 por ação visto em 2014 era adequado para a Oi de 2014 — uma empresa que não existe mais. A nova Oi será focada nos serviços de infraestrutura e fibra ótica, e o desafio é entender qual o valor dessa companhia reestruturada. Somente assim se saberá qual o preço justo dos papéis.
Essa é uma tarefa complexa e que costuma ser quase inviável para o investidor pessoa física. Por isso, um conselho final é: caso você se sinta inseguro com a ideia de comprar ações de empresas em recuperação judicial, busque a ajuda de especialistas. O risco, afinal, é grande — e nada melhor que contar com pessoas experientes nessa hora.
Lojas Renner (LREN3): XP eleva recomendação para compra e elenca quatro motivos para isso; confira
XP também aumenta preço-alvo de R$ 14 para R$ 17, destacando melhora macroeconômica e expansão de margens da varejista de moda
Nova temporada de balanços vem aí; saiba o que esperar do resultado dos bancos
Quem abre as divulgações é o Santander Brasil (SANB11), nesta quarta-feira (30); analistas esperam desaceleração nos resultados ante o quarto trimestre de 2024, com impactos de um trimestre sazonalmente mais fraco e de uma nova regulamentação contábil do Banco Central
Cade admite Petlove como terceira interessada, e fusão entre Petz e Cobasi pode atrasar
Petlove alega risco de monopólio regional e distorção competitiva no setor pet com criação de gigante de R$ 7 bilhões
JBS (JBSS3) avança rumo à dupla listagem, na B3 e em NY; isso é bom para as ações? Saiba o que significa para a empresa e os acionistas
Próximo passo é votação da dupla listagem em assembleia marcada para 23 de maio; segundo especialistas, dividendos podem ser afetados
O turismo de luxo na Escandinávia é diferente; hotéis cinco-estrelas e ostentação saem do roteiro
O verdadeiro luxo em uma viagem para a região escandinava está em praticar o slow travel
Vigilantes do Peso sucumbe à concorrência do Ozempic e pede recuperação judicial nos Estados Unidos
Ícone das dietas fundado na década de 1960 é vítima do espírito do tempo e se viu obrigada a reestruturar dívida com credores, em meio a um passivo de US$ 1,5 bilhão
Azul (AZUL4) capta R$ 1,66 bilhão em oferta de ações e avança na reestruturação financeira
Oferta da aérea visa também a melhorar a estrutura de capital, aumentar a liquidez das ações e equitizar dívidas, além de incluir bônus de subscrição aos acionistas
OPA do Carrefour (CRFB3): com saída de Península e GIC do negócio, o que fazer com as ações?
Analistas ouvidos pelo Seu Dinheiro indicam qual a melhor estratégia para os pequenos acionistas — e até uma ação alternativa para comprar com os recursos
Tudo tem um preço: Ibovespa tenta manter o bom momento, mas resposta da China aos EUA pode atrapalhar
China nega que esteja negociando tarifas com os Estados Unidos e mercados internacionais patinam
Tempo fechado: Voepass entra com pedido de recuperação judicial e culpa Latam
Essa é a segunda vez que a companhia entra com pedido de recuperação judicial; em jogo está uma dívida que gira em torno de R$ 400 milhões
Mil e uma contas a pagar: Bombril entrega plano de recuperação judicial para reestruturar dívida de mais de R$ 2 bilhões
Companhia famosa por seus produtos de limpeza entrou com pedido de recuperação judicial em fevereiro, alegando dívidas tributárias inconciliáveis
A decisão de Elon Musk que faz os investidores ignorarem o balanço ruim da Tesla (TSLA34)
Ações da Tesla (TSLA34) sobem depois de Elon Musk anunciar que vai diminuir o tempo dedicado ao trabalho no governo Trump. Entenda por que isso acontece.
Como o melhor chef confeiteiro do mundo quer conquistar o brasileiro, croissant por croissant
Como o Mata Café, chef porto-riquenho Antonio Bachour já deu a São Paulo um tira-gosto de sua confeitaria premiada; agora ele está pronto para servir seu prato principal por aqui
Tenda (TEND3) sem milagres: por que a incorporadora ficou (mais uma vez) para trás no rali das ações do setor?
O que explica o desempenho menor de TEND3 em relação a concorrentes como Cury (CURY3), Direcional (DIRR3) e Plano & Plano (PLPL3) e por que há ‘má vontade’ dos gestores
De olho na classe média, faixa 4 do Minha Casa Minha Vida começa a valer em maio; saiba quem pode participar e como aderir
Em meio à perda de popularidade de Lula, governo anunciou a inclusão de famílias com renda de até R$ 12 mil no programa habitacional que prevê financiamentos de imóveis com juros mais baixos
Monas e Michelin: tradições de Páscoa são renovadas por chefs na Catalunha
Mais que sobremesa, as monas de Páscoa catalãs contam a história de um povo — e hoje atraem viajantes em busca de arte comestível com assinatura de chefs
É hora de aproveitar a sangria dos mercados para investir na China? Guerra tarifária contra os EUA é um risco, mas torneira de estímulos de Xi pode ir longe
Parceria entre a B3 e bolsas da China pode estreitar o laço entre os investidores do dois países e permitir uma exposição direta às empresas chinesas que nem os EUA conseguem oferecer; veja quais são as opções para os investidores brasileiros investirem hoje no Gigante Asiático
Por que o Mercado Livre (MELI34) vai investir R$ 34 bilhões no Brasil em 2025? Aporte só não é maior que o de Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3)
Com o valor anunciado pela varejista online, seria possível comprar quatro vezes Magalu, Americanas e Casas Bahia juntos; conversamos com o vice-presidente e líder do Meli no Brasil para entender o que a empresa quer fazer com essa bolada
Mercado Livre (MELI34) vai aniquilar a concorrência com investimento de R$ 34 bilhões no Brasil? O que será de Casas Bahia (BHIA3) e Magalu (MGLU3)?
Aposta bilionária deve ser usada para dobrar a logística no país e consolidar vantagem sobre concorrentes locais e globais. Como fica o setor de e-commerce como um todo?
Dividendos da Petrobras (PETR4) podem cair junto com o preço do petróleo; é hora de trocar as ações pelos títulos de dívida da estatal?
Dívida da empresa emitida no exterior oferece juros na faixa dos 6%, em dólar, com opções que podem ser adquiridas em contas internacionais locais