China volta a assustar com o fantasma da intervenção estatal. Oportunidade ou risco para as ações brasileiras?
Paciência e pragmatismo são duas das características marcantes quando se olha os principais movimentos chineses na história mais recente

Há alguns dias, a China fechou o terceiro maior porto do mundo, o terminal de contêineres Meishan, em Ningbo-Zhoushan, por causa de um único caso confirmado de Covid.
Imediatamente, o preço de algumas commodities que são exportadas para aquele país, e entram por esse porto, caíram de preço nos mercados internacionais.
Foi um exagero. Mas compreensível. As autoridades chinesas agem imediatamente sempre que um teste positivo do vírus surge em algum lugar. Desta vez não foi diferente.
Por causa da rigidez no controle, e apesar de ter 1,4 bilhão de habitantes e da pandemia ter surgido lá, precisamente na cidade de Wuhan, província de Hubei, de dezembro de 2019 até hoje houve apenas 94.260 casos confirmados da doença, com apenas 4.636 mortes causadas pela Covid-19.
Para melhor entendimento do modo de pensar e de agir dos chineses, é importante fazer uma retrospectiva dos acontecimentos no país nas últimas décadas.
Vamos à história
Se fosse remontar ao início da história do país, teria de voltar alguns milênios no tempo.
Leia Também
Suprimindo esse passado remoto, comecemos então pelo pós Segunda Guerra Mundial, mais precisamente 1951, ano em que o Exército Vermelho invadiu a península coreana, chegando a Seul.
Esse ataque fez parte da Guerra da Coreia, conflito que durou de junho de 1950 até julho de 1953, terminando em empate.
Sim. Empate. Até hoje a Coreia do Norte, comunista, e a Coreia do Sul, democrática, permanecem em estado de guerra, respeitando apenas um cessar-fogo assinado ao fim do conflito.
Os dois países têm como linha divisória o paralelo 38. Lá, tropas de ambos os lados se mantêm à distância de um tiro de revólver.
A revolução de Mao
Continuando a relatar a história específica da China, em 1958 o governo comunista de Mao Tsé-Tung decretou um programa que levou o nome de “Grande Salto para a Frente”, cuja intenção era estimular a economia da nação (a cacofonia cabe bem aqui) mas que resultou na morte, por inanição, de dezenas de milhões de chineses.
No início dos anos 1960, os dois paquidermes comunistas, União Soviética e China, romperam relações. Laços comerciais e diplomáticos foram desfeitos. Ocorreram algumas escaramuças de fronteira.
Nessa época, a República Popular da China, nome oficial do país, ainda sob o controle férreo de Mao Tsé-Tung, deu início à Revolução Cultural.
Jovens da Guarda Vermelha, empunhando o livrinho de Mao (então bíblia do comunismo chinês), saíram às ruas destruindo todos os sinais de cultura ocidental e prendendo intelectuais, artistas e professores “decadentes”.
Eis que, numa atitude inesperada, que deixou o mundo perplexo, o presidente Richard Nixon, dos Estados Unidos, visita Pequim e se encontra com Mao Tsé-Tung.
Os dois países dão os primeiros passos para o restabelecimento de relações diplomáticas.
Economia de mercado
Mao morre em 1976. Dois anos depois, Deng Xiaoping torna-se líder da China. Com o slogan de que não importa se o gato é branco ou preto, desde que mate o rato, inicia a abertura econômica, inclusive facilitando a entrada de capital estrangeiro.
A partir desse momento, a China continua comunista no nome mas capitalista na prática. Se compararmos o sistema com o que seria implantado por Mikhail Gorbachev na União Soviética, podemos dizer que o caso chinês foi uma perestroika sem glasnost.
Veja no vídeo uma ação que pode oferecer bons retornos para sua carteira:
Gigante do futuro, mas...
Nos últimos 45 anos, o crescimento médio anual da China foi de estonteantes 9,27%. Com isso, o país deverá se tornar a maior economia do mundo por volta de 2030.
Há um porém. Relevante. Considerando-se o PIB per capita, os chineses ainda estão em 79º lugar no ranking mundial, apenas três posições à frente do Brasil.
Ou seja, eles ainda têm um longo caminho a percorrer. Com um detalhe importantíssimo: 60% da economia ainda está sob o controle de estatais, o que dá uma dimensão do que poderá ser um programa chinês de privatizações, se eles assim o desejarem.
O povo chinês é tão disciplinado e obediente que, durante a guerra civil (1927/ 1949, com interrupções causadas pela invasão japonesa e pela Segunda Guerra Mundial), os soldados de Mao Tsé-Tung, ao longo da Grande Marcha, raramente saqueavam as lavouras dos camponeses para se apropriar de frutas, legumes, cereais e carne.
Eis como a enciclopédia da Time-Life, edição brasileira da Abril Livros, narra o fato na página 152 do antepenúltimo volume, dedicado ao período de tempo compreendido entre os anos 1925 e 1950:
“Embora raramente houvesse alimento suficiente para todos, as instruções de Mao para respeitar a propriedade dos camponeses costumavam ser obedecidas. Bosshardt (Alfred Bosshardt, missionário suíço aprisionado pelos comunistas) lembrava-se de uma parada em um pomar, numa época de fome; os soldados não ousaram tocar nas frutas maduras, por não saberem se pertenciam a um camponês ou a um latifundiário.”
Vamos em frente
Durante o quase meio século de crescimento industrial chinês, não houve migração descontrolada das áreas rurais para os grandes centros de produção.
À medida em que mão de obra é necessária na indústria, os trabalhadores são convocados para as fábricas situadas na região sul-sudeste do país. Grande parte deles, sem as famílias, que são visitadas uma vez por ano, geralmente no feriadão do Ano Novo Lunar.
Por ocasião da construção dos estádios e das vias de acesso necessários para a realização dos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, casas eram demolidas para dar lugar aos empreendimentos.
Os moradores desalojados foram indenizados com um valor que o governo julgava justo, sem que eventuais prejudicados ousassem recorrer à Justiça, o que aliás seria uma perda de tempo.
Lá o governo manda e o povo obedece.
Covid-19
Quando a Covid-19 surgiu em Wuhan, na província de Hubei, em dezembro de 2019 ou janeiro de 2020, os habitantes da cidade foram confinados em suas casas. Destas, apenas um único morador podia sair a cada dois dias para comprar alimentos e remédios.
As estradas, ferrovias e aeroportos que davam acesso à cidade foram interditadas.
No momento em que se constatou que a contaminação se espalhara por toda a província de Hubei, estendeu-se a ela as medidas de confinamento.
Percebam que não estamos falando de aldeias. Wuhan tem 11 milhões de habitantes. Hubei, 58,6 milhões.
Se o governo chinês julga necessário, controla os preços de matérias-primas, como recentemente aconteceu com o minério de ferro e o aço.
E onde o Brasil entra nessa história?
Alguns anos atrás, à época do governo de Dilma Rousseff, o preço da soja despencou no mercado de Chicago. Com a maior sem-cerimônia, os chineses diminuíram o valor a ser pago a exportadores brasileiros. Isso em contratos já assinados.
Durante muitos e muitos anos, a China continuará sendo a maior importadora de produtos do Brasil. Commodities, primordialmente.
Em 2020, nosso superávit com eles foi de US$ 33,66 bilhões, resultado de US$ 67,68 bilhões de exportações contra US$ 34,02 bilhões de importações.
Enquanto isso, o novo líder chinês, Xi Jinping, procura diminuir sua dependência com os Estados Unidos, para quem o país exporta anualmente US$ 480 bilhões em produtos os mais diversos, contra US$ 156 bilhões em bens importados.
Os líderes e o povo chinês são pacientes. Esperaram mais de 150 anos para receber Hong Kong – que lhes fora tomado como condição para encerrar a guerra do ópio – de volta.
Quando, ao final da guerra civil, Chiang Kai-shek se refugiou na ilha de Formosa (Taiwan), apenas 160 quilômetros distante da costa sudeste chinesa, Mao Tsé-Tung nada pôde fazer, por causa da proteção militar que o líder nacionalista recebeu dos americanos.
Embora o governo de Pequim continue querendo sua ilha (que denominam de “província rebelde”) de volta, a China mantém intercâmbio comercial e turístico com os “inimigos”, ao contrário do que acontecia logo após a revolução, quando os dois lados trocavam tiros de artilharia de longo alcance.
O pragmatismo e a frieza se desenvolvem em todos os campos de atividade.
Há poucos dias, um canadense condenado na China a nove anos de prisão por tráfico de drogas teve sua sentença alterada para pena de morte. A não ser que... A não ser que o Canadá liberte uma executiva chinesa da Huawei, Meng Wanzhou, presa no país.
Oportunidade à vista
Aos acionistas de empresas brasileiras que exportam para a China, e que andaram se preocupando com intervenções do governo em vários setores, recomendo despreocupação.
A perestroika deles tem regras próprias. Mas não vai impedir que os negócios com o Brasil continuem fluindo.
Eles precisam de nossos produtos. Nós, dos dólares. Se esse pretenso protecionismo chinês continuar por mais algumas semanas, algumas ações de empresas brasileiras que exportam para a China poderão cair na B3. Isso significará uma excelente oportunidade de compra.
Dividendos e JCP pingando na carteira: Rede D’Or (RDOR3) e outras 4 empresas anunciam mais de R$ 1 bilhão em proventos
Além do gigante hospitalar, a Localiza, Grupo Mateus, Track & Field e Copasa anunciaram JCPs e dividendos; saiba como receber
Por que a ação da Casas Bahia (BHIA3) salta 45% na B3 na semana, enquanto outra varejista desaba 18%?
A ação da varejista acumulou uma valorização estelar superior a 45% nos últimos pregões; entenda o movimento
Fundador do Nubank (ROXO34) volta ao comando da liderança. Entenda as mudanças do alto escalão do banco digital
Segundo o banco digital, os ajustes na estrutura buscam “aumentar ainda mais o foco no cliente, a eficiência e a colaboração entre países”
Ação da Petz (PETZ3) acumula queda de mais de 7% na semana e prejuízo do 4T24 não ajuda. Vender o papel é a solução?
De acordo com analistas, o grande foco agora é a fusão com a Cobasi, anunciada no ano passado e que pode ser um gatilho para as ações
Ozempic na versão brasileira: ação da Hypera (HYPE3) sobe forte após balanço, e remédio para emagrecimento ajuda
Farmacêutica planeja entrar na onda das injeções para emagrecimento tão logo expire a patente do remédio, o que deve acontecer daqui a um ano
Ambipar (AMBP3): CVM manda gestora lançar oferta por ações após disparada sem precedentes na B3
CVM entendeu que fundos que têm como cotista o empresário Nelson Tanure atuaram em conjunto com o controlador da Ambipar na compra em massa que resultou na disparada das ações na B3
Hora de comprar: o que faz a ação da Brava Energia (BRAV3) liderar os ganhos do Ibovespa mesmo após prejuízo no 4T24
A empresa resultante da fusão entre a 3R Petroleum e a Enauta reverteu um lucro de R$ 498,3 milhões em perda de R$ 1,028 bilhão entre outubro e dezembro de 2024, mas bancos dizem que o melhor pode estar por vir este ano
Agora vai, Natura (NTCO3)? Mercado não “compra” a nova reestruturação — mas ações tomam fôlego na B3
O mercado avalia que a Natura vivencia uma verdadeira perda, dada a saída de um executivo visto como essencial para a resolução da Avon. O que fazer com as ações NTCO3 agora?
Efeito Starbucks? Zamp (ZAMP3) tomba 11% na bolsa; entenda o que impactou as ações da dona do Burger King e do Subway
Empresa concluiu aquisição de Starbucks e Subway no Brasil no quarto trimestre e trocou de CEO no mês passado
Vida nova: por que a CCR (CCRO3) quer mudar de nome e virar Motiva
O ticker da empresa na bolsa também deve mudar, assim como a identidade visual da marca
Não fique aí esperando: Agenda fraca deixa Ibovespa a reboque do exterior e da temporada de balanços
Ibovespa interrompeu na quinta-feira uma sequência de seis pregões em alta; movimento é visto como correção
Deixou no chinelo: Selic está perto de 15%, mas essa carteira já rendeu mais em três meses
Isso não quer dizer que você deveria vender todos os seus títulos de renda fixa para comprar bolsa neste momento, não se trata de tudo ou nada — é até saudável que você tenha as duas classes na carteira
Natura (NTCO3): a proposta de incorporação que pode dar um pontapé para uma nova fase
Operação ainda precisa ser aprovada em assembleia e passar pelo aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
Sequoia (SEQL3): Justiça aprova plano de recuperação extrajudicial — e acionistas agora deverão votar a emissão de novas ações
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo aprovou nesta quinta-feira (20) o processo de reestruturação com credores não financeiros do Grupo Move 3 Sequoia
Hapvida (HAPV3) abre em forte queda, depois vira e opera em alta; entenda o que motivou esta montanha-russa
Papéis caíram mais de 8% nos primeiros momentos do pregão, mas no começo da tarde subiam 3,5%
Ação da Minerva (BEEF3) dispara na bolsa mesmo após frigorífico sair de lucro para prejuízo; qual foi a boa notícia então?
Balanço foi o primeiro após empresa concluir aquisição de ativos da Marfrig no Brasil, Argentina e Chile
Ainda sobe antes de cair: Ibovespa tenta emplacar mais uma alta após decisões do Fed e do Copom
Copom elevou os juros por aqui e Fed manteve a taxa básica inalterada nos EUA durante a Super Quarta dos bancos centrais
CEO da Lojas Renner aposta em expansão mesmo com juro alto jogando contra — mas mercado hesita em colocar ações LREN3 no carrinho
Ao Seu Dinheiro, o presidente da varejista, Fabio Faccio, detalhou os planos para crescer este ano e diz que a concorrência que chega de fora não assusta
Nova York vai às máximas, Ibovespa acompanha e dólar cai: previsão do Fed dá força para a bolsa lá fora e aqui
O banco central norte-americano manteve os juros inalterados, como amplamente esperado, mas bancou a projeção para o ciclo de afrouxamento monetário mesmo com as tarifas de Trump à espreita
A bolsa da China vai engolir Wall Street? Como a pausa do excepcionalismo dos EUA abre portas para Pequim
Enquanto o S&P 500 entrou em território de correção pela primeira vez desde 2023, o MSCI já avançou 19%, marcando o melhor começo de ano na história do índice chinês